Eles são como crianças. Cachorros precisam de atenção e carinho e emitem sinais de carência.
Todos os tutores amam os seus cachorros e querem vê-los felizes e satisfeitos. Mas, no dia a dia, muitos de nós acabamos nos perdendo nos compromissos e deixamos de dar a atenção e o carinho que eles merecem. Os peludos se ressentem desta atitude e emitem sinais da carência que estão sentindo.
Os cachorros agem como crianças pequenas. Mesmo os cães grandes e poderosos são dependentes dos tutores e centralizam, na figura dos pais humanos, a fonte de prazer, alegria e bem-estar. Praticamente tudo de que os cães precisam depende de nós.
Por isso, é preciso estar atento aos sinais. O tutor não precisa se repreender quando, na correria cotidiana, esquece as necessidades e vontades do cachorro. Basta corrigir o rumo e seguir em frente. Felizmente, os peludos quase sempre esquecem os maus momentos e retêm na memória apenas as alegrias que partilham em família.
Os motivos para dar carinho e atenção para os cachorros?
Vamos definir que carinho é a manifestação física e material do amor que os cães e os tutores desenvolvem entre si. Atenção é o conjunto de cuidados necessários para prolongar essa relação e torná-la prazerosa.
Alguns cachorros são mais independentes, enquanto outros costumam ser “grudados” aos tutores. Tudo depende da personalidade dos envolvidos (humanos e caninos). O tutor precisa aprender a dosar o carinho, de acordo com o temperamento dos peludos.
Quais são os motivos de dar carinho e atenção para os cachorros? Em primeiro lugar, na imensa maioria dos casos, é para isso que nós adotamos os animais de estimação: para que eles façam companhia, brinquem, desenvolvam-se da melhor maneira possível.
Outra razão importante é que um cachorro infeliz pode desenvolver alguns transtornos, tornando-se excessivamente medroso ou agressivo, destrutivo, mal humorado, indolente ou inamistoso. Certamente, não era isso que pensávamos no momento da adoção.
A interação emocional é fundamental para o desenvolvimento adequado dos cachorros. Eles aprendem a partir de prêmios, incentivos e afagos (eles também aprendem por medo e raiva, mas nenhum tutor que se preze quer despertar intencionalmente esses sentimentos).
Cachorros precisam de carinho, afagos, cafunés, coçadelas na barriga e nas orelhas, abraços e até mesmo pequenas conversas “tête-à-tête” com os tutores. Tudo isso é tão importante quanto o alimento, o agasalho, os cuidados médicos, etc.
Os sinais de falta de carinho e atenção
Existe uma razão ancestral para a necessidade de atenção e carinho que os cachorros revelam. Na natureza, os lobos (ancestrais dos cães) vivem em grupos numerosos e estratificados. Cada membro tem funções específicas e a alcateia reforça os acertos e reprime os desvios.
Em casa, os cachorros encaram os tutores como líderes. Para eles, nós somos os “alfas” da matilha familiar. O comportamento pode variar de acordo com a raça, mas, como a maioria dos peludos atualmente é adotada para a companhia, quase todos usam o tutor como referência e esperam ser aprovados e estimulados: é um sinal de que estão ajustados, sendo úteis ao bando.
Um weimaraner e um afghan hound, por exemplo, foram desenvolvidos para a caça solitária: eles saiam dos acampamentos em busca de presas e, no fim da expedição, retornavam para partilhar a caça. Por isso, é natural que os cães destas raças sejam mais independentes e autônomos.
Os beagles também são caçadores, mas a raça foi desenvolvida para atuar em grandes bandos: a matilha percorria uma longa área, até encontrar rastros da presa e alertar os companheiros, sempre com muitos latidos. Até hoje, os beagles valorizam bastante a vivência em grupo.
De qualquer maneira, há sempre um momento em que “o bando se reúne”. Isto pode ocorrer a cada cinco minutos, com um shih tzu que não se afasta do tutor nem quando ele vai ao banheiro, ou apenas algumas vezes por dia, quando um akita se aproxima para conferir se está tudo certo.
