Esqueça poodles, yorkies e pastores. Está na hora de conhecer as raças mais estranhas do mundo.
Desde que passaram a viver com os humanos, os cachorros atuaram em diversas funções e, para dar o melhor possível, desenvolveram tamanhos, formas e pelagens diferentes. Muitos peludos perderam essas funções originais, mas conservaram formas estranhas: há cães pelados, com dreadlocks, gigantes e nanicos. Alguns são muito raros e estão entre os mais diferentes do mundo.
Algumas características, apesar de terem caído no gosto do público, chegam a prejudicar a saúde e até mesmo o desempenho funcional de alguns cães. Alguns animais tiveram o focinho tão reduzido que passaram a ter dificuldades para respirar, enquanto outros se tornaram tão agressivos que deixaram de servir para a companhia humana.
A seguir, apresentamos algumas raças caninas que são verdadeiramente estranhas. Outras são apenas muito diferentes dos cães que conhecemos – seja em casa, seja nas ruas de qualquer cidade brasileira.
Pode ser divertido compará-las com o peludo da família, seja ele um imenso dogue alemão, um minúsculo chihuahua ou o extremamente popular e muito querido vira-lata caramelo. Talvez as referências sirvam para quem esteja procurando algo além de dobermans, beagles e pugs.
01. Azawakh
Ele é companheiro e protetor dos tuaregues, um povo berbere constituído por pastores nômades e agricultores. No Mali (noroeste da África, a terra natal do Azawakh), ele também responde pelo nome de “cão nobre de pessoas livres”.
Entre os tuaregues, o azawakh é considerado um membro da família: ele é independente, mas leal e muito apegado aos parentes. Esgalgados e ágeis como um greyhound, os cães da raça se especializaram na corrida e na caça de antílopes e javalis.
02. Bedlington terrier
Não se sabe muito sobre a história da raça, mas acredita-se que o bedlington terrier acompanhou grupos de romanis que estacionavam nas proximidades de Rothbury, cidade no norte da Inglaterra, às margens do rio Coquet. O bedlington terrier foi apresentado pela primeira vez em uma feira cinológica em 1870.
Esta raça é muito longeva. O bedlington terrier se destaca por apresentar um topete ao longo do focinho, que confere um aspecto pouco “canino”. A pelagem varia em quatro colorações e é composta por pelo e sobrepelo. Alguns exemplares também apresentam franjas sedosas e brancas nas orelhas.
03. Borzói
Ele já era criado na Rússia no século 14, onde era a raça preferida para corridas e caçadas. No século 15, cruzamentos seletivos aumentaram o tamanho do borzói e também a sua pelagem, que se tornou longa e encaracolada, para suportar melhor as temperaturas frias do país.
Diversos czares russos exibiam seus borzóis para os visitantes, que, quando considerados dignos, eram presenteados com filhotes. A raça entrou em declínio com a Revolução Russa (1917), porque os borzóis eram identificados com a nobreza e a aristocracia. Levados para outros países da Europa e para os EUA, eles se tornaram relativamente populares.
04. Cantor da Nova Guiné
Ele pertence a outra subespécie: Canis lupus hallstromi. Trata-se de um cão selvagem encontrado principalmente na Nova Guiné, uma ilha do sudoeste do oceano Pacífico, para onde exemplares foram levados há milhares de anos.
O cantor da Nova Guiné continua levando vida selvagem, mas eventualmente interage com humanos. A principal característica é o uivo prolongado, que lembra um canto melódico. Atualmente, existem apenas dois grupos de cantores sendo acompanhados por pesquisadores.
05. Catalburun
O que mais chama atenção neste cão nativo da Turquia é o fato de ele ter dois narizes. O nome da raça pode ser traduzido do idioma local para algo como “nariz de garfo”. As narinas do catalburun são totalmente diferentes, mas isso não parece trazer nenhum benefício adicional.
Os cães da raça são molossoides – eles provavelmente descendem diretamente dos antigos molossos romanos, que caminharam pela Ásia Menor ao lado dos soldados imperiais. Fortes e musculosos, eles se destacam como caçadores e, mais recentemente, como cães de guarda.
06. Chinook
Esta é uma das poucas raças caninas desenvolvidas nos EUA que obteve reconhecimento internacional. O chinook foi desenvolvido por exploradores, para auxiliar na Corrida do Ouro do Alasca (1896-1899). Até hoje, os cães da raça gostam de atividades ao ar livre.
