Quase nada consegue ficar escondido para os cachorros: eles sabem muita coisa sobre você.
Felizmente, os cachorros também são muito discretos. Portanto, se você tiver um segredo, é muito provável que isto fique apenas entre os dois. Os cachorros descobrem algumas coisas que, aparentemente, só poderiam ser explicadas através de um sexto sentido.
No entanto, a capacidade de previsão dos peludos não depende de bolas de cristal, nem de cartas de tarô. Ela pode ser explicada principalmente através dos sentidos – audição, olfato, visão, etc. –, que são muito mais apurados nos cachorros.
Estas habilidades sensoriais se unem a um grande conhecimento que os cachorros acumulam sobre os seus tutores. Eles centralizam a vida a partir da interação com os humanos da família e estão sempre observando atentamente, procurando sinais de alterações.
Eles também são capazes de demonstrar sentimentos, como raiva, medo, alegria e amor. Partilhando o dia a dia com os tutores, os cachorros constroem sentimentos únicos e intransferíveis. Tudo isso explica por que os cachorros conhecem os segredos dos seus humanos.
01) Os cachorros sabem por onde os tutores estiveram
Eles podem não saber exatamente onde os tutores estiveram, especialmente quando os humanos circulam por espaços desconhecidos para eles, mas são capazes de identificar a aproximação dos membros da família a alguns quilômetros de distância, de acordo com as condições dos ventos e dos cheiros e sons envolvidos.
A maioria dos cães apresenta 300 milhões de receptores olfativos em seus focinhos (a exceção fica por conta dos animais de focinho achatado) e algumas regiões do cérebro canino chegam a ser proporcionalmente 40 vezes maiores (e mais sensíveis) do que nos humanos.
Tudo isso garante que eles captem e processem cheiros com muito mais facilidade e podem associá-los a alguns locais conhecidos, como a pracinha em que passeiam, a pet shop de onde vêm a ração e os petiscos e até o supermercado, onde ficam escondidos os alimentos ”proibidos”.
Tudo depende, claro, dos estímulos recebidos pelos peludos. Um cãozinho que vive em apartamento e passeia apenas no dog park do condomínio terá muito menos referências do que um animal que vive no meio rural – ou que atua como cão-guia e circula por diversos ambientes.
Todos eles, no entanto, sabem quando os membros da família humana estão a caminho de casa. É principalmente pelo olfato que eles sabem que as crianças já saíram da escola, ou que os adultos estão voltando das compras ou do trabalho.
Em alguns casos, a presença pode ser detectada a até 20 km de distância, especialmente entre os sabujos – golden retrievers, retrievers do Labrador, basset hounds, dachshunds, pastores alemães e belgas, raças que inclusive são usadas para farejar drogas e outras formas de contrabando.
02) Cachorros conseguem diagnosticar gravidez
Mais uma vez, a explicação técnica para a “proeza” é o olfato. Os cães apresentam a capacidade de sentir, através do faro, as alterações hormonais de outros cachorros, humanos e até mesmo de gatos com quem partilham a casa.
Eles diagnosticam uma eventual gravidez da mesma maneira que captam feromônios dos eventuais parceiros sexuais (no período de acasalamento) ou percebem que a gata da família está no cio.
Os cachorros acompanham o ciclo menstrual das suas tutoras – alguns chegam a identificar a menarca (a primeira menstruação) das meninas com quem convivem. Os peludos percebem quando os níveis de estrogênio e progesterona estão alterados, especialmente em casos de gravidez, quando as mudanças hormonais são mais evidentes (para eles, pelo menos).
A partir destes sinais, eles percebem que alguma coisa está diferente nas tutoras. Quase sempre, eles “diagnosticam” a gravidez antes mesmo que a mulher perceba um atraso na menstruação e manifestam a descoberta através de alterações de conduta.
Nas alcateias, todos os lobos adultos, independentemente da posição que ocupem no grupo, são responsáveis pela segurança e bem-estar dos filhotes. Na convivência com os humanos, os cachorros associaram as alterações hormonais com a possível chegada de um bebê.
Por isso, a maior parte dos peludos se torna mais dócil, gentil e delicada com as tutoras. Mesmo um cachorro mais estabanado tentará não saltar sobre a parceira, para garantir o conforto da futura mamãe.
03) E também conseguem identificar os sinais de trabalho de parto
Durante toda a gravidez, os cachorros podem deixar de lado as outras pessoas da família para se dedicar à futura mãe: os casos de ciúmes são comuns durante as gestações, especialmente entre os irmãos mais velhos, mas também entre alguns maridos e namorados.
Eles também se tornam sensivelmente mais protetores. Um peludo que normalmente apenas observa o movimento quando a tutora se levanta durante a madrugada certamente passará a acompanhá-la à cozinha ou ao banheiro, mesmo que esteja tropeçando de sono.
