A sarna negra causa dor e desconforto nos cães. Conheça os sintomas e tratamentos.
A sarna negra, também conhecida como lepra canina e demodicose, é uma doença transmitida por ácaros, que afeta a pele, causando pequenas lesões que podem evoluir para feridas mais graves. O nome técnico da enfermidade é sarna demodécica.
A doença é uma dermatopatia parasitária inflamatória, provocada pelo ácaro Demodex canis. Este ácaro faz parte da microbiota da pele dos cães. Isto significa que ele está presente em todos os cachorros, não apenas nos afetados pela sarna demodécica.
A imagem clássica do “cão sarnento” é a de um animal enfraquecido, cheio de feridas, com muitas falhas na pelagem. A sarna negra provoca todos esses sintomas (apesar de a coceira ser menos intensa do que em outros tipos de sarna), mas tem tratamento e é relativamente simples de ser combatida.
As causas da sarna negra em cães
Pequenas populações de Demodex canis colonizam a pele dos cachorros – especificamente, os folículos pilosos, as raízes dos pelos. Estes micro-organismos migram da mãe para os filhotes durante o parto e o período de amamentação, mas a doença não tem condições de se manifestar, porque os cãezinhos são protegidos pelos anticorpos fornecidos pelo leite materno.
A doença ocorre somente quando se desencadeia uma proliferação acentuada dos ácaros, via de regra influenciada por fatores genéticos e imunológicos.
Em condições normais, o sistema imunológico dos cachorros se encarrega de manter estável a população de Demodex canis nos folículos pilosos. A sarna negra pode se manifestar alguns meses depois do nascimento, principalmente quando a mãe está com sintomas.
O período entre 12 e 18 meses de idade concentra a maioria dos casos de sarna demodécica, classificada como juvenil. Nesta etapa, os anticorpos absorvidos com o leite materno já estão escassos e as células próprias de defesa ainda não são produzidas em número ideal.
Na vida adulta, quando outra doença ou um trauma compromete as defesas orgânicas, a sarna negra pode se manifestar. Ela é mais comum entre animais convalescentes, imunodeprimidos e nos muito idosos, cujas defesas estão naturalmente debilitadas.
Alguns estudos sugerem que, em algumas raças caninas, a doença também é mais frequente. A sarna negra é mais comum entre pitbulls, pastores alemães e belgas, pinschers alemães e miniatura, buldogues ingleses e franceses, dachshunds, dobermans, yorkshire terriers, dálmatas, pugs e boxers. Os cães mestiços e sem raça definida são menos suscetíveis.
Não há forma de prevenção para a sarna negra ou demodécica. Os canis vêm identificando os animais portadores da doença na fase ativa e impedindo-os de cruzarem e gerarem filhotes, mas a incidência da doença ainda é alta.
Por isso, é importante que os tutores fiquem atentos a alterações na pele e nos pelos dos cachorros, para buscar o tratamento o quanto antes, evitando a evolução do quadro e os prejuízos à saúde e bem-estar dos peludos.
Não é aconselhável usar sabonetes e xampus com propriedades acaricidas nos banhos em cachorros saudáveis. Estes produtos reduzem as populações de ácaros de forma geral e alguns micro-organismos são inofensivos e até mesmo úteis para a vida dos peludos. Além disso, a maior parte dos cosméticos afeta apenas um pequeno número de germes presentes na pele.
A transmissão da sarna negra em cachorros
Independentemente de se manifestar na infância ou na idade adulta, a sarna negra está associada à hereditariedade. Todos os cães são colonizados pelo Demodex canis, mas apenas os predispostos desenvolvem a doença em algum momento da vida: há um gene específico associado à proliferação dos ácaros e consequente instalação da doença.
A enfermidade não é transmissível pelo contato direto entre outros cachorros, nem pela partilha de ambientes e objetos, como tigelas e brinquedos. Da mesma forma, a sarna negra não é uma zoonose: ela não se transmite dos cachorros (portadores ou afetados) para os humanos.
A forma ideal de controle seria identificar os cães que desenvolveram sarna negra e esterilizá-los, para impedir que eles transmitam os genes responsáveis pela proliferação dos ácaros. No entanto, a medida teria de se estender a todos os cachorros da ninhada, o que torna a tarefa praticamente impossível.
A doença é sempre confundida com a sarna sarcóptica, que também causa lesões na pele e muita coceira. Os agentes etiológicos das duas doenças são diferentes: o transmissor da sarna sarcóptica, também conhecida como escabiose, é o ácaro Sarcoptes scabiei.
Este ácaro, também microscópico, infesta as camadas superficiais da pele, provoca coceira intensa, formação de crostas e erupções avermelhadas, além da queda de pelos e da companhia sempre frequente de infecções, algumas bastante graves.
A sarna sarcóptica é altamente contagiosa, passando de um cão para outro até mesmo em um encontro casual no passeio diário. Os humanos também são suscetíveis à doença. Mas a sarna sarcóptica é muito menos frequente do que a demodécica.
