Segurança, caça e conforto são alguns motivos que explicam por que os cães gostam tanto de cavar.
Alguns cães são verdadeiros terrores para jardineiros profissionais e amadores. Eles não conseguem evitar: basta soltá-los em um terreno para que em pouco tempo surjam vários buracos. Muitos peludos gostam de cavar para ocultar tesouros, como ossos e brinquedos. Outros apenas dão vazão aos instintos e cavam até mesmo almofadas e travesseiros.
O comportamento é ancestral: os lobos cavam buracos porque a terra úmida e fria é mais confortável em dias de calor, além de servir para esconder um lanchinho, conduta verificada entre os que fazem a sentinela e passam longas horas sem companhia.
Cavando em busca de diversão
Os cães podem cavar o chão apenas por diversão: ao enfiar a pata na terra, eles percebem que o solo se mexe, escorre entre os dedos, coloca à mostra diversas coisas engraçadas, como pedras, torrões e, eventualmente, algumas raízes e até minhocas.
Isto pode não parecer muito engraçado para os humanos, mas é uma boa maneira de passar o tempo e se distrair, especialmente nos momentos em que os cachorros são deixados do lado de fora, sem nenhum brinquedo por perto e sem companheiros.
Explorar texturas, aliás, é também uma diversão para os bebês. Eles se divertem tocando a pele da mãe, com as diferenças dos tecidos das cobertas no berço, com os primeiros brinquedos e até com as próprias mãos e pés.
Assim como as crianças, os cachorros têm à frente um mundo inteiro para explorar e, quando o chão se movimenta, toda a atenção canina se concentra. Além de encontrarem muitas coisas novas, eles também descobrem que o solo é mais frio ou quente, mais úmido ou seco, etc.
Cavar para fugir
Se um simples canteiro lateral, com pouca profundidade, já oferece um número ilimitado de descobertas, o que dizer do mundo que se esconde do outro lado da cerca ou do muro? Alguns cães se tornam especialistas em fugas – e dão muito trabalho para os tutores.
As escapadas são bastante comuns. Os cachorros podem tentar fugir de casa por vários motivos, como falta de estímulos no ambiente, solidão e, claro, o descuido dos tutores. Apesar de ser um comportamento comum à espécie, algumas raças são especializadas.
O beagle, por exemplo, foi criado para a caça em áreas abertas. O beagle gosta de caminhar por longas distâncias, está sempre muito alegre e é um cão barulhento. Ele pode cavar túneis por baixo de cercas, “conquistando a liberdade”.
Já o husky siberiano tende a ser extremamente obediente aos tutores quando está em serviço. Atualmente, no entanto, é difícil encontrar um cão da raça na atividade para a qual foi desenvolvido: puxar trenós. Nas folgas, o husky gosta de explorar e se divertir. Cavar buracos, para ele, é um excelente programa.
Os bulls aliam a força física e a persistência. O staffordshire bull terrier e o pitbull podem abrir túneis bastante longos, se eles decidirem que devem “inspecionar” os arredores. Isto acontece com frequência, já que os bulls são teimosos. Eles também se destacam nas escaladas: portanto, um muro de dois metros de altura não é um obstáculo nem por baixo, nem por cima.
O jack russel terrier, apesar do porte pequeno e da aparência frágil, é outro que gosta de cavar buracos. Ele também consegue se soltar de coleiras e parece estar sempre pronto para uma escapada.
A maioria dos cães tem ideias próprias sobre a utilidade dos canteiros. As cores e os perfumes das flores encantam os humanos, mas os peludos acham mais interessante o que está por baixo delas. Desta maneira, quem gosta de cultivar plantas tem de redobrar os cuidados quando há um cachorro por perto.
Conforto e proteção
Nos dias mais quentes, cavar um buraco no chão e deitar-se nele é uma excelente opção para muitos cachorros. Alguns centímetros abaixo do solo, a terra é mais úmida e fresca, oferecendo muito conforto para os peludos – e muito trabalho para os tutores, que precisam tapar o buraco e lavar os animais.
