Os cachorros são leais, companheiros, divertidos e brincalhões. Por outro lado, eles também são muito exigentes. Não basta apenas suprir as necessidades básicas: é preciso ter disponibilidade, paciência e alteridade para dividir a vida com um peludo. Alguns de nós não estamos prontos para ter um cachorro em casa.
Estes sinais não indicam nenhum problema muito sério. Alguns podem ser contornados, outros podem ser superados depois de algum tempo de reflexão, tornando praticamente todos nós aptos para sermos pais de um cachorro.
Mas existem contingências da vida e algumas características pessoais que nos impedem de ter um cachorro. A rotina agitada e a falta de paciência para brincar e educar são os principais impeditivos para ter um cachorro.
Um peludo pode ocupar um espaço vazio em nossa vida – ele pode até mesmo substituir um pet que já se despediu, não há nada errado nisso. Mas os candidatos a tutores também precisam pensar sobre os motivos que estão levando à adoção: um cachorro é tudo de bom, mas não é uma panaceia que cura todos os males.
As dez dicas que apresentamos a seguir indicam que você pode ainda não estar pronto para ter um cachorro. A adoção é um assunto sério e não pode ser revertida por falta de tempo, problemas financeiros, espaço insuficiente, etc.
Os cachorros são seres, como nós, capazes de sentir e demonstrar as suas sensações, emoções e sentimentos. Eles também sofrem, ficam com medo e raiva. Precisam de atenção, carinho, educação e saúde. Não podem ser considerados enfeites ou acessórios para a nossa vida.
Os tutores são o universo individual dos seus pets. Eles são esperados para as brincadeiras, as caminhadas, as “conversas tête-à-tête”, as sonecas, o “dolce far niente”. Quem não tem condições para oferecer isso não está pronto para ter um cachorro.
Os sinais de que você está pronto(a) para ter um cachorro
Quando a perspectiva de adotar um cachorro entra nos nossos planos, a decisão nunca deve ser tomada por impulso. A convivência é divertida e saudável, mas exige comprometimento e algumas renúncias.
Não se pode trazer um cachorro para casa para fazer um teste de compatibilidade. Os peludos têm sentimentos e podem inclusive ficar doentes se forem devolvidos, seja para um abrigo, seja para um canil, caso não tenham o comportamento idealizado.
Sem ônus, sem bônus. Não se pode esperar que um cachorro seja apenas um companheiro de brincadeiras para todas as horas. Ele pode se tornar o melhor amigo (e quase sempre é isso que acontece), mas o tutor precisa estar preparado para as contrariedades.
Antes de adotar um peludo, leia um pouco sobre os sinais e reflita sobre os benefícios que a presença de um pet pode trazer para a casa. Se as expectativas não superarem as responsabilidades, é melhor dar um tempo, até que esteja pronto para ter um cachorro.
1) Um compromisso de longo prazo
Os cachorros vivem de 12 a 15 anos – alguns mais, outros menos. Adotar um peludo, portanto, é um compromisso de longo prazo, que não deve ser rompido por causa das circunstâncias. Mudanças de casa (ou de cidade), alterações no círculo familiar (casamento, nascimento de filhos) e perda de rendimentos não são motivos.
Não se pode romper os vínculos entre dois seres inteligentes e sencientes, capazes de sentir e demonstrar emoções e sensações. Durante pelo menos uma década, um cachorro estará por perto, para o que der e vier. Ele não é um objeto que possa ser substituído a qualquer instante, ao sabor das circunstâncias.
2) Companhia, atenção e educação são imprescindíveis
Quem tem uma rotina agitada não é o tutor ideal para um cachorro – mesmo os gatos, que são mais autônomos, precisam de companhia, carinho e cafuné em alguns momentos do dia. Os cachorros, mesmo os teimosos e independentes, também precisam de bons momentos diários em família.
Um candidato a tutor precisa estar preparado para as brincadeiras e passeios diários, atividades fundamentais para manter o condicionamento físico, a socialização e o equilíbrio emocional dos peludos.
