Adotar um pet é um gesto de solidariedade e de amor. Quem adota um cachorro idoso está de parabéns, porque revela desprendimento e resgata do abandono e da solidão um animal que ainda pode ser um excelente parceiro. Mas existem outras razões bem mais práticas.
A perspectiva de receber um cachorro velhinho em casa muitas vezes não é bem recebida. Os peludos atingem a terceira idade por volta dos seis ou sete anos e, nesta etapa da vida, geralmente já não são tão brincalhões, mas nem por isso um cão idoso deixa de ter atrativos.
Os cães idosos
A reação é natural. Um cachorro idoso pode apresentar alguns problemas de saúde e, em alguns casos, não exibir as características que quase sempre nos levam a adotar um cachorro: o nível de atenção não é mais o mesmo, eles têm menos fôlego para caminhadas e brincadeiras intensas.
Seja como for, não é possível traçar um paralelo entre humanos e cachorros idosos. Os cães vivem de 12 a 15 anos (com exceções para mais ou menos) e tendem a manter as mesmas características da espécie. A expectativa de vida é semelhante à dos lobos, ancestrais dos nossos melhores amigos.
Os cães de grande porte chegam à terceira idade mais rapidamente. Isto ocorre porque o desenvolvimento físico é muito rápido: eles atingem a altura de um adulto ainda antes de completarem um ano de vida e, neste processo, o organismo gera muitos radicais livres – átomos instáveis que são responsáveis pelo envelhecimento precoce.
Sempre é possível, no entanto, encontrar cães com mais de 15 anos e o espírito de um filhote: eles mantêm a curiosidade, a vontade de explorar e a intensidade na interação com os humanos e outros pets.
As razões para adotar um cachorro idoso
Confira a seguir os principais motivos para não rejeitar um cão sênior quando se decide pela adoção de um novo pet.
1) Este gesto pode salvar uma vida
Os cães idosos geralmente são adotados em abrigos, aos quais foram levados por causa de abandono, negligência ou maus tratos. Alguns até mesmo nasceram nas ruas e nunca tiveram companhia humana: nunca tiveram um humano para chamarem de seu.
Em outras situações, o cachorro sênior viveu com um parente ou amigo falecido, ou que, por qualquer outro motivo, não tem condições de mantê-lo em casa. Existem também os rejeitados por conta de alterações na constituição familiar, mudança para casas menores ou algumas incompatibilidades.
De qualquer maneira, decidir-se pela adoção de um velhinho é oferecer uma nova chance para o peludo, que, de outro modo, poderia inclusive ser sacrificado; a expectativa de vida para um cachorro de rua é de apenas três anos.
2) Cães sêniores não são tão destrutivos
Quem já recebeu um filhote em casa sabe: eles são adoráveis, fofos, dá vontade de passar o tempo todo com eles no colo. Logo nos primeiros dias, contudo, surge outra constatação: os cãezinhos são também altamente destrutivos.
Os motivos são diversos: os filhotes ainda não sabem o que pertence ou não a eles. Mastigar um ossinho, um disco de arremessar, a roupa de cama ou os brinquedos das crianças e os pés de móveis são atividades muito semelhantes. É preciso muito treino de obediência até que eles compreendam a diferença.
Outra razão importante: os filhotes perdem os dentes de leite entre os três e os seis meses de idade (os de pequeno porte trocam os dentes um pouco mais tarde). Quando a dentição definitiva começa a despontar, as gengivas ficam sensíveis e doloridas: mastigar o que estiver à frente é uma forma de aliviar o desconforto.
Além disso, os filhotes ainda não conhecem as regras da casa. Tudo que sabem é que, de um momento para outro, perderam o conforto e a segurança do ninho, acompanhados pela mãe e os irmãos de ninhada, e foram parar em um ambiente estranho, desafiador e apavorante.
É natural que eles se sintam ansiosos e isto pode levar aos comportamentos destrutivos (além do choro de madrugada, do xixi fora de lugar, etc.). Adotando um cão sênior, estes problemas desaparecem. Eles são passageiros, mas igualmente trabalhosos e irritantes.
