Cachorros descendem de lobos e por isso se parecem com eles. Veja as raças mais semelhantes.
Os cachorros não são descendentes diretos dos lobos. Se fosse assim, os lobos não existiriam mais, tendo dado lugar à nova espécie que a seleção natural determinou. Os avós dos cães domésticos são lobos ancestrais, que desapareceram há muito tempo. Mesmo assim, lobos e cachorros se parecem bastante – especialmente algumas raças de cachorros.
Os cachorros vivem com os humanos há cerca de 15 mil anos e a domesticação teve início em dois locais diversos: a Europa ocidental e a Sibéria oriental, daí se espalhando pelo restante da Eurásia e do mundo.
Alguns dos nossos ancestrais dessa época observaram a força, inteligência e espírito gregário dos cães primitivos e aparentemente tiveram a mesma ideia: “e se nós os usássemos para ajudar na caça?”.
Assim nasceu a parceria. Mas os cães se revelaram bastante versáteis. Em pouco tempo, não eram apenas companheiros de caça: além de capturarem animais na terra, na água e no topo de árvores, eles faziam a sentinela, tomavam conta das crianças, pastoreavam rebanhos, impediam o ataque das feras.
À medida que as atividades humanas foram se diversificando, os cachorros também tomaram formas anatômicas diferentes, para nos acompanhar. Assim, eles se separaram em raças, como o antigo molosso, um cão imenso que acompanhou gregos e romanos, e o yorkshire terrier, pequeno o suficiente para se aventurar em galerias de minas para dar combate a roedores.
Os cães mais parecidos com lobos
Algumas raças caninas mantiveram características semelhantes às apresentadas pelos lobos atuais – inclusive, há registro de cruzamentos entre cachorros e lobos cinzentos, vermelhos e brancos, que geraram descendentes férteis, o que demonstra a proximidade das duas espécies.
Além dos lobos, o gênero a que os cães pertencem (Canis) também inclui os coiotes e os chacais. Em comum, todos eles apresentam focinho alongado, excelente olfato e visão (que permitem a caça de dia ou à noite), orelhas triangulares (mantidas em pé quando os animais estão atentos) e pernas longas para facilitar o rápido deslocamento.
Além disso, estes animais são gregários, isto é, vivem em grupos organizados, às vezes estratificados de forma bastante sofisticada. Foi esta característica que permitiu a parceria entre caninos e humanos: os cachorros foram os primeiros animais domesticados pelos homens.
1. Cão-lobo checoslovaco
Ninguém melhor para se parecer com um lobo do que um híbrido. Esta raça surgiu em 1955, na então Checoslováquia (desde 1992, desmembrada em dois países: República Checa e Eslováquia), fruto do cruzamento entre uma loba e um pastor alemão.
A experiência foi conduzida pelas forças armadas checoslovacas na região dos Cárpatos, a ala oriental das cordilheiras europeias. O objetivo era descobrir se cruzamentos entre as duas espécies poderiam gerar descendentes férteis.
O experimento se prolongou até 1965, quando um plano de manejo foi organizado no país (a Checoslováquia era uma república socialista, com governo centralizado). Em 1982, o cão-lobo foi reconhecido como símbolo do país, um animal que reúne as qualidades do lobo e do pastor alemão. A raça é reconhecida pela Federação Cinológica Internacional (FCI).
O padrão oficial descreve o cão-lobo checoslovaco como um cão ativo, vívido, resistente, dócil com reações rápidas, destemido e corajoso. Os cães da raça desenvolvem relações sociais hierarquizadas com os tutores e todos os membros da família. O latido não é natural e eles experimentam outras formas de vocalização.
2. Cão-lobo de Saarlos
A raça foi desenvolvida nos Países Baixos, por Leendert Saarlos. O experimento não foi documentado, mas este cão se originou do cruzamento entre um pastor alemão macho e uma loba criada em cativeiro. Outras versões dão conta de que o Saarlos seria uma subespécie do lobo russo (Canis lupus albus) ou do lobo canadense (Canis lupus occidentalis).
Fisicamente, trata-se de um cão molossoide, que atinge 75 cm de altura e 45 kg de peso (as fêmeas são bem menores). Ele é descrito como um animal de pernas muito longas, manto curto e condicionamento físico invejável.
A raça foi desenvolvida na década de 1960 (Saarlos morreu em 1969) e reconhecida oficialmente pela FCI apenas em 2014. É um cachorro imponente, alegre, curioso e independente, mas praticamente desconhecido no Brasil.
