Para o bem ou para o mal, o pitbull é um cachorro que está na moda. Muitos tutores procuram cães da raça por causa da agressividade. Este certamente não é um bom motivo.
Mas, se você procura um cão atlético, resistente, ágil, inteligente e companheiro, o pitbull é uma boa escolha. Existem vários tipos de pitbull, mas a principal confusão acontece entre algumas raças semelhantes e até mesmo aparentadas.
O pitbull e seus “primos”
A raça american pit bull terrier foi desenvolvida a partir do final do século 19, nos EUA, para combate em rinhas de cachorros. Os ancestrais do pitbull foram importados da Inglaterra, onde os esportes sangrentos envolvendo animais eram bastante populares.
A raça descende dos cães bull-and-terrier e apresenta na linhagem o DNA dos antigos buldogues e terriers britânicos. O pitbull atual não é indicado para a função de guarda residencial ou patrimonial, uma vez que o padrão oficial o descreve como “dócil com pessoas estranhas”.
O nome da raça ê derivado de “pit”, que significa “fosso” em inglês (as arenas de combate inglesas eram escavadas no solo) e de “bull”, que significa “touro”.
Nas lutas originais, os touros ficavam acorrentados nos fossos e os cães tinham de atacá-los, por vezes até a morte – de um ou de outro oponente. Acredite se quiser: o simpático e bonachão buldogue inglês já se apresentou nessas arenas.
A raça foi oficialmente reconhecida em 1909, pelo UKC (United Kennel Club). Os primeiros putbulls chegaram ao Brasil na década de 1970.
O pitbull tem três primos próximos, com os quais costuma ser confundido. Algumas associações fonológicas os classificam na família dos bull terriers, outras (como a FCI – Federação Cinológica Internacional), como raças independentes. São eles:
– american staffordshire terrier – é o amstaff, o grandalhão da turma (apesar de todos estes cães serem considerados de porte médio): os machos alcançam 48 cm de altura e 35 kg. Qualquer cor é permitida, mas os cães com mais de 80% de branco, fígado (chocolate) ou preto e castanho não são encorajados. A trufa é sempre preta, sem despigmentação;
– staffordshire bull terrier – também conhecido como staffie, é originário da Inglaterra, onde foi desenvolvido como boiadeiro. É um cão forte e compacto. Pode ser branco, preto, castanho, azul (cinza) ou vermelho, sempre com marcações brancas nas orelhas, focinho, peito ou pernas. O crânio é largo e profundo, o stop é bem marcado, focinho curto e trufa sempre preta. Machos atingem 40 cm de altura e chegam a pesar 17 kg;
– american bully – a raça, um mix das duas anteriores, se tornou oficial apenas em 2013. Os machos alcançam 40 cm de altura e 30 kg, mas os criadores estão desenvolvendo animais maiores. Pode apresentar todas as cores (sólido e particolor), menos o merle. Bully significa valentão na gíria americana: é um cão baixo e forte. A associação americana da raça classifica os bullies em quatro tamanhos: pocket, standard, classic e XL. Apresenta stop pouco definido, focinho largo e trufa preta.
Mais tipos de pitbull
Criadores estão sempre tentando criar novas raças. No registro do pedigree, eles continuam sendo pitbulls (alguns não podem receber registro, por apresentar as chamadas faltas desqualificantes), mas certamente são diferentes: são novos tipos de pitbull:
– o monster blue não é uma raça reconhecida, mas faz sucesso nos EUA e começa a se tornar popular no Brasil. Ele é resultante de cruzamentos de cães das raças mastiff napolitano e buldogue de Borgonha. Como o nome diz, é um cão azul (cinza) de olhos escuros. É também muito grande e massudo: os machos adultos pesam de 45 kg e 60 kg;
– o stuffawler é grande como os maiores espécimes da raça, mas não apresenta a mesma agilidade e resistência – ele é um cachorro mais paradão, ideal para quem não tem pique para as brincadeiras intensas dos cães da raça;
– o colby, quase desconhecido no país, descende de cães desprezados para cruzamentos por criadores do pitbull, que nasceram com rugas no rosto, característica recusada no padrão oficial. O focinho é achatado e enrugado. Os colbies adoram crianças e são bastante protetores;
– o spike, também desenvolvido nos EUA, é um cão menor e menos musculoso. O objetivo dos criadores é desenvolver um pitbull “menos assustador”. É um animal meigo, dócil e bom companheiro para a família toda. A tentativa é criar um animal branco com pintas pretas, inspirado nos dálmatas;
– o red devil é a versão mexicana do pitbull americano. Menor e mais magro, é o menor da família, com porte semelhante ao bully pocket. Este cão é muito musculoso, mas impressiona principalmente pela autoconfiança que demonstra.
