Alguns remédios humanos são contraindicados para os cachorros. Entenda por quê.
Como o próprio nome diz, remédios para humanos são indicados para HUMANOS e você não pode dá-los para o seu cachorro, mesmo que ele tenha peso similar. Principalmente porque “Homo sapiens” e “Canis lupus familiaris são espécies diferentes, com metabolismo diferente.
A automedicação não é uma prática saudável. Normalmente, em condições adequadas, não há nada errado em tomar um comprimido para dor de cabeça ou para dores musculares.
Especialmente entre os brasileiros, manter uma “farmacinha” em casa é um hábito comum. Quem nunca tomou uma aspirina sem receita que atire a primeira pedra. O ideal, porém, é consultar um médico; só ele tem condições de avaliar o quadro geral e definir o melhor tratamento.
No Brasil, muitos medicamentos são vendidos em farmácias e drogarias sem a necessidade de apresentar uma receita médica. Isto passa a sensação, nem sempre verdadeira, de que o remédio é seguro. Muitas vezes, é prejudicial à nós mesmos, o que dizer na ministração em animais para os quais não foram formulados?
A resposta para a pergunta-título é: não, não pode, a menos que um veterinário de confiança indique. Antes que alguém fale: “mas eu sempre dei e nunca tive problema”, vale lembrar que não somos especialistas e não sabemos exatamente quais são os efeitos adversos podem causar.
Alguns medicamentos, contudo, são usados tanto em humanos, como em caninos. É o caso, por exemplo, do cetoconazol (para tratamento de infecções na pele causadas por fungos) e do norfloxacino (indicado contra infecções bacterianas no sistema urinário).
Isto ocorre porque cães e humanos são animais, vertebrados, tetrápode se mamíferos. São muitas as semelhanças taxonômicas, mas elas terminam aí. Nós somos primatas hominídeos, os cães são carnívoros canídeos.
Por isso, é melhor seguir as regras. Entre as exigências para adotar um animal, estão os cuidados veterinários, que não podem ser negligenciados. Nesta situação, não existe “jeitinho” para dar.
A diferença está na dosagem. Uma overdose provoca intoxicações que podem ser letais. Nenhum humano (ou pelo menos, a maioria) usa remédios indicados para cavalos, por exemplo.
A diferença está também na formulação. Algumas substâncias químicas são lesivas a cães, outras a humanos e outras ainda a ambos. Mesmo substâncias aparentemente inofensivas podem causar danos. É o caso da ricina, por exemplo, presente na mamona.
Erros humanos
Uma situação frequente entre nós é o combate à gripe. Sem minimizar o problema (a gripe é uma virose que pode evoluir para doenças mais graves), os medicamentos que ingerimos são quase ineficazes.
A gripe é causada pelo vírus Influenza e não tem medicações específicas. Médicos e farmacêuticos não combatem a gripe, mas os sintomas da enfermidade. Assim, ao primeiro sintoma, dizemos: “acho que vou ficar gripado” e corremos em direção à farmácia mais próxima.
Na verdade, nós “vamos ficar gripados”: já estamos. Ocorre apenas que o número de cópias do vírus ainda não é suficiente para provocar sintomas fortes e ainda não irritou o sistema imunológico a ponto de fazê-lo responder com outros sintomas — como a febre, por exemplo.
A partir daí, entupimo-nos com analgésicos, antitérmicos, antidescongestionantes e outros “anti”, quando a melhor receita é aquela da nossa avó: um chazinho e muito descanso.
Dias depois, o organismo consegue expulsar os vírus e os sintomas se enfraquecem até que desapareçam e somos felizes para sempre — ou até a próxima mutação do Influenza, que pode ocorrer em menos de um ano.
As gripes são comuns e geralmente benignas, principalmente entre pessoas saudáveis (crianças, idosos e pessoas com a imunidade comprometida sofrem mais com elas). Outras situações são mais graves.
É o caso da dengue, por exemplo, que, em seus casos mais graves, pode causar sangramentos. Medicamentos como AAS, ibuprofeno, cetoprofano, diclofenaco, prednisolona e nasoprofeno são totalmente contraindicados.
Tenho certeza de que você tem alguns destes remédios na sua farmacinha. Estes princípios ativos aumentam a fluidez da corrente sanguínea e podem agravar hemorragias e sangramentos.
