Alguns mais, outros menos, todos os cachorros babam. Entenda por quê.
Todos os cachorros babam. Em algumas raças caninas, a produção de saliva é menos intensa, enquanto em outras a estrutura da cabeça se desenvolveu de modo a manter a maior parte dos líquidos dentro da boca, mas a baba pode escapar em diversas situações.
A saliva dos cachorros desempenha diversas funções. Uma das principais também está presente nos humanos: a secreção umidifica os alimentos ingeridos, permitindo que a digestão aconteça de maneira adequada.
Por isso, quando estão com fome – ou quando captam odores que evocam os seus pratos prediletos – os cachorros babam. É uma antecipação da mastigação e deglutição, semelhante ao que acontece conosco quando sentimos um cheiro delicioso – literalmente, “dá água na boca”.
A saliva desempenha outras funções importantes. Ela retém material particulado presente no ambiente, impedindo que ele entre nas vias aéreas. A umidade excessiva também altera o pH da boca, contribuindo para o equilíbrio das colônias de bactérias. Naturalmente, a baba também mantém a hidratação da boca, gengivas, língua e dentes.
Os tutores são os mais indicados para perceberem quando há alguma coisa errada com os cachorros. O aumento do volume da saliva pode revelar algumas condições graves, como tumores na boca e no sistema gastrointestinal, lesões internas e algumas condições neurológicas.
Os motivos para o cachorro babar
Observar um cachorro babando é natural na maioria dos casos. Algumas raças são conhecidas pelos lambeijos molhados, verdadeiros banhos de saliva, com que recepcionam os melhores amigos. É o caso do São Bernardo, por exemplo.
Trata-se de uma associação. Os cachorros identificam a presença do tutor com a oferta de alimentos – afinal, os humanos são os provedores dos peludos. Com o tempo, eles criam vínculos conosco e fazem “festas úmidas” nas brincadeiras ou quando voltamos para casa.
Mas não são apenas os cães de pequeno porte que babam. Mesmo os pequenos, como o pinscher miniatura e o chihuahua, também contemplam os tutores com beijos molhados. A diferença é que a quantidade de saliva é naturalmente muito menor.
Os cães braquicefálicos (de focinho achatado) tendem a babar mais do que os dolicocefálicos (de focinho muito longo) e os mesocefálicos (de focinho médio para comprido). A explicação é simples: enquanto o focinho alongado é característico da espécie, a “cara amassada”, que não comporta grandes volumes de saliva, foi selecionada artificialmente pelos criadores ao longo dos milênios.
Exemplos de cães braquicefálicos: pug, pequinês, lhasa apso, boston terrier, shih tzu, buldogue (inglês e francês), maltês, cavalier king charles spaniel, dogue de Bordéus e boxer, o mais babão de todos.
A transpiração dos cachorros
Os cachorros apresentam muito poucas glândulas sudoríparas, que não são distribuídas por todo o corpo, como acontece com os humanos. Elas se concentram exclusivamente nas patas, entre os coxins plantares (as almofadinhas dos dedos).
A boa notícia é que essas glândulas são écrinas. Elas não eliminam o citoplasma das células excretoras e, por isso, não produzem mau cheiro. Por isso, os cachorros não têm cecê nem chulé e dispensam os banhos diários.
A maioria das nossas glândulas sudoríparas também são écrinas, mas uma parte (as apócrinas), que se concentra principalmente nas axilas, pés, virilha e região anal. São elas que produzem o mau cheiro, especialmente quando as áreas ficam cobertas por roupas e calçados.
A principal função da transpiração é manter a temperatura corporal. A eliminação do suor refrigera o corpo, livrando-o do calor gerado por atividades físicas ou pelo próprio metabolismo (atividades de digestão, respiração, excreção, etc.
Os cachorros eliminam parte do calor através das patas, mas desenvolveram outra estratégia para evitar o superaquecimento: eles mantêm a boca aberta durante boa parte do tempo e, nos momentos de muito calor ou de atividades intensas, o organismo canino envia o sangue aquecido para o focinho e a boca. Isso estimula o funcionamento das glândulas salivares.
O aumento da saliva e a inalação do ar frio pela boca refrigeram o corpo, mantendo a estabilidade térmica. Desta maneira, os cachorros conseguem se exercitar por longos períodos, mas babam muito enquanto correm, saltam e recuperam objetos lançados a distância.
A respiração ofegante também faz parte da estratégia de respiração. Ao inspirar o ar atmosférico com mais avidez, o organismo canino é estimulado a enviar o sangue aquecido para a boca, onde é resfriado pelo ar ambiente: o cão arfa para eliminar o máximo calor possível – mas baba muito durante o processo.
Sinais de alerta
Os cachorros também babam em demasia para regularizar o pH do estômago. A mucosa recebe suco gástrico a cada refeição, para diluir os alimentos e formar o quimo, que é enviado para o intestino, onde ocorre a absorção dos nutrientes.
