Todos os cães podem ser dóceis e amigáveis, mas algumas raças são bem mais equilibradas.
Os cães são gregários, isto é, eles vivem em grupos organizados. Para tanto, eles desenvolveram algumas características como amistosidade, lealdade, capacidade de aprender com a observação, etc., ainda antes de conviver com os humanos. Mas, nesta interação, nós selecionamos alguns animais mais dóceis e equilibrados e estimulamos estas qualidades nos peludos.
Ao mesmo tempo, nós também incentivamos outros comportamentos como agressividade, dominância e independência, que não são totalmente naturais, mas eram necessários em tempos de guerra, manejo de gado, vigilância dos primeiros acampamentos e até mesmo por diversão: muitas raças de cães foram desenvolvidas para a briga – entre eles e com ursos, lobos, touros, etc.
Na vida urbana, no entanto, os traços de personalidade mais violentos geralmente não são valorizados. Para uma casa equilibrada, com crianças e idosos, o ideal é que os melhores amigos sejam dóceis, estáveis e amigos.
Testes e rankings
Desde o século 19, surgiram dezenas de raças de cães. Cada vez menos, eles eram usados para a caça e a guarda – e, cada vez mais, para a companhia, o principal motivo da adoção de cachorros atualmente.
O ranking de inteligência dos cães desenvolvido pelo psicólogo americano Stanley Coren é ainda uma referência quando se trata de encontrar os animais que respondem melhor ao adestramento e à vida com os humanos.
Mas existem outros parâmetros. O teste de Fisher-Volhard, criado pelos também americanos Gale Fisher e Wendy Volhard há quase 50 anos, é empregado para avaliar diversas características dos peludos, tais como:
- sociabilidade e treinabilidade;
- independência e interação (com humanos e outros pets);
- submissão e obediência às regras;
- dominância;
- medo e timidez;
- obediência e disposição para agradar os tutores.
Outras avaliações são úteis para verificar a resistência à dor e às alterações climáticas, a sensibilidade a ruídos, a capacidade de seguir, orientar, a estabilidade e o equilíbrio, etc. O teste de Fisher-Volhard é aplicado em cães de todas as idades, inclusive filhotes.
Também nos EUA, a American Temperament Test Society (ATTS), desenvolveu uma avaliação para mensurar diversos aspectos do temperamento, como estabilidade, timidez, agressividade e simpatia entre cães adultos.
Algumas raças de cães mais bem avaliadas pela ATTS são praticamente desconhecidas no Brasil. É o caso do cão de lontra (otterhound, uma raça ancestral criada na Inglaterra) e do tamaskan (um cão finlandês, resultante de cruzamentos entre o husky siberiano, o pastor alemão e o malamute do Alasca).
Outras, no entanto, são raças muito bem conhecidas pelos brasileiros. Estes cães podem ser considerados os mais dóceis e equilibrados, lembrando sempre que o desenvolvimento da personalidade envolve características individuais.
Antes de adotar um cachorro, portanto, o ideal é conviver um pouco com ele, verificando as reações em situações diferentes. Em um passeio curto, é possível verificar como o peludo se comporta em relação a pessoas e animais estranhos, a ruídos inesperados (buzinas e gritos, por exemplo), aos comandos, etc.
Os cães mais dóceis e amigáveis
A seguir, apresentamos as raças de cães que obtiveram as melhores avaliações nos testes da ATTS, com algumas adaptações para a realidade brasileira. É importante lembrar que os cães sem raça definida (SRD) – os populares vira-latas – quase sempre reúnem as boas qualidades da espécie e trazem um bônus: raramente desenvolvem as doenças específicas das raças caninas.
01. Retriever do Labrador
É uma das raças de cães mais populares do mundo. Criado no leste do Canadá, na ilha da Terra Nova, inicialmente como cão de trabalho (ele ajudava os pescadores), o retriever do Labrador adora brincar, nadar e mergulhar e, por isso, é eleito por muitos tutores como animal de companhia.
O porte (médio para grande) pode assustar, mas o retriever do Labrador é perfeito para grandes e pequenas famílias: tendo com quem brincar, ele é um cachorro feliz e muito equilibrado. Cheio de energia, ele exige companheiros com muita disposição.
Por outro lado, os cães da raça também gostam de apenas ficar ao lado dos tutores, curtindo a vida. Não por acaso, o retriever do Labrador é empregado como cão terapeuta e guia de portadores de deficiências físicas e emocionais.
Sempre atento (é um bom cão de guarda), o retriever do Labrador é também gentil, carinhoso, amigável com todos e apaixonado pela família. Um cão da raça dedica a mesma atenção ao tutor, a um bebê, a um filhote recém-adotado, etc.
