O animal foi abandonado porque estava muito ferido. Uma pessoa a deixou em uma caixa no lixão. Mas ela foi encontrada, recebeu amor e foi curada.
Annie é uma cachorrinha encontrada ainda filhote em um depósito de lixo. Ela foi colocada dentro de uma caixa de papelão provavelmente pelo antigo tutor e não tinha outra alternativa além de uma morte certa e dolorosa.
Uma ativista dos direitos dos animais, que ficou conhecida apenas como Tatiana, conseguiu interferir no curso desta história. Ela encontrou Annie durante uma caminhada. Atraída pelo choro do animal, ela abriu a caixa e encontrou a peluda – que estava em sérios apuros.
Abandono e maus tratos
Annie foi vítima de um trauma violento. Sem conhecer a história pregressa, não é possível identificar a origem das lesões, mas a cachorra provavelmente sofreu uma queda ou foi atropelada. Ela não conseguia apoiar o peso do tronco nas pernas traseiras.
Seja lá quem foi o autor desta atrocidade, ele é o autor de uma ação muito cruel. Mesmo que não tenha tido culpa no acidente, ele é responsável por abandonar um animal em sofrimento. Talvez ele acredite na lenda da avestruz, que esconde a cabeça quando está em perigo (em tempo: avestruzes não fazem isso – nenhum animal faz. Todos são inteligentes o suficiente para tentar escapar, não apenas ignorar os riscos).
De qualquer maneira, o fato é cruel e criminoso. A cachorra foi abandonada no lixão, para morrer aos poucos, de forma muito triste e dolorosa, por não conseguir se movimentar para procurar alimento.
Mesmo que o trauma tivesse consequências fatais, o correto, em uma situação como esta, teria sido levar a cachorra para um veterinário, que eventualmente poderia provocar a morte com uma injeção letal, mas indolor.
Não podemos julgar os atos de ninguém, especialmente se esta pessoa não está presente para apresentar as justificativas. Talvez ele não pudesse arcar com as despesas. Mas jogar a cachorra, em uma caixa de papelão, no depósito de lixo, dificilmente é uma atitude que possa ser perdoada.
O resgate
Tatiana decidiu levar Annie rapidamente a um abrigo de cães local. Apesar de não haver ferimentos visíveis em uma avaliação superficial, era evidente que o estado da cachorra era muito grave. Não havia tempo a perder.
No abrigo, a situação revelou ser ainda pior. Havia sinais de lesões graves na medula espinhal e de fraturas nos ossos da pelve, que prejudicavam os movimentos das pernas traseiras. Annie também parecia não ter sensibilidade no rabo.
O rabo dos cachorros, entre outros mamíferos, é a extensão da coluna vertebral. O número de nervos na região é menor, mas a cauda quase sempre é muito sensível (cachorros abanam o rabo quando estão excitados).
A ausência de resposta a estímulos na cauda indicava um péssimo prognóstico: Annie deveria estar com sérios problemas ortopédicos e neurológicos, mas o abrigo não tinha os equipamentos necessários para um diagnóstico mais preciso.
O tratamento
Tatiana decidiu levar Annie para um hospital veterinário próximo. Ela contou com a ajuda da equipe de voluntários do abrigo. Dessa vez, uma caixa de papelão foi útil, para facilitar o transporte da cachorra, sem grande desconforto.
No hospital, os médicos identificaram um forte trauma na coluna vertebral lombar, provavelmente causado por uma queda ou outro impacto forte. Os ossos da bacia estavam trincados e a falta de resposta na cauda prejudicava o equilíbrio do animal.
Apesar do evidente desconforto, Annie se comportou muito bem no consultório, sem tentar escapar ou atacar a equipe de saúde. Médicos e enfermeiros destacaram a boa conduta da cachorra, que parecia entender estar sendo cuidada, para alívio da dor.
Annie foi submetida à primeira de uma série de cirurgias. Inicialmente, os médicos decidiram tentar reverter a lesão na vértebra, que estava comprimindo nervos, causando muita dor e limitando os movimentos e a funcionalidade das pernas traseiras.
Em um segundo procedimento, Annie recebeu placas metálicas para unir os pedaços do ílio, osso da bacia que forma a saliência da anca, responsável por sustentar o peso do corpo, o equilíbrio, o balanço e a capacidade de locomoção.
Mesmo com as duas cirurgias, não havia certezas. O prognóstico não indicava se Annie recuperaria os movimentos. Havia uma possibilidade forte de que ela tivesse de usar uma cadeira de rodas.
Alta hospitalar
As cirurgias revelaram-se um sucesso. Annie estava pronta para ir para casa – mas não tinha casa para ir. Tatiana decidiu não devolvê-la ao abrigo, pois a equipe não teria condições de acompanhar a convalescença da cachorra, inclusive por falta de pessoal.
Annie foi instalada provisoriamente na casa de Tatiana. Ela passou um tempo considerável sem mexer o quadril e as pernas traseiras. A cachorra tinha de usar um colar elisabetano, para não morder os pontos cirúrgicos.
Nos primeiros dias, Annie usava fralda, tinha de ser levada para fazer necessidades, comer e beber água, mas Tatiana não desistiu. Em algumas semanas, o esforço da ativista mostrou os primeiros resultados. Annie começou a se movimentar.
Inicialmente, os movimentos eram lentos e imprecisos. Mas a cachorra começou a ganhar confiança e passou a passear pela casa, procurando alimento, espaço para descansar e até ensaiou algumas brincadeiras.
Então, Tatiana sentiu-se segura para deixar Annie no abrigo, que poderia providenciar a adoção. As primeiras imagens postadas nas redes sociais mostram um cachorro desequilibrado e frágil, mas mesmo assim ela conseguiu encontrar uma candidata à adoção.
A nova tutora finalmente foi conhecer Annie, que já conseguia andar quase normalmente, brincar com outros cachorros e mesmo fazer algumas travessuras. Provavelmente, ela não conseguirá correr com a desenvoltura de um animal saudável, mas certamente é uma sobrevivente.
Annie, depois de um período complicado, que começou quando foi jogada como se fosse um pacote imprestável, superou tudo e conquistou um novo lar. Graças ao apoio do abrigo e da dedicação de Tatiana, que prefere não se identificar, mas certamente tem um lugar de grande destaque, reservado especialmente para ela.