Mas, ao cavar uma toca, os cães podem estar procurando um lugar não apenas confortável, mas também seguro. O gesto pode ser apenas instintivo, com as cavoucadas em almofadas, travesseiros ou na própria caminha.
É comum vê-los agir assim em dias nublados e chuvosos. Os cães também podem estar tentando encontrar um refúgio contra alguns medos, como barulhos estridentes ou até mesmo as broncas dos tutores.
Alguns procuram se esconder com a aproximação de algumas pessoas de quem eles não gostam especialmente, como crianças pequenas ou não acostumadas a conviver com cachorros (e acham engraçado cutucar olhos e orelhas), ou pessoas muito efusivas, que exageram nos carinhos ou apenas falam alto demais.
Os tesouros
Todos os cachorros selecionam alguns objetos como verdadeiras preciosidades. Em geral, eles gostam de dividir os pertences com a família, mas chegam a ficar ciumentos com determinados brinquedos, que consideram como tesouros.
Esses esconderijos quase sempre são falhos. Os cachorros podem cavar palha, enchimento de almofadas, terra fofa, areia ou mesmo a sujeira varrida e deixada em um canto. Na mentalidade canina, no entanto, são bons locais para ocultar as suas propriedades – inclusive lanches para mais tarde, como um osso ou um biscoito.
Motivos históricos
Antes de reclamar da bagunça, os tutores precisam saber que nós já estimulamos os cães a cavar buracos. Os animais de menor porte são os especialistas. Na Europa, no século 11, os servos foram proibidos de manter cachorros de grande porte.
O motivo era reservar a caça nos bosques para os senhores feudais. A primeira lei sobre o assunto surgiu no reinado do inglês Guilherme I, “O Conquistador”. Os cachorros grandes não podiam ficar nas áreas rurais. Assim, começaram a surgir diversas raças caninas de pequeno porte.
Os animais menores acabaram se revelando muito úteis. Eles aprenderam a caçar pequenas presas, como marmotas, esquilos e ratos. Esses roedores comprometiam a produção de jardins e hortas.
Os cães pequenos e médios conseguiam desentocar os roedores, escavando terrenos e dando combate sem trégua. Assim, surgiram raças como o dachshund (“cão de texugo”, em alemão) e o otterhound (“cão de lontra”, em inglês). Com o tempo, este último acabou retomando o porte grande.
O que fazer?
Às vezes, a insistência dos cachorros em cavar buracos, enterrar objetos e tentar fugas pode atrapalhar a rotina da casa e até colocá-los em risco. Os tutores não devem incentivar os comportamentos dominantes, mas reprimi-los e substituí-los.
No caso dos peludos que costumam enterrar alimentos, os tutores devem oferecer apenas o suficiente para a refeição – ou para o adestramento, se for o caso. Se eles tiverem excedentes, é certo que irão reservar uma parte para “mais tarde”.
Os brinquedos precisam ter sempre um certo ar de novidade. Não é necessário comprar novos objetos toda semana: basta fazer um revezamento, trocando os itens a cada semana, por exemplo. Os brinquedos devem ficar disponíveis apenas enquanto despertarem a curiosidade dos peludos, para que eles não comecem a pensar em maneiras de escondê-los.
Os cachorros também podem cavar o chão para irritar os tutores. É uma forma de desafio. Não é frequente observar um cão enfrentando diretamente os seus humanos (em uma disputa pela liderança, por exemplo), mas os peludos podem fazer pequenas vinganças quando se sentem desprezados ou ignorados.
A solidão, o isolamento e o tédio são grandes incentivadores. Os tutores que não querem que os cachorros continuem cavando o chão precisam garantir que eles tenham atividades físicas e mentais, com brincadeiras, passeios e jogos. Esta é a melhor maneira de eliminar ou atenuar o problema.