Cachorros mais dóceis podem latir e ganir quando outras pessoas chegam muito perto da tutora grávida, especialmente os estranhos. Os animais mais dominantes podem rosnar, exibir sinais de proteção e até mesmo atacar os incautos que se aproximem.
Na iminência do trabalho de parto, outras alterações surgem. Por exemplo, ocorre um aumento do estriol, substância que inibe a produção de progesterona e permite o início das contrações. Os níveis de cortisol também sobem, contribuindo para a produção de ocitocina.
A ocitocina está relacionada à produção do leite materno e alguns estudos associam a substância ao estreitamento dos vínculos entre a mãe e o bebê que está prestes a nascer. Quem vive com um cachorro precisa ficar atento aos sinais.
Os peludos, que passaram meses mais tranquilos e delicados, tornam-se gradativamente agitados, demonstrando sensação de urgência. Isto ocorre algumas horas antes das primeiras contrações mais fortes e do consequente rompimento da bolsa amniótica: os cães sabem que um irmãozinho está prestes a chegar.
04) Os cachorros detectam o medo das pessoas
Popularmente, diz-se que os cachorros “sentem o cheiro do medo”. Isto é um pouco exagerado: apesar de os cães sempre cheirarem as visitas, especialmente desconhecidos, não é através do odor que eles percebem quando alguém está com medo deles.
Quando uma pessoa sente medo e tenta se afastar, é muito provável que o cachorro perceba e interprete os gestos como uma possível ameaça. Por isso, os animais mais agressivos e dominantes podem se mostrar “beligerantes”, mas esta é apenas uma maneira de situar os recém-chegados na hierarquia familiar: os peludos estão deixando claro que os forasteiros estão abaixo deles na estrutura do grupo.
Se alguém sente medo de cachorro e tenta correr para escapar de um possível ataque, o mais provável é que o cachorro persiga a pessoa assustada: na mente canina, ninguém sai correndo se “não tem culpa no cartório”.
Em geral, os cães percebem o medo, mas não usam esta “vantagem” em proveito próprio. Acreditava-se que os peludos poderiam ser capazes de detectar a elevação dos níveis de adrenalina em circulação no organismo das pessoas assustadas.
Mesmo que esse aumento ocorra – a adrenalina é o hormônio que nos incita a lutar ou fugir diante de algum perigo real ou suposto – a reação dependerá sempre do temperamento canino. Quando percebem o medo, alguns podem tentar amenizar a situação, mostrando-se dóceis e amigáveis, enquanto outros aproveitam para estabelecer a subordinação.
05) Os cachorros conseguem diferenciar estados de ânimo
Eles conseguem entender quando falamos com eles e reagem de acordo com as nossas ações. Mas os cachorros não dominam o código linguístico humano: alguns peludos compreendem o significado de um número limitado de palavras, mas a maioria se orienta através do tom da voz e da linguagem corporal.
Os cachorro decifram fisionomias – com isso eles conseguem diferenciar estados de ânimo dos humanos mais próximos: alegria, tristeza, ansiedade, raiva, frustração, etc. Como bons amigos, eles reagem aos nossos humores, tentando consolar-nos, alegrar-nos ou apenas permanecendo ao lado, como se dissessem: “Eu estou aqui por você”.
Eles também são mestres em exibir expressões fisionômicas. Este é provavelmente um resultado do aprendizado com a convivência humana (os lobos não exibem habilidades semelhantes). Entre os animais, apenas os primatas fazem tantas caras e bocas como nós (que também somos primatas) e os nossos peludos.
06) Os cachorros sabem quando os tutores estão doentes
Não se trata apenas de ficar ao pé da cama quando alguém está doente em casa. Eles sempre fazem isso, demonstrando solidariedade, e também acompanham qualquer familiar enfermo por todos os cantos da casa (mesmo os mais independentes).
As habilidades caninas, no entanto, vão além disso. Além de identificar mudanças de humor, que podem estar associadas a indisposições e doenças, os peludos conseguem inclusive captar odores associados a infecções por fungos, vírus e bactérias.
Um estudo do Barnard College (EUA) demonstrou que os cachorros podem ser empregados para auxiliar no diagnóstico de várias doenças infecciosas – recentemente, os peludos ajudaram a identificar portadores do SARS-Cov-2, o vírus da Covid-19, antes mesmo que os testes de laboratório o fizessem.
Também já está comprovado que os cachorros podem antecipar crises de epilepsia e captar sinais de acidentes vasculares cerebrais (AVC). Eles também são muito úteis como acompanhantes de transtornos emocionais, antecipando algumas sensações de ansiedade e estresse. Para atuarem como cães terapeutas, os animais precisam passar por treinamento prévio.
07) Os cachorros percebem quando alguém não gosta deles
Pessoas que não gostam da presença de cães costumam dizer que “eles insistem em ficar por perto”. É como se eles estivessem rondando. Refletindo sobre o assunto, não é difícil entender os motivos: é difícil imaginar pessoas que não gostem dos peludos ou fiquem desconfortáveis com eles.