02. American bully
Ele se parece com um pequeno pitbull, o que pode ser um pouco intimidante para algumas pessoas. Mas a cara de bravo e até o próprio nome (“bully” significa “valentão”, em inglês) são apenas disfarces: o american bully é carinhoso e muito companheiro, sempre pronto para compartilhar uma brincadeira mais intensa ou uma soneca no sofá.
A raça é bastante recente: o UKC (United Kennel Club, dos EUA) reconheceu o american bully apenas em 2013. No Brasil, a SOBRACI e a CBKC mantêm padrões oficiais, mas aguardam o posicionamento da Federação Cinológica Internacional, que ainda mantém a raça no Grupo 11, das não reconhecidas.
O american bully é compacto, rechonchudo, forte e muito bem constituído. Ele é basicamente um pitbull reduzido, mas apresenta características de outros “bulls”, como o staffordshire terrier americano (amstaff) e o buldogue americano.
É um cão de pelo curto, com grande força para o tamanho. Além de musculoso, o american bully é muito ativo e ágil, sendo indicado para tutores atléticos. Mas ele é também um cachorro leal e muito apegado à família.
O comportamento agressivo não é característico da raça e, por isso, é altamente indesejável entre os criadores. O american bully não é indicado para a guarda, mas para a companhia, inclusive de crianças pequenas.
Os cães da raça são muito curiosos. Eles precisam de companhia, atenção e adestramento para não desenvolver características destrutivas e territorialistas. Apesar de quase sempre ser descrito como um “baixinho invocado”, o american bully é dócil e muito leal.
03. Golden retriever
Entre os cães de grande porte, o golden retriever é o que faz mais sucesso no Brasil. A raça foi desenvolvida para a caça de aves aquáticas na Inglaterra, no início do século 19. Rapidamente, no entanto, estes cães adquiriram status de animais de companhia.
Além da beleza, os tutores são atraídos pelo temperamento do golden retriever, sempre descrito como amável, gentil e confiante. Esta é mais uma raça que não se presta à guarda e vigilância, mas este cachorro está entre os mais cotados para suporte terapêutico.
O golden retriever muitas vezes é adotado por portadores de deficiência e também é treinado para trabalhar em asilos, hospitais e orfanatos. Os cães da raça também se destacam em operações policiais e de resgate.
Este é um cachorro inteligente, obediente, muito apegado à família, que parece querer sempre agradar os tutores. Até mesmo com estranhos, estes cães se mostram amigáveis. É muito difícil conhecer um golden retriever mal-humorado, indisciplinado ou teimoso. Na verdade, ele é puro amor.
04. Boiadeiro de Flandres
Em geral, os cães boiadeiros apresentam comportamento independente, mas este não é o caso deste nativo da Flandres, região entre a Bélgica, a Holanda e a França. Trata-se de um cão de grande porte desenvolvido para o trabalho.
Há menos de dois séculos, o boiadeiro de Flandres era encarregado de puxar carroças de leite e manejar bois e vacas. Esta “vida dura” tornou os cães da raça bastante resistentes e rústicos. Apesar de precisarem de atividades físicas intensas, eles podem viver em apartamentos, mas precisam de três ou quatro caminhadas diárias.
O boiadeiro de Flandres pode ser descrito como um cão intenso: ele se entrega de corpo e alma a tudo que faz. E uma das coisas que ele faz melhor é cuidar da família: ele está sempre atento para garantir a segurança e o bem-estar dos tutores, o que inclui os bebês e os idosos.
Extremamente inteligente, o boiadeiro de Flandres é indicado também para os tutores que gostam de adestramento. Ele aprende truques com rapidez e pode se tornar o “artista da família” com muita facilidade.
Mas ele não gosta de estranhos. Responsável pela integridade de grandes manadas, o boiadeiro de Flandres não tolera invasores e forasteiros. Ele não é agressivo, mas prefere uma rotina estável, com muita previsibilidade.
05. Pastor alemão
Dotado de personalidade forte, inteligente, robusto e resistente, o pastor alemão é indicado para praticamente todas as atividades caninas atuais: guarda, caça, resgate, operações policiais, manejo de gado, suporte a terapias e, claro, companhia para os humanos.
Ele também é um cão elegante, gentil e ativo. Extremamente atento a tudo que se refere à casa e à família, o pastor alemão é um excelente guardião, mas também um amigo para todos os momentos. Ele tem a capacidade de modular a força, podendo brincar com crianças pequenas, pessoas com mobilidade reduzida, convalescentes, etc.
Ao mesmo tempo, é um cão atlético, extremamente fácil de adestrar, um excelente parceiro para atividades físicas: o pastor alemão é um cachorro para grandes espaços, porque está sempre se movimentando, farejando pistas e garantindo que tudo está em ordem.