Cães de trabalho, os chinooks estão sempre nos primeiros lugares em importantes provas de tração. Eles são cães atléticos, rústicos e muito resistentes. Eles são resultantes de cruzamentos entre cães esquimós e mastins, o que também garantiu um faro apurado e a excelência na caça.
07. Crista chinês
Cães sem pelo sempre parecem estranhos à primeira vista. Por sorte (ou azar), o cão de crista chines, além de ser pelado, exibe um belo topete que recobre o topo do crânio e as orelhas. A cauda também é bem recoberta de pelos.
A origem da raça é imprecisa, mas animais muito parecidos com o cão de crista chinês podem ser vistos em ilustrações da Dinastia Han (200 AEC- 200 EC). Eles eram maiores e mais pesados, mas, quando finalmente chegaram ao Ocidente, no século 19, já tinham porte semelhante ao atual. Estes cães saíram de moda, mas reapareceram com muito estilo a partir de 1970.
08. Dingo americano (cão da Carolina)
O cão da Carolina provavelmente já vivia na costa leste americana quando os primeiros exploradores europeus chegaram, no século 16. Também chamado de dingo americano (apesar de não ter nenhum parentesco com o animal australiano), ele é considerado inteligente e um excelente caçador.
Praticamente, não há mais matilhas selvagens de cães da Califórnia. A maioria dos espécimes acaba sendo confundida com pastores alemães, mas o dingo americano é menor e a pelagem é sempre tan ou jaspeada, com manchas brancas ou não. São cães que adoram a vida ao ar livre, extremamente resistentes e muito pouco obedientes a ordens humanas.
09. Kangal
À primeira vista, não há nada estranho com este cachorro, além do tamanho, que pode ser gigantesco. Há descrições da raça pelo menos desde o século 17 e ele já foi empregado como cão de caça e de guerra.
A “característica especial” do kangal está na boca: ele é o detentor da mordida mais potente no mundo canino. A pressão pode atingir 337 kg – isto é quase o dobro da observada em dobermans e dogues alemães.
O kangal é usado até hoje no pastoreio. Ele não tolera outros animais por perto, mas, apesar da força na mandíbula, ele nunca é descrito como agressivo, dominante ou territorialista. Ele é apresentado como independente, inteligente, rústico, corajoso e leal aos tutores.
10. Komondor
Este simpático cão pastor surgiu na Hungria, por volta do século 9º. É provável que ele tenha chegado à Europa junto com os magiares, povo seminômade que vivia nas estepes asiáticas e migrou para o oeste.
A pelagem do komondor é branca ou creme, muito semelhante à dos ovinos. As feras – lobos e ursos, especialmente – confundiam o pastor com uma presa e, na hora do ataque, tinham uma bela surpresa.
A surpresa maior, no entanto, está nos dreadlocks que recobrem todo o corpo dos cães da raça. O komondor é um animal de grande porte, bastante rústico (ele não se adapta muito bem a ambientes urbanos), mas tem a aparência de um precursor do reggae.
11. Kooikerhondje
Ele é nativo dos Países Baixos (o “palavrão” acima significa “pequeno cão holandês”) e já foi usado na caça a aves aquáticas, que eram atraídas pela aparência alegre e bem disposta, que parece estar sempre convidando para brincadeiras.
O kooikerhondje é cheio de energia, muito ativo, sempre disposto a correr, saltar e superar obstáculos. Mesmo assim, consegue se adaptar à vida em pequenos ambientes, como casas sem quintal e apartamentos. Apesar do porte, este é um cão esportivo.
12. Lagotto romagnolo
O início da história da raça é parecido com a do poodle: estes cães foram desenvolvidos para mergulhar em águas frias (os lagos e pântanos da Romanha) para recuperar aves abatidas em voo, logo no início do século 19.
Mas, com a escassez de recursos hídricos na região, o lagotto romagnolo desenvolveu outra especialidade: farejar trufas, cogumelos subterrâneos muito festejados na gastronomia gourmet. Ele realmente se parece com um poodle, com o pelo farto e encaracolado, é dócil e inteligente, mas com uma aparência estranha.
Os cães da raça parecem ser especialmente suscetíveis a alguns tipos de epilepsia juvenil. O mapeamento genético do lagotto romagnolo contribuiu para os pesquisadores entenderem melhor a doença também em crianças humanas.
