O cachorro foi levado para banho e tosa, mas a tutora recebeu apenas as cinzas do animal.
Até muito pouco tempo atrás, Rosane Martins era mãe de dois filhos de quatro patas: Luizinho e Belinha, dois cãezinhos da raça shih tzu. Mas, no final de fevereiro de 2022, a tutora deixou os pets em um salão de banho e tosa. Quando o marido foi retirá-los, recebeu a notícia de que Luizinho tinha morrido durante os cuidados de higiene e estética.
Rosane, moradora de Campo Grande (capital do Mato Grosso do Sul), levou Luizinho e Belinha a uma pet shop especializada no bairro Caiçara. Ela conversou com os atendentes, definiu os procedimentos que seriam realizados e informou que o marido voltaria para pegar os shih tzus no horário combinado.
A tutora mostrou ser bastante responsável. O shih tzu é nativo das montanhas do Himalaia e os cãezinhos da raça se ressentem bastante do forte calor brasileiro, especialmente em pleno verão sul-mato-grossense. A dedicação de Rosane, no entanto, desta vez não foi recompensada.
Um choque
A má notícia chegou por telefone. Horas depois de ter deixado Luizinho e Belinha no salão de banho e tosa, a equipe da pet shop entrou em contato com Rosane. Ela imaginou que os dois cãezinhos já estavam prontos para voltar para casa.
Ao perguntar se os serviços já tinham sido realizados, Rosane recebeu apenas o silêncio como retorno. Um pouco preocupada com a indecisão, ela refez a pergunta. O funcionário da pet shop se identificou como veterinário e informou que Luizinho tinha sofrido uma crise.
Ainda de acordo com o veterinário, a equipe da pet shop executou todos os procedimentos previstos para reanimar o cãozinho, mas ele não resistiu. Rosane ainda não tinha se refeito do choque, quando o profissional finalmente confirmou a morte de Luizinho.
Os desdobramentos
Rosane não sabia o que fazer. Ela ficou atônita, enquanto o marido tentava compreender o que estava acontecendo. Os dois cãezinhos estavam saudáveis, brincando e divertindo-se quando foram deixados no salão e, poucas horas depois, os tutores receberam a notícia da morte de um deles.
O marido de Rosane resolveu acionar as autoridades, para inteirar-se melhor sobre o que poderia ter acontecido. Ele entrou em contato com a Polícia Militar e foi orientado a registrar um boletim de ocorrência.
A morte de Luizinho foi registrada na Delegacia Especializada de Repressão a Crimes Ambientais e de Atendimento ao Turista (DECAT), órgão da segurança pública do Mato Grosso do Sul. Os tutores foram ao posto de atendimento assim que se refizeram do susto com a notícia.
Os investigadores da Polícia Civil foram ao salão, onde colheram as primeiras informações oficiais sobre o caso. De acordo com os atendentes da pet shop, Luizinho tomou banho, teve o pelo tosado e, no final dos procedimentos, sofreu uma convulsão e morreu.
Inicialmente, o caso foi registrado como crime doloso – de acordo com a Lei de Crimes Ambientais vigente no país, os autores de maus tratos, abuso, violência e abandono são passíveis de penas que podem atingir até cinco anos.
A equipe policial, no entanto, ainda está tentando entender o que realmente aconteceu. O relato de Rosane e dos atendentes da pet shop indica que os dois cãezinhos foram deixados saudáveis, sem nenhum dano aparente à saúde, apenas para o banho e o corte da pelagem.
Luizinho teria sofrido uma convulsão, talvez provocada pelo medo de ficar em um ambiente estranho – ele e a irmã estavam esperando a chegada dos tutores para voltarem para casa. O histórico de saúde do animal, no entanto, não aponta para qualquer problema neurológico.
Ninguém, naturalmente, está acusando os funcionários e proprietários da pet shop de nenhum crime – tanto que o caso foi registrado como homicídio doloso (quando a morte ocorre sem intenção). Mas um fato curioso chama a atenção.
Os tutores não receberam o corpo de Luizinho. Em lugar disso, eles receberam uma caixa com as cinzas do animal, que teria sido incinerado pouco depois da morte. A providência da pet shop, porém, é no mínimo estranha.
É plausível a hipótese de o animal ter sofrido uma convulsão e morrido em decorrência disso, mesmo em um ambiente controlado e sob a supervisão de um veterinário. A incineração do corpo, no entanto, pode indicar que a equipe quis ocultar provas.
O corpo deveria ter sido entregue intacto aos tutores, para que eles providenciassem o sepultamento e, se tivessem quaisquer dúvidas, solicitassem exames necroscópicos para conseguir entender o que realmente aconteceu.
O caso de Luizinho é, no mínimo, estranho. Belinha foi levada ao veterinário e submeteu-se a uma série de exames clínicos e de imagens para verificar alguma eventual deficiência física, mas nada foi diagnosticado.
A investigação continua a cargo das autoridades da DECAT de Campo Grande, com o apoio de um advogado contratado pela família de Luizinho. De acordo com os resultados obtidos, o caso poderá ser levado à justiça, para apurar as responsabilidades da pet shop.