Por outro lado, o pastor alemão não gosta de pessoas estranhos e não costuma se dar bem com outros pets (as honrosas exceções servem para confirmar a regra). Ele também não fica bem quando é deixado por muito tempo sozinho, sem nada interessante para fazer.
Símbolo de bravura, o pastor alemão é principalmente um amigo leal e dedicado. Não importa o que os tutores estejam fazendo, ele sempre encontra meios de colaborar. Equilibrado e muito focado, é um cachorro para todos os momentos.
06. Rottweiler
Ele tem “fama de mau” com certa razão. O rottweiler é um excelente guardião de pessoas e propriedades. Forte e robusto, este cachorro também pode ser um excelente companheiro, se for bem educado desde filhote.
A raça foi desenvolvida para o trabalho, tanto no manejo do gado, quanto em campanhas militares: no leste da Alemanha, os rottweiler deram muito trabalho para os expedicionários romanos, que nunca conseguiram ampliar o território além do rio Reno.
O rottweiler consegue se adaptar a diversos ambientes, mas precisa de espaço para se exercitar. Inserido na família, ele interage com todos os membros, mas não tem dificuldade em passar longos períodos sozinho. Ele é sociável, mas não gosta de pessoas estranhas, sempre encaradas como invasoras.
Os cães da raça não são indicados para conviver com bebês, mas podem se tornar bons companheiros de crianças maiores, além de adolescentes e adultos. Ele brinca de forma moderada e, por mais curioso que seja, é um bom amigo de gatos, apesar de afastar todos os cães de grande porte que queiram se aproximar.
O rottweiler pode ser considerado um verdadeiro reflexo dos tutores. Quando é criado isolado, ele pode se revelar agressivo e até mesmo perigoso. Bem adestrado, ele é um cachorro equilibrado e muito gentil, especialmente quando consideramos o porte e a estrutura anatômica.
07. Rough collie
A raça ficou famosa no mundo inteiro a partir do seriado “Lassie”, uma cadela que foi apresentada ao público em 1938 no conto “Lassie Come Home”, do inglês Eric Knight, posteriormente adaptado para as telonas e telinhas. Na TV, foram exibidos episódios inéditos entre 1954 e 1974 e as reprises podem ser assistidas até hoje.
A raça surgiu na Escócia, provavelmente a partir de cruzamentos entre cães nativos e outros levados pelos romanos a partir do século 2º, e foi desenvolvida durante séculos. No século 19, um rough collie foi adotado pela rainha Victoria, da Grã-Bretanha: a partir de então, todos queriam ter um “cachorro da nobreza” para exibir.
O collie é muito parecido com o personagem da TV: inteligente, dedicado e fiel. À primeira vista, ele também impressiona pela beleza, com a pelagem longa e fina (rough), que modela uma estrutura forte e robusta.
Há também collies de pelo curto (smooth), mas são menos conhecidos no Brasil. Outras variedades do collie são o barbudo (bearded) e o border (da fronteira entre Escócia e Inglaterra), considerado o cão mais inteligente de todos.
O rough collie é um companheiro perfeito para crianças e outros pets. Ele adora brincar e é sempre muito gentil. Ele é um pouco desconfiado com estranhos, mas é raro demonstrar agressividade. Os cães da raça latem bastante e não gostam de ser deixados sozinhos, quando podem se tornar destrutivos.
08. Doberman
Ele foi desenvolvido por um coletor de impostos alemão, Karl Dobermann, por volta de 1860. Foi a primeira raça criada para atuar especificamente na proteção. Muito bem-sucedido como cão de guarda, ele rapidamente se tornou também um animal de companhia.
O doberman é um cão de porte médio para grande, com estrutura anatômica compacta, que lhe confere resistência atlética e muita agilidade. Os machos se caracterizam pela aparência musculosa e nobre; as fêmeas são ainda mais elegantes.
Quem adota um doberman deve saber que os cães da raça exigem atividades físicas intensas: eles gostam de correr, saltar obstáculos, farejar pistas e, claro, defender a família. Muito apegados e leais, eles se destacam também pelo espírito brincalhão – mesmo assim, é melhor deixar as crianças pequenas a uma distância segura.
O doberman late muito pouco, mas exige atenção dos tutores. Ele é basicamente um cachorro de família, que precisa interagir continuamente com os demais membros. Isolado, ele pode se tornar agressivo, mas nunca da forma como a raça foi apresentada em alguns filmes dos anos 1980 e 1990.
Inteligente e muito fácil de treinar, o doberman é também extremamente territorialista. Ele adora brincar com crianças maiores. Não é muito interessado em outros cães, mas também pode se tornar um guardião eficiente de animais menores, como gatos e até mesmo periquitos.