13. Leopardo catahoula
Mais um cão desenvolvido nos EUA, no Estado da Louisiana. Também conhecido como catahoula cur, do leopardo ele tem apenas algumas manchas irregulares espalhadas pelo tronco. Mas, assim como os felídeos, os cães da raça são excelentes para trepar em árvores, excelente habilidade para animais caçadores.
Os cães da raça já foram usados para a caça de javalis, renas e ursos. Atualmente, a maioria é adotada para a guarda de patrimônio e de pessoas. As manchas do cão leopardo de catahoula nunca se repetem, são uma espécie de “impressão digital” da raça.
14. Löwchen
Ele também é conhecido como “pequeno cão leão” e já foi empregado em rinhas, lutando com cães de maior porte. A raça é nativa da França, mas atualmente é mais popular nos países nórdicos. O löwchen é um bichon: grupo de cães com pelos fartos no rosto.
As patas bem recobertas por pelos também atraem a atenção dos cinófilos. Os tutores quase sempre adotam a tosa “leão”, com meio corpo tosado e cauda com pluma de pelo. O tórax escovado completa a aparência de “rei dos animais” do löwchen.
15. Lundehund
Em norueguês, “lundehund” significa “cão de papagaio do mar”. A raça de pequeno porte se especializou em encontrar e capturar estas aves, que nidificam nos fiordes da Escandinávia. Para garantir o equilíbrio necessário para escalar as escarpas, o norsk lundehund apresenta coxins maiores nas patas, ergôs duplos e dedos extras.
Uma curiosidade: o norsk lundehund normalmente porta as orelhas eretas. Quando está em alerta, no entanto, ele as posiciona para frente – e elas parecem que estão deitadas. A raça “saiu de moda” com a proibição da caça ao papagaio-do-mar, no início do século 20.
16. Mudi
É mais uma raça húngara, desenvolvida através de cruzamentos entre cães de pastoreio (como o komondor e o kuvasz) e pastores alemães. Alguns pesquisadores, no entanto, acreditam que o mudi é bem mais antigo: alguns cães parecidos já viviam na região ainda no século 18.
Trata-se de um cão de porte médio, com uma curiosa pelagem: no corpo, pescoço e topo do crânio, os pelos são crespos e arrepiados. No rosto, pernas e linha inferior, os pelos são lisos e deitados.
17. Otterhound
Ele já é conhecido há mais de mil anos. O otterhound ajudou os ingleses a afastar as lontras (“otter”) dos rios e córregos das Midlands, permitindo mais facilidade para a navegação e a agricultura. Especula-se que ele tenha parentesco com o bloodhound, o terrier de pelo duro e o foxhound antigo.
É um cão incansável e muito afetuoso, bastante resistente ao frio, graças à pelagem lanosa e densa que recobre todo o corpo, inclusive braços e pernas. Na cabeça, ele ostenta uma franja lisa que cobre (e protege) os olhos e as orelhas.
18. Ovcharka
Ele também é conhecido como pastor (ou mastim) da Ásia Central. No Turcomenistão, seu país de origem, ele é chamado de alabai. A Rússia é o patrono da raça junto à Federação Cinológica Internacional (FCI). Alabai é um termo que pode ser traduzido como “ricamente manchado”.
Para importar um ovcharka (termo russo que designa os cães pastores), é preciso obter uma autorização especial dos governos turcomeno e russo. Ele também é conhecido como volkodav, cuja tradução literal é “esmaga-lobo”.
O ovcharka ou alabai é tão querido no seu país de origem que o dia 25 de abril, no Turcomenistão, é voltado para homenagens especiais ao cachorro. O atual líder do país, Kurbanguly Berdymukhamedov, escreveu um livro sobre a raça e já presenteou Vladimir Putin, presidente da Rússia, com um filhote.
19. Pachón navarro
Este cão de caça espanhol (da Comunidade Foral de Navarra) apresenta uma característica incomum: o nariz é dividido ao meio. Acreditou-se, durante vários séculos, que a divisão fortalecia o olfato, mas estudos recentes indicam que o pachón navarro não é especialmente sensível a cheiros.
Este cachorro do tipo braco (de aponte), no entanto, parece ter todo o rosto dividido. Além das narinas separadas, as bochechas caídas e os lábios soltos dão impressão de que ele foi cortado ao meio. Acredita-se que ele viva na península Ibérica pelo menos desde o século 12 e talvez tenha animais asiáticos e africanos na sua ascendência.
