Muitos tutores não gostam, mas há bons motivos para os cachorros arrastarem a bunda no chão.
Os cachorros arrastam a bunda no chão em diversas ocasiões, e não importa que os tutores considerem o gesto inadequado. O motivo, na maioria das vezes, é uma irritação na região anal.
A região do ânus ainda é um tabu para os humanos, mas os peludos não desenvolveram “vergonhas” em relação ao corpo: se determinada área está irritada, é preciso coçá-la – e arrastar no chão, assim como mordiscar patas e a cauda, são eficientes formas de alívio.
A seguir, relacionamos os motivos mais comuns para o hábito, lembrando que arrastar o traseiro no chão não é razão para broncas por parte dos tutores. Os cães são seres naturais e, por isso, o conforto é uma prioridade.
Motivos para os cachorros arrastarem a bunda no chão:
1) Diarreia
É um problema relativamente frequente: ocasionalmente, mesmo cães saudáveis podem apresentar quadros de diarreia. Uma das causas mais comuns é a mudança abrupta na dieta – por exemplo, a troca da marca da ração.
O oferecimento de alimentos humanos também pode causar desarranjos intestinais, mesmo que não sejam itens tóxicos para os peludos (como cebola e alho, por exemplo). Até mesmo os temperos que usamos em nossas refeições são prejudiciais ao equilíbrio orgânico dos cachorros.
Os sintomas não devem perdurar por mais de 24 horas: quando isto ocorre, é preciso levar o animal ao veterinário, porque a diarreia prolongada pode indicar infecções e irritações muitas vezes graves. De qualquer forma, a presença de sangue ou de muco nas fezes é sempre um sinal de que alguma coisa está errada.
A maior frequência das evacuações irrita a região anal e os cães naturalmente tentam aliviar o desconforto – uma das maneiras mais eficazes é arrastar a bunda pelo chão. Os tutores devem ficar atentos a:
- mudanças de comportamento (apatia, desinteresse por brincadeiras, etc.);
- alterações na ingestão de água e alimentos;
- inchaço abdominal e reações dolorosas ao toque;
- presença de sangue nas fezes, que se tornam amareladas, avermelhadas ou pretas.
2) Constipação
Trata-se de um distúrbio caracterizado pela defecação infrequente. Ocorre o acúmulo de fezes, que adquirem aspecto ressecado ou endurecido. O volume também é reduzido. Os cães também podem apresentar tenesmo, uma vontade intensa e frustrada de evacuar – os peludos giram em torno do corpo, andam de um lado para outro e não conseguem expelir as fezes (ou o fazem de forma incompleta).
A constipação pode não ser uma doença, mas apenas uma anormalidade no cólon descendente ou no reto. Já a obstipação acontece de forma prolongada e persistente, podendo ser resultado de desidratação excessiva do conteúdo intestinal.
Quase sempre, a obstipação é causada por múltiplos fatores, tais como uma dieta de baixa qualidade (pobre em fibras, por exemplo), recusa em beber água, ingestão de corpos estranhos, mudanças no ambiente, além de doenças do trato digestório.
O transtorno também pode ser provocado por obstruções mecânicas, que ocorrem em caso da formação de tumores no intestino, estenose colorretal (estreitamento total ou parcial do intestino grosso), hérnia perineal (enfraquecimento do diafragma pélvico), megacólon (dilatação da porção final do intestino grosso), hipotireoidismo, hipocalemia (queda dos níveis de potássio no sangue) e até fraturas na região pélvica.
3) Verminoses
Muitos parasitas internos podem prejudicar a saúde dos cachorros, quando a vermifugação é negligenciada. Os vermes mais comuns que infestam cachorros são os ascarídeos, ancilostomídeos e cestódeos.
Os peludos devem receber a primeira dose de vermífugo entre 15 e 30 dias, com dois reforços aplicados a cada duas semanas. Nos primeiros 18 meses de vida, eles devem receber vermífugos a cada três meses e, uma vez atingida a fase adulta, uma vez por ano.
A identificação das verminoses depende de avaliação clínica e exames de fezes, para definir o tipo de parasita e o tratamento adequado. Entre os cachorros, os sintomas mais comuns são os seguintes:
- perda de apetite;
- inchaço abdominal;
- fraqueza e apatia;
- presença de ovos, larvas e até mesmo vermes adultos nas fezes;
- coceira anal.
4) Tosas higiênicas
Os cachorros de pelagem média e longa precisam ser submetidos a tosas regulares, especialmente em regiões de clima quente e úmido, como o Brasil. A tosa não é apenas um cuidado estético, mas pode inclusive beneficiar a saúde animal.
