Existem 339 raças de cães no mundo, mas algumas delas já foram extintas.
O dado é da Federação Cinológica Internacional, entidade sediada na Bélgica e fundada em 1911, da qual participam representantes de 84 países. A federação é responsável por aceitar o desenvolvimento de novas raças e também por definir o padrão das já existentes.
Muitas raças de cães, no entanto, já foram extintas. Descendentes dos lobos, de que se afastaram geneticamente durante o período da convivência com humanos, não é possível precisar quantos grupos desaparecem nos milênios de permanência com a humanidade.
As raças desaparecidas
Existem registros confirmados de 28 raças de cães extintas. São elas: bassê de Ardènnes, boullet grifon, bull and terrier, bullenbeisser, cão da Vendeia, cão pelado turco, cão polar argentino, charnaigre, cão cinza de Saint Louis, cão d’água de Saint John, cão de briga de Córdoba, cão de caça de Württemberg, cão fila de terceira, dogo cubano, griffon de Guerlain, happa chinês, hound da Normandia, hound de Saintonge, kurï, matin buffon, mastiff alpino, old english bulldog, old white english terrier, pointer de Dupuy, spaniel alpino, terrier de Paisley e vertragus.
A 28ª raça confirmada extinta é o tesem, um cão que viveu no Egito antigo (ele figura em muitos monumentos egípcios, em matilhas e na companhia de humanos). O tesem pode ter dado origem ao cão do faraó (pharaoh hound), atualmente criado em muitos países, inclusive no Brasil.
A imensa maioria destas raças, no entanto, foi extinta nos últimos 200 anos, quando criadores, naturalistas (e posteriormente biólogos) passaram a dar mais atenção a questão das raças. Não é possível mensurar o número total de raças de cães perdidas para a extinção no decorrer da História.
Uma curiosidade: o buldogue francês descende de buldogues ingleses. Quando nasciam filhotes muito pequenos ou adoentados, eles eram sacrificados. Levados para a França, alguns criadores se interessaram (e a raça virou moda nos salões franceses do século XIX). Em lugar da extinção, foi desenvolvida uma nova raça canina.
População em risco
O terrier de Skye, uma ilha escocesa, é uma das raças de cães terriers mais antigas, conhecida pela bravura e lealdade desde a Idade Média. Em alguns retratos da família real da Escócia, eles figuram em posição de destaque.
Pois bem: o terrier de Skye é uma raça em extinção. Calcula-se que a população seja de apenas 3.500 indivíduos, na maioria residentes na Grã-Bretanha. Eles são mais raros do que os pandas-vermelhos, que estão classificados como vulneráveis pela IUCN (International Union for Conservation of Nature). Em 2013, nasceram apenas 17 crias da raça no Reino Unido (para manter estável a população de terriers de Skye, seria necessário que nascessem ao menos 300 filhotes).
O Skye contribuiu para a geração de uma nova raça, os terriers de Paisley. Eles foram concebidos como uma versão miniatura do Skye, criados essencialmente para companhia e apresentações caninas. Os ingleses, contudo, se desinteressaram drasticamente pelos terriers de Paisley: a raça foi extinta por falta de procura, na década de 1950.
Os motivos para extinções de raças caninas
Raças de cães foram extintas principalmente em função do desenvolvimento tecnológico. A relação homem-cachorro foi basicamente utilitária durante a maioria parte da História. Quando surgia uma inovação, os animais eram simplesmente abandonados ou mortos. Outras raças foram extintas por predadores ou cruzaram entre si, gerando filhotes com características totalmente diferentes das de seus pais.
Apesar de muitos cachorros ainda servirem de companheiros de caça, muitas raças caninas devem ter sido extintas desde o advento das armas de fogo. Hoje em dia, felizmente, os animais são adotados basicamente para fazer companhia, apesar de ainda existirem muitos cães “profissionais”.
