Ele age como uma sombra e segue o tutor por toda a parte. Saiba por que o cachorro o cachorro te segue.
Quem começa a conviver com um cachorro percebe rapidamente que ele age como se fosse um agente secreto – mas nem um pouco discreto. Onde quer que o tutor vá, o peludo o segue. Às vezes, chega a encostar o focinho na perna. Mas, por que ele faz isso?
Algumas pessoas acham incômodo, outras, apenas divertido. Mas todos se perguntam em algum momento: por que o meu cachorro sempre me segue? A resposta é simples: os cães são animais gregários e hierarquizados. Eles descendem dos lobos, que até hoje se organizam desta maneira.
Em uma alcateia, nem sempre o lobo mais forte assume a posição de liderança e tornar-se o alfa do grupo. O chefe precisa ter outras características, como expertise na caça e na defesa, facilidade para ler os sinais da natureza – a aproximação de uma chuva ou de uma frente fria, por exemplo – e a capacidade de impor-se aos demais.
Esta subordinação, no entanto, não é gratuita nem forçada. O líder do grupo é também quem garante as melhores oportunidades de caça – e, portanto, de alimento para todos –, a segurança e o conforto do covil. Em casa, os cachorros tendem a nos enxergar como o “alfa” e automaticamente passam a seguir os nossos passos.
A matilha
Para os cachorros, todos os animais da família fazem parte da matilha. “Todos somos cachorros”, pensam eles, mesmo que alguns tenham penas, outros tenham escamas e outros reajam de maneiras absolutamente imprevisíveis – como os gatos, por exemplo.
O raciocínio dos peludos faz sentido: por que motivo animais de diferentes espécies manteriam o convívio, dividiriam o alimento e os locais de defesa e ataque? Em algumas situações, vários bichos podem dividir um mesmo espaço, mas isto não significa convivência, é apenas proximidade.
O líder da matilha – no nosso caso, o tutor – é o membro mais experiente do grupo. Ele dá ordens, define regras, organiza as refeições. É ele também quem conhece os atalhos mais seguros, os lugares mais confortáveis, os esconderijos de guloseimas.
O tutor é o provedor do alimento, carinho, defesa, ataque, proteção, lazer e recreação. É o tutor quem garante a sobrevivência. Mais que isso: o tutor é garantia de saúde, bem-estar e alegria.
Os animais vivem em bandos há muito tempo – milhões ou bilhões de anos, mais precisamente. Peixes nadam em cardume para que, no caso de um ataque, um grande número consiga sobreviver. Com a experiência do convívio, os bandos se organizaram em grupos comunitários.
Desde então, nós estabelecemos regras não apenas para sobreviver, mas também para viver em paz, para ter qualidade de vida. Humanos e cachorros definiram novas normas quando começaram a caçar juntos. Algum tempo depois, nós assumimos a liderança.
Obedecer e aceitar as regras são estratégias para viver melhor. E qual o lugar melhor para se viver? Junto com os líderes, que estão sempre nas melhores posições – para comer, para descansar, para evitar ataques de predadores. É por isso que os cachorros sempre nos seguem: eles sabem que estão protegidos onde quer que nós estivermos.
Mais motivos para o cachorro te seguir
Existem outras razões que levam os cachorros a seguirem os tutores. Certos pets fazem apenas por hábito, porque se acostumaram a ficar sempre perto dos tutores.
Algumas raças caninas, por outro lado, foram especialmente desenvolvidas visando ao fortalecimento do sentimento de matilha e, por isso, os atuais representantes são mais chicletes.
Herança genética
O beagle e o basset hound são exemplos de raças desenvolvidas para a caça em grupo: originalmente, eles disparavam pelos bosques ingleses e franceses em busca de lebres, coelhos e raposas. Ao encontrar os “alvos”, eles faziam um barulho ensurdecedor, para avisar que tinham avistado uma presa.
Estes cães naturalmente seguem os demais membros da matilha. Transportados para o conforto de um lar moderno, eles repetem a programação original e continuam seguindo o alfa, o chefe do grupo.
Mudanças na rotina
Se o seu cachorro passou a seguir você apenas recentemente, verifique se não ocorreram alterações no dia a dia. Os peludos gostam de regularidade e previsibilidade e o contato físico é natural entre os cães.
Eles podem começar a exibir o comportamento em função de mudanças como troca de casa, chegada de estranhos, alterações nos horários, proibições inesperadas, etc. Ser proibido de entrar no quarto, depois de meses ou anos dormindo na cama com o tutor, pode ser uma surpresa difícil para eles.
Felizmente, os cachorros também são altamente adaptáveis. Eles assimilam mudanças nas regras da casa e da convivência com facilidade – um sinal de que são animais sensíveis e inteligentes, capazes de se adequar a novas realidades. Basta manter as novas regras e, em pouco tempo, eles se reorganizarão.
Transtornos emocionais
Ansiedade e insegurança são, talvez, os motivos mais frequentes atualmente deste comportamento, especialmente quando se observa o exagero, a compulsão. Cães que passam muito tempo sozinhos tendem a seguir os tutores com medo de que eles “desapareçam” novamente.
A solução, neste caso, é encontrar atividades para quando os peludos ficam em casa sem companhia. Os tutores devem providenciar brinquedos, deixar uma janela semiaberta – para servir de observatório –, esconder petiscos nos locais por onde eles transitam e até providenciar uma companhia – outro cachorro ou, quem sabe, um gato.
Os incômodos
Para algumas pessoas, ter um peludo agindo como sombra pode ser desagradável. Os filhotes seguem naturalmente os tutores, a quem entendem com substitutos das mães. Mas, especialmente entre os que adotam cachorros já adultos, a insistência do pet em seguir os nossos passos é desnecessária e, mais do que isso, exagerada.
É possível resolver o problema. Pelo menos, é possível atenuar a marcação cerrada que alguns cachorros fazem. A principal estratégia é o adestramento dos comandos básicos: os peludos devem obedecer a ordens simples, como “sim” e “não”.
Ao ensinar os comandos “senta” e “fica”, o tutor sinaliza para que o cachorro não o siga: ele deve parar e esperar até que uma nova ordem seja dada. O adestramento deve ser reforçado com a oferta de prêmios sempre que o pet fizer o que se espera dele.
Os comandos básicos são bastante úteis inclusive para eliminar avanços contra estranhos ou simplesmente passear nas ruas, por exemplo, mas conseguem reduzir sensivelmente o comportamento “seguir o líder”.
É importante lembrar que os cachorros são extremamente sociáveis. A espécie se desenvolveu criando e mantendo as relações de cooperação e colaboração. Os primeiros lobos que acompanharam os humanos fizeram isso porque aceitaram receber um pouco de alimento e carinho em troca da participação nas caçadas.
Por isso, ter um cachorro é, para o bem e para o mal, ter um companheiro para todas as horas. Algumas raças, como buldogue inglês e akita inu, são mais independentes, mas nenhum cão prescinde da companhia.
Ter um amigo sempre por perto é uma das vantagens de adotar um peludo. Por isso, acostume-se. Se o seu cachorro está sempre seguindo você e todas as probabilidades de transtornos ou desordens mentais estão descartadas, lembre que esta é uma característica da espécie.
Aliás, para manter o equilíbrio físico e mental, os cachorros precisam da convivência próxima com os tutores. A “perseguição implacável” pode ser apenas uma maneira canina de dizer: “eu gosto de você. Vamos continuar fazendo as coisas juntos”.