Eles sofreram cruzamentos seletivos. Entenda por que há tantos tipos diferentes de cachorros.
O cachorro foi provavelmente o primeiro animal a ser domesticado pelos humanos, há milhares de anos. Inicialmente, eram apenas duas espécies a colaborar nas atividades de caça, mas, graças à capacidade de adaptação, os peludos passaram a desempenhar as mais diversas funções. Por isso, há diferentes tipos de cachorros.
Assim como ocorreu com os cavalos, vacas, cabras, carneiros, camelos, jumentos e outros, os cachorros foram sendo selecionados artificialmente, de acordo com as necessidades e desejos humanos. Nesta convivência, eles se adaptaram a diversos climas, tipos de solo e atividades.
À medida que a civilização humana era criada, os cachorros se tornaram testemunhas muito próximas do desenvolvimento cultural e social. A partir de características genéticas prévias, os cães foram sendo adaptados artificialmente e dividiram-se em raças.
O mutualismo
O relacionamento entre o Homo sapiens e o Canis lupus familiaris é um fato comum na natureza. Todos os seres vivos interagem entre si, formando uma imensa teia de relações ecológicas. No nosso caso, a relação é do tipo mutual.
Neste tipo de relação ecológica interespecífica (pelo fato de envolver indivíduos de uma espécie), os espécimes das duas espécies envolvidas se beneficiam mutuamente, sem prejuízo para nenhum indivíduo. É a chamada relação harmônica.
Nesta forma particular de mutualismo, ocorre a defesa das duas espécies envolvidas (é o mutualismo defensivo). Na convivência, estão envolvidos aspectos relacionados à segurança, alimentação, proteção, etc.
A convivência
Atualmente, parece ser desnecessário explicar a convivência entre cães e humanos. Nós nos reunimos há tanto tempo que parece uma coisa natural, que acontece desde sempre. Efetivamente, nós estabelecemos vínculos fortes, que superam o utilitarismo.
A nossa história comum teve início há alguns milhares de anos, durante a última Era Glacial. O Homo sapiens surgiu na África equatorial, entre a Tanzânia e o Quênia, enquanto o Canis lupus se desenvolveu no norte da Eurásia. As duas espécies migraram para outras latitudes, em busca de alimento e segurança.
Os primeiros encontros das duas espécies aconteceram quando a Terra ainda era povoada por outros humanos (como o H. erectus e o H. neanderthalensis). Há cerca de 100 mil anos, alguns lobos mais dóceis, ousados e espertos passaram a rondar os nossos acampamentos, em busca de comida e calor – as nossas fogueiras deviam ser muito convidativas.
A caça era um artigo raro, especialmente na Eurásia, em função das baixas temperaturas. Além disso, os humanos não eram tão fortes fisicamente, apesar de compensar as deficiências com o uso de diversas ferramentas.
A parceria seguiu o caminho natural: os lobos entraram com a força física e a organização dos grupos de ataque, enquanto os humanos contribuíram com utensílios, capacidade de planejamento e domínio de algumas técnicas, como a construção de abrigos e a preparação do fogo.
Os cachorros – descendentes dos lobos que rondavam os acampamentos – rapidamente demonstraram que eram bons parceiros não apenas para a caça. Eles se mostraram bastante úteis na defesa do território, na guarda das crianças e também no ataque aos grupos adversários.
À medida que os humanos adquiriram novas habilidades, os cachorros se adaptaram para participar das atividades: pesca, coleta de presas atingidas por lanças, flechas e dardos, defesa e diversão: há dezenas de milhares de anos, alguns cães de menor porte começaram a ser selecionados apenas para companhia: eles foram os ancestrais das atuais raças de pequeno porte, como o lulu da Pomerânia e o maltês, por exemplo.
Com o surgimento das primeiras aldeias – e dos inevitáveis confrontos entre os seus habitantes –, os humanos perceberam que os cães grandes não deveriam ser descartados: afinal, eles eram verdadeiras armas de guerra, especialmente os mais dominantes e agressivos.
Ainda nas primeiras atividades de pastoreio, os cães se mostraram excelentes companheiros, conduzindo rebanhos e mantendo predadores afastados. Assim, surgiram os cães pastores e, um pouco mais tarde, os boiadeiros, companheiros das tarefas rudimentares da pecuária.
