Cachorros não falam, mas enviam sinais. Saiba identificar quando seu amigo precisa de ajuda urgente.
Os cachorros são leais, fiéis, confiáveis, companheiros e brincalhões. São também animais muito resistentes, com grande tolerância à dor. Em situações críticas, no entanto, eles enviam sinais e, em alguns casos, é necessário providenciar ajuda urgente.
Os cachorros não falam, isto é, eles não possuem uma linguagem articulada como os humanos, apesar de emitirem sons diferentes para situações específicas. Um ganido certamente acende o alerta amarelo, mas é principalmente com o corpo que os peludos se comunicam com os humanos.
Alguns comportamentos podem até parecer engraçados, mas na verdade são pedidos de ajuda urgente – ou, pelo menos, de que alguma coisa está errada e está atrapalhando a saúde. Os tutores precisam ficar atentos a esta linguagem, para garantir o bem-estar e a qualidade de vida dos peludos.
Evidentemente, alguns sinais não podem passar despercebidos. É o caso de dificuldades de locomoção, sangramentos, diarreias e vômitos frequentes, perdas de consciência, etc. Todos estes fatos constituem emergências veterinárias. Outros sinais, no entanto, podem não ser imediatamente identificados pelos tutores.
O que fazer se o cachorro demonstrar que precisa de ajuda
Naturalmente, os tutores conhecem os seus cachorros, sabem as suas preferências e as situações que geram medo, insegurança ou desconforto. Os peludos podem enfrentar essas condições gradualmente, permanecendo alguns instantes junto aos fatores de estresse.
Nestes momentos, é importante que eles recebam algum tipo de apoio. Os tutores podem fazer carinho, distraí-los com algum objeto, conversar. Em todos os casos que gerem sinais de ajuda – para dor, medo, incômodo, etc. – os pets podem demandar auxílio de veterinários e outros profissionais de saúde.
Conheça os sinais:
01. Arrastar o traseiro no chão
É uma situação que diverte os tutores e, em boa parte dos casos, ocorre apenas para que o cachorro se livre de alguma coisa que ficou presa na região anal. O hábito excessivo, contudo, pode indicar alguns problemas.
Os cachorros são dotados de glândulas anais, órgãos utilizados para a produção de cheiros específicos, muito importantes para a comunicação entre eles. Anatomicamente, estas estruturas são glândulas sebáceas modificadas.
As glândulas também produzem e secretam material lubrificante para o reto e o ânus. Alguns cães eliminam parte dessa substância amarelo-amarronzada, que apresenta aspecto viscoso e cheiro forte.
Esse material geralmente é eliminado com as fezes e serve para emitir sinais de identificação, alarme e alerta para outros cachorros. É uma forma de delimitação do território e funciona como uma placa: “Proibida a entrada”.
Quando o hábito é recorrente, o cachorro pode estar infestado por parasitas intestinais. As tênias costumam provocar dor e coceira na região anal. Os tutores devem inspecionar as fezes, em busca de riscos e pontos brancos, indicativos de ovos ou partes dos vermes.
É relativamente comum o diagnóstico de abscessos na região. Quando o cachorro arrasta o traseiro no chão com muita frequência, ele também pode estar sofrendo de infecções intestinais e, em alguns casos, pode ocorrer o desenvolvimento de tumores malignos.
Além de caminhar com o bumbum no chão, o cachorro emite outros sinais de ajuda, aos quais os tutores precisam ficar atentos. Eles demonstram dor à palpação da área, dificuldade ou resistência para sentar-se, disquesia (dificuldade para evacuar) e, em casos mais avançados, eliminação involuntária de material fétido.
02. Coceira no focinho
Na maioria das vezes, coçar o focinho indica apenas que o cachorro “meteu o nariz onde não foi chamado”. Nas investigações que eles fazem, é muito comum aplicar o faro para descobrir coisas novas – e muitas dessas coisas podem ser irritantes.
Mesmo sendo uma situação corriqueira, o fato merece atenção por parte dos tutores. Talvez seja necessário limpar as narinas com soro fisiológico, para eliminar os agentes que eventualmente estejam causando as irritações – poeira, pólen, produtos de limpeza, etc.
Quando o cachorro repete excessivamente as coceiras no focinho, raspando-o com as patas dianteiras ou com móveis, paredes, etc., alguma coisa mais séria pode estar acontecendo: este é um sinal de infecções no focinho, boca ou orelhas. Pressionar o focinho é uma forma de tentar controlar a dor e o desconforto.
