Cães latem. Apesar do óbvio, algumas raças de cachorros são mais barulhentas. Descubra quais.
Latir é a forma de comunicação mais eficiente que os cães desenvolveram. Eles não possuem uma linguagem articulada, como a humana, mas comunicam as suas vontades, desejos, medos e ansiedade através dos latidos.
Mas, por que os cães latem? Na natureza, os lobos – ancestrais dos nossos peludos – são mais silenciosos. As raças de cachorros mais barulhentas são justamente aquelas que transformaram o latido alto e sonoro em um alarme.
O latido não é a única maneira que os cachorros têm para se comunicar: eles também são mestres na linguagem corporal e nas expressões faciais (além dos humanos, o cachorro é das poucas espécies que desenvolveram um repertório amplo de “caras e bocas”).
Mesmo assim, “pôr a boca no trombone” continua sendo uma estratégia eficaz para atrair a atenção da “matilha” – todos os que partilham a mesma residência. Seja para alertar contra um perigo iminente, que pode ser apenas a aproximação do caminhão de gás, seja para ganhar colo e carinho dos tutores.
Os motivos para latirem tão alto
Por mais chato que seja aos ouvidos dos outros, os latidos dos cachorros cumprem funções sociais. Os peludos latem para alertar sobre algum perigo, afastar intrusos, comunicar alguma coisa (entre eles mesmos e para os tutores) e também para convidar para a brincadeira.
Os cães também latem, entre outras razões, para defender o território, por medo, para alertar sobre problemas de saúde, quando percebem outro cachorro na área (especialmente entre machos). Os cachorros dominantes latem mais que os submissos.
O motivo igualmente pode ser o tédio: o cachorro passa muito tempo sozinho, sem nada para fazer e tenta encontrar um meio de chamar a atenção.
O cairn terrier (antigo skye terrier de pelo curto) é considerado o cão mais barulhento entre todos. A raça se desenvolveu na Escócia e recebeu o nome porque já foi especializada em afugentar roedores escondidos em pilhas de pedra (ou “cairns”, em inglês). O cairn não entra na nossa lista por ser ainda pouco conhecido no Brasil.
Os campeões do barulho
Não existe um conjunto fechado de comportamentos e atitudes específicos para cada raça canina. No entanto, a maioria dos cachorros tende a agir da maneira para a qual os ancestrais foram criados. Os que se desenvolveram para fazer barulho são apresentados a seguir.
1. Golden retriever
É uma das raças caninas mais populares no Brasil. O golden retriever não late o tempo todo, mas possui o latido mais poderoso da espécie: eles atingem 113 decibéis, algo semelhante à buzina de um carro de passeio.
A raça foi desenvolvida para o resgate de caça, especialmente miúda. Ao encontrar as presas, os golden retrievers originais faziam muito barulho para atrair os caçadores humanos. A “habilidade” foi mantida, mesmo entre os cães que moram na cidade e nunca caçam nada.
2. Yorkshire terrier
A raça foi desenvolvida para caçar ratos nas galerias escuras das minas de carvão do Condado de Yorkshire, Inglaterra. Eles faziam ruído sempre que percebiam a presença de roedores, seja para afugentá-los, seja para pedir ajuda quando a presa era grande demais.
Posteriormente, os yorkies foram levados para as casas, com a função de espantar pequenas pragas de jardins e hortas. Eles latiam muito ao avistar esquilos e marmotas vasculhando os canteiros – e eram recompensados pelos tutores sempre que tinham sucesso em evitar a destruição.
3. Poodle
Eles podem parecer aristocráticos, mas já trabalharam muito pesado. Os poodles eram os responsáveis por mergulhar em lagoas frias da Alemanha e França, para resgatar as aves abatidas a tiros por seus tutores.
Os latidos serviam para indicar a posição da lagoa em que estavam. A tosa do poodle foi desenhada para que os cães não ficassem encharcados, mas mantivessem áreas anatômicas protegidas nos mergulhos em águas frias.
4. Chihuahua
A menor raça canina do mundo tem como principal motivo para latir o fato de que os chihuahuas não se consideram tão pequenos assim. Eles estão dispostos a encarar qualquer desafio e não levam desaforo para casa. São baixinhos atrevidos.
Inteligente, expressivo, curioso e muito afetuoso, o chihuahua sente necessidade de defender os tutores. Os cães da raça são bons guardiães e, por isso, excelentes babás. Ele é corajoso e faz qualquer coisa para impedir o ataque de um inimigo.
5. Pinscher miniatura
Além de latir muito, os cães da raça vocalizam latidos agudos e estridentes. O porte reduzido levou a um comportamento de ataque e defesa: já que os pinschers miniatura não assustam pelo tamanho, eles compensam no barulho.
Eles são muito apegados aos tutores, o que denota certo ciúme nos latidos, especialmente quando pessoas estranhas estão presentes. São muito ativos e adoram brincar, mas crianças pequenas podem irritar os pinschers.
6. Pastor de Shetland
Ao contrário dos demais pastores, o Shetland tem porte pequeno para médio. É um cachorro valente e ousado, mas não causava muito temor nos predadores que tentavam caçar ovelhas nos rebanhos ingleses.
