É difícil responder, mas vamos tentar descobrir qual a raça de cachorro mais fiel do mundo.
Os cachorros são muito, muito fiéis. É principalmente por isto que somos parceiros há milhares de anos. Nós ainda não sabíamos ler, nem acender uma fogueira, nem construir uma casa sólida, mas já andávamos para cima e para baixo com os nossos cachorros.
“Lealdade canina” é sinônimo de amizade a toda prova. Mas, qual a raça de cachorro mais fiel do mundo? Seria a mais inteligente? Quem sabe a mais valente e corajosa? Quais critérios poderíamos utilizar para classificar os cães com relação à fidelidade?
Inteligência canina
Nós, humanos, somos animais utilitaristas. Por isto, costumamos classificar os animais de acordo com as vantagens que eles trazem para nós. Assim, alguns são “burros como jumentos”, “pacientes como bovinos”, “desleais como serpentes”, “sujos como porcos”.
Mas, nenhum animal pode ser considerado burro, bovino, desleal ou sujo. Eles são habitantes do planeta Terra e, como tal, querem aproveitar ao máximo a estadia. Os cachorros se adaptaram a nós e conquistaram uma série de regalias.
Para isto, eles aprenderam a pescar, montar guarda, proteger, guiar, pastorear rebanhos, brincar, atacar, defender-se de perigos que nem sequer passa pela cabeça dos lobos, ancestrais diretos dos nossos totós.
A inteligência e a docilidade os conduziram até aqui. Mas, qual inteligência? Um ranking famoso sobre a inteligência canina foi organizado pelo pesquisador Stanley Coren, que estudou animais de 133 raças.
Em último lugar, Coren colocou o afghan hound, ou galgo afegão. Mas os cães desta raça se dão muito bem no pastoreio e na caça. No seu país de origem, o Afeganistão, ele se tornou um animal esportivo e é campeão nas corridas de cães.
Talvez o afghan seja mais independente, goste de fazer as coisas do seu jeito. Afinal, o “ofício” da raça é justamente o de pastor de ovelhas – e ele passa muito tempo longe da companhia humana.
Motivos da fidelidade
Muito antes de partilharem tendas, barracas, cabanas e casas conosco (na verdade, eles passaram a maior parte desta história do lado de fora, fazendo a guarda do nosso patrimônio), os cachorros já viviam em bandos organizados.
Eles ainda não eram cães, mas lobos. E os lobos vivem em alcateias, nas quais cada indivíduo tem atividades muito bem definidas. Alguns membros cuidam dos filhotes, outros montam guarda no acampamento e, até na hora de namorar, existem regras: em geral, apenas um casal (macho e fêmea alfa, os chefes do grupo) têm direito de se reproduzir.
A especialização é tão detalhado que, em uma alcateia, cada membro vocaliza um tipo de uivo diferente. Assim, quando alguém está latindo, todo o bando sabe quem é.
Quando lobos e humanos se aproximaram, eles já eram assim: sabiam respeitar a hierarquia, davam o máximo para realizar as tarefas e gostavam de ficar juntos uns dos outros.
Os mais dóceis (ou menos desconfiados) se aproximaram dos humanos. Talvez um deles tenha ganhado um osso, ou um pedaço de carne. No dia seguinte, lá estava ele de novo.
Rapidamente, os novos amigos demonstraram as habilidades na caça: farejar, apontar, levantar, atacar. Rapidamente também, eles aprenderam a não roubar a presa, mas partilhá-la com os macacos pelados.
Em troca de comida, agasalho e segurança, eles ofereceram lealdade, força, persistência, maleabilidade, características que permanecem nos cachorros atuais, qualquer que seja o porte.
O ranking da fidelidade
Seja como for, alguns etólogos (especialista em comportamento animal) já organizaram alguns rankings. Baseados nestes estudos, vamos relacionar as raças de cachorro mais fiéis do mundo.
Antes da lista, vale lembrar que cachorros são animais complexos e apresentam variações extremas. Desta forma, é possível encontrar um pastor alemão preguiçoso, um pitbull covarde, um buldogue hiperativo, um retriever do labrador que não gosta de água.
Mas, mesmo não sendo “o orgulho da raça”, todos eles são brincalhões, divertidos, companheiros, curiosos e, claro, muito fiéis à sua família humana. E também, por que não, aos demais peludos de quatro patas que partilhem a casa.
10) Bichon frisé
Quem gosta de trazer o cachorro no colo precisa conhecer os cães da raça. Apesar de o bichon frisé se sempre confundido com o poodle (ele é muito parecido fisicamente, especialmente com o poodle toy), as semelhanças são apenas anatômicas.
O poodle foi desenvolvido para resgatar caça. Ele prefere ficar sozinho, entretido com algum brinquedo, sem dar muita bola para o que acontece à volta. O bichon frisé, ao contrário, adora ser o centro das atenções.