Discretos ou exagerados, os cães emitem os sinais de que estão precisando “discutir a relação”. Um ganido, uma rosnada de canto de boca, o choro, a excitação febril no reencontro. Nesses momentos, especialmente, eles “falam” sobre as vontades e desejos. É preciso estar atento.
01. O choro
Trata-se de uma das estratégias mais eficientes para chamar a atenção, pedir carinho, companhia ou proteção. Da mesma forma que os bebês humanos, os cachorros descobrem muito cedo que o choro (choramingo, ganido, etc.) faz os tutores correrem para verificar o que está acontecendo.
O choro pode continuar se manifestando durante a vida adulta. Ele é usado para demonstrar excitação e ansiedade, mas também é um excelente recurso para atrair a atenção do tutor e ganhar alguns instantes de interação – em uma brincadeira, um passeio, um cafuné, etc.
A educação canina, no entanto, é fundamental para garantir o bom desenvolvimento físico e emocional. O choro dos peludos (e de outros humanos) desperta os nossos instintos de proteção e acolhimento, mas pode ser excessivo.
Neste caso, é preciso resistir e deixar o cãozinho chorando no canto, até que ele aprenda que o truque não está funcionando. Felizmente, os cães são inteligentes demais para insistir em uma tática que não surte os resultados desejados.
02. Esfregar o focinho
Esta é uma atitude muito comum entre os cachorros. Eles podem esfregar e até pressionar o focinho contra os tutores. É um sinal de que eles querem atenção. Muitas vezes, os peludos caminham com o focinho levemente apoiado em nossas pernas.
Eles estão indicando que confiam nos tutores e acreditam que aquele é o melhor caminho. Normalmente, isso acontece à noite, quando nos levantamos da cama para beber água ou usar o banheiro e os peludos, como bravos escudeiros, nos acompanham.
Mas eles podem usar o focinho em outras ocasiões. A sensação física de proximidade oferece mais tranquilidade e segurança aos cachorros. Nessas situações, nós somos os condutores e eles, os conduzidos. É uma condição muito íntima, que prova a lealdade e a confiança no relacionamento.
03. Rolar no chão
Muitas vezes, o gesto passa despercebido. O cachorro está feliz, relaxado e rola no chão entre as brincadeiras com os tutores. Mas ele pode estar querendo dizer muito mais. Na natureza, o abdômen precisa estar sempre protegido, tanto de predadores quanto de outros agressores – alguém que queira disputar território, por exemplo.
Ao oferecer a barriga, os cachorros evidentemente esperam que os tutores ofereçam afagos e cócegas. É uma espécie de intervalo entre brincadeiras – uma pausa estratégica para recuperar o fôlego. Mas é também um sinal inequívoco de confiança: os cachorros estão dizendo que sabem não estar correndo nenhum risco na presença do tutor.
É evidente que oferecer a barriga é um gesto revelado apenas para “grandes amigos”. Na natureza, boa parte dos carnívoros consome vegetais (e os nutrientes neles contidos) apenas quando abocanha a barriga da presa. É a parte reservada para o caçador principal.
Quando dois cachorros estão interagindo e um deles deixa a barriga à mostra, ele está indicando que aceita a dominância do parceiro. Não é necessário que tenha havido uma briga ou confronto, e nem sempre é o animal menor e mais frágil que exibe o gesto. É um sinal de confiança, que deve ser retribuído.
04. Brincar de morder
É uma brincadeira comum entre a maioria dos filhotes, mas é também um comportamento que não deve ser estimulado. Em uma ninhada, pode-se ter uma ideia do temperamento dos cães no futuro, apenas observando como eles interagem com os irmãos.
Os filhotes mais dominantes e agressivos gostam de cravar os dentinhos nos irmãos mais tranquilos e quase sempre tentam repetir estes gestos com a mãe, que quase sempre reprime as tentativas: é a sabedoria materna em ação.
Estimular as brincadeiras em que os cães mordem as nossas mãos pode transmitir uma mensagem errada para os peludos: a de que eles estão no mesmo nível, quando a relação entre tutores e pets deve ser sempre de submissão.
Não há nada errado nesta relação vertical: os cachorros encaram os tutores como os chefes da família e sentem-se protegidos em um ambiente que consideram estáveis. As mordidas não precisam ser reprimidas, mas também não devem ser estimuladas.