3) Eles aprendem mais rápido
Os cães idosos já conviveram com humanos em alguma etapa da vida. Seja partilhando uma casa amorosa, segura e confortável, seja se defendendo dos maus tratos causados por pessoas que se sentem no direito de atacá-los apenas porque são vira-latas.
Um cão sênior certamente precisa se adaptar à nova rotina, conhecer os espaços por onde pode transitar, as regras impostas pelos tutores. Mesmo assim, tudo isso acontece de forma rápida, porque ele já tem referências anteriores sobre o que se espera dele.
É muito provável que seja necessário um período de adaptação, especialmente para os peludos que foram agredidos. Felizmente, os cachorros não desenvolvem transtornos e traumas emocionais complexos ou de longa duração: assim que entendem que “o pior já passou”, rapidamente se adaptam à nova família e passam a responder de forma positiva a todos os comandos e ordens.
4) Já sabem interagir com humanos
Ao contrário dos filhotes, que ainda precisam entender o que são aquelas criaturas imensas que, volta e meia, os colocam no colo, fazem carinho e, em seguida, dão broncas ou fazem coisas inexplicáveis, como dar banho ou escovar os dentes, os cães sêniores já nos conhecem de outros carnavais e sabem interagir com outras espécies.
É possível que as vivências anteriores também tenham ensinado os cachorros idosos a partilhar o espaço e a atenção dos tutores com outros membros da família e também com outros pets. É fácil perceber se eles são dóceis ou mais agressivos, facilitando a escolha. Uma casa com crianças, gatos e outros cachorros está pronta para receber um velhinho tranquilo, generoso e amigável.
5) São menos “intensos”
Os cachorros são brincalhões e companheiros durante a vida inteira – esta é uma característica da espécie –, mas um cão sênior é menos agitado do que os adultos e muito mais equilibrado do que os filhotes.
Explica-se: todos os cães são também guardiães e defensores. Um filhote ainda precisa descobrir o mundo, mas com seis meses já demonstra estar apto para a guarda e segurança da família e da casa. Os adultos permanecem atentos a tudo que ocorre à sua volta.
Até os seis ou sete anos, os cachorros saudáveis têm energia para dar e vender. Eles precisam de brincadeiras e caminhadas diárias – algumas exigem alto grau de disponibilidade e pique por parte dos tutores.
Os velhinhos são bem mais tranquilos. Um cão sênior não deixa de festejar a chegada dos tutores no final do dia, mas ele não precisa demonstrar a alegria com saltos e muita agitação. Bastam alguns minutos de carinho e ele já está satisfeito, pronto para voltar para o seu cantinho.
6) Podem ficar sozinhos desde o dia da adoção
Os cachorros abandonados por períodos prolongados naturalmente vivenciaram momentos de solidão e isolamento. Apesar de estas condições poderem despertar sentimentos de ansiedade e depressão, eles parecem saber que a vida mudou para melhor no momento em que são levados para a casa nova.
Os tutores precisam apenas apresentar as novas instalações para um cão sênior. Ele entende rapidamente os espaços por onde pode transitar, onde procurar alimento, o lugar certo para o xixi e o cocô.
Os vira-latas estão acostumados com o vaivém: pessoas chegando e se afastando, dando carinho e indo cuidar de outros interesses. Logo no primeiro dia, eles já podem ficar sozinhos. Certificar-se de que os tutores voltam sempre é uma grata surpresa para os peludos. É como se fosse um bônus, e eles já estão muito felizes por ter um cantinho seguro, aquecido e confortável.
A adaptação é muito rápida, assim como o desenvolvimento de sentimentos inabaláveis de lealdade. O que um filhote leva alguns meses para aprender, um cão sênior descobre em poucos dias – em alguns casos, até mesmo em apenas algumas horas. É preciso ter vivenciado uma experiência como sem-teto para compreender esta adaptação.