3. Pastor belga
No início do século 19, havia uma infinidade de cães condutores de rebanhos na Bélgica, mas não havia um tipo homogêneo. Um grupo de professores da Universidade de Kuregen (Bruxelas) decidiu acompanhar donos de cães, para orientá-los em relação aos cruzamentos.
Foram décadas de tentativas, para fixar as qualidades desejadas em um cão de pastoreio: força, coragem, independência e tolerância com outros animais. O primeiro Clube do Pastor Belga foi fundado em 1891, mas a raça foi reconhecida apenas em 1897.
O pastor belga é um cão de porte médio para grande, bem proporcionando, poderoso e elegante. É um animal rústico, desenvolvido para a vida ao ar livre. Os machos atingem 62 cm de altura e as fêmeas, 58 cm. São quatro variedades da raça: groenendael, malinois, laekenois e tervueren, o mais parecido com um lobo, especialmente os cães cinza e preto (há também castanho e preto).
4. Pastor alemão
A raça foi, durante décadas, a mais popular no Ocidente. O pastor alemão, também conhecido como lobo-da-Alsácia, foi oficialmente apresentado em 1899 e, desde então, é um grande destaque quando se fala de força, resistência, agilidade e lealdade.
Os cães da raça se adaptam às mais diversas tarefas. Leais e afetuosos, são excelentes animais de companhia, mas também atuam na caça, pastoreio, guarda, sentinela, defesa e ataque, rastreio de pessoas e objetos, guia e terapia.
Cães de grande porte (65 cm de altura para os machos e 60 cm para as fêmeas), os pastores alemães se apresentam em diversas cores (preto e vermelho, preto e amarelo, preto e cinza, preto sólido). São animais versáteis, inteligentes e muito afetuosos com toda a família.
5. Samoieda
É uma raça de cães do tipo spitz originária da Sibéria (norte da Rússia). O nome é o mesmo de um grupo nômade que habita essas planícies geladas. Os samoiedas usavam cães de várias cores nas atividades mais ao sul, mas apenas cães brancos para caça e tração nos territórios ao norte.
Atualmente, apenas samoiedas brancos são permitidos pelo padrão oficial. Os machos atingem 57 cm de altura e as fêmeas, 53 cm. Apesar de terem desenvolvido as mesmas atividades durante milênios – basicamente, caça, transporte de cargas em trenós e pastoreio – estes animais são doceis, brincalhões e bons companheiros de todos os membros da família.
6. Husky siberiano
Um “vizinho” do samoieda, foi desenvolvido no nordeste da Sibéria, na região da península de Kamtchaka. Posteriormente, foi introduzido no Alasca, que, até 1867, quando foi vendido para os EUA, integrava o Império Russo.
O husky siberiano começou a se tornar popular em 1867, quando uma matilha de cães da raça ajudou a salvar a população de Nome, uma aldeia do Alasca que ficou sitiada em uma tempestade de neve, levando mantimentos e medicamentos. Os machos atingem 60 cm de altura e as fêmeas, 56 cm. São cães rústicos e fortes, que se apresentam em uma infinidade de cores, do branco puro ao chocolate, com animais mesclados de branco, cinza, preto e marrom.
7. Cão esquimó canadense
Também é conhecido como quimmit, que significa “cachorro” em inuíte, idioma falado no Ártico. É um cão de trabalho trazido da Sibéria para a América do Norte há cerca de 1.000 anos.
Estes cães, muito próximos dos lobos, são geneticamente idênticos aos cães da Groenlândia, que chegaram à “Ilha Verde” muito antes, cerca de 12 mil anos atrás. Isto significa que todos os modernos cães da região ártica descendem de animais colonizaram a região pouco depois da domesticação do cachorro.
A raça está em perigo de extinção: calcula-se que haja apenas 300 cachorros puros vivendo no norte do Canadá. O cão esquimó, fundamental nas andanças dos humanos pelo norte do planeta – puxando trenós e carregando a caça –, é cada vez menos usado no trabalho e, ao contrário de outras raças, não caiu no “gosto popular”. Organizações canadenses lutam pela perpetuação da raça.
8. Shar-pei
Como todas as raças chinesas, o shar-pei é um cão primitivo, muito próximo geneticamente aos lobos ancestrais. Ele já foi usado como cão de guarda, luta, guarda, rastreio e pastoreio. Os cães da raça são extremamente inteligentes, mas a persistência torna o adestramento um pouco difícil.
