A presença de sangue nas fezes do cachorro é sempre um risco. Veja o que pode ser.
Apresentar sangue nas fezes é um sinal de que alguma coisa está muito errada na saúde do cachorro. A presença pode ter várias causas e é um motivo de alerta para os tutores. Qualquer sinal diferente, seja orgânico, seja emocional, não deve ser negligenciado.
Inspecionar as fezes do cachorro pode não ser uma tarefa muito agradável, mas ela deve ser feita regularmente. Como é necessário recolher o cocô – em casa ou nas ruas, durante as caminhadas – não custa nada conferir. É importante verificar a textura, cor e volume.
Verificar a aparência das fezes é importante também para orientar o tratamento. No consultório médico, os tutores precisam informar ao veterinário sobre as condições gerais dos pets. É também com base nestas informações que os profissionais podem firmar um diagnóstico preciso.
O problema pode ser simples: o cachorro pode apresentar sangue nas fezes simplesmente porque lambeu uma pata machucada ou porque “descobriu” o pacote do açougue na lata de lixo deixada aberta.
Alguns filhotes também podem apresentar o problema em função de alergias alimentares. É importante verificar se os pequenos são intolerantes a algum nutriente. Em geral, o fósforo pode determinar a presença do sangue nas fezes. Mas o mineral é extremamente importante para o desenvolvimento físico e não deve ser retirado da alimentação. A orientação nutricional é extremamente importante nesses casos.
Confira sempre o estado geral do cão. Caso ele esteja agindo normalmente (alimentando-se, brincando, mantendo-se alerta a ruídos e pessoas estranhas, etc.), uma ligação para o veterinário é suficiente – a consulta pode ficar para o dia seguinte. Em outras condições, leve o pet imediatamente para o consultório.
O que pode ser quando surge sangue nas fezes do cachorro?
O sangue nas fezes do cachorro pode se apresentar de duas formas igualmente preocupantes, que exigem a intervenção do veterinário:
• o sangue vermelho vivo, brilhante e fresco, quase sempre misturado com muco (uma secreção pegajosa), presente nas fezes secas e duras. O distúrbio é chamado de hematoquezia;
• o sangue escuro, entre o marrom e o castanho, presente em episódios de diarreia. Em geral, este tipo de fezes exala odor fétido, diferente do cocô normal. A cor é determinada pela digestão parcial do sangue. A melena (este é o nome técnico) quase sempre é decorrente de problemas gástricos (infecções ou inflamações). Nos cães idosos, este pode ser um sinal de neoplasias.
São muitos os motivos determinantes destas duas formas. Por isso, a avaliação médica é fundamental, para que sejam diagnosticadas as causas exatas, através de avaliação e exames de laboratório.
A hematoquezia quase sempre é causada por sangramentos no aparelho digestório. O cão pode estar com problemas no estômago, duodeno, intestino delgado, cólon ou reto. Este pode ser um problema passageiro (provocado pela ingestão de um pedregulho, por exemplo), mas é importante ficar atento.
O desenvolvimento de tumores malignos e benignos nos órgãos abdominais também pode ser responsável pela hematoquezia. Mesmo pequenos pólipos podem causar sangramento externo, especialmente quando se localizam no cólon descendente ou no reto.
Diversas viroses podem determinar a presença de sangue nas fezes do cachorro. Rotavírus e coronavírus se alojam na mucosa intestinal, irritando o tecido e provocando diarreias com sangue. Vale lembrar que o responsável pela coronavirose canina é diferente do SARS-CoV-2, que está provocando a pandemia de Covid-19 entre humanos.
Enterite
A gastroenterite hemorrágica canina é uma das formas mais graves e preocupantes da enterite catarral aguda. Ela pode ser causada por toxinas, infecções virais ou bacterianas ou por uma lesão mecânica da mucosa intestinal.
A evolução da enterite é bastante rápida. O cachorro afetado começa demonstrando falta de apetite e segue com vômitos e diarreias, quase sempre caracterizadas pelas estrias de sangue. O cheiro das fezes é forte e característico. As diarreias são frequentes e progressivamente mais líquidas.
Os animais acometidos sofrem desidratação em poucas horas e podem também apresentar outros sintomas, como apatia, desinteresse por jogos e brincadeiras, irritação e cansaço. O veterinário precisa ser consultado o quanto antes.