Estas atividades podem ser transferidas para um dog sitter ou um passeador de cães. Nas eventualidades em que não seja possível a companhia do tutor, os peludos podem ser levados para escolinhas ou hotéis especializados.
Mas quem está pronto para ter um cachorro não pensa em transferir responsabilidades. Um peludo ágil e esperto pode desenvolver o potencial em um treino específico, mas o ideal é que o tutor esteja por perto como participante ativo. Afinal, qual é a graça de adotar um pet e deixar todos os momentos, bons e ruins, a cargo de outras pessoas?
3) Um cachorro custa caro
Antes de adotar um cachorro, é importante conferir o investimento inicial: peludo irá precisar imediatamente de ração, petiscos (inclusive para garantir os melhores resultados no adestramento), consultas médicas, vacinas e medicamentos, roupas, coleiras e outros acessórios.
Os pais e mães de cachorros devem igualmente providenciar um cantinho para o cachorro. Mesmo que a ideia seja que o peludo durma na cama do tutor, ele precisa ter um refúgio seguro para quando quiser descansar ou passar um tempo sozinho.
O cantinho pode ser improvisado com caixas de papelão e roupas de cama da família. Quem se decide por adquirir uma cama precisa estar preparado, caso ela seja rejeitada pelo cachorro.
As vacinas são fundamentais para garantir a saúde dos cachorros em qualquer idade. Quem adota um cachorro precisa certificar-se de que ele tenha tomado as doses iniciais, mas, de qualquer forma, a imunização precisa ser renovada anualmente. O ideal é aplicar a vacina polivalente, que custa um pouco mais caro, mas previne várias doenças caninas.
Para quem viaja com frequência, é importante que o cachorro seja incluído em pelo menos parte destes passeios. Isto significa adquirir caixas de transporte, presilhas para atar a guia no banco traseiro, despesas com transporte em ônibus e aviões, hospedagens em locais pet friendly, etc.
4) Os peludos alteram a rotina familiar e individual
Um cachorro não sabe nada sobre o lugar para onde está indo quando é adotado. Por mais que seja o nosso lar, seguro e confortável, para ele, é um lugar desconhecido – e, muitas vezes, apavorante. Deve-se fazer um esforço para a adaptação.
Especialmente entre os filhotes, a bagunça é uma constante. Eles querem (e precisam) explorar o ambiente – e podem eventualmente destruir objetos. O tutor não pode ignorar que eles ainda não sabem onde fica o banheiro – e este aprendizado pode levar um tempinho. Alguns aprendem em poucos dias, outros precisam de algumas semanas.
A organização doméstica será alterada para sempre (ou pelo menos por 12 ou 15 anos). Viver com um cachorro é parecido com a presença de uma criança pequena: brinquedos espalhados pela casa, pequenos acidentes exigindo atenção – da queda do sofá à destruição de um vaso ornamental.
Os cachorros precisam de ração e água. Portanto, a casa precisará abrir espaço para comedouros e bebedouros (que podem ser instalados na cozinha ou na lavanderia, no caso de apartamentos) – e alguém precisa se responsabilizar para que sempre haja água fresca para hidratar o peludo.
Quem adota um filhote precisa esperar choro à noite, especialmente nos primeiros dias de convivência. É preciso ter disponibilidade (inclusive emocional), já que se trata de um peludinho que, sem saber os motivos, foi afastado da mãe e dos irmãos de ninhada, uma experiência aterrorizante.
O tutor pode providenciar uma cama com laterais altas ou almofadas, para simular a presença da família canina e tranquilizar um pouco o cachorrinho.
Outros cães uivam todas as noites. Eles não estão “falando com a Lua”, como imaginam muitas pessoas. Estão apenas sinalizando: “eu estou aqui”, para outros cães cuja presença eles identificam com o olfato e a audição.
Algumas raças caninas são excelentes cães de caça. Não estamos falando apenas de pastores alemães e rottweilers, mas também de lulus da Pomerânia, chihuahuas e muitos outros. Eles costumam estabelecer uma rotina de rondas noturnas, com eventuais latidos e os indefectíveis sons das unhas tamborilando no piso da casa.
