Alguns são verdadeiros chicletinhos. Saiba os motivos por que o cachorro segue o tutor.
Desde que chega à casa, o filhote parece se apegar a um membro da família e começa a passar o dia todo – ou a maior parte do tempo em que fica acordado – seguindo o novo tutor. Parece que eles estão brincando de “seguir o líder”.
Quem decide se tornar um tutor de cachorro precisa saber que estes pets, além de alimento e abrigo, precisam também de algo fundamental: a companhia. Os cães são animais gregários (isto é, eles vivem em grupos) e, quando foram trazidos para a convivência com humanos, eles mantiveram esse comportamento.
A matilha
Os cachorros são descendentes dos lobos. Na verdade, os nossos melhores amigos, não importa o tamanho e as características, fazem parte de uma subespécie do Canis lupus. Para identificá-los, foi incluído o termo “familiaris” ao nome científico.
As alcateias e matilhas são comunidades muito bem organizadas e estratificadas. Apesar de alguns lobos solitários poderem ser observados na natureza, a maioria vive em bandos e cada membro desempenha tarefas específicas: a caça, a sentinela, a guarda dos filhotes e jovens, etc.
Esses grupos elegem um líder. Geralmente, é um macho, por causa do dimorfismo sexual da espécie – as fêmeas são sensivelmente menores do que os machos. Mas, em algumas alcateias, é uma loba que desempenha o papel de “alfa”.
Alfa é a primeira letra do alfabeto grego e o “macho alfa” é o que vem primeiro. Ele lidera as expedições de caça, decide quando o grupo deve se deslocar para outra região, escolhe o local do acampamento, é o primeiro a acasalar, etc.
Os demais se posicionam nos degraus inferiores da escala. Eles se revezam como caçadores, sentinelas, defensores, exploradores (para encontrar novos territórios de caça e coleta). A disputa por posições não é frequente: em geral, as brigas acontecem apenas quando o “alfa” envelhece e deixa de exibir força e resistência.
Chegando em casa
Há alguns milênios, alguns lobos se aproximaram dos humanos. Nós estávamos em plena Era Glacial (a última pela qual o planeta passou, encerrada há 14 mil anos), a caça rareava e era difícil encontrar locais para abrigar.
É comum imaginar que os animais mais dóceis se aproximaram das fogueiras humanas, em busca de alimento e agasalho, mas provavelmente as duas espécies passaram a agir em conjunto: na parceria, os humanos entraram com as armas e estratégias, enquanto os lobos emprestaram a força e a agilidade – além claro, de garras e dentes fortes.
Com o tempo, a inteligência humana prevaleceu. Nós nos tornamos os “donos” e os lobos, já transformados em cachorros, se subordinaram à situação. A parceria continuava sendo atraente para os dois lados.
“Domesticar”, no sentido etimológico do termo, significa “trazer para casa” (de “domus”, “casa” em latim). Na verdade, os cachorros já acompanhavam os humanos quando nós começamos a construir as primeiras tendas e cabanas – os lares dos nossos ancestrais. Desde então, nós dividimos o espaço com eles e a interação entre as duas espécies se tornou ainda mais sofisticada.
Os motivos
Os cachorros são leais, corajosos e persistentes. Mesmo na ausência de perigos reais, eles continuam defendendo os tutores de qualquer ameaça que possa surgir. Para eles, a casa é apenas uma caverna muito bem organizada, mas, ainda assim, sujeita a deslizamentos, desmoronamentos, invasões de predadores e de outros grupos: “é preciso estar atento e forte”.
Por isso, os cachorros seguem os tutores o dia inteiro. Eles precisam se certificar de que está tudo certo, não há nada que possa colocar em risco a segurança da “matilha”. Mas existe outro motivo para o comportamento.