O pastor de Shetland desenvolveu uma estratégia: latir sem parar, modulando as vocalizações do muito grave ao muito agudo, até que o invasor decidisse ir embora – ou até que os pastores humanos percebessem o movimento inusitado.
7. Setter irlandês
Mais uma raça de porte grande para desmentir que só os nanicos latem muito. O setter irlandês foi desenvolvido no século 18, para a caça rápida. Os cães da raça apresentam faro apurado e, quando percebem vestígios de uma presa, não desistem.
As caçadas eram feitas com muito barulho: além dos latidos, trompas de caça soavam para sinalizar o local de refúgio das presas. O setter irlandês continuou barulhento, mesmo servindo como cão de companhia nos dias de hoje. Pode ser um bom cão de guarda.
8. Lulu da Pomerânia
Ele é o menor dos spitz ou cães primitivos, os primeiros a serem domesticados pelos humanos. O spitz anão (nome oficial da raça) é originário da Pomerânia, região na fronteira da Alemanha e Polônia.
Pelo porte, o lulu da Pomerânia pode ser criado em qualquer lugar – um pequeno apartamento ou uma casa de fazenda. É preciso cuidado para não deixá-lo em lugares altos, nem em pisos escorregadios. Ele late bastante: é a forma que encontrou para contribuir na vigilância da casa.
9. Doberman
Geralmente, o doberman é silencioso, mas faz uma grande algazarra quando percebe algo estranho. A raça não foi desenvolvida para caça, mas para a guarda pessoal: um cobrador de impostos alemão precisava de um parceiro que intimidasse forasteiros com más intenções.
Ao perceber sinais de perigo ao redor, o doberman literalmente põe a boca no mundo. Ele late ferozmente, arreganha os dentes e, se o incauto decidir invadir mesmo assim, certamente terá sérios ferimentos. Normalmente, os latidos roucos são suficientes para manter a paz e tranquilidade.
10. Lhasa apso
É um cão desenvolvido para servir como sentinela em monastérios budistas do Nepal e Tibete. O mais bem adestrado dos lhasa apsos continuará latindo, mesmo que reserve as “manifestações” para momentos especiais.
Na verdade, os cães da raça só latem quando entendem que algo destrutivo ou ameaçador está se aproximando. O problema é que, em função do porte, qualquer coisa pode parecer assustadora. Por outro lado, é um cachorro tranquilo e obediente, mesmo porque o fôlego do lhasa apso é curto em função do focinho achatado.
Os motivos de cada um
Os beagles, por exemplo, foram desenvolvidos para caçar em bandos. Quando um cachorro encontra a presa – ou um vestígio dela – imediatamente põe-se a latir para informar os companheiros. Um beagle sozinho não tem porte suficiente para enfrentar a caça sozinho.
Os weimaraners, ao contrário, são cães extremamente silenciosos – até por isso, a raça foi apelidada de “fantasma cinza”. Eles foram criados para a caça solitária e precisavam fazer tudo: farejar, seguir os rastros, apontar e até entrar em luta corporal com os adversários. Uma aproximação silenciosa aumenta as chances de sucesso.
Da mesma forma, os cães desenvolvidos para a luta – buldogues ingleses, bull terriers, pit bulls e outros – estão entre as raças mais barulhentas. Neste caso, os latidos, que indicam agressividade e violência, são usados para intimidar os oponentes.
As raças de pequeno porte parecem ter se especializado em funcionar como alarmes. O lulu da Pomerânia, um dos campeões do barulho, tem ouvidos extremamente sensíveis e quase sempre é o primeiro a perceber a aproximação de um estranho – e, claro, usa os latidos agudos para alertar todo o grupo.
O adestramento
Todos os cães, mesmo os mais barulhentos, podem ser treinados para latir menos. O primeiro passo para reduzir os latidos é descobrir o que provoca a atitude considerada inadequada. É preciso descobrir o que faz o cachorro descontroladamente.
Encontrada a raiz do problema, ela deve ser removida, se possível. Mas existem pets que ficam furiosos toda vez que veem um entregador ou prestador de serviços se aproximando. Nesse caso, o tutor deve colocar correia e guia no peludo, aproximar-se do profissional e conversar tranquilamente, sem dar atenção.
O comportamento só deve ser reprimido se o cachorro não parar de latir, mas eles dificilmente continuam a barulheira quando percebem que o “invasor” não representa perigo. Se a bagunça continuar, o tutor deve reprimir seriamente e repetir a experiência sempre que surgir nova entrega ou reparo em casa. Com o tempo, o cão deixa de reproduzir a conduta.
Os cachorros podem associar os latidos excessivos à conquista de prêmios e recompensas. Se os tutores se aproximam sempre que eles fazem barulho, se a coleira aparece num passe de mágica, se o petisco é oferecido rapidamente, eles repetirão o barulho porque terão aprendido que a estratégia surte efeito.
Por isso, nunca estimule o cachorro. Ele não deve ficar afoito em nenhuma situação: horário do passeio, vontade de sair de um local fechado, chegada dos tutores em casa. Faça-o perceber que a ansiedade não leva a nada e os latidos não são um passaporte para ganhar o passeio, um carinho ou alguma atenção.