7) É possível conhecer o temperamento no momento da adoção
Quando alguém decide adotar um cão de rua, o ideal é visitar alguns abrigos, até encontrar um par que “dê match”. Em alguns casos, esta descoberta pode ocorrer ainda mesmo, apenas assistindo a vídeos de ONGs de defesa dos peludos.
Ao aproximar-se de um cão sênior, é possível avaliar com facilidade – e com elevada probabilidade de acerto 0 se ele é manso ou desconfiado, muito apegado ou independente, obediente ou teimoso.
Esta não é uma lista de qualidades e defeitos. Cada tutor tem preferências próprias: um cachorro apegado pode ser “carente demais” e, pelo lado oposto, um peludo persistente e teimoso pode ser o companheiro ideal para quem não gosta de demonstrar afeto o tempo todo.
De qualquer maneira, um cão sênior reserva algumas surpresas. Ele demonstrará a sua personalidade real apenas depois de alguns dias de convivência, quando perceber que não existem perigos ocultos. Aos poucos, ele se torna um “fiel escudeiro” e conquista os corações e as mentes da nova família.
8) É possível escolher o “tamanho certo”
Quando se trata de cães sem raça definida (SRD), nunca é possível saber com certeza qual será o tamanho e o peso de um filhote quando ele atingir a idade adulta. Mesmo quando os pais são conhecidos (e de pequeno porte), os cãezinhos podem ter herdado genes de outros ancestrais bem maiores.
Mas, se o cachorro já passou dos 18 meses de vida, ele é um adulto. É difícil saber a idade exata do peludo, mas alguns sinais indicam que ele atingiu a maturidade ou se já é um cão velhinho: os dentes são amarelados ou escurecidos, a pelagem não é tão brilhante, alguns fios brancos prateiam o rosto (especialmente em torno do focinho), etc.
Um veterinário pode ajudar a avaliar a idade estimada do novo membro da família – e também se ele precisa de algum tratamento médico específico. Os cachorros não castrados também exibem comportamentos sexuais – os nanicos SRD podem querer acasalar a partir dos seis ou oito meses de vida.
Desta maneira, ao visitar o abrigo, o candidato a tutor pode projetar a idade estimada do peludo, da mesma maneira que pode aquilatar as características gerais da personalidade. Vale lembrar: mesmo entre cães de raça, os abandonados tendem a ser menores do que o definido no padrão, em função das más condições de vida por que passaram.
9) Eles também têm muito amor para dar
Engana-se quem pensa que um cão sênior é apenas uma dor de cabeça. O ditado que diz: “pau que nasce torto, morre torto” não se aplica aos cachorros. Em qualquer idade, eles podem aprender truques novos e também estabelecem relações diferenciadas quando se sentem em segurança.
Um cachorro ama a sua família durante a vida inteira – e a imensa maioria faz questão de demonstrar isso, seja de forma efusiva, seja apenas através do olhar. Na “família”, incluímos todos os humanos da casa (crianças, adultos e idosos), outros pets, prestadores de serviços, visitas frequentes, etc.
Quem quer um companheiro para todas as horas não tem nada a temer ao adotar um cachorro velhinho. Alguns ainda mantêm a alegria e vivacidade dos jovens e adultos, mas a maioria é mais tranquila. A lealdade e a dedicação, no entanto, não mudam nunca.
10) Eles serão eternamente gratos aos tutores
De alguma maneira que escapa às avaliações objetivas, os cachorros sabem que receberam uma segunda chance ao serem adotados já adultos. A espécie é capaz de refletir sobre situações vividas, apesar de não ter a mesma capacidade de memória que os humanos exibem.
Um cão sênior, retirado da rua ou de um abrigo, sabe que foi resgatado de uma condição de vida muito difícil. Talvez seja o instinto, talvez seja algum tipo de sexto sentido. Ele entende que tem um parceiro confiável e amoroso.
Os velhinhos devolvem o gesto solidário de adoção – que é muito maior do que se pode imaginar em uma avaliação superficial. Eles serão parceiros, defensores, colegas de brincadeiras por toda a vida, que pode durar alguns meses ou vários anos, já que ninguém tem bola de cristal para prever o futuro.