As mordidas, de qualquer maneira, são a principal forma de defesa dos cães. Eles podem usá-las em momentos de brincadeira e descontração, até mesmo inadvertidamente. Os tutores não devem permitir apenas demonstrações de dominância e territorialidade.
No relacionamento com crianças e pessoas idosas, o comportamento deve ser evitado. Os cães podem causar acidentes de maiores ou menores proporções. As brincadeiras com crianças pequenas devem ser sempre supervisionadas por um adulto, já que elas não entendem os sinais de insatisfação que um cachorro emite (rosnados, dentes à mostra, etc.) e isto pode gerar grandes problemas.
05. Colocar a pata
O gesto quase sempre é considerado fofo pelos tutores: sem nenhum estímulo, o cachorro se aproxima, levanta um dos braços e coloca a pata na perna, no colo ou no peito dos seus melhores amigos. É difícil resistir.
Quase sempre, o gesto é um sinal amistoso. É como se fosse um tapinha nas costas entre os humanos. Dar a pata pode ser um convite para brincar, um cumprimento rápido e até mesmo a resposta a um comando qualquer.
O problema está no excesso, e não no gesto. Os cachorros aprendem pelo método de tentativa e erro. Desta forma, se o peludo conseguir atrair a atenção dos tutores ao dar a pata, ele continuará repetindo o gesto enquanto a estratégia se mostrar eficiente – se ele continuar obtendo o que quer.
Mas os cachorros também desenvolvem alguns transtornos emocionais, como ansiedade e depressão. Dar a pata repetidas vezes, especialmente de forma aleatória (cão e tutor não estão envolvidos em uma brincadeira, ninguém está chegando em casa, etc.) pode indicar uma série de problemas.
É preciso ficar atento a todos os sinais: os cachorros costumam se comunicar usando o corpo todo. Quando “dar a pata” vem acompanhado de abanos de rabo frenéticos, movimentação descoordenada, salivação excessiva, latidos e ganidos, o pet está querendo dizer que tem passado muito tempo ocioso, sem nada para fazer, sem interagir com ninguém, sem cumprir nenhuma tarefa especial.
Os tutores precisam conhecer muito bem os seus cachorros. Muitas vezes, alguns gestos podem ser saudáveis para um peludo, mas patológicos para outro. Em geral, os cães ansiosos arqueiam a garupa para baixo, colocam as orelhas para trás, podem eriçar os pelos e colocar o rabo entre as pernas.
Todos os cachorros são guardiães e protetores, independente da idade, sexo, porte e condições físicas. Eles realmente acreditam que devem proteger a casa e a família, mesmo que não saibam exatamente quais são os perigos.
Quando são privados desta rotina de proteger, inspecionar, fazer a ronda pela casa inteira (que pode ser apenas um pequeno apartamento), verificar se toda a família está bem, os peludos podem começar a desenvolver fobias e distúrbios mentais. Os gestos repetitivos são sintomas dessas disfunções.
06. Os latidos
Latidos excessivos fazem parte de todas as listas de reclamações de prejuízos ao sossego público. Em geral, os cachorros latem de maneira exagerada quando querem chamar a atenção, mas eles também podem decidir “pôr a boca no trombone” apenas porque não têm nada mais interessante para fazer.
Antes de tudo, é preciso deixar claro que cachorros latem. Latidos, uivos, ganidos e rosnadas fazem parte da linguagem canina. Portanto, quando eles exageram na conversa, é porque estão tentando dizer alguma coisa.
Os cachorros também podem latir para alertar sobre alguma coisa estranha, para cumprimentar humanos e outros cachorros que eles percebam próximos (pelo visual ou pelo cheiro), para perseguir eventuais presas (um gato estranho no telhado ou uma borboleta esvoaçando pelo jardim) ou por ansiedade.
Os cães territorialistas e dominantes tendem a latir mais, especialmente quando percebem que a área que devem defender está prestes a ser invadida. Algumas raças, como o beagle e o cocker spaniel, são muito “falantes”, enquanto outras são silenciosas. É o caso do São Bernardo, do pug, do buldogue francês e do basenji (que, na verdade, nem sabe latir direito).
