Um cachorro não precisa de muita coisa para ser feliz, mas, na dúvida, eles exibem sinais.
Assim como nós, os cachorros também têm sentimentos. O organismo canino produz os mesmos hormônios que, nos humanos, estão relacionados com alegria, bem-estar, medo e raiva, como a adrenalina e as endorfinas. Mas, como saber se o cachorro está feliz?
Os cães não possuem uma linguagem articulada. Apesar de os latidos, uivos, ganidos e choramingos expressarem diversos sentimentos e emoções, eles não falam – nem entendem muito bem o que nós falamos.
Mesmo assim, eles enviam uma série de sinais quando estão alegres ou tristes. A linguagem corporal canina é bastante complexa. E, como os cachorros são os nossos melhores amigos, cabe aos tutores interpretarem esta linguagem, para garantir o máximo conforto e bem-estar para os peludos.
01. Rotina previsível
“Eu quero a sorte de um amor tranquilo”. Desta forma, o compositor Guilherme Arantes expressou a felicidade. Os cachorros também se sentem felizes com as coisas simples e previsíveis. Eles não se sentem seguros com a quebra da rotina.
Despertar sempre na mesma hora, alimentar-se em momentos determinados, passear, brincar, treinar, descansar ao lado dos tutores. Algumas surpresas são bem-vindas, como um brinquedo novo ou um novo trajeto na caminhada diária, mas uma montanha-russa de emoções é estressante para os peludos, que chegam a desenvolver angústia e ansiedade frente a mudanças muito radicais.
Eles são sociáveis, mas não gostam de conhecer muitas caras novas ao mesmo tempo, especialmente no “seu território”: a nossa casa. Por isso, eles ficam atentos quando há visitas ou prestadores de serviços por perto.
Da mesma forma, um céu claro e sem nuvens é indício de normalidade. Por outro lado, raios e trovões prenunciam aguaceiros fortes, que podem ser sinônimos de alagamentos, deslizamentos e até incêndios – pelo menos, é assim nas grutas e covas em que os lobos se abrigam na natureza.
02. Equilíbrio emocional
Manter uma rotina é uma das formas de garantir o equilíbrio emocional dos cachorros, um fator tão importante quando o bom desenvolvimento físico e a conservação da saúde integral. O cotidiano previsível diz respeito não apenas à ordem das atividades, mas também às respostas e ações dos membros da família.
As mudanças bruscas geram insegurança para os cachorros. Um tutor que acorde bem-humorado, passe o dia inteiro ausente e volte para casa irritado ou ansioso certamente não é “o humano que os peludos pediram a Deus”.
Eles estão sempre prontos para consolar e proteger os seus humanos; estes, por seu lado, não devem descontar as pequenas (e grandes) contrariedades do dia a dia nos momentos em que finalmente os cachorros podem desfrutar a companhia dos tutores.
O equilíbrio emocional também é garantido com caminhadas diárias, brincadeiras, adestramento e até alguns minutos sem fazer nada, apenas ao lado dos tutores. Tudo isso ao lado dos cuidados básicos: comida de qualidade, água fresca, um cantinho para se abrigar e relaxar.
Os cachorros não se importam em ser submissos aos tutores; ao contrário, eles esperam que os humanos assumam a liderança. A hierarquia, para eles, garante a segurança e até mesmo a sobrevivência. Os peludos quase nunca desafiam os chefes da casa, desde que a harmonia doméstica garanta tranquilidade e paz.
03. À procura de companhia
Como já foi dito, os cachorros são animais gregários, sociáveis. Na natureza, os lobos, ancestrais dos nossos peludos, vivem em grupos relativamente grandes e bem organizados – e eles tentam reproduzir as matilhas em casa, na companhia dos humanos.
A figura do “lobo solitário”, que caça, se defende e explora os territórios na selva ou na estepe já foi o ponto de partida de livros e filmes, mas a verdade é que, sem uma alcateia para chamar de sua, esses animais têm poucas chances de sobrevivência no longo prazo.