A imensa capacidade de adaptação dos cachorros levou-os a desenvolver tarefas muito diferentes. Quando os primeiros humanos chegaram às estepes geladas da Sibéria, Alasca e Canadá, lá estavam os peludos, puxando trenós e garantindo o conforto térmico.
Eles também escalaram montanhas acompanhando os humanos e, quando foram construídas aldeias em regiões elevadas, os cachorros se adaptaram ao frio intenso e às condições irregulares do terreno.
Os cachorros pequenos também garantiram espaço entre as comunidades humanas. O pequeno shih tzu já foi considerado guardião de templos budistas no Tibete: no idioma local, shih tzu significa “cachorro leão que nunca desiste”.
O pug também já era conhecido no Oriente pelo menos desde 700 AEC, quando surgem as primeiras ilustrações de cães semelhantes aos atuais. Mas eles se tornaram populares apenas no século 18, quando os marinheiros e soldados britânicos levaram alguns exemplares para a Europa.
A imperatriz Josefina, mulher de Napoleão Bonaparte, apaixonou-se pelos pugs (já devidamente adaptados à Europa pelos ingleses) e criou vários deles na corte. Os cães da raça, pequenos, de pelo curto e focinho achatado, se tornaram uma grande sensação entre os nobres europeus.
A classificação oficial
Apesar de todos pertencerem à mesma espécie – isto quer dizer que todos podem acasalar e gerar descendentes férteis – os cachorros se apresentam em diferentes tipos: são formas, tamanhos, pelagens, cores, personalidades diversas.
Algumas entidades cinológicas chegam a classificar mais de 500 raças caninas. A Federação Cinológica Internacional (FCI) reconhece 344 ao todo. A entidade congrega associações de 94 países, entre elas a CBKC (Confederação Brasileira de Cinofilia).
A FCI divide as raças caninas em dez grupos, de acordo com a função e tipo físico, ou, em alguns casos, com o histórico dos cães. De acordo com esta classificação, seguida pela maioria das entidades oficiais, os peludos estão assim separados:
- grupo 1 – formado pelos pastores e boiadeiros, com exceção dos boiadeiros suíços;
- grupo 2 – reúne os cães do tipo pinscher, schnauzer e molossos (dos tipos montanhês e dogue), além dos boiadeiros suíços;
- grupo 3 – reúne os terriers de porte pequeno, médio e grande, tipo bull e de companhia;
- grupo 4 – é o grupo dos teckels;
- grupo 5 – reúne os spitz europeus e asiáticos, cães nórdicos de trenó, de caça e pastoreio, cães do tipo primitivo e raças assemelhadas;
- grupo 6 – é o grupo dos sabujos (farejadores) e dos cães de pista;
- grupo 7 – reúne os cães de aponte da Europa (continentais e britânicos);
- grupo 8 – formado pelos cães recolhedores (retrievers) de caça, os levantadores de caça e os cães d’água;
- grupo 9 – formado pelos poodles, bichons, cães belgas de pequeno porte, cães do Tibete, cães pelados, chihuahuas, spaniels ingleses de companhia, spaniels anões, spaniels japoneses, pequineses, molossos de pequeno porte e kromfohrländers (de “sulco torto”);
- grupo 10 – reúne os lebréis de pelo longo e franjado, de pelo curto e de pelo duro.
No Brasil, a CBKC estabelece também o grupo 11, constituído por raças registradas em entidades locais e clubes independentes, sem o reconhecimento oficial da FCI.
Os diferentes tipos de cachorros
Entre os mamíferos, os cachorros são a espécie que apresenta maior diversidade. A maioria das características é artificial e muitas delas foram desenvolvidas pelos humanos, através de cruzamentos seletivos.
Em alguns casos, no entanto, os cachorros desenvolveram características específicas durante as migrações pelo planeta. Eles adaptaram a pelagem, por exemplo, para resistir ao frio intenso ou à exposição prolongada ao Sol forte.
As raças caninas começaram a surgir há cerca de 30 mil anos, quando os humanos já tinham se espalhado por todos os continentes. Nessa época, cães e lobos passaram a exibir características distintas – inicialmente, em relação ao comportamento.