09. Poodle
É um dos cachorros mais inteligentes. O poodle aprende com rapidez, é extremamente forte, rústico e resistente, está sempre brincando e explorando e quer ficar sempre ao lado da família. Ele não é indicado para quem quer apenas um cachorro de colo: apesar de gostar muito de mimos e carícias, os cães da raça precisam também de exercícios físicos intensos.
O poodle se apresenta em diversas variedades: toy, anão, médio e standard. Existem também poodles gigantes (com até 60 cm de altura na cernelha), mas eles são raros no Brasil. Os tutores podem escolher o tamanho ideal, mas é preciso lembrar que todos eles pertencem à mesma raça e são igualmente ativos, alegres e intensos. Mesmo um toy não deve ser tratado como bibelô, para que não se torne um cão ansioso, estressado e até mesmo deprimido.
Um poodle pode viver até 18 anos sem grandes problemas de saúde: é uma das raças campeãs em longevidade. Ele exige muita atenção por parte dos tutores, mas se dá bem com crianças de todas as idades, outros cães, gatos, vizinhos, prestadores de serviços, etc.
Ele é um pouco friorento, mesmo para o clima brasileiro. Por isso, a tosa não pode ser radical. O poodle é extremamente sociável, parceiro para todas as brincadeiras e um pouco atrevido: é preciso tomar cuidado para que ele não se meta em apuros.
10. Lhasa apso
Este cãozinho é apaixonado por brincadeiras: ele adora se divertir, mas não precisa de exercícios físicos intensos. Dotado de grande inteligência, o lhasa apso quase sempre inventa brincadeiras e jogos para ocupar o tempo livre.
Ele é também um cão de guarda por excelência. A raça foi desenvolvida nas montanhas do Tibete (Lhasa é o nome da capital do país atualmente ocupado pela China), o lhasa apso está envolvido em diversas lendas, nas quais sempre desempenha o papel de protetor de palácios e mosteiros.
Engana-se quem pensa que, por causa do tamanho, o lhasa apso é um cão frágil. Na verdade, ele não sabe o tamanho que tem e, se considerar que está sendo ameaçado, pode partir para a luta contra adversários muito maiores.
O lhasa apso late muito, excessivamente (mais uma característica de cães guardiães), mantém relações cordiais com todos os membros da família, inclusive outros pets, mas costuma ser mais apegado aos parentes com quem brinca mais.
Ele precisa ser tosado regularmente, mas não apresenta grandes problemas de saúde. Bem educado e socializado, ele se dá bem com todos, mas é sempre mais reservado com pessoas e animais estranhos.
11. Beagle
Ativo, muito alerta. Extremamente gregário e muito ágil, o beagle já foi o cachorro predileto para a caça à raposa, esporte sangrento felizmente já proibido (inclusive na Inglaterra, apesar dos protestos do rei Charles 3º, à época príncipe de Gales). Ele é basicamente um cão de caça.
Mas não é um caçador solitário. Quando a raça foi desenvolvida, o beagle era utilizado em grande matilhas para encontrar e perseguir as presas. Esta função tornou os cães da raça especialmente barulhentos: ele adora latir, especialmente quando encontra novidades boas (como um brinquedo) ou más (como a explosão de fogos de artifício).
É impossível não notar quando um beagle está por perto. Ele sempre quer interagir e fazer novas amizades. Por isso, preciso da atenção dos tutores, a quem dedica os melhores afetos. Extremamente inteligente, o beagle é capaz de aprender truques em apenas uma ou duas sessões de treinamento.
Os cães da raça não são nem um pouco territorialistas nem agressivos. O único problema é que, deixados sozinhos, eles podem desenvolver alguns transtornos emocionais. O beagle precisa de companhia até mesmo para dormir: ele é ideal para quem quer dividir a cama com um peludo.
12. Pug
Encerrando a lista, o pug, com a sua carinha de frágil e desprotegido, está entre os cães mais dóceis que existem. Ele é realmente frágil: o focinho curto e achatado prejudica funções importantes, como respiração e frequência cardíaca.
Por isso, o pug não é nem um pouco atlético. Um passeio de 15 minutos ou uma brincadeira com bolinha em cima do sofá são suficientes para deixá-lo exausto. Ele gosta mesmo é de tirar longas sonecas ao lado dos tutores – se possível, no colo.
As condições físicas poderiam ser melhores, mas as emocionais não deixam nada a desejar. O pug é um cachorro amoroso, leal, divertido e muito apegado – um verdadeiro chicletinho. Ele gosta de cães, gatos e mais ainda de crianças.
A raça não é ideal para o adestramento. O pug consegue aprender rapidamente os comandos básicos, mas dificilmente vai além disso. Ele se adapta bem em pequenos espaços (mas solta grande quantidade de pelos). É basicamente um cãozinho de colo, para mimar e acariciar.