Na verdade, os cachorros bem adestrados tendem a ser amistosos e brincalhões com todas as pessoas, independente dos medos e insatisfações que elas tenham. Quando alguém se sente incomodado e os peludos insistem, na verdade eles estão tentando entender os motivos da recusa à interação.
Os cachorros também conseguem perceber quando alguém tenta enganá-los. Um estudo da Universidade de Kyoto (Japão) revelou que, no primeiro contato, os peludos mais sociáveis tendem a confiar em qualquer pessoa, mas, se esta pessoa frustra alguma intenção, eles ficam ressabiados nos encontros subsequentes, mesmo com intervalos de alguns dias.
Os voluntários do estudo foram orientados a fingir que tinham um brinquedo nas mãos, estimular os cães a interagir e, por fim, mostrar as mãos vazias. Poucos cães repetiram a experiência na segunda tentativa. Depois da terceira frustração, nenhum animal voltou a brincar com os “enganadores”.
08) Os cachorros sabem quando os tutores estão irritados
Assim como percebem a dor, o cansaço e a frustração, os cachorros também sabem quando os tutores estão irritados com eles. Alguns chegam a perceber que o “clima está tenso” e, mesmo que não haja relação direta, eles percebem que o melhor a fazer é manter distância por algum tempo.
Alguns cães chegam a descobrir os motivos da irritação, tais como um brinquedo destruído, um xixi no lugar errado ou um pé de móvel roído. Mas, quando o “acidente” é antigo – já se passaram algumas horas – eles não conseguem compreender os motivos do mau humor dos humanos.
É preciso entender também que os peludos não vinculam nenhum valor de troca aos objetos. Desta forma, um brinquedo ou uma roupa caríssima é mais valiosa quando é devidamente mastigada, por exemplo.
Seja como for, os cães querem agradar sempre. Quando levam uma bronca, eles ficam ressabiados, tentando entender o que está acontecendo – o que muitas vezes é entendido, pelos tutores, como uma confissão de culpa.
Mas, quando a irritação se torna cotidiana – os tutores vivem ralhando com os peludos, com motivos fundamentados ou não –, eles simplesmente passam a ignorar os apelos. O melhor a fazer é adotar outro método de adestramento, que faça mais sentido para os cães.
09) Os cachorros preveem as mudanças no tempo
E também podem antecipar abalos sísmicos: eles identificam a aproximação de um terremoto com alguns dias de antecedência. Em Nanchang (China), por exemplo, uma cidade com atividade sísmica intensa, a agência de prevenção de terremotos e maremotos mantém um canil para observar o comportamento dos cachorros.
De acordo com a agência, “os cachorros se comportam de maneira anormal antes da ocorrência dos terremotos, às vezes com dez dias de antecipação”. Estes fatos foram presenciados em abril de 2013, quando um abalo na região causou a morte de 200 pessoas e deixou mais de 13 mil desabrigadas.
Em casa, no dia a dia, os cachorros demonstram preocupação dias antes da chegada de uma frente fria. Eles podem se recusar a sair para passear ou simplesmente procurar um cantinho aquecido e aconchegante. Quando isto ocorre, o melhor a fazer é tirar os casacos e cobertores do guarda-roupa.
10) Os cachorros podem antecipar a chegada da morte
Os cães são verdadeiramente apaixonados por seus tutores. Durante milênios de convivência, eles participaram de todas as etapas do desenvolvimento histórico e, mais recentemente, agem como companheiros ou auxiliam tarefas tipicamente humanas.
Ao se transformarem em acompanhantes, eles passaram a observar ainda mais atentamente todos os movimentos e atitudes dos “seus humanos”. É por isso que os cachorros conseguem captar alterações mínimas no nosso humor e estado de saúde.
O corpo humano exala diversos odores – parte deles imperceptíveis para nós, mas sensíveis para os peludos. Além disso, os ouvidos caninos são capazes de detectar frequências sonoras e, desta forma, eles identificam inclusive alterações na frequência cardíaca e respiratória, especialmente das pessoas mais próximas.
Todas estas mudanças químicas e biológicas estão ao alcance dos sentidos dos peludos. A ciência ainda não conseguiu entender perfeitamente os mecanismos, mas o fato é que eles também percebem a proximidade da morte.
Além de aromas e sons, os cachorros também acompanham as mudanças de humor dos tutores. De alguma forma ainda não explicada, aparentemente eles aliam todas estas informações e compreendem que os tutores estão vivendo os últimos dias.
Naturalmente, os peludos sofrem com a ausência iminente, apesar de não conseguirem entender a finitude da vida – este é um conceito humano. Eles podem se apegar ainda mais aos tutores. Os cachorros também conseguem sentir a falta dos entes queridos.