Quantas raças de cachorro existem atualmente? Eis a questão. Cada cachorro tem uma personalidade única, mas, mesmo assim, é possível agrupá-los em diversas raças, que exibem características anatômicas e comportamentais semelhantes. Os nossos melhores amigos sempre se mostraram muito versáteis, auxiliando em múltiplas tarefas; foi isso que determinou o surgimento das primeiras raças.
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No início da parceria, cães e humanos caçavam juntos, aliando a força e a agilidade dos peludos com a nossa capacidade de prever e planejar. Com o tempo, os cachorros se destacaram protegendo acampamentos e as primeiras aldeias, enfrentando rivais em batalhas, pastoreando cabras e ovelhas, etc.
Raças de cães e genética
O desenvolvimento gradual das raças interferiu no mapa genômico da espécie. Em 2004, todo o genoma canino. Surgiram algumas surpresas. Por exemplo, descobriu-se que o pequinês é mais próximo dos lobos cinzentos do que o pastor alemão.
Os cientistas descobriram também que o cão de faraó, até então considerado a raça mais antiga ainda existente, é uma recriação moderna, de pouco mais de 150 anos, baseada em ilustrações e descrições encontradas em tumbas e papiros da antiga civilização.
Por outro lado, o mapeamento confirmou a divisão dos cães em raças e também nos grupos definidos pelos clubes de cinofilia. As diferenças entre os cães são bem mais marcantes do que as encontradas em humanos de diversos continentes.
A ciência comprovou que os cães podem ser separados basicamente nas categorias “caça”, “guarda” e “pastoreio”. Os cães toy e de companhia, bem mais recentes, ainda não tiveram o DNA tão diversificado.
O estudo tem interesse prático. A comparação dos diferentes materiais genéticos contribui para a identificação de doenças hereditárias, como câncer, displasias, problemas cardiovasculares e epilepsia.
A partir das pesquisas, os criadores poderão selecionar os padreadores e matrizes não apenas em função da aparência física, mas também da ausência dos genes determinantes das enfermidades mais frequentes em determinadas raças.
Como surgiram as raças de cachorros?
Os cachorros se especializaram inclusive na caça: alguns se mostraram muito úteis em combater pragas domésticas, eliminando-as de canteiros, jardins e hortas. Para esta tarefa, os humanos deram preferência aos animais menores e, como eles estavam sempre perto das casas, se tornaram os ancestrais dos primeiros cães de companhia.
Os maiores se destacaram na defesa e no ataque. Assim surgiram os mastins, cães molossoides que participaram de muitas guerras provocadas pelos humanos. Mas há também molossos de pequeno porte, muito usados em rinhas de animais, como é o caso do buldogue francês e do boston terrier.
Algumas questões estéticas deram origem a certas raças de cães. Por alguma razão, os animais com olhos pequenos e focinho encurtado parecem ser menos agressivos pelos humanos. Contrariando a natureza, em diversos cachorros, o focinho alongado dos lobos foi suavizado. Assim surgiu o pug, o lhasa apso, o shih tzu e outros.
Uma mandíbula poderosa e um focinho curto tornaram algumas raças especialmente adequadas para os “esportes sangrentos” e para a captura de grandes presas. Desta forma, surgiram os primeiros buldogues (o termo pode ser traduzido para “cão de luta com touros) e raças de agarre, como o dogue de Bordéus, o boxer e o fila brasileiro.
“Filar”, no caso dos cachorros, significa “agarrar com força, prender e não soltar”. Além do representante nacional, foram desenvolvidos o cão de presa canário, o cão de fila de São Miguel, o cão de presa de Maiorca, etc.
Os retrievers (o verbo “retrieve” significa resgatar, recuperar) se especializaram na caça em terrenos alagadiços e, mais tarde, em rios e até no mar.
Todos podem ser considerados “hounds” (sabujos, rastreadores ou farejadores), mas os mergulhadores se diferenciaram gradualmente dos terriers, que procuram presas em terrenos secos. Uma das raças de resgate mais antigas é o cão da Terra Nova, que deu origem ao retriever do Labrador e ao golden retriever. O poodle também faz parte desta lista.
Quantas raças de cachorros existem?
A Federação Cinológica Internacional (FCI), entidade com sede em Bruxelas, na Bélgica, que congrega associações de cinofilia de diversos países (inclusive o Brasil), relaciona 344 raças de cachorros, divididos em dez grupos, além de reservar espaço para raças não reconhecidas em bases definitivas.
Trata-se de cães com padrões oficiais definidos pelos países patronos (membros da FCI), mas que ainda aguardam um parecer final da entidade, que é determinado pelas comissões de Padrões e de Ciências. A discussão pode ser bastante longa.
A classificação das raças de cães
Tudo começou na Inglaterra, no século 19, na Europa. Em 1859, foi fundada a primeira sociedade de exposições de cães, em Birmingham. Em 1862, Paris sediou a primeira exposição no continente, organizada pela Acclimatation Societé. Eram entidades aristocráticas e o conceito de “raça canina” ainda não estava definido.
Anos mais tarde, em 1873, o parlamento britânico aprovou as primeiras leis sobre criação de cães, inclusive com caráter punitivo. Foi organizado “The Kennel Club” (o clube dos canis, em tradução livre). No verão desse ano, a entidade promoveu uma exposição, no Palácio de Cristal, da qual participaram quase mil criadores.