Os cachorros quase sempre nascem em bandos e a companhia da mãe e dos irmãos de ninhada é uma garantia de segurança, alimento e proteção. Conforme vão crescendo, os peludos transferem para a família humana a sensação de pertencimento, que proporciona não apenas as necessidades básicas, mas o conforto e o bem-estar.
Por isso, para ser feliz, o cachorro está constantemente à procura da companhia do tutor. Ele acompanha e segue, às vezes com o focinho literalmente colado às pernas do seu humano, porque sabe que ali ele encontra tudo de que precisa: companhia, brincadeiras, proteção, afeto e alegria.
Os cachorros isolados por períodos muito longos rapidamente mostram sinais de desajuste emocional. Eles se tornam agressivos, destrutivos, excessivamente dominantes ou apenas entediados. Os peludos também podem desenvolver fobias, ansiedade e depressão.
04. Postura relaxada
Durante o dia, mil coisas diferentes chamam a atenção dos cachorros: um barulho diferente, uma música em volume alto, um carro que passa na rua (ou um vizinho no corredor) e até mesmo uma borboleta passando nas proximidades é motivo suficiente para despertar os instintos de alerta e atenção.
Mas, quando o ambiente está tranquilo, eles tendem a relaxar. Na natureza, a regra geral é não despender energia sem um motivo concreto. A presença do tutor, mesmo que esteja apenas ao lado, lendo o jornal, é garantia de segurança e, por isso, os cães mostram uma postura relaxada e confortável.
Em condições ideais, mesmo alguns fatores que despertam medo são insuficientes para deixar o cachorro tenso. Os peludos que têm medo de fogos de artifício, por exemplo, acabam chegando à conclusão de que, se o tutor está relaxado, não há nada a temer.
Um cachorro adulto e saudável dorme de 12 a 14 horas por dia. Mesmo os animais mais ativos alternam períodos de vigília com muitas sonecas e cochilos. Os sinais de tensão indicam desconforto em algum nível.
Eles estão sempre alertas, independentemente do porte e da idade, mas isto significa apenas que estão sempre prontos a responder a qualquer estímulo, seja um convite para brincar, seja a invasão da casa por ladrões – ou pelo gato que insiste em caminhar pelo muro.
Quando “não há nada de novo no front”, eles aproveitam para curtir a vida. Mais uma vez, a rotina e a previsibilidade das ações diárias permite o relaxamento. Na presença dos tutores, quando estes são encarados como amigos, protetores e provedores, relaxar é sinônimo de confiança e alegria.
05. Autoconfiança
Cada cachorro exibe uma personalidade própria. Alguns são mais dependentes dos tutores, enquanto outros parecem entender que estão com tudo sob controle. A autoconfiança é um fator fundamental para a saúde e o equilíbrio.
Ao contrário do que possa parecer, cães com baixa autoestima, que desconfiam das suas capacidades e potenciais, não são bons companheiros. Os animais excessivamente tímidos podem se revelar destrutivos e agressivos, ou depressivos e ansiosos.
A melhor maneira de desenvolver a autoconfiança dos cachorros é através da interação: jogos, passeios, brincadeiras e adestramento (pelo menos o ensino dos comandos básicos), além, claro, do provimento das necessidades básicas.
06. Cheio de curiosidade
Os cachorros são extremamente curiosos. A natureza dotou-os com esta característica justamente para garantir a sobrevivência: é preciso explorar o mundo ao redor, conhecer os ambientes, entender como as coisas funcionam e começar tudo de novo no dia seguinte.
Apesar de serem extremamente inteligentes, os cachorros não têm como saber que as nossas construções são estáveis e seguras. Se uma toca pode desmoronar (ou ser invadida), o mesmo deve valer para as casas, pensam os peludos.
Por isso, eles percorrem todos os cantos da casa diariamente – seja um pequeno apartamento, seja um sítio ou fazenda. As rondas diárias fazem parte do dia a dia – na natureza, um lobo caminha até 50 km diariamente, quando está exercendo as funções de vigilância.