Os cachorros também podem ter comportamentos diferentes dos tutores. Alguns gostam de despertar ao surgirem os primeiros raios do sol, ainda de madrugada. É algo semelhante a ter de se levantar da cama para trocar fraldas molhadas, mas o adestramento adequado pode inibir essas condutas.
Quem mora sozinho tem de estar preparado para algumas mudanças na vida social. Os cachorros podem e devem passar algumas horas sozinhos a cada dia, mas não prescindem da presença dos tutores por um fim de semana inteiro, a menos que haja alguém disponível não apenas para alimentá-los, mas também para distraí-los e brincar um pouco.
Quem gosta de sair do serviço (ou da escola) diretamente para a happy hour ou baladas mais prolongadas provavelmente terá de rever a atitude: existe alguém esperando em casa. Cachorros não saber consultar relógios, mas acostumam-se com horários (por exemplo, os tutores sempre voltam antes de escurecer) e mudanças na rotina não são bem aceitas pelos peludos, que preferem a estabilidade.
5) Eles precisam de espaço e estabilidade
Muitas vezes, algumas pessoas se apaixonam por um cachorro e decidem levá-lo para casa. É importante, no entanto, conhecer um pouco mais o peludo antes de adotá-lo. Algumas raças caninas são muito grandes (existem cachorros gigantes e molossoides) e não se adaptam a pequenos espaços.
Em relação aos vira-latas (cães sem raça definida), é impossível saber com exatidão qual tamanho eles terão ao atingirem a idade adulta. Mesmo que os pais sejam de pequeno ou médio porte, eles podem herdar genes dos ancestrais e crescerem demais.
Algumas raças, como o golden retriever, o poodle (médio e standard) e o pitbull conseguem viver sem problemas em apartamentos e casas sem quintal, mas é preciso garantir uma rotina diária de exercícios físicos, para a manutenção do equilíbrio orgânico e emocional.
Quem mora em lugares pequenos precisa escolher o filho de quatro patas entre os cães pequenos. Os buldogues, o lhasa apso e o shih tzu estão entre as melhores opções para apartamentos. Seja como for, mesmo os nanicos precisam passear diariamente.
A estabilidade emocional também é fundamental para a boa convivência entre tutores e cachorros. Como já foi dito, eles são extremamente adaptáveis, podendo conviver com pessoas tranquilas e agitadas, crianças e idosos, etc.
Mas, inclusive para que assimilem as “regras da casa”, é importante que haja estabilidade. Se os tutores decidem que eles podem subir em camas e sofás, está tudo certo. Se a norma é que não devem ultrapassar a porta da cozinha, está ok também. Mas isso não pode mudar a cada dia, para evitar confusões e frustrações.
6) A rotina nunca mais será a mesma
Os cachorros quase sempre se adaptam à rotina da família. Eles parecem absorver os hábitos dos tutores e, com isso, acordam nos mesmos horários, são mais tranquilos com os tutores sedentários e mais agitados com os esportivos, etc.
De qualquer maneira, a chegada de um cachorro deve ser encarada como a vinda de um novo membro da família. Por mais equilibrados que os peludos sejam, eles têm vontades e necessidades específicas – afinal, pertencem a outra espécie.
Vale lembrar mais uma vez: os cachorros são seres vivos de fato e de direito. Eles têm preferências e podem alterar o dia a dia. Os candidatos a tutores podem escolher os novos parceiros pesquisando sobre as raças caninas, mas sempre é possível encontrar um beagle bonachão ou um buldogue inglês atlético. Cachorros são verdadeiras caixinhas de surpresas.
7) A família inteira precisa estar de acordo
Não adianta que os chefes da família concluam que chegou a hora de ter um cachorro. Todos os membros precisam estar de acordo, inclusive para partilhar as responsabilidades com alimentação, brincadeiras, passeios, consultas veterinárias, adestramento, etc.
Nestes casos, é importante não perder de vista que os adultos são os responsáveis e as crianças e adolescentes, os coadjuvantes. Ninguém pode levar um cachorro para casa esperando que os filhos assumam todas as tarefas.