Estes medicamentos são indicados contra dor e febre, sintomas iniciais da dengue (que mais tarde se manifesta também com sinais gastrointestinais). Quem tiver um desses à mão dificilmente deixará de tomá-lo. Vale lembrar que a dengue hemorrágica pode ser fatal.
Outro fator que contribui para o uso de medicamentos humanos em cachorros é o preço. Em geral, os nossos remédios são mais baratos do que os dos pets — afinal, remédios humanos ganham na produção e nas vendas. Além disso, muitos tutores nem sequer levam os pets ao veterinário.
Remédios de humanos: Voltando aos cachorros
Parece lógico que devemos evitar a automedicação e evitar o abuso dos remédios, quando se trata-se preservar ou recuperar a saúde humana. Então, por que nós colocaríamos nossos pets em risco, dando medicamentos humanos para eles?
Os cachorros e os humanos, apesar de partilharem uma parceria bastante antiga — alguns estudiosos, como Ceres Franco, especialista em comportamento animal, indicam evidências de que nós e alguns lobos já praticávamos a caça compartilhada há 500 mil anos, antes mesmo do surgimento do Homo sapiens —, são espécies totalmente diferentes.
O problema está em que, como tomamos um AAS e a dor de cabeça passa, podemos dar o mesmo remédio para cachorro e ele reagirá de forma igualmente positiva. Mas nem sempre isso dá certo.
Não é toda dor de cabeça que cede com AAS. As dores decorrentes de um dia intenso de trabalho, de iluminação ou barulho excessivo e até da fome podem passar sem grandes problemas. Causas mais graves, por outro lado, exigirão outro tipo de tratamento.
A ciência farmacêutica consome um longo tempo para produzir um medicamento, desde isolar um princípio ativo até ministrá-lo em voluntários. Algumas vezes, as tentativas param no meio do caminho. Em outras, a medicação se mostra nula para determinado sintoma, mas bastante eficaz para outro.
Foi o que aconteceu com o sildenafil. A droga foi desenvolvida para o tratamento de hipertensão arterial e angina, mas os testes de desenvolvimento revelaram que ela é indicada para disfunção erétil. Depois de mais testes, o comprimidinho azul finalmente chegou às farmácias, para alegria de muitos homens e mulheres.
Isto significa que, mesmo similares, dois princípios ativos podem agir de forma diferente no organismo.
Estas diferenças tendem a aumentar exponencialmente quando se cruza a barreira das espécies. Mas, mesmo com estas diferenças, algumas drogas exercem efeito semelhante em humanos e caninos. Outras, não.
Remédios de Humanos: Contraindicações
Ibuprofeno, AAS e paracetamol estão entre as substâncias proibidas para os cachorros. Vamos tentar entender os motivos.
O AAS
O AAS (ácido acetilsalicílico) age diretamente sobre as plaquetas, também conhecidas como trombócitos. Plaquetas são células do sangue produzidas pela medula óssea, responsáveis pela coagulação sanguínea.
Quando o AAS entra na corrente sanguínea (alguns segundos depois de ser ingerido sob a forma de comprimido), ele passa a reduzir o número de plaquetas. Isto torna o sangue mais fluido, com menor resistência.
Como popularmente se diz, o AAS “afina o sangue”, isto, é, reduz a possibilidade de formação de trombos. Ele é usado inclusive na prevenção de infartos do miocárdio. Por outro lado, a redução do número de plaquetas reduz igualmente a capacidade de coagulação.
Imagine o seu cachorro, sempre envolvido em travessuras e explorações. Quantos microcortes e cortes não tão pequenos ele sofre nas brincadeiras? Além disso, alguns pets têm mania de roer as garras, os dedos, a ponta da cauda e até das orelhas.
Agora, imagine o organismo do seu cachorro com dificuldades para cicatrizar os cortes, por estar com a coagulação comprometida. Um problema e tanto, não é mesmo?
Mesmo sem contar os sangramentos — um cachorro dificilmente se corta gravemente nas atividades do dia a dia —, é preciso considerar o risco de infecções. Cortes não cicatrizados são portas abertas para a entrada de micro-organismos. É melhor não arriscar, mesmo que seja para aliviar dor ou febre.
O paracetamol
No caso do paracetamol, o problema é a dosagem. Nunca dê este remédios para cachorros de pequeno porte (e definitivamente esqueça deles em relação aos gatos), se não quiser provocar intoxicações sérias.