Nos filhotes, a curiosidade é mais acentuada: afinal, eles precisam entender tudo que os cerca, inclusive o próprio corpo. Eles são estimulados pelas mães a encontrarem o necessário para a sobrevivência e também para a diversão.
À medida que crescem, os cachorros se tornam mais confiantes e, com uma rotina previsível, entendem não precisar verificar “tudo o tempo todo”. Mesmo assim, eles sempre encontram coisas novas nos passeios e tentam entender como as coisas funcionam.
Até o final da vida, se as condições de mobilidade permitirem, os cachorros ocupam o tempo, aprendem e se divertem descobrindo coisas novas. O ritmo varia de animal para animal e tende a decrescer com a velhice, mas, para os peludos, ser curioso é igual a ser feliz.
07. Carente, mas não muito
Para a maioria dos cachorros, o universo se resume à família humana e, em diversos casos, esta família é composta por dois ou três membros. Nada mais natural que encarar o tutor como líder e protetor, tornando-se dependente e carente.
Mesmo os animais com agendas superlotadas – os que trabalham em resgates, operações policiais ou como guias de portadores de deficiências, por exemplo – tendem a reservar os afetos do dia a dia para poucas pessoas.
É o tutor (ou tutores) quem centraliza as brincadeiras, caminhadas, jogos e sessões de aprendizado. Este mesmo líder dita as regras da casa, oferece os suprimentos básicos e dedica parte do tempo dando carinho e atenção.
Os cachorros, desta forma, se tornam carentes ou interdependentes da família humana. Os que passam muito tempo sozinhos podem se mostrar ansiosos e até aflitos, mas alguns minutos de atenção são suficientes para garantir o equilíbrio.
Quando um peludo se torna extremamente carente, no entanto, podem surgir problemas. Os tutores, neste sentido, devem buscar garantir a satisfação das necessidades e desejos. Os peludos precisam ser estimulados a desenvolver um certo nível de independência e autonomia.
É o chamado “caminho do meio”: nem totalmente independentes e voluntariosos, nem verdadeiros chicletes que precisam da companhia e da atenção dos tutores para qualquer coisa que façam. O equilíbrio não é tão difícil de ser alcançado e cada família é capaz de encontrar caminhos próprios para a alegria. Afinal, nós também dependemos de muitos outros seres, inclusive os nossos peludos.
08. Cauda abanando
Este é o sinal mais seguro e positivo da felicidade canina. A cauda é um importante apêndice para o equilíbrio corporal, mas, com o tempo, tornou-se também um canal de expressão extremamente útil: todo mundo sabe o que significa um cachorro com o rabo entre as pernas, por exemplo.
Abanar a cauda é um sinal de alegria e felicidade. Os cachorros usam o gesto para recepcionar a família e os amigos, para mostrar excitação nos jogos e brincadeiras, para se comunicar com outros animais.
A cauda é tão importante que, depois de muitos protestos e apelos de veterinários e sociedades protetoras, a caudectomia (corte da cauda) por razões meramente estéticas passou a ser proibida em diversos países, inclusive no Brasil.
Mas a cauda abanando não indica apenas felicidade. Ela também pode significar atenção, ansiedade, desagrado, medo, etc. Felizmente, a convivência entre humanos e cachorros tornou possível interpretar os mínimos gestos dos peludos e não existe tutor incapaz de traduzir o que o cachorro está querendo dizer quando balança o rabo.
09. Sonoridade
Os cachorros exibem um repertório sofisticado de sons. A convivência com os humanos tornou os latidos, ganidos e uivos mais restritos do que o verificado entre os lobos, mas o barulho dos peludos é também um sinal de que estão alegres.
Mas, se os cachorros “falam” mais do que os lobos, eles latem muito mais. Entre os ancestrais selvagens, os latidos representam apenas 3% da comunicação, composta principalmente por rosnados e uivos. Os cachorros aprenderam outras utilidades para latir: o barulho é usado também para brincar, para chamar a atenção e para alertar sobre possíveis problemas.