Nos primeiros 15 anos de atuação do The Kennel Club, os registros oficiais já contabilizavam mais de quatro mil cães “de raça”. Em 1882, foi fundada a Societé Centrale Canine e o Ente Nazionale della Cinofilia Italiana. No ano seguinte, foi organizado, nos EUA, o American Kennel Club (AKC). 15 anos depois, discussões internas determinaram a fundação do United Kennel Club, também americano.
A FCI surgiu apenas em 1911, apoiada por entidades cinológicas da França, Bélgica, Áustria, Holanda e Alemanha. Atualmente, a FCI representa 80 países e possui 94 clubes membros. A Alianz Canine Worldwide (ACW), sediada em Murcia (Espanha), congrega clubes de 92 países e mantém acordos com diversas entidades independentes, mas é menos abrangente do que a FCI.
Enquanto a FCI reconhece 344 raças de cães, algumas organizações de renome mundial mantêm uma classificação própria:
- AKC – 200 raças (a última a obter registro foi o braco italiano, em junho de 2022);
- UKC – 302 raças (a mais recente. De 2013, é o american bully standard. A entidade não reconhece as demais variedades);
- The Kennel Club – 211 raças (a mais recente é o kangal, cujo primeiro registro ocorreu em 2013).
No Brasil, a principal entidade cinológica é a CBKC, que segue as diretrizes definidas pela FCI, mas mantém um décimo-primeiro grupo, reunindo as “raças ainda não reconhecidas” pela organização internacional que aguardam o posicionamento final.
Existe uma certa disputa entre os criadores de cães e também entre as associações cinológicas. Apesar de definir critérios técnicos para certificar as raças de cães, muitas vezes alguns interesses políticos e econômicos se sobrepõem. Por isso, há tantas diferenças na classificação.
Os grupos de cachorros
De acordo com a FCI, as raças de cães são divididas em dez grupos, de acordo com alguns parâmetros anatômicos, separados em seções. Apresentamos os grupos e alguns exemplos mais populares no Brasil:
• Grupo 1 – cães pastores e boiadeiros, com exceção dos boiadeiros suíços. Fazem parte o border collie, o collie de pelo curto e longo, o old english sheepdog, os pastores alemão, belga, holandês, branco, de Shetland e o corgi galês;
• Grupo 2 – cães dos tipos schnauzer e pinscher, molossos, cães de montanha e boiadeiros suíços. Alguns exemplos: affenpinscher, boiadeiro de Berna, boxer, buldogue inglês, cane corso, doberman, dogue alemão, fila brasileiro, kangal e todos os mastins;
• Grupo 3 – cães terriers de qualquer porte, inclusive os de companhia e os do tipo bull. Exemplos: terrier brasileiro, bull terrier, fox terrier de pelo duro e liso, jack russel terrier e yorkshire terrier;
• Grupo 4 – cães dachshunds (ou teckels). Todas as variedades fazem parte do grupo: kaninchen, miniatura e standard, de pelo curto, longo e duro;
• Grupo 5 – cães spitz e de tipo primitivo, incluindo cães do norte da Eurásia, spitz asiáticos e europeus. Pertencem ao grupo: akita, shiba, basenji, chow-chow, husky siberiano, malamute do Alasca, samoieda, pelado peruano, cão do faraó, podengo canário e de Ibiza e spitz alemão (raça que inclui o lulu da Pomerânia);
• Grupo 6 – cães do tipo hound, sabujos e farejadores. Basset hound, beagle, bloodhound, dálmata, coonhound black and tan, fox hound e rastreador brasileiro fazem parte do grupo;
• Grupo 7 – cães de aponte europeus. Exemplos: braco alemão, braco italiano, pointer inglês, setter irlandês, weimaraner e spaniel francês;
• Grupo 8 – cães retrievers, cães d’água e levantadores de caça; é o grupo do retriever do Labrador, golden retriever, terra nova, cão d’água português, retriever da baía Chesapeake, cocker spaniel (inglês e americano), retriever da Nova Escócia e todos os spaniels d’água;
• Grupo 9 – cães de companhia. É o mais popular no Brasil e reúne os bichons e griffons, boston terrier, buldogue francês, cavalier king charles spaniel, chihuahua, lhasa apso, maltês, poodle, pug e shih tzu;
• Grupo 10 – cães galgos ou lebréis. É o grupo do afghan hound, borzói, galgo espanhol, galguinho italiano, whippet, greyhound, saluki e wolfhound irlandês (uma das maiores raças caninas do mundo).
A CBKC mantém o registro e emite pedigrees para as raças de cães não reconhecidas pela FCI, que são relacionadas no Grupo 11. São elas:
- american bully (EUA);
- american pit bull terrier (EUA);
- biewer terrier (Alemanha);
- boerboel (África do Sul);
- buldogue campeiro (Brasil);
- buldogue serrano (Brasil);
- •buldogue americano (EUA);
- cão multicor de pelo frisado (França);
- dogue brasileiro (Brasil);
- ovelheiro gaúcho (Brasil);
- pastor da Mantiqueira (Brasil);
- podengo andaluz (Espanha);
- sabujo fino (Colômbia);
- terrier americano sem pelo (EUA);
- toy fox terrier (EUA);
- coonhound treeing walker (EUA);
- veadeiro nacional (Brasil);
- veadeiro pampeano (Brasil).