A raça é mais conhecida pelas muitas dobras de pele e pela língua “azul” (junto com o chow-chow, o shar-pei é o único cão que não tem a língua rosa). Apesar de estas características o afastarem do padrão do lobo, vale lembrar que os shar-peis originais apresentam menos dobras e focinho mais afilado do que os seus colegas ocidentais.
Um shar-pei chega a atingir de 46 cm a 51 cm de altura – os machos são mais robustos, mas não são maiores. Em competições oficiais, todas as cores são aceitas, com exceção do branco. A pelagem é curta, dura e eriçada. O padrão brasileiro descreve o focinho dos cães da raça como “nariz de hipopótamo”.
9. Chow-chow
Originalmente, era um cão de caça, de guarda e de tração. A origem é imprecisa, mas exames de DNA indicam que os ancestrais do chow-chow foram levados na Mongólia ou da Sibéria para a China, onde receberam o nome “songshi quan”, ou “cão-leão empolado”.
Cães semelhantes ao chow-chow aparecem em decorações de objetos da dinastia Han, que teve início em 206 AEC. Durante a dinastia Tang (581-618), os canis imperiais chegaram a abrigar 2.500 cães da raça. O chow-chow só ficou conhecido no Ocidente no século 19. Em função da aparência, eles chegaram a ser expostos em zoológicos ingleses.
O chow-chow é um cão independente, reservado e silencioso, mas bastante leal, apesar de persistente. Os animais da raça são conhecidos como “cães de um dono só” – e eles demonstram claramente a preferência por um dos membros da família. Os machos atingem 56 cm de altura e as fêmeas, 51 cm.
10. Shiba inu
A raça é nativa do Japão, uma das ancestrais do akita. Ossadas de cães com características semelhantes encontradas na região central da ilha de Honshu demonstram a antiguidade da raça. Shiba inu significa apenas “cão pequeno”, em japonês. Ele mantém as proporções do cachorro (ou do lobo), reproduzidas em tamanho menor.
Apesar do tamanho pequeno, o shiba é bem balanceado, com boa ossatura e músculos bem desenvolvidos. A constituição é sólida e a movimentação é ágil, rápida e elegante. Apesar de antigo, o padrão oficial foi descrito apenas em 1934. Três anos depois, o shiba foi declarado “monumento natural do Japão”.
Os cães da raça se caracterizam pelo “urajiro”, pelos esbranquiçados nas laterais do focinho, nas bochechas, na parte inferior da mandíbula e do queixo, no peito, abdômen, parte inferior da cauda e faces internas das pernas. Um macho pode atingir 39,5 cm de altura e uma fêmea, 36,5 cm.
11. Akita
Mais um cão japonês, desta vez originário das montanhas do norte do país. É uma das raças orientais mais populares no Brasil. Originalmente, a raça foi desenvolvida para ser usada na caça a ursos e, posteriormente, em rinhas de cães.
Em 1931, as lutas foram proibidas no país, mas o akita manteve destaque entre os japoneses. Durante a Segunda Guerra Mundial, o padrão canino desejado era o pastor alemão – e a raça nativa quase foi extinta.
O akita é um canzarrão de constituição robusta, bem balanceado e com muita substância. Os cães da raça apresentam aparência nobre e digna. Os machos atingem 67 cm de altura e as fêmeas, 61 cm. Além do branco, as cores permitidas são vermelho-fulvo, sésamo, tigrado, sempre com a presença do “urajiro”.
12. Lappshund
Este cão sueco (ou outro animal muito parecido) está presente em gravuras datadas de sete mil anos. A raça foi desenvolvida para a caça às renas e, posteriormente, ao pastoreio desses animais, quando eles foram domesticados. O termo significa “hound da Lapônia”.
O lappshund entrou em declínio no início do século 20, mas alguns criadores revitalizaram a raça na década de 1960. Atualmente, são populares na Grã-Bretanha e na Escandinávia, onde são adotados principalmente como cães de companhia.
A raça é reconhecida pela FCI, mas não há criadores no Brasil. Trata-se de um cão bastante teimoso, o que torna o adestramento difícil. O lappshund é muito peludo, de cor sólida (preto, marrom ou bege), atinge 48 cm nos machos e 43 cm nas fêmeas.