Atenção: quando os latidos são dirigidos especialmente aos tutores, os cães estão afirmando que estão sendo negligenciados. Eles estão dizendo que precisam de brincadeiras, passeios e até mesmo de sonecas ao lado dos parentes de duas patas.
07. Os uivos
Apesar de o repertório vocal dos cachorros ser limitado – eles preferem se comunicar com o corpo – os uivos representam uma parte importante da linguagem. Para se ter ideia, em uma alcateia, cada lobo tem uma forma particular de uivar.
O uivo é usado principalmente nas atividades de defesa. Ao uivar, o cachorro está comunicando que está tudo em harmonia e paz ou, ao contrário, que detectou a presença de um intruso, pela visão ou pelo olfato, e pode ser necessário começar a se preparar para o confronto.
As vocalizações também servem para indicar a presença, para chamar a atenção e, claro, para conversar com os demais membros da família (ou matilha). Quando os uivos são exagerados, é possível que o cachorro esteja sentindo que está sendo deixado de lado, que não está recebendo o carinho e a atenção que merece.
08. Mastigar objetos
Este é um hábito que irrita a maioria dos tutores. Quando são filhotes, os cachorros põem mastigar e destruir alguns brinquedos no período em que os dentes permanentes estão despontando (entre quatro e oito meses de vida).
Mas o hábito destrutivo pode se prolongar, atingindo também os sapatos, pés de móveis, cortinas e tudo mais que estiver ao alcance. É preciso considerar, antes de pensar em castigos, que os cachorros não conseguem premeditar os atos. Pelo menos, não com muita antecedência.
Este é um sinal clássico de que o cachorro está se sentindo sozinho, desmotivado, sem nada para fazer. O peludo pode estar passando muito tempo sozinho ou isolado (num canto do quintal, por exemplo). É preciso convir que esta é uma rotina muito chata.
A solução é enriquecer o ambiente. Os cachorros que passam o dia sozinhos podem receber mais brinquedos para explorar, estímulos sonoros (uma TV programada para ligar por alguns minutos, por exemplo), objetos escondidos, uma janela entreaberta para que seja possível espiar o mundo exterior.
Em ambientes externos, os cachorros precisam de espaços para alternar sol e sombra, alguns brinquedos de acordo com o porte e a resistência física (um balanço de pneu é uma boa opção para os cães maiores), algumas frestas no muro para inspecionar o movimento, etc.
Os tutores não podem se esquecer de deixar ração e água fresca disponível para os cachorros, além de delimitar um espaço para as necessidades fisiológicas (e o treinamento para que eles entendam que ali é o lugar do cocô).
O alimento serve não apenas para matar a fome, mas também para o cachorro se ocupar com alguma coisa enquanto espera o tutor. Biscoitos e petiscos podem ficar escondidos em locais estratégicos, para os peludos encontrarem os tesouros.
Importante!
Alguns comportamentos caninos devem ser reprimidos; outros, desencorajados; por fim, alguns gestos são totalmente inofensivos e merecem a preocupação dos tutores apenas quando e tornam repetitivos e exagerados.
É o caso, por exemplo, de correr atrás do próprio rabo ou lamber as patas (principalmente as dianteiras). Quase sempre, estes são gestos amistosos, mas o excesso pode indicar um comportamento obsessivo, que pode trazer problemas físicos e emocionais no curto prazo.
Os cachorros, assim como nós, precisam de atenção e carinho. Eles merecem ser atendidos nas suas requisições de afeto. Um último cuidado deve ser tomado, no entanto: o exagero nos mimos e paparicos.
Os nossos peludos gostam da nossa presença e precisam dela para manter o equilíbrio. Mas eles também necessitam de um tempinho para ficar sozinhos, “pensando na vida”: os cachorros também refletem sobre os fatos e as consequências, de uma forma mais primitiva e imediatista.
É fundamental que os tutores não percam de vista outro aspecto importante do relacionamento: cachorros são cachorros. Eles não são brinquedos, nem bebês humanos. É importante não transferir carências para os peludos, bem exigir que eles sejam o que não são, nem querem ser.