Os cachorros são bons parceiros de brincadeiras e podem ensinar várias coisas para as crianças: dividir responsabilidades, organizar espaços, estabelecer uma rotina com “o que pode e o que não pode”, por exemplo.
Ter um bebê não é motivo para desfazer-se dos pets, nem de negligenciá-los ou ignorá-los. Os cachorros colaboram inclusive para fortalecer o sistema imunológico das crianças e certamente não podem ser descartados por causa de alterações na composição familiar.
8) Cachorros não têm grife
Com o passar do tempo, alguns cachorros entram na moda e saem dela. Nos anos 1970 e 1980, os pequineses eram campeões de popularidade e hoje são quase desconhecidos. Entre os “cães bravos”, já houve a época do doberman, do rottweiler, do pitbull e até mesmo do pacato buldogue inglês, que já foi usado em brigas com outros animais.
Quem quer se tornar tutor de cachorro (ou pai de pet) não pode escolher o novo parceiro porque ele tem grife, é de raça. Ao longo de milênios de convivência, nós selecionamos cães para as mais diversas atividades e, com isso, desenvolvemos as raças caninas.
No entanto, os cachorros – do chihuahua ao dogue alemão – pertencem todos à mesma espécie e reagem de forma mais ou menos semelhante. Além disso, a maioria, hoje em dia, é adotada apenas para companhia: quase ninguém precisa mais de um pastor, boiadeiro, setter, pointer, retriever ou cão de guerra.
Os cachorros são encarados, em alguns círculos, como sinais de status, mas eles não são objetos de grife, apesar de certamente serem muito valiosos. Nenhum peludo sabe que é de raça ou tem pedigree e este não é um motivo para adoção.
9) Eles têm personalidade própria
Apesar de muitos comportamentos caninos serem previsíveis, eles possuem personalidade própria e reagem de acordo com o ambiente de maneira muito particular. É possível dizer que um rottweiler é agressivo, ou que um pug é tímido e carente, mas, assim como ocorre entre nós, a individualidade é muito bem estabelecida.
Este é um dos principais motivos para a adoção: conhecer o cachorro individualmente e explorar as características pessoais, fortalecendo os aspectos positivos e procurando atenuar os negativos.
De qualquer forma, mesmo que se possa esperar que um border collie seja extremamente esperto, ou que um akita seja teimoso e independente, existem características pessoais que são apaixonantes e tornam o relacionamento único.
Mas não se pode esperar que os cachorros se comportem como bebês. Eles realmente se tornam, com o tempo, nossos filhos de quatro patas, mas não são crianças de colo – mesmo que gostem de ficar nos braços do tutor ou, pelo menos, repousar a cabeça no melhor amigo.
Cachorros são cachorros e têm vontades e necessidades específicas. Eles não podem ser transformados em modelos para roupas e acessórios complicados e disfuncionais, por exemplo.
Alguns peludos gostam de roupas – que, para eles, servem apenas para atenuar a sensação de frio. Outros, mesmo alguns muito pequenos, mas encalorados, tentam se desvencilhar dos objetos com as ferramentas de que dispõem: dentes e garras.
10) Os cachorros vivem menos do que nós
Este é talvez o “maior defeito” dos cachorros. Por mais que eles cheguem próximo dos 20 anos (algumas raras exceções chegam a ultrapassar esta faixa), eles vivem menos do que os humanos. Por isso, quem adota um cão deve começar a se preparar para a despedida, em algum momento longínquo.
Os tutores precisam providenciar boas condições de saúde e higiene, oferecer alimentos balanceados e completos, organizar uma rotina de exercícios físicos condizente com o porte, as condições físicas e a saúde.
Viver com um cachorro é também observá-lo transformar-se, de um filhote curioso e um pouco desengonçado, em um idoso que prefere passar os dias cochilando em um canto. Em algum momento, será preciso deixar o melhor amigo ir embora. Com a sua lealdade a toda prova, os cachorros também podem nos ensinar a sermos desapegados e desprendidos.