A maioria dos cachorros tende a encarar os tutores (ou pelo menos um deles) como o alfa da matilha. Na hierarquia do grupo, eles podem entender que os humanos adultos estão no topo; em seguida, vêm as crianças e idosos, que é preciso proteger e guardar.
Na base desta pirâmide, estão os animais domésticos, que também se organizam: alguns se tornam “subchefes”. Quem vive com mais de um cachorro (ou um cachorro e um gato) pode observar quem é o líder, quem é o subordinado.
Esta estratificação não passa pelo porte, idade ou sexo. Em muitas casas, um pequeno chihuahua pode ser o mandachuva, deixando um dogue alemão ou um fila brasileiro em segundo lugar na hora do carinho ou da comida.
Os nossos melhores amigos são extremamente inteligentes. Eles entendem que o lugar mais seguro da casa – ou das caminhadas – é justamente onde estão os líderes. Por isso, nada mais natural do que estar junto a eles.
Por mais curiosos que eles sejam, e por mais forte que seja a necessidade de defesa: é preciso correr e latir para o caminhão que passa na rua ou o vizinho que cruza o corredor, eles sempre voltam a seguir os tutores.
Um barulho estranho, a aproximação de uma pessoa (de qualquer espécie) desconhecida, um brilho diferente, um objeto que se desloca: tudo isto é motivo para os cães correrem para verificar se alguma coisa está errada.
Em seguida, eles voltam à companhia dos tutores. Nesses momentos, é como se eles dissessem: “Está tudo bem, não é preciso se preocupar”. Mas a presença do líder é também a garantia de segurança.
Mais recentemente, a presença do tutor é também garantia de aconchego, carinho, segurança, alimentos e brincadeiras. Estes são outros bons motivos para seguir o tutor. Os cachorros exibem este comportamento durante o dia inteiro.
Eles acompanham os tutores nas atividades domésticas, por exemplo. Nos dias de faxina da casa, eles seguem atrás dos seus humanos da lavanderia para a cozinha, da cozinha para a sala, da sala para o quintal, e assim sucessivamente.
Nas caminhadas diárias, a regra geral é estar ao lado do tutor. Alguns cães podem se antecipar, mas, se estiverem equilibrados e tiverem recebido pelo menos o adestramento básico, dificilmente sairão em disparada pelas ruas.
Motivos não faltam: cheiros desconhecidos, estranhos que vêm e vão, outros animais, marcações de território, etc. Mas os cachorros quase sempre entendem que estão seguros ao lado do tutor e, por isso, permanecem tranquilos. Este é mais um motivo para os passeios: acostumar os peludos à movimentação de outros seres e objetos.
Motivos para preocupação
Os cachorros bem ajustados seguem os tutores pela casa naturalmente. É muito frequente observá-los acordando de madrugada para acompanhar os membros da família ao banheiro ou à cozinha. Eles caminham tropeçando de sono, mas não esquecem as funções de guarda e vigilância.
Existem situações, no entanto, em que os tutores devem se preocupar com a conduta dos peludos. Os cachorros podem desenvolver alguns transtornos emocionais, como depressão, ansiedade e hiperatividade, que potencializam comportamentos: uma atitude normal pode se tornar compulsiva e obsessiva.
Caso um cachorro tenha uma rotina bem fixada, é natural que ele se mostre ansioso em determinados momentos do dia. Por exemplo, se o peludo passeia todos os dias pela manhã, ele se mostrará excitado assim que vir a família acordando e se preparando para mais um dia: ele sabe que a hora da “exploração do território” está se aproximando.
Vale o mesmo para os momentos em que as refeições são servidas, para quando os tutores voltam para casa no final do dia e mesmo para situações específicas: a chegada do passeador de cães ou dos colegas das crianças, dois sinais evidentes de brincadeiras e diversão.
Sinais de alerta
Os problemas surgem quando os cachorros desenvolvem alguns distúrbios. Isso quase sempre acontece quando eles são negligenciados. Os peludos podem, por exemplo, desenvolver a síndrome da ansiedade da separação.