Os vermes
Ao lado da vacinação, a vermifugação é uma providência importante de todos os tutores responsáveis. Em geral, os filhotes devem receber a primeira dose de vermífugo ao completarem 30 dias.
Os animais adquiridos em canis de boa qualidade normalmente já são entregues com a primeira dose ministrada. Os canis costumam orientar os novos tutores sobre as doses seguintes. Mas, quando se adota um filhote da cadela de um amigo, é preciso garantir que ele fique livre.
Ao contrário dos gatos, que só precisam da vermifugação quando filhotes, os cachorros precisam ser desinfestados anualmente, uma vez que eles saem para as ruas todos os dias e têm acesso a fezes que podem conter ovos e larvas. Alguns chegam a comê-las.
Em infestações severas, os parasitas podem estar presentes (ainda vivos) nas fezes e no vômito. Os vermes mais comuns nos animais domésticos são os seguintes:
• vermes chatos – o mais frequente é a tênia (animais do gênero Taenia). Eles têm o corpo achatado e segmentado – esses anéis podem ser eliminados nas fezes sem causar a morte do parasita;
• vermes arredondados – eles se parecem com espaguetes e o mais comum é a lombriga (animais do gênero Ascaris). Os ovos desses vermes resistem por vários dias em solos de terra. A espécie mais perigosa é Toxocara canis, que se alimenta dos nutrientes presentes na alimentação;
• vermes em gancho – eles são assim chamados porque a boca lembra um gancho, que se prende à mucosa intestinal. Nas infestações severas, estes parasitas causam hemorragias. Os ovos podem ser engolidos ou absorvidos pela pele;
• chicotes – são os vermes tricocéfalos, como o Trichuris vulpis. Eles lembram um chicote, com uma extremidade mais grossa, lembrando a empunhadura do instrumento. Os tricocéfalos se alimentam se sangue e, quando são expelidos, tingem as fezes de vermelho.
Além do sangue nas fezes, esses parasitas provocam apatia, irritação e, em casos mais graves, descoordenação motora. Os cachorros devem receber a primeira dose do vermífugo entre 21 e 30 dias de vida, com uma dose de reforço seis semanas depois. A partir de então, recomenda-se uma dose a cada seis meses, mas o veterinário pode alterar a periodicidade.
Giardíase
A doença é causada por um protozoário (o Giardia lamblia) e prejudica o trato intestinal dos cachorros. Os animais apresentam vômitos, fezes com sangue e diarreia (que pode ser intensa), além de apatia, cansaço e desinteresse pelas atividades.
O quadro se complica rapidamente, porque os cães afetados ficam bastante desidratados, além de perderem muitos nutrientes. A giardíase é uma zoonose: ela pode ser transmitida dos cães para humanos e vice-versa, uma vez que o micro-organismo sobrevive nos alimentos e na água.
Há vacinas para combater a giardíase (aplicada em duas doses com intervalo de 15 dias), mas em geral os vermífugos receitados pelo veterinário dão conta de combater as infestações. É importante impedir que, durante os passeios, os cachorros engulam restos que podem estar contaminados.
A parvovirose
Quando se trata de filhotes, as fezes com sangue líquidas podem indicar um quadro de parvovirose, doença viral que provoca a morte de 80% dos cães infectados, além de deixar sequelas, como distúrbios neurológicos, na maioria dos sobreviventes.
O parvovírus canino (CPV) é altamente contagioso e se espalha através do contato de animais saudáveis com as fezes dos animais contaminados. O vírus é bastante resistente e consegue sobreviver mesmo depois da higienização do ambiente, caso não sejam usados produtos antivirais na limpeza.
O tratamento é difícil. Os agentes etiológicos migram para os intestinos e a medula óssea dos animais infectados, comprometendo diversas funções orgânicas. Animais sobreviventes quase sempre apresentam problemas no desenvolvimento físico, além de descoordenação motora. As convulsões também são comuns.
Entre o quarto e o décimo dia da infecção, os vírus se replicam exponencialmente, causando diarreia com sangue e vômitos; entre o 11º e o 15º dias, o organismo começa a expulsar os vírus – esta fase é altamente contagiosa. A maioria dos filhotes morre na primeira semana da doença: alguns, nas primeiras 24 horas.