13. Spitz dos visigodos
Os visigodos foram um povo germânico originário do leste europeu. Com a queda do Império Romano do Ocidente, eles ocuparam o nordeste europeu – Polônia e Escandinávia. E levaram os seus spitz com eles.
Spitz, por definição, é um cão primitivo. Estas raças estão entre as primeiras desenvolvidas pelos humanos. O spitz dos visigodos descende provavelmente dos corgis escandinavos, que acompanharam os vikings em suas conquistas.
A raça é considerada a símbolo canina da Suécia, mas foi quase extinta durante a Primeira Guerra Mundial e ainda hoje é raro ver um spitz dos visigodos nas ruas das cidades suecas. Trata-se de um cão de médio porte, atingindo 16 kg. Estes animais são independentes, de adestramento difícil, mas muito fiéis e amorosos.
14. Laika da Sibéria Oriental
A raça se originou da miscigenação de outras quatro laikas relativamente comuns na Rússia. Trata-se de um cão de caça e tração, menos conhecido que o seu “primo” ocidental, mas maior do que ele: os machos atingem 64 cm de altura e pesam até 23 kg. Cães da raça já eram conhecidos por tribos nômades do leste russo há mais de oito mil anos.
A laika da Sibéria Oriental é um cão rústico e primitivo, bastante semelhante aos lobos. Estes cães exibem orelhas triangulares pontiagudas, pelagem impermeável, focinho alongado e dentição completa (42 dentes).
Apesar da aparência selvagem, os cães são amistosos e bastante afetuosos com os tutores. Atualmente, são adotados basicamente como cães de companhia e mostram-se equilibrados, leais e excelentes amigos das crianças.
15. Basenji
É uma das poucas raças desenvolvidas na África reconhecida internacionalmente. Há desenhos de cães semelhantes ao basenji datados de mais de quatro mil anos, encontrados em tumbas egípcias da quarta dinastia.
A raça foi descoberta pelos europeus no início do século 19, quando os belgas ocuparam a atual região do Zaire. O basenji não late, apenas emite uivos, descritos no padrão oficial como uma mistura de chortel (risada de desdém) com yodle (cantiga que alterna a voz normal e o falsete).
O basenji é um cão leve e ágil, com pelagem curta, adaptado ao calor tropical. Ele pode ser bicolor e tricolor (sempre exibindo branco) ou tigrado. Os machos atingem 43 cm de altura e as fêmeas, 40 cm.
16. Utonagan
Não é uma raça, mas um projeto. Em 1987, alguns cães americanos ou canadenses foram levados para a Grã-Bretanha, com o objetivo de criar uma raça mais próxima aos lobos. Foram usados huskies siberianos, malamutes do Alasca e pastores alemães.
O “patriarca” o grupo, chamado Buck, foi apresentado como um híbrido (filhote de cachorro com lobo), mas era bem parecido com um malamute. Os filhotes de Buck tiveram maior aceitação pelos cinófilos ingleses.
Utonagan é um termo retirado da mitologia indígena norte-americana. A palavra pode ser traduzida como “espírito do lobo”. Os cães da nova raça, no entanto, atualmente apresentam porte médio. São musculosos, com o corpo esbelto, fortes e resistentes.
A pelagem é creme, prata ou marrom, podendo ter uma capa preta sobre o dorso. Há também exemplares brancos com manchas marrons, pretas ou acinzentadas. A raça ainda não foi reconhecida por nenhuma entidade cinológica de expressão internacional.
17. Inuit do norte
Quem assistiu à série “Game of Thrones” está familiarizado com os lobos terríveis, que tiveram um inuit do norte como modelo. Um cão da raça também já se apresentou na Broadway (Nova York, EUA), na peça “O Crisol”, que fala sobre a caça às bruxas de Salém.
A raça foi desenvolvida nos anos 1980, na Grã-Bretanha, com o mesmo objetivo do utonagan: aproximar cachorros e lobos. O utonagan, aliás, é parte do projeto de seleção de raças, que se desdobrou em projeto independente posteriormente.
Para a criação do inuit do norte, foram levados alguns cães norte-americanos de origem desconhecida, cruzados com malamutes do Alasca, pastores alemães, huskies siberianos e provavelmente samoiedas.
O inuit do norte continua perseguindo o seu objetivo: ser um cão de companhia, semelhante aos lobos cinzentos dos EUA e do Canadá: forte, rústico, resistente, bonito e ágil, mas ao mesmo tempo dócil e afetuoso com a família. A raça também não obteve ainda reconhecimento internacional.