Uma situação menos preocupante, mas que também requer cuidado, é quando o cachorro fica com alguma coisa presa entre os dentes. Ele vai tentar retirar o objeto intruso de qualquer maneira. Uma inspeção bucal e a limpeza eliminam o problema rapidamente.
03. Coceiras pelo corpo
Coçar-se pode ser apenas uma forma de passar o tempo. entre uma soneca e uma brincadeira, os peludos podem resolver usar as patas traseiras (principalmente) para eliminar alguma sujeira ou mesmo para “acordar” um músculo.
A coceira frequente quase sempre tem como causa a presença de parasitas na pelagem: pulgas, carrapatos e piolhos. Além do desconforto, esses invertebrados são vetores de diversas doenças, como a erliquiose.
Mas, mesmo quando as pulgas & Cia. não estão infectadas, elas atrapalham bastante, a ponto de prejudicar as atividades do cachorro – inclusive a locomoção livre. Os parasitas também podem prejudicar a pelagem e irritar a pele, facilitando o desenvolvimento de dermatites.
Coçar-se também indica um problema compulsivo. Isto é mais comum entre os cachorros que ficam isolados (no fundo do quintal, por exemplo) ou que passam grande parte do dia sem companhia, sem interagir com os tutores. É possível resolver o problema fornecendo algumas atividades, para os peludos se distraírem enquanto estão sozinhos.
04. Agachar-se
Os cachorros costumam se agachar sobre as patas dianteiras quando estão brincando: é como se eles estivessem armando o bote, preparando-se para pegar uma bolinha ou graveto, ou para participar de uma corrida.
Quando o gesto se repete fora das brincadeiras, porém, alguma coisa pode estar errada. Tudo depende da frequência, mas esta posição pode ser uma forma de o cachorro distender o abdômen – e isto é um sinal de prováveis distúrbios gastrointestinais.
Este é um dos sinais de torção gástrica, mais comum entre os cães de grande porte, especialmente os que são muito vorazes. Nesses casos, o estômago dá um giro sobre si mesmo e bloqueia a passagem para o intestino, impedindo o esvaziamento do órgão. Trata-se de uma emergência médica.
Agachar-se sobre as pernas traseiras é uma posição normal: é a forma de o cachorro sentar-se. No entanto, quando ele encolhe as pernas ao caminhar (ou mesmo manter-se em pé, em atenção ou repouso), curvando a coluna lombar, alguns sinais podem estar sendo enviados.
O cachorro pode estar querendo dizer que está um pouco acima do peso. O sobrepeso e a obesidade começam a se revelar com as pernas flexionadas e a coluna arqueada. É preciso reduzir a oferta de alimento ou mesmo submeter o cachorro a um regime especial.
Problemas mais graves também se revelam com esta posição. A displasia coxofemoral é um transtorno relativamente comum entre os cachorros de porte grande e gigante, que vem sendo reduzida graças a cruzamentos seletivos, mas ainda é relativamente comum.
Nas fêmeas não castradas, o fato de agachar-se constantemente sobre as pernas pode indicar problemas nos ovários e no útero, inclusive a piometra, uma inflamação que pode levar à morte. Tumores genitais e abdominais também obrigam os cachorros a permanecer muito tempo nesta posição.
05. Correr atrás do rabo
Pode ser apenas uma situação divertida. Correr atrás do próprio rabo também revela que o cachorro está entediado: ele tem passado muito tempo sem nada para fazer e esta ociosidade começa a incomodar.
Cachorros entediados podem, com o tempo, tornar-se destrutivos e agressivos (com eles próprios e com outras pessoas). Quando um peludo “informa”, através de uma almofada destruída ou de uma porta arranhada, que está sem nada para fazer, o tutor precisa encontrar atividades adequadas, ou a situação se tornará cada vez pior.
Correr atrás do rabo é apenas uma brincadeira, na maioria dos casos, especialmente entre os filhotes, que estão descobrindo o mundo e, no mundo, entre muitas outras coisas, encontra-se a própria cauda.
A repetição do comportamento, no entanto, indica desordens obsessivas e compulsivas: os cachorros também podem sofrer de TOC, assim como acontece conosco. A frequência exagerada prejudica a qualidade de vida e impede ou compromete a capacidade do animal em realizar outras atividades.
O ato de correr atrás do rabo também pode revelar transtornos físicos. O cachorro pode estar sentindo dores na coluna vertebral ou irritação na pele. A prática constante também é um dos sinais indicativos de distúrbios neurológicos.