A terapia contra parvovirose inclui o uso de:
- antibióticos, para combater infecções fúngicas e bacterianas oportunistas;
- soro, para reidratar os animais infectados;
- antieméticos, para reduzir os vômitos e reduzir a desidratação;
- antiácidos, que reduzem o refluxo gastroesofágico e também combatem os vômitos;
- analgésicos, para aliviar as cólicas e desconfortos gastrointestinais;
- transfusões de sangue, nos casos mais graves.
Felizmente, a parvovirose pode ser prevenida com a vacinação. A primeira dose deve ser ministrada nos filhotes a partir do terceiro mês de vida, com dois ou três reforços (de acordo com o porte do animal) em intervalos de três semanas.
A imunização contra parvovirose geralmente é realizada com vacinas múltiplas (as mais comuns no Brasil são V8 e V10). Os animais adultos precisam ser revacinados com a polivalente todos os anos; apesar de a doença não se mostrar tão grave depois dos 18 meses de idade.
Prisão de ventre
O distúrbio ocorre quando os movimentos peristálticos do intestino se tornam mais lentos e espaçados. Pode ocorrer também a interrupção total da peristalse, mas é um fato raro, geralmente associado a outros transtornos mais sérios.
Com os movimentos mais vagarosos, os cachorros sentem dores abdominais, muito desconforto e evacuam de forma anormal, apresentando fezes muito secas, que lembram cocô de cabrito – são expelidos em forma de bolotas duras.
A prisão de ventre, se não estiver relacionada a problemas gastrointestinais mais graves (que podem inclusive ser genéticos) é causada pela alimentação inadequada ou pela falta de exercícios físicos. Outra causa comum é a ingestão excessiva de pelos.
Os cães idosos também podem apresentar prisão de ventre decorrente de problemas renais ou, no caso dos machos, de hipertrofia da próstata (aumento exagerado do órgão), que pode ou não ser benigna.
As fezes podem ficar tão endurecidas que chegam a causar ferimentos na mucosa intestinal. Os cachorros sofrem pequenas hemorragias, visíveis nas fezes. Algumas soluções caseiras podem ser adotadas para estimular o intestino, sempre com aval do veterinário.
Azeite e fibra de coco são boas opções para combater a prisão de ventre (em casos leves) e podem ser “escondidas” na ração.
Os tutores podem regar o alimento com uma colher (sopa) de azeite, uma vez por dia. No caso da fibra de coco, a regra é: uma colher (chá) para cada quatro quilos de peso corporal, igualmente oferecida uma vez por dia.
Acostume o seu cachorro desde filhote a comer frutas, legumes e verduras. Trata-se apenas de um suplemento, que não substitui a ração ou comida caseira. Os vegetais são ricos em água e fibras, que facilitam o trânsito intestinal.
Outras causas
O sangue nas fezes do cachorro pode ser resultante de outros motivos. Um trauma, por exemplo, pode romper vasos sanguíneos do estômago ou intestino; no caso de choques muito violentos, os próprios órgãos podem ser rompidos. Trata-se de uma emergência veterinária.
Os cachorros são muito curiosos e quase sempre investigam o mundo com a boca. Nessas experiências, eles podem engolir objetos cortantes ou pontiagudos, que causam ferimentos e hemorragias internas. Este é outro motivo para correr para o consultório.
Cães não devem receber ossos de aves. Grande parte do esqueleto das aves é composto por ossos ocos, cuja função é justamente facilitar o movimento. Esses ossos se partem com facilidade, formando estilhaços pontiagudos que são uma das principais causas de acidentes domésticos.
Os cachorros podem sofrer intoxicações que levam a compressões no intestino, causando sangramentos. Os venenos de rato, por exemplo, são formulados com substâncias que impedem a coagulação do sangue.
Mantenha medicamentos, produtos de higiene e limpeza, bebidas alcoólicas, doces em geral (especialmente chocolates), alimentos gordurosos ou condimentados a uma distância segura e, no caso de ingestão, observe o pet atentamente. Fique a postos para levá-lo ao pronto-socorro.
Em função da constituição anatômica, os cachorros não sofrem com hemorroidas, que também são responsáveis pelo sangue nas fezes. O rompimento de vasos no ânus só ocorre no caso de alguns tumores retais.
Os tutores não devem atenuar o problema. Encontrar sangue nas fezes é sempre um sintoma preocupante e apenas o veterinário tem condições de identificar as causas exatas, propor o tratamento adequado e garantir a saúde e qualidade de vida dos pets.