Os cães da raça querem ser paparicados e mimados, mas, em troca, oferecem dedicação total à família. São amistosos, dóceis e carinhosos com todos: crianças, adultos, idosos. Não gostam muito de estranhos (pelo menos no primeiro contato), mas bagunça e agitação são os seus elementos naturais.
9) Poodle
É um grande companheiro de aventuras, qualquer que seja o porte: gigante, standard, mini, toy ou microtoy. Muita gente deve estar achando estranho que o poodle, tão antipático e mal-humorado, faça parte da lista dos campeões de fidelidade canina.
O problema, no entanto, não está no poodle, mas em alguns tutores, que insistem em tratá-lo como se fosse um bibelô. A raça foi desenvolvida para resgatar aves abatidas no voo. Como muitas vezes as presas caíam em Lagos e brejos, os cães saltavam sem medo para buscá-las.
Poodles têm uma tosa estilosa e usam fitas na cabeça. Realmente. Poucas raças podem se apresentar “enfeitadas” em competições e exposições oficiais. E o poodle é uma delas.
Os motivos são justos: as fitas coloridas permitiam aos caçadores identificarem os seus cachorros, quando eles estavam mergulhado nos lagos. E a tosa serve para garantir que não falte calor onde é mais necessário: cabeça, tórax e articulações. Você não gostaria que esses cães sofressem hipotermia nesses mergulhos, não é mesmo?
O poodle gosta da vida em família, mas também é opção para quem passa o dia todo fora e não tem muito tempo para dedicar ao pet. Os cães da raça são inteligentes e ativos, sendo uma das melhores opções para o adestramento canino (em todos os tamanhos).
8) Schnauzer
Chamado por muitos de “vovô ranzinza”, é preciso dizer que o apelido é devido exclusivamente à aparência, e não ao temperamento. O schnauzer é um cachorro inteligente, muito apegado à família e um tanto quanto temperamental.
Os cães da raça, que se apresentam em três tipos (miniatura, médio – o mais comum no Brasil – e gigante), podem se revelar ciumentos e possessivos, mas são espertos o suficiente para aceitar um treinamento adequado, desde que não entendam que o dono não é o “alfa da matilha”.
O schnauzer gosta muito de brincar e de fazer amizade com outros animais. Eles podem ser um pouco abrutalhados, mas dificilmente são agressivos. Muito ativos, precisam de atividades físicas para manter a saúde integral.
7) Buldogue inglês
Quem observa um pachorrento buldogue inglês não consegue imaginar o passado da raça: seus ancestrais já lutavam com touros e búfalos (“bulls”, em inglês) desde o século 15 e, a partir do século 18, eles já eram os preferidos nas bullfightings.
Os buldogues ingleses eram tão apreciados que os seus irmãos mais frágeis eram descartados e abatidos. Alguns comerciantes franceses, comovidos com a situação, levaram alguns indivíduos desprezados para o continente. Esses cães são os ancestrais dos buldogues franceses, menores e nem um pouco afeiçoados aos confrontos.
Atualmente, os buldogues ingleses continuam demonstrando a sua tenacidade e persistência, mas canalizaram estas qualidades para praticamente idolatrar os seus tutores humanos.
Definitivamente, eles não são bons cães de guarda, mas certamente se levantarão de madrugadas em todas as vezes que um membro da família levantar-se para ir ao banheiro. Seguirão sondados, um pouco grogues, mas nunca deixarão um parente sozinho.
Infelizmente, o focinho alongado dos cães era um dos pontos fracos nas lutas. Por isto, os desenvolvedores deram preferência aos animais de cana nasal curta, os braquicefálicos (de cara achatada). Os buldogues (ingleses e franceses) herdaram esta característica, mas também o fôlego curto e os transtornos respiratórios e cardíacos. Os tutores precisam ficar atentos.
6) Kuvasz
Mais um pastor no ranking de fidelidade. Desta vez, ele vem da Hungria, país do Leste europeu onde a raça se desenvolveu a partir de cães gigantes tibetanos trazidos através do planalto Asiático e da Ásia Menor.
Existem relatos sobre a raça desde o século 15. Além de pastores, os kuvasz também se revelaram bons caçadores, especialmente, na defesa das propriedades, quando afastavam intrusos e chegavam a medir forças com lobos e ursos.
Inicialmente, eram cães reservados à nobreza húngara. Quando começaram a se popularizar entre o “Zé povão” e começaram a diminuir de tamanho, passaram a ser chamados de kuvasz, que significa “vira-latas”, “cachorro sem raça”, em magiar. Mas eles nunca se importaram com isto.
Além de extremamente fiéis, os cães da raça kuvasz disputam outro título: o de filhotes mais fofinhos.
5) Beagle
Muita gente condena, com razão, a caça à raposa. Isto não é esporte, assim como não são as touradas, as rinhas de galos e outras práticas que envolvem violência contra animais (humanos incluídos).