A miligranagem indicada para humanos — no alívio de dores leves — é muito superior à indicada para os cachorros (mesmo no caso de dogues alemães, pastores, weimaraners ou bloodhounds).
O paracetamol apresenta propriedades anti-inflamatórias e antipiréticas. A droga está entre as mais vendidas nas farmácias brasileiras. Os cachorros, no entanto, devem evitar o remédio — mesmo os grandões.
A droga em cães pode gerar edemas (inchaços) no rosto e nos membros, prejudicar as mucosas bucais e das conjuntivas dos olhos, desenvolver alergias de pele e provocar intoxicações, comprometendo o funcionamento do fígado e dos rins.
O paracetamol em cães raramente leva à morte, mas uma superdosagem pode induzir inclusive o coma. O veterinário pode injetar um antídoto, de acordo com a gravidade do quadro apresentado.
O ibuprofeno
Anti-inflamatório bastante popular, o ibuprofeno provoca nos cachorros efeitos semelhantes aos do paracetamol. No caso de animais filhotes, idosos ou enfermos, há o risco de hemorragias internas e, em caso de uso prolongado, do desenvolvimento de úlceras estomacais e insuficiência renal.
Os sintomas de intoxicação por ibuprofeno incluem perda de apetite, vômitos, escurecimento das fezes, dor abdominal, fraqueza e prostração. No entanto, estes são sinais comuns de várias doenças e, como o animal está sendo medicado, ele está doente. Assim, a intoxicação pode passar despercebida.
O organismo canino não possui algumas enzimas que fazem parte da metabolização do ibuprofeno, o que pode implicar a deposição de algumas substâncias químicas nos órgãos, que não tem como eliminá-las. O efeito é semelhante ao de alguns metais pesados, como cádmio e chumbo, no organismo humano.
A dipirona
Este é um medicamento usado por humanos há muito tempo (o princípio ativo metamizol foi apresentado pela primeira vez na Alemanha, em 1922). É indicado como antipirético, analgésico e também como auxiliar no tratamento de doenças reumáticas.
No Brasil, é um remédio de venda livre (sem necessidade de receita médica, com ou sem indicação farmacêutica). E os cachorros também podem tomar dipirona — sempre na frequência e dosagem corretas.
A dipirona para cachorros é indicada contra dores leves e moderadas que afetam os tecidos moles (como estômago e intestino). Ela é metabolizada no fígado e excretada pelos rins, mas podem ocorrer interações adversas.
Por isto, é necessária especial atenção quando se trata de cães filhotes, idosos e portadores de doenças crônicas (principalmente as que afetam os rins e o fígado). A dipirona nunca deve ser ministrada para os cães juntamente com outros medicamentos, a não ser com indicação veterinária.
Atualmente, porém, foram desenvolvidos anti-inflamatórios e antipiréticos mais seguros e eficazes para os cachorros, o que fez a dipirona para cães deixar de ser opção para muitos especialistas.
A dosagem mais comum, na concentração de dipirona 50 gramas específica para cachorros é de uma gota por kg de peso (o medicamento é apresentado na forma líquida e pode ser aplicado diretamente na boca do animal).
Os efeitos secundários mais evidentes são vômitos, diarreia e dores abdominais. O uso frequente sem orientação médica pode auxiliar no desenvolvimento de gastrites e úlceras estomacais.
A dipirona não provoca sono nos cachorros. Se este sinal surgir, é possível que tenha ocorrido uma superdosagem ou o pet pode ter alguma virose leve, como resfriados e gripes.
Em caso de uso excessivo e frequente, a dipirona ainda podem provocar:
- anemia hemolítica (destruição das célula vermelhas do sangue);
leucopenia (redução dos glóbulos brancos);
queda da pressão arterial (hipotensão);
febre constante.
Lembre-se: a automedicação é o pior problema na administração de qualquer tipo de medicamento para cachorros. Não é porque o cachorro do vizinho se curou com este ou aquele remédio que ele pode ser indicado para o seu pet.
Idade, constituição física, sexo, porte, quantidade e intensidade das atividades físicas e até mesmo a cor da pelagem podem influenciar nas doenças caninas e em seus tratamentos. Um tutor responsável sempre garante o atendimento médico de qualidade.