Algumas raças latem mais do que outras. Um weimaraner, por exemplo, desenvolvido para caçar sozinho, percorria longas distâncias em busca de presas, quase sempre silencioso. Um beagle, também criado para a caça, faz exatamente o contrário: “põe a boca no trombone” assim que encontra um rastro promissor.
A diferença dos latidos está na frequência, no volume e na duração. Durante as brincadeiras, por exemplo, os ruídos podem ser mais sonoros e intensos. O importante é não coibir a comunicação dos peludos.
Eles podem aprender a não fazer muito barulho em alguns horários (à noite, por exemplo), mas é contraindicado reprimir os latidos. Há pouco mais de uma década, surgiram inclusive cirurgias para atenuar os sons, mas os procedimentos foram proibidos como forma de garantir o sossego.
Cachorros latem. E eles vivem há milhares de anos na companhia dos humanos. O barulho e o excesso podem ser controlados, mas não eliminados totalmente. Eles se expressam através dos latidos – por isso, o melhor a fazer é entender os motivos.
10. Bom apetite
Um cachorro feliz é voraz e está sempre disposto a se alimentar. Eles não fazem ideia de que há um pacote imenso de ração guardado na despensa – e, antes de acabar, os tutores previdentes sempre fazem a reposição.
A perda de apetite e a recusa em se alimentar sempre indicam problemas mais ou menos sérios. O cachorro pode estar querendo apenas dizer que não está contente em passar muito tempo sozinho, mas a inapetência também acusa transtornos para a saúde, que podem inclusive ser fatais.
Os tutores podem usar a disposição dos cães em comer para treiná-los e ensinar as regras da casa. Os nossos peludos acatam as nossas disposições principalmente porque gostam de nos agradar, mas um estímulo facilita bastante o aprendizado.
É importante fornecer alimentos saudáveis, na quantidade certa, preferencialmente nos mesmos horários. Da mesma forma, é fundamental não oferecer itens prejudiciais, seja porque são tóxicos, seja porque facilitam o ganho de peso.
11. Bom sono
Como já foi dito, um cachorro pode dormir até 14 horas por dia. Pode parecer muito, mas um bebê humano saudável passa 20 horas diárias dormindo. O tempo de vigília pode ser até mais reduzido, de acordo com as condições em que um cachorro vive.
Um guardião, por exemplo, que passa a maior parte do tempo no jardim ou no quintal, tende a dormir menos do que um animal de companhia, especialmente quando os tutores ficam fora de casa.
De qualquer forma, o sono é fundamental para a saúde. Além disso, quando um cachorro relaxa e dorme a sono solto, ele está indicando equilíbrio e confiança no ambiente em que está. Dormir ao lado do tutor é uma das principais maneiras que os cachorros têm para demonstrar que estão felizes.
12. Um sorriso no rosto
Os cachorros também são capazes de sorrir. Eles entendem o prazer de divertir-se, brincar ou apenas “gastar um tempo” com os tutores e demonstram este entendimento através de diversas expressões corporais e faciais.
Há muita polêmica sobre o sorriso – e as risadas – dos cachorros. Alguns peludos chegam a esticar os lábios e exibir os dentes quando estão felizes e excitados, mas esta fisionomia está relacionada às características anatômicas da espécie e é mais frequente nos animais de focinho médio e longo.
As risadas também estão presentes. Na verdade, é apenas um som formado quando o ar é expulso pela laringe, durante atividades físicas mais intensas. O ruído é usado também para chamar a atenção e convidar os humanos para a brincadeira.
O sorriso e as risadas, seja qual for a maneira em que se expressam, são sinais inequívocos de que o cachorro está feliz. Pode ser que o sentimento surja apenas por alguns momentos, mas, como os cães não planejam o futuro – eles são bastante “imprevidentes” – esses poucos momentos representam a felicidade canina.