Outras versões do pitbull são:
– o espanhol villa liberty;
– o gamer, um pitbull vocacionado para esportes, especialmente agility;
– o cobra, menor e menos musculoso, tem a pelagem branca e os olhos azuis ou pretos;
– o johnsons, também branco (ou malhado), tem as mesmas características gerais do pitbull, mas apresenta temperamento tranquilo e não gosta muito de agitos;
– o pynat, também de pequeno porte, é um cão tigrado.
Comparando os pitbulls
O american pit bull terrier se destaca pela força, agilidade, coragem e autoconfiança. Ao contrário da fama, trata-se de um cão dócil, companheiro e amoroso. Em contrapartida, é também extremamente territorialista e esta característica costuma ser estimulada para transformá-lo em uma “máquina mortífera”. Como se trata de um animal atlético e vigoroso, o adestramento inadequado (ou totalmente errado) favorece a ferocidade e agressividade. Como se vê, o problema não está no cachorro, mas no tutor.
Um pitbull tem a cabeça grande e larga, com olhar firme e determinado. O stop é definido e profundo. As arcadas zigomáticas (sobre os olhos) são bem definidas, mas não muito pronunciadas. O focinho é largo, ligeiramente afunilado em direção à trufa, que é grande e com narinas abertas.
Não há rugas nas bochechas, nem barbelas no pescoço. As orelhas são altas, o corpo é forte, com músculos poderosos e membros bem angulados. A cauda é curta, sem atingir os joelhos. I pitbull pode apresentar qualquer cor, sólida ou particolor, menos o merle.
Oficialmente, no entanto, só existem dois tipos de pitbull – e a diferença está apenas no focinho: cães red nose (nariz vermelho) apresentam a trufa rosada e os black nose (nariz preto), negra. As características físicas e emocionais são as mesmas definidas no padrão oficial da raça.
O estigma dos pitbulls
Seja como for, todos os tipos de pitbull carregam o mesmo estigma: o de que são cães violentos, agressivos, que não merecem confiança. Esta fama surgiu logo com os primeiros pitbulls, no começo do século 20, talvez por serem os últimos representantes das bull baitings, as batalhas contra touros.
Mesmo assim, a fama cresceu demais, exageradamente. Os culpados por isso são os tutores irresponsáveis, que aproveitaram (e aproveitam) a força e resistência da raça para estimular comportamentos extremos: carregar peso, correr quilômetros sem descanso, escalar muros, paredes e planos inclinados.
O adestramento inadequado, aliado ai isolamento, favoreceu a agressividade e a violência. Durante muito tempo, os cães mais ferozes foram selecionados para os cruzamentos, enquanto os mais dóceis eram descartados.
Isto começou a mudar nos anos 1990, quando começaram a ser privilegiados os animais equilibrados e amigos. A partir de então, surgiram os vários tipos de pitbull: menores, mais obedientes, tranquilos. Os cruzamentos seletivos geraram inclusive cães menos fortes e resistentes.
Certamente, é preciso educar os pitbulls e manter sempre a supervisão na presença de crianças, idosos, portadores de deficiência, etc., pelo menos enquanto eles estão em treinamento.
Todos os cães trazem potencialmente os instintos dos lobos, ancestrais da espécie. Mas também trazem na herança genética a fidelidade, a lealdade, o comportamento gregário, características que os transformaram nos melhores amigos do homem.
Nós sempre abusamos da agressividade canina. Na Antiguidade, marchávamos para a guerra com cães molossoides à nossa frente. Eles estraçalhavam os inimigos, mas também eram estraçalhados por eles. Tudo em nome da lealdade.
Mais recentemente, “ensinamos” cães de diversas raças a atacar: rottweilers, dobermans, buldogues ingleses e até vira-latas amarrados no fundo do quintal, sem socialização, com pouca comida, sob sol e chuva.
O problema não está nos cães, mas em muitos de nós. Que tal adotar um pitbull (de qualquer tipo), educá-lo de forma correta, torná-lo um grande companheiro inesquecível? Atitudes como esta fazem a diferença e ajudam a destruir os estigmas.