Na Idade Média, houve uma quase extinção em massa dos cachorros. No século XIV, a Europa sofreu uma epidemia de peste bubônica (alguns autores afirmam que a doença dizimou um quarto da população do continente).
O cão d’água de Saint John é o ancestral dos retrievers. A raça foi desenvolvida na Terra Nova (província francesa no atual Canadá), no século XVIII. Muitos exemplares foram exportados para várias partes do mundo, já que eles são excelentes companheiros de pescadores. Os indivíduos, no entanto, foram sendo reduzidos, provavelmente pela introdução da pesca comercial. Em 1970, havia apenas dois cães d’água de Saint John, ambos machos, o que determinou a extinção da raça.
Com tantos mortos, os camponeses, especialmente, não davam conta de enterrar os cadáveres, que eram abandonados pelas ruas. Os cães, que não são infectados pela bactéria que transmite a peste, encontraram uma boa ocasião para comer até se fartar. O fanatismo religioso, no entanto, era muito forte e muitos padres começaram a associar os cachorros eram seres das trevas.
Foi a senha para a população atacar os caninos com paus e pedras. Muitos animais morreram, mas alguns conseguiram se safar e deram origem a uma nova prole. Os cachorros viviam, na época, há dois mil anos na Europa. Eles foram introduzidos por mercadores fenícios na península Ibérica e de lá se espalharam por toda a Europa.
Existem também motivos políticos. Durante a Segunda Guerra Mundial, o imperador japonês, aliado dos alemães nazistas e italianos fascistas, baixou um decreto determinando que apenas pastores alemães poderiam ser criados no arquipélago e nas suas possessões.
Mesmo a única raça desenvolvida no Japão, o akita, estava proibida. Os criadores esconderam seus filhotes, claro. Muitos deles migraram para os EUA depois da Guerra, onde desenvolveram animais muito diferentes dos seus “primos” nipônicos. Mesmo assim, a raça é hoje uma das mais vendidas do mundo. O registro de novos akitas foi retomado em 1948. Os criadores estão fazendo pesquisas para fixar o padrão da raça.
Motivos estranhos para extinção de raças de cães
Existem muitas fábulas sobre as raças de cães extintas. O kurï, por exemplo, foi levado das ilhas da Polinésia para a Nova Zelândia, provavelmente no século XIV. A raça, no entanto, não teria agradado os nativos: o kurï foi classificado com feio, traiçoeiro, sem respeito aos donos, teimoso e muito ruim de olfato, o que não ajudava na caça.
Atualmente, um molosso (ou molossoide) é apenas um cão de grande porte. Cães da raça molossus viajaram por quase todo o mundo no início da Era Cristã, acompanhando legionários gregos e romanos, que os admiravam pela força de ataque e pela lealdade com os donos.
Considera-se que o molossus seja um ancestral dos são-bernardos, mastiffs e outras grandes raças. A história, no entanto, não oferece registros sobre o manejo da raça, que deve ter entrado em decadência com a queda do Império Romano.
É provável que o problema do cão de luta de Córdoba (Argentina) tenham sido as brigas conjugais. Pela sua bravura (agravada pelas condições do confinamento), a raça foi empregada em rinhas de todo o país, hoje proibidas. Na hora do acasalamento, no entanto, começavam as dores de cabeça: macho e fêmea se atacavam violentamente, o que impedia a cobertura.
O talbot fez muito sucesso nas ilhas britânicas durante a baixa Idade Média, a ponto de muitas famílias da nobreza exibirem a sua figura nos brasões. A tradição afirma que a raça foi levada para a Inglaterra por William, o Conquistador, no século XI.
Era um cão totalmente, branco, considerado leal, com instintos de proteção, sendo usado muitas vezes em batalhas. Era lento, mas, graças ao seu faro, tinha presença confirmada em todas as caçadas. Os últimos registros da raça datam do século XVI, mas o talbot deixou descendentes: os beagles.