Mas o pH estomacal pode sofrer alterações mais ou menos severas. Podem ocorrer alterações no ambiente, causadas por alimentos inadequados, mudanças na dieta ou na ocorrência de alguns transtornos, como gastrites e úlceras (tanto no estômago quanto do duodeno).
Problemas gástricos também fazem o cachorro aumentar a produção de saliva, que, ingerida, contribui para neutralizar a acidez da mucosa gástrica. Por isso, se o cachorro está babando mais do que o natural, é provável que ele esteja com algum problema gastrointestinal.
Caso surjam outros sintomas, os tutores precisam levar o cachorro ao veterinário. Pode ser apenas um mal-estar passageiro, mas não custa nada conferir.
Se a baba do peludo aumentou e ele dá sinais de estar nauseado, tem ânsias de vômito e abdômen rígido, além de apatia e falta de apetite, é importante marcar uma consulta médica. Casos de intoxicação alimentar também podem apresentar os mesmos sinais.
Se a saliva aumenta sem motivo conhecido, o tutor precisa investigar algumas questões. O cachorro pode ter ingerido algum produto tóxico (alimentos humanos, produtos de higiene e limpeza, algumas espécies de plantas, etc.). Em muitos casos, é necessário correr para o consultório médico.
O tártaro canino, caracterizado pelo escurecimento das raízes dos dentes, que ficam gradualmente recobertos por uma substância grosseira e mineralizada (a placa bacteriana). Também aumenta a produção de saliva. A retirada só pode ser feita por um veterinário especializado, em consultório. O ideal é acostumar os cachorros a terem os dentes escovados desde filhotes, porque a limpeza do tártaro, em cães, exige a aplicação de anestesia geral e muitos animais idosos não têm resistência para o procedimento.
A presença de corpos estranhos na boca também pode aumentar a produção de saliva. Quase sempre, os cachorros destroem algum brinquedo (ou outro objeto), que prejudica a mastigação e deglutição. O tutor pode tentar retirar o corpo estranho, ou procurar um profissional.
Problemas sérios
As convulsões em cães também acendem o alerta vermelho. Geralmente, elas têm início com baba intensa e tremores cada vez mais frequentes. O cachorro também pode esticar as pernas para trás e perder a coordenação motora, até chegar aos desmaios.
A baba espumante também pode indicar problemas neurológicos. A espuma na boca, aliás, é um dos sinais da raiva, principalmente quando a doença atinge o sistema nervoso central, mas a doença é prevenida com a vacinação e, felizmente, está cada vez mais rara no país.
A espuma, que pode ser sinal de insolação e desidratação, também indica problemas de deglutição, mas é preciso lembrar que os cães que têm os lábios naturalmente caídos acumulam baba espumante, principalmente nos cantos da boca.
Quando o cachorro apresenta problemas bucais, é comum vê-lo babando e espumando. Esta é uma situação particularmente comum entre os animais de pequeno porte, que muitas vezes apresentam problemas na troca da dentição (os dentes de leite não caem, ficam encavalados com os permanentes e geram dor, dificuldade para mastigar e engolir, etc.).
Quando em volume desproporcional, a baba pode indicar problemas gastrointestinais. Normalmente, ela precede episódios de vômito, cujas causas precisam ser investigadas. Vale lembrar que muitos cachorros sofrem de cinetose (enjoo em viagens de carro), condição que também aumenta a produção de saliva.
A baba excessiva também pode ser um sinal de estresse, ansiedade ou depressão. Estes transtornos se desenvolvem quando a rotina dos peludos é significativamente alterada. Pode ser uma circunstância passageira (como uma reforma em casa, por exemplo), mas, se for uma condição definitiva, é preciso reformular o dia a dia dos peludos.
Os cachorros que mais babam
Todo cachorro baba, pelos motivos expostos. É uma estratégia de equilíbrio orgânico, de preparação para receber alimento, de reação a atividades físicas intensas, etc. Mas, enquanto alguns cães são extremamente delicados neste quesito, outros produzem muita saliva.
Os campeões de baba pertencem às seguintes raças (e aos mestiços destas raças):
- São Bernardo;
- basset hound;
- bull mastiff;
- buldogue inglês;
- retriever do Labrador;
- dogue alemão;
- mastim napolitano;
- boxer.
Naturalmente, o porte interfere na percepção que temos sobre a baba canina. Um buldogue inglês baba muito mais do que um cocker spaniel ou um terrier brasileiro (duas raças de porte semelhante), mas a saliva passa quase despercebida, por causa da pouca quantidade.
O buldogue inglês também é pouco ativo – ele é bonachão e tranquilo, preferindo as sonecas aos passeios e brincadeiras agitadas. Mas quem convive com um dogue alemão não tem como não perceber o excesso.
Entre os cachorros babões, os tutores precisam apenas ficar atentos a eventuais alterações na saliva. Caso surjam mudanças na cor, textura e odor (que quase sempre é agradável), é preciso levá-los para o veterinário.