Tosas regulares impedem a proliferação de parasitas externos (como pulgas e carrapatos), atuando como tratamento complementar. Elas também são importantes para controlar dermatites e alergias.
Além disso, algumas raças são muito suscetíveis à hipertermia (aumento exagerado da temperatura corporal). É o caso, por exemplo, do shih tzu e do lhasa apso. O problema é atenuado pelo corte regular dos pelos.
No entanto, alguns cães são mais propensos a irritações de pele e as tosas higiênicas podem contribuir para agravar o problema. Roçar o traseiro no chão é um sinal evidente do desconforto, que pode ser evitado com um simples troca de técnica, deixando as lâminas de lado e usando apenas tesouras (trimming).
5) Incômodo das glândulas perianais
As glândulas perianais são dois sacos localizados sob a pele dos cães, nas laterais do ânus, cuja função é produzir e excretar uma substância amarelada ou marrom que lubrifica as fezes à medida que elas são expulsas.
O odor desta substância é desagradável ao olfato humano, mas ela exerce outras funções. O líquido contém informações importantes sobre o sexo, o estado geral de saúde e até o temperamento do animal. Por isso, os peludos costumam cheirar o traseiro uns dos outros (e também de gatos, humanos, etc.): é uma maneira de identificação e reconhecimento.
Em casos de urgência extrema, os cachorros comprimem as glândulas perianais, em um gesto instintivo. O objetivo é que o mau cheiro afaste possíveis agressores. É o mesmo mecanismo usado pelos gambás, mas, no caso desta espécie, as glândulas estão localizadas nas axilas.
As glândulas perianais, portanto, são estruturas fisiológicas importantes para a eliminação das fezes, a comunicação e a defesa dos cachorros. Quando a substância se acumula, os peludos simplesmente pressionam o traseiro contra o chão, para eliminar o excesso e aliviar o incômodo.
Quando se preocupar
Estas glândulas, assim como qualquer outra do organismo, podem sofrer com inflamações e infecções, principalmente porque estão situadas muito próximas ao ânus, por onde são eliminados muito micro-organismos que, em excesso ou no lugar errado, podem causar doenças.
Os problemas mais comuns que afetam as glândulas perianais são os seguintes:
• impactação – o líquido se acumula e as bolsas ficam inflamadas, dificultando o esvaziamento por causa da pressão e gerando desconforto e dor;
• saculite – ocorre quando as bolsas são invadidas por bactérias externas ou do processo trato gastrointestinal. A infecção irrita os órgãos e o líquido expelido fica esverdeado ou amarelado, um sinal da presença de pus;
• abscesso – pode ocorrer quando o pus se encapsula, dificultando ou mesmo obstruindo o duto de esvaziamento da glândula.
Os cachorros costumam exibir sinais claros de que há problemas nas glândulas perianais. Eles passam a lamber a região de forma excessiva e arrastam o traseiro continuamente pelo chão, na tentativa de aliviar a pressão e o incômodo.
Em caso de infecção, os cachorros podem apresentar apatia, perda de apetite e febre. O odor na região anal se torna muito desagradável. As inflamações também podem acontecer devido a outros fatores, como dieta pobre em alguns nutrientes, diarreias frequentes ou traumas.
Uma emergência veterinária
O prolapso retal é uma condição mais grave, que tem como primeiros sinais a coceira excessiva, que faz os cães arrastarem o traseiro no chão. A condição ocorre quando o reto (a porção final do intestino) se desloca e pode projetar-se para o exterior do corpo.
Um pequeno prolapso pode ocorrer enquanto o cão está evacuando, mas tudo volta ao normal naturalmente. Mas, quando o peludo começa a fazer muita força na hora do cocô, a situação pode se agravar.
O prolapso retal pode ser causado por condições congênitas, mas é mais comum entre os animais que sofrem com diarreias ou constipações constantes. Os tutores precisam ficar atentos, porque o esforço para evacuar tende a agravar ainda mais a situação.
Ao notar qualquer sinal anormal na região do ânus, é fundamental buscar o auxílio de um veterinário. O problema pode ser tratado no próprio consultório, mas há casos em que é necessário submeter o peludo a um procedimento cirúrgico.
De qualquer maneira, é possível evitar o prolapso retal, desde que ele não seja causado por uma má-formação congênita. Dieta adequada e vermifugação são as providências necessárias para garantir a saúde dos peludos – e a tranquilidade dos tutores.