As formas da sarna negra
A manifestação inicial da sarna negra em cães é o aparecimento de manchas avermelhadas, espalhadas pelo corpo ou concentradas em uma única região, como a cabeça ou uma perna. Em seguida, as manchas rompem em pequenas ulcerações, que progressivamente se tornam mais escuras.
A sarna negra ou demodécica pode se manifestar de duas maneiras distintas.
• localizada – esta forma acomete, na maioria dos casos, os animais com menos de um ano de idade. A doença se manifesta sob a forma de pequenas lesões em áreas distintas da pele, semelhantes às provocadas por micoses, e caracteriza-se pela perda de pelos. É mais frequente nas pálpebras, lábios e cantos da boca, mas pode surgir também nas patas e pernas, eventualmente gerando lesões no pescoço e no tronco;
• generalizada – as lesões se espalham por todo o corpo, chegando a causar alopecia completa: os cães perdem os pelos praticamente no corpo todo. Nesta forma, que é a mais comum, ocorrem infecções bacterianas secundárias na pele, que causam coceira e novas feridas, cada vez mais profundas e espalhadas. A sarna negra generalizada é mais comum entre cães idosos, mas também pode ser desenvolvimento da sarna local não tratada de maneira adequada.
A transmissão da sarna negra, como já foi dito, é hereditária, mas alguns fatores exercem influência direta sobre a manifestação da doença. Os cães com histórico de câncer e também as cadelas que passaram por múltiplas gestações são mais suscetíveis.
Acredita-se que as alterações hormonais da gravidez e do desenvolvimento de tumores estejam associadas a uma maior dificuldade orgânica de combater germes invasores e controlar as populações de micro-organismos que vivem nos organismos.
Os sintomas da sarna negra em cães
A sarna negra ou demodécica provoca queda de pelos, sobretudo no rosto e nas patas, mas não se caracteriza pela coceira intensa, pelo menos nos estágios iniciais. A principal característica é o surgimento de manchas avermelhadas, mas nem todos os cães são inspecionados com a frequência desejada.
Nas conversas com veterinários, grande parte dos tutores relata que os cães ficaram mais tímidos e receosos, mas ainda não se sabe se estas mudanças de comportamento estão associadas diretamente à doença.
O diagnóstico da sarna negra
Os primeiros sinais da sarna negra são difusos e podem ser facilmente confundidos com outras afecções cutâneas. As primeiras manchas podem inclusive ser confundidas com picadas de insetos.
O diagnóstico só pode ser obtido pelo veterinário, através de exames clínicos das lesões, de prováveis testes laboratoriais e principalmente da análise microscópica de material raspado na pele do cão. De acordo com o código de ética do Conselho Federal de Medicina Veterinária, os diagnósticos só podem ser confirmados em consultas presenciais.
Os raspados são a forma mais eficiente de detectar a sarna negra. O veterinário fricciona a pele do cachorro com uma lâmina de vidro, para inspecioná-la ao microscópio. Apesar de o Demodex canis estar presente em todos os cães, apenas quando a doença se manifesta é possível observá-lo em grande número, identificável em microscópios simples.
A presença das lesões avermelhadas e a constatação de grandes populações de ácaros é a forma mais eficiente de identificar a doença. Além disso, são procedimentos rápidos, que podem ser realizados no consultório. Eventualmente, o médico poderá solicitar exames de urina e sangue, caso suspeite de infecções oportunistas.
O tratamento para sarna negra em cachorros
As condições de tratamento são específicas, variando de indivíduo para indivíduo de acordo com a extensão e profundidade das lesões. O veterinário também avalia o provável desenvolvimento de infecções secundárias.
O tratamento se baseia na aplicação de parasiticidas tópicos e orais (pomadas e comprimidos), xampus e loções específicos, além de antibióticos, para combater infecções bacterianas e fúngicas decorrentes da sarna negra. Para a recuperação total do cão, o veterinário pode receitar suplementos vitamínicos, para fortalecer o sistema imunológico.
A sarna demodécica foi descrita pela primeira vez em 1842, por um veterinário inglês, e desde então é considerada uma das doenças caninas de mais difícil tratamento. No entanto, ela tem cura, mas as terapias demandam tempo e paciência. Em muitos casos, os cães permanecem com medicação e banhos especiais por até um ano.
O cachorro só pode ser considerado curado depois que as lesões desaparecem completamente e o veterinário realiza uma série de raspados, para constatar que as populações de Demodex canis estão indetectáveis.
Os cachorros acometidos de sarna negra devem continuar recebendo medicações para fortalecer o sistema imunológico. É importante também, na medida do possível, neutralizar alguns fatores que reduzem as defesas do organismo, como o estresse, a ansiedade e o tédio.
Aviso importante: O nosso conteúdo tem caráter apenas informativo e nunca deve ser usado para definir diagnósticos ou substituir a consulta com um veterinário. Recomendamos que você consulte um profissional de confiança.