O transtorno consiste em picos de tensão e estresse, todas as vezes em que os cachorros ficam sozinhos. A ansiedade da separação quase sempre acontece quando os animais são deixados sozinhos por longos períodos, sem nenhuma atividade disponível.
Certamente, os tutores precisam sair para cumprir obrigações, estudar, trabalhar, passear, etc. É importante, contudo, que os cachorros sejam deixados com alguma coisa para fazer. Do contrário, eles podem se tornar destrutivos, agressivos e até mesmo passar a exibir sintomas físicos.
Entre os comportamentos inadequados que os cães podem e exibir, os mais comuns são os seguintes:
- urinar e defecar em lugares impróprios (mesmo para cães treinados);
- destruir almofadas, pés de móveis, vasos de plantas, etc.;
- arranhar portas e janelas;
- latir e uivar sem interrupções;
- exibir comportamentos compulsivos.
Não é incomum que alguns cães voltem a frustração que sentem contra si próprios. Eles podem passar a lamber-se excessivamente, morder as patas e a cauda, etc. No médio prazo, estas condutas podem causar problemas de saúde física.
Quando um cachorro fica sozinho em casa, é preciso providenciar algumas atividades. Ele pode ser deixado com alguns brinquedos – é importante fazer um rodízio, para que os objetos sempre tenham “cara de novidade”.
Meia dúzia de brinquedos, alternados diariamente, são suficientes para ocupar o cachorro nas horas de solidão. Os tutores também podem colocar ração (ou outro petisco) em uma garrafa pet, para que o peludo tente encontrar um jeito de abri-la e conquistar o prêmio.
Existem outras estratégias. Os tutores, podem, por exemplo:
- deixar uma janela entreaberta, para que os cachorros observem o movimento da rua;
- programar aparelhos de áudio e vídeo para serem ligados por alguns minutos. Os cachorros gostam de acompanhar imagens movimentadas e coloridas;
- deixar uma peça de roupa do tutor no ambiente, para que o cachorro tenha a sensação de estar acompanhado.
Mesmo em apartamentos, janelas entreabertas são úteis. Os peludos podem acompanhar o movimento de pombos e pardais, ou seguir o vaivém dos carros metros abaixo. Com relação aos recursos de áudio e vídeo, não é preciso deixar a TV ligada o dia inteiro: basta programá-la para ser ligada por alguns minutos.
Os cachorros, assim como as crianças pequenas, não conseguem manter a atenção fixada em uma atividade, a menos que sejam pessoalmente estimulados (durante o adestramento, por exemplo). As imagens e sons servem apenas para alterar a rotina.
Naturalmente, os cães não têm preferência por emissoras de TV: qualquer coisa que se movimente e faça barulho é útil para atrair a atenção momentânea. Os tutores também podem providenciar gravações de sons que amedrontam os peludos.
É possível baixar na internet sons de trovões, escapamentos de veículos, fogos de artifício, etc. Reproduzidos em baixo volume (aumentado gradualmente), o áudio ajuda a atenuar os medos, além de fazer companhia.
No caso de cães ansiosos, os tutores também precisam adotar algumas estratégias ao voltar para casa. Animais que passaram muito tempo sozinhos (os adotados já adultos, por exemplo, vindos das ruas ou de abrigos) tendem a correr e pular ao ver o “líder” finalmente voltando para o lar.
Os tutores devem seguir uma rotina: guardar compras, tomar banho, trocar de roupa, ligar a TV, qualquer atividade que mostre normalidade. Depois disso, podem aceitar as festas do cachorro. Em poucos dias, ele entenderá que o “sair e voltar” faz parte do cotidiano.
De qualquer forma, os cachorros continuarão seguindo os tutores: este comportamento faz parte da estrutura emocional dos peludos, que se sentem seguros e felizes ao lado dos seus humanos.