O beagle, no entanto, não tem nada a ver com isto. A raça, de porte médio, foi desenvolvida para a caça e, quando decidiram mandá-los caçar raposas, na Inglaterra, ele obedeceu. Mas, na verdade, ele prefere caçar coelhos. É por isto que, até hoje, o beagle é ágil, rápido e certeiro.
Entre nós, beagles ao afetuosos, gentis e alegres. Para quem não gosta de muitos latidos, esqueça: ele adora demonstrar alegria e satisfação latindo e correndo. Na verdade, esta é uma característica apaixonante.
4) Collie
Esta é uma raça de pastoreio nativa da Escócia. Extremamente protetores, os rough collies podem demonstrar toda a sua força e ferocidade caso entendam que uma das suas ovelhas esteja em perigo. No convívio humano, eles transferiram este cuidado para nós.
Crianças, idosos e doentes são os alvos principais da atenção dos collies. Se houver alguém acamado em casa, ele dificilmente arredará pé do quarto do enfermo. Bom enfermeiro, ele checará as condições do paciente várias vezes por hora.
Apesar de ser um “caipira” das terras altas, o collie se adapta facilmente à vida na cidade e no campo (em função do porte, não é um animal recomendado para ambientes pequenos).
Sempre elegante e sóbrio, o collie só precisa se certificar de que todos estejam bem. Ele não é um cachorro muito exigente. Sociável e elegante, ele convive bem com humanos e outros animais. As cadelas da raça são campeãs em amamentação de órfãos,
3) Dachshund
Um representante dos pequenos na lista dos mais fiéis. Também conhecido como teckel, o dachshund foi desenvolvido na Alemanha, para caçar roedores que infestavam casas e plantações.
Este é o motivo porque os cães da raça são baixinhos, compridos, têm pelo liso e fino e o focinho alongado. Não se enganem: na caça, o dachshund é uma verdadeira máquina mortífera.
Bem cedo os amantes de cães perceberam que o dachshund, além de exímio caçador, também é um amor de pessoa – ou melhor, de cachorro. Extremamente afeiçoado à família – e a outras pessoas que ele escolhe de forma aparentemente aleatório – este cachorro é também muito ciumento.
Se você decidir adotar um dachshund, prepare-se, porque estará levando uma “estrela principal” para casa. Os cães da raça adoram aparecer. Por outro lado, eles são corajosos e possuem um senso de defesa poderoso. Dachshunds não levam desaforo para casa.
2) Retriever do labrador
Para muitos, os cachorros desta raça deveriam ocupar o topo do ranking de fidelidade. Criados originalmente no leste do Canadá (na península do Labrador), eles tinham como função principal o resgate (“retrieve”, em inglês) de aves abatidas no litoral, que caíam no mar ou em lagoas.
Rapidamente, eles demonstraram que podiam resgatar qualquer tipo de caça: em terra firme, em charcos e pântanos, nas águas frias da América do Norte.
Obedientes não apenas ao tutor, mas a todo o grupo humano, eles são amistosos e dificilmente se envolvem em brigas. Trazidos para o convívio urbano, os retrievers do labrador se mostraram brincalhões, divertidos e respeitosos.
1) Pastor alemão
Ele merece o topo do ranking. Desenvolvida para o pastoreio, a raça demonstra lealdade e cortesia. Mas foi a versatilidade que garantiu o título de cachorro mais fiel do mundo.
Atualmente, pastores alemães podem ser vistos como condutores de cegos, guias de trilhas, guardiões de crianças e idosos, cães terapeutas, acompanhantes e também desenvolvem funções policiais: resgate de acidentes, busca de drogas ilícitas, confronto com criminosos.
No Brasil, nos anos 1950, os pastores eram conhecidos como “cães policiais”. Nem tudo, porém, foram flores na carreira destes cachorros. Durante a Segunda Guerra Mundial (e também no pós-guerra), nada que fosse associado a “alemão” era visto com bons olhos.
Um seriado de TV ajudou a recuperar a reputação. Alguns criadores decidiram patrocinaram “Rin Tin Tin”. Nada melhor que mostrar um pastor alemão ajudando a conquistar o Velho Oeste para resgatar a dignidade da raça, que, hoje, não é abalada por nada.
Então? O seu cachorro foi contemplado em nosso ranking? Isto, na verdade, pouco importa. Quem convive com um cão sabe que ele é especial, é único. Talvez seja um pouco relaxado demais, talvez seja mais devotado à outros membros da família.
E talvez ele seja o cachorro mais fiel do mundo. Cada parceria entre humano e cachorro tem a característica da exclusividade. O cão mais bonito, mais fiel, mais inteligente do mundo, não olha para mim da mesma forma que o meu pet, com a mesma devoção.
Aliás, olha sim. Tem a mesma devoção? Sabe por quê? Porque o cão mais bonito, fiel e inteligente do mundo é justamente o meu cāo. Não é verdade?