Por que nós amamos tanto os nossos cachorros? A resposta parece óbvia.
Quem convive com um cão usufrui de um amor incondicional. Mesmo quem não convive com um cão em casa, pelos mais diversos motivos (falta de espaço, de tempo para se dedicar, etc.), conhece os sentimentos e emoções que um peludo é capaz de despertar.
Sim. Nós cuidados dos nossos pets: alimentamos, higienizamos, proporcionamos exercícios e brincadeiras, levamos ao veterinário regularmente, “gastamos um tempo” juntos, apenas aproveitando a companhia uns dos outros. Para os nossos cachorros, nós somos os “donos do pedaço”: nós preenchemos todas as necessidades e desejos.
Isto explica o amor que os nossos patudos sentem por nós. Mas, o que desperta o nosso amor por eles? Amor que se traduz em cuidado, vontade de estar perto, saudade, preocupação nos dias mais complicados. Onde começou este sentimento tão desprendido, quase maternal?
A domesticação
Esqueça aquela história de que os lobos mais mansos das alcateias próximas passaram a aproveitar os restos de comida humanos e a se aquecer em nossas fogueiras. Em troca, eles passaram a fornecer proteção para nós e nossos bandos.
Na atualidade, de acordo com a maioria dos arqueólogos, a parceria não teve início com esta submissão. A aproximação entre caninos e humanos ocorreu por volta de 40 mil a 27 mil anos e foi proveitosa para as duas partes.
A parceria teria surgido no início de uma era glacial, em que a caça estava se tornando escassa. Humanos e caninos descobriram que poderiam unir forças, garantindo desta forma maior êxito nas investidas contra presas comuns.
Com o tempo, o homem, mais bem dotado intelectualmente, assumiu a liderança da dupla. Mesmo assim, o cachorro continuou se revelando um parceiro extremamente útil. Cães se especializaram em pastorear rebanhos, guardar tendas e aldeias, participar de batalhas, caçar roedores e outros animais daninhos, resgatar vítimas de acidentes, etc.
Além disto, os peludos continuaram caçando e pescando juntamente com os humanos. Mas, se eles se tornaram progressivamente “os melhores amigos do homem”, ou, em outras palavras, “paus para toda a obra”, nós continuamos sendo basicamente utilitaristas: por muito tempo, continuamos procurando a melhor parte para nós. Muitas raças foram extintas – e muitos animais, abandonados – no decorrer deste processo.
Até o século XIX, nós simplesmente usamos os cachorros. Eles se especializaram em diversos tipos de caça, na guarda, na companhia de crianças e adultos e até em atividades distantes dos seus instintos, como as brigas entre iguais e não tão iguais assim, como touros e ursos.
Então, nossos ancestrais do século XIX parecem ter descoberto o prazer de conviver com os cachorros. Não o prazer da caça ou da conquista, mas o simples prazer de ficar lado a lado. Desenvolvemos as mais diversas raças e algumas, que assustam pelo grande porte, foram desenvolvidas apenas como “cães de carruagem” (animais que acompanhavam os donos, correndo o lado dos carros da época).
É o caso, por exemplo, do dinamarquês e do dálmata. Que ter um cachorrinho de colo? Vale a pena apostar em um exemplar de uma destas raças. São grandes, mas eles gostam mesmo é de carinho, de estar ao pé do dono (ou no colo, mesmo).
Fim do cão de trabalho?
Os cachorros continuam sendo fundamentais para o desenvolvimento de diversas tarefas humanas. Hoje, eles fazem parte da segurança, ajudam a combater o contrabando e o tráfico de drogas e armas, atuam como cães-guia e, mais recentemente, como cães terapeutas.
Eles continuarão desenvolvendo estas tarefas por muito tempo ainda: não é o fim do cão de trabalho (para eles, uma brincadeira, para nós, um auxílio precioso). A maioria dos cachorros, no entanto, faz parte de um seleto grupo de pets adotados apenas para se tornarem mais um membro da família. Os cachorros são animais de adaptação extremamente fácil e, por isto, não é incomum observar um são bernardo ou um wolfhound brincando com um bebê que está começando a andar.
Por outro lado, os nossos animais de estimação não perderam os instintos básicos e, por isto, assim como os escoteiros, eles permanecem “sempre alerta” (para a nossa sorte). Não é difícil encontrar um chihuahua, um pinscher ou um yorkshire que tenha certeza de que é o responsável pela vigilância. Para eles, o lema é: para servir e proteger.
Mesmo que haja um cão de maior porte na família, um destes nanicos pode assumir o posto de chefe da segurança: ele é responsável, pelo menos, por dar o alarme no caso de algo suspeito – que pode ser apenas o barulho do caminhão do lixo ou do vizinho estacionamento o carro.
As provas do amor
Entre os mamíferos, a ocitocina, conhecida como “hormônio do amor”, é o principal responsável pelo trabalho de parto. Esta substância promove as contrações do útero quando o feto está pronto para nascer. São estas contrações que permitem a dilatação do colo uterino e a descida do bebê para o canal vaginal.
Mas a ocitocina, também responsável pelo estímulo das glândulas mamárias, é muito mais do que um agente de nascimentos. Quando nos sentimos atraídos por alguém do sexo oposto, a produção deste hormônio aumenta. A ocitocina também é uma das responsáveis pela fidelidade: um casal permanecerá unido enquanto a substância for secretada nas doses certas. A ocitocina está presente tanto no orgasmo masculino, quanto no feminino.
Outras pesquisas, como a liderada pelo americano Paul Zak (criador da neuroeconomia, ramo de estudo que pesquisa a interferência das ligações entre os neurônios nas nossas relações de produção e consumo), revelaram que a ocitocina é responsável também pela ética nos negócios. O neurônio chegou a ser nomeado como a molécula do amor.
Desta forma, pode-se dizer que a ocitocina é o hormônio dos relacionamentos, responsável pela capacidade de doação, de empatia, de solidariedade. É o hormônio da honestidade e do altruísmo. Está presente regulando as relações entre casais, entre pais e filhos, entre amigos e, claro entre humanos e caninos.
Pesquisas realizadas pela Universidade Duke (EUA) e de Tóquio (Japão) demonstraram que o teor de ocitocina presente na urina de cachorros na simples presença dos seus tutores humanos é mais elevada do que em situações cotidianas.
Não é necessário um contato físico (como um afago ou um abraço, por exemplo). Basta o contato visual para que humanos e caninos passem a produzir quantidades maiores do hormônio do amor. Isto significa que esta produção extra não está relacionada a uma recompensa, mas à simples presença do “ser amado” – cachorros e homens.
A área de recompensa do cérebro (o sistema mesocorticolímbico) também é acionada, mas apenas a partir do primeiro contato físico prazeroso. Este contato aumenta a produção de dopamina (outro neurotransmissor cerebral).
Sim, nós e nossos cachorros queremos agrados e carinhos. Antes de tudo, porém, queremos estes afagos por que nos amamos. A ciência vem demonstrando o que muitos tutores já sabiam por intuição (e os cães, há muito mais tempo ainda). Entendeu por que nós amamos tanto os nossos cachorros? Não? Tanto faz. O importante é que sejamos felizes com eles.