20. Pelado peruano
Ao contrário de outros cães sem pelos, o pelado peruano é totalmente careca. Não há nem sequer penugens nas orelhas e nos genitais. Acredita-se que ele descenda de cães levados ao Peru pelos chineses, que vieram em grande número para a América depois da abolição da escravidão negra (no Peru, ocorreu em 1854).
Outros acreditam que o pelado peruano tenha ancestrais africanos ou do Oriente Médio. Por outro lado, há imagens incas com cães muito parecidos com ele – e as ilustrações são datadas do século 14; bem antes, portanto, da chegada dos espanhóis, quanto mais de outros povos.
São três variedades e os maiores podem atingir até 65 de altura. Os filhotes apresentam alguns vestígios de pelos. Para se proteger da radiação solar, o peludo peruano apresenta pele fortemente pigmentada.
21. Puli
Assim como o komondor, o puli é nativo da Hungria e, da mesma forma que o seu primo gigante, este cãozinho também apresenta dreadlocks cobrindo todo o corpo. Por ser pequeno e ágil, ele desbancou diversos pastores da Europa central.
A raça parece ter surgido por volta do ano 1000, mas quase foi extinta durante a Segunda Guerra Mundial: consta que a população foi reduzida a apenas dois animais. Os esforços de alguns criadores garantiram a manutenção do puli, que hoje chama atenção em competições de agility. A raça é muito popular na Europa, mas quase desconhecida no Brasil.
22. Ridgeback tailandês
Assim como o primo próximo (rhodesian ridgeback), este cão tailandês apresenta uma faixa de pelos invertidos, que acompanha toda a linha dorsal superior. Esta crista, que só é observada nestas duas raças e no phu quoc vietnamita, pode ser vista em ilustrações datadas de cinco mil anos atrás e devem ter sido mais comuns.
O ridgeback tailandês é forte, musculoso e elegante. Ele é mais alto do que a maioria dos cães. Originalmente um caçador, este cão atualmente é adotado para guarda e para caça. Os cães da raça atraem fãs por outro fator associado à pelagem: ele perde poucos pelos, que são curtos e espaçados; por isso, é um cachorro hipoalergênico.
O adestramento do ridgeback tailandês é considerado difícil: além das funções de vigilância, ele não parece interessado em aprender outras atividades para ajudar os humanos. Ele também impressiona pelas orelhas eretas e a pele solta na cabeça e pescoço.
23. Schipperke
Em flamengo (uma das línguas faladas nos Países Baixos), o termo significa “pequeno pastor. O schipperke é um cão pastor de porte pequeno que impressiona pela pelagem preta, sedosa, brilhante e muito vasta. Ele também trabalhou nas barcaças de Flandres e Brabante, onde recebeu o apelido de pequeno capitão.
O schipperke pesa entre 4 kg e 7 kg, com altura máxima de 36 cm. Ele acaba parecendo maior por causa da pelagem abundante e espessa, mas que não esconde as características lupoides da raça. Mesmo assim, os pelos retos e uniformes formam culotes, além de juba e um belo colar que recobre todo o pescoço.
24. Xoloitzcuintli
Ele também é conhecido como pelado mexicano e, no seu país de origem, é bastante popular. Magro, alto e musculoso, o xoloitzcuintli pode ser estranho, mas carrega uma certa aura misteriosa que impressiona a todos. Atualmente, graças ao temperamento amigável, ele é adotado principalmente como cão de companhia.
O nome difícil é asteca e significa “cão de Xolotl”, o deus responsável pelo submundo na religião centro-americana. Ainda hoje, em diversos países da América Central, o xoloitzcuintli tem a fama de curandeiro, capaz de curar diversas doenças.
O corpo dos cães da raça é desprovido de pelos, mas por motivos ainda não compreendidos, ele irradia mais calor do que outros cachorros: é um aquecedor natural. Mas ele não é verdadeiramente careca: apenas um em cada quatro “xolos” nasce pelado.
Mais de um xoloitzcuintli recebeu o prêmio principal em campeonatos do tipo “cachorro mais feio do mundo”. De qualquer forma, ele também tem seus encantos, mas nem todo mundo vê: há 30 anos, na fronteira entre os EUA e o México, um cão da raça foi confundido com um chupa-cabra.