Vale lembrar: o rabo é a extensão da coluna vertebral. Ele é formado por cinco a 20 vértebras, no interior das quais se estende a medula espinal, um feixe de nervos que vai se espalhando, a partir da nuca, por todas as áreas do organismo.
06. Tremores
A principal causa é o frio. Especialmente entre os cachorros sedentários, com pouca atividade física, as quedas de temperatura causam desconforto e eles tremem o corpo para garantir o conforto térmico. As tremedeiras são mais comuns entre os cães de pequeno porte, de pelagem curta.
Entre os animais mais tímidos, os tremores podem surgir em situações inéditas. Quando eles se mudam de casa, quando são levados a um ambiente desconhecido e quando passeiam em áreas de grande fluxo de pedestres e veículos, a resposta pode ser uma tremedeira.
Nesses casos, os tutores precisam garantir para os cachorros que está tudo bem. Se necessário, os pequenos e de porte médio podem passar alguns momentos no colo. Em uma caminhada por uma avenida movimentada, pegar um atalho mais tranquilo e parar em uma esquina para o cachorro avaliar as condições também ajudam a eliminar o desconforto.
Os cães também tremem quando sentem medo ou estão excitados – no meio de uma brincadeira ou quando ganham um presente, por exemplo. As tremedeiras constantes, porém, indicam problemas mais sérios. Os peludos podem ter algum comprometimento muscular ou neurológico.
As intoxicações também podem causar tremores. Geralmente, eles vêm acompanhados de desorientação e descoordenação motora – os cachorros não conseguem caminhar em linha reta ou trombam com móveis e outros objetos.
As intoxicações podem acontecer com itens comuns em casa, como produtos de higiene e limpeza, frituras, chocolates, frutas com sementes e qualquer tipo de uvas. Estes produtos e alimentos precisam ser mantidos fora do alcance dos peludos.
Caso eles consigam alcançá-los – e também no caso em que os tutores permitem o acesso, achando que “não tem nada demais” –, é preciso observar o comportamento geral. Em casos de intoxicação, os cães também apresentam diarreias e vômitos, desconforto abdominal, apatia, sono excessivo e até desmaios.
Outra causa frequente é a deficiência nutricional. Em casos de queda da taxa de glicose no sangue (hipoglicemia), os tumores também são comuns. É necessário corrigir a dieta e a rotina de exercícios físicos. Alguns cães podem precisar de suplementos e até mesmo de alimentação parenteral.
07. Mudanças de comportamento
São diversos os motivos para as mudanças de comportamento, que tende a se alterar com a idade, com a falta de estímulos adequados e até mesmo com as condições meteorológicas: naturalmente, os cachorros são muito menos ativos nos dias frios.
Cada cachorro tem personalidade própria e reage de maneiras específicas. Alguns são agitados, enquanto outros são calmos e tranquilos: quem observa um São Bernardo bonachão dificilmente consegue identificar um herói que desbrava montanhas geladas em busca de vítimas de avalanches e deslizamentos.
Os problemas acontecem com as mudanças repentinas, aparentemente sem um motivo concreto. Dormir demais, comer menos do que o esperado, recusar-se a brincadeiras, ignorar os objetos preferidos, são sempre pedidos inequívocos de ajuda.
Alguns animais tendem a se esconder quando sentem algum tipo de desconforto. Outros se tornam agressivos – eles podem não chegar a atacar e morder, mas demonstram que poderiam fazê-lo se quisessem.
Os peludos costumam se ocultar em situações que geram medo e ansiedade. Sons prolongados e em volume alto, movimentação atípica (uma festa em casa, por exemplo), aproximação de temporais, são alguns motivos para que eles procurem um esconderijo.
Mas eles também se escondem quando estão sentindo dores e desconfortos. Na natureza, um animal ferido ou dolorido é uma presa fácil; por isso, o melhor a fazer é procurar um lugar adequado para se entocar. Em casa, as “tocas” podem ser embaixo da cama ou do sofá, dentro de um armário, etc.
A falta de fome ou a mudança aparentemente imotivada dos hábitos alimentares pode revelar problemas graves. Um cachorro pode deixar de comer porque sente dores na mastigação ou na digestão, por exemplo.
Às vezes, as mudanças indicam apenas que o cachorro precisa de uma folga. Apesar de eles adorarem a companhia dos tutores e de outros amigos de quatro patas, alguns momentos solitários são necessários. Mesmo assim, é preciso acompanhar o quadro, para verificar o surgimento de outros sintomas.