Fim de ano é sinônimo de mesa farta, mas a Ceia esconde alguns perigos para os cães. Confira.
Fim e recomeço. As festas de fim de ano são uma tradição para celebrar os bons acontecimentos vividos e desejar saúde, paz e prosperidade para o futuro. As ceias natalinas proporcionam bons momentos para reunir amigos e familiares, mas alguns perigos podem estar escondidos nestas mesas fartas.
O natal e o Réveillon – e também os encontros durante as férias – sempre prometem muita comida e bebida. Mas quem tem pets em casa e está planejando receber nestas noites festivas precisa tomar alguns cuidados.
01. “Não alimente os animais”
A primeira providência é informar a todos os convidados que é proibido alimentar os animais de estimação da casa. A advertência pode servir inclusive como uma brincadeira, mas especialmente os cachorros gostam de rondar os estranhos, com olhares pidões e gestos de humildade, sempre prontos para abocanhar algum petisco.
As delícias que fazem a alegria dos humanos nas ceias natalinas (e também em outras ocasiões como aniversários, churrascos, batizados, casamentos, etc.) apresentam riscos para a saúde de cães e gatos – alguns podem ser até fatais.
Portanto, nenhum convidado deve estar autorizado a partilhar um pedacinho do pernil de porco ou da coxa do peru e precisa estar atento aos eventuais roubos. Os cães não conhecem o conceito de propriedade e, portanto, não roubam no sentido técnico da palavra.
De qualquer forma, eles são extremamente ágeis – mesmo os idosos – e conseguem abocanhar com muita facilidade um petisco que esteja dando sopa: um prato deixado sobre o sofá, um copo apoiado no tapete, etc.
02. Peru e chester
Cães parecem adorar aves. As máquinas de galetos dos bares e padarias foram inclusive batizadas de TVs para cachorros. Mas, na verdade, eles não gostam especialmente de perus, frangos avantajados, patos ou marrecos. Eles apenas são carnívoros e percebem que esses quitutes poderiam muito bem complementar a dieta.
Os aromas, por outro lado, estimulam bastante os cachorros. E, apesar de vivermos em um país tropical, os assados que passam horas no forno e os molhos que demoram um tempão para encorpar – alimentos típicos do frio – acabam despertando o interesse dos cães, que usam principalmente o faro para se orientar.
O risco do peru e do chester (ou seja lá qual for o nome que o produtor dê ao frango tamanho família) não está na proteína animal: os peludos podem comer aves, desde que sejam desossadas e cozidas sem temperos.
Alho e cebola, os temperos tradicionais brasileiros, são prejudiciais à saúde de cães e gatos, podendo inclusive ser fatais para os pequenos – e mesmo para os grandes, se eles conseguirem roubar uma ave inteira temperada.
A pimenta e algumas especiarias, como cravo, canela e açafrão, também são prejudiciais. Para começar, elas são termogênicas – isto significa que elas contribuem para acelerar o metabolismo. Nada errado para os humanos, mas podem causar arritmias cardíacas e insuficiência respiratória.
A pimenta, assim como outros temperos, também causa efeitos colaterais mais leves, mas nem por isso menos incômodos. Os cachorros podem ter flatulência (excesso de gases), diarreias, dores estomacais e vômitos. Nada disso combina com o período de festas, nem com a saúde e bem-estar dos peludos.
03. O salpicão
Muitos tutores incentivam os cachorros a comerem verduras e legumes. Isto é muito bom, porque os vegetais são excelentes complementos para a alimentação (mas não são substitutos). No caso do salpicão, no entanto, há alguns perigos.
Além dos riscos associados aos temperos usados no preparo do prato, muitas receitas levam maionese como ingrediente. O molho é muito gorduroso e interfere na digestão dos peludos, causando de gases a diarreias intensas.
Os animais de pequeno porte, como chihuahuas, pinschers miniatura e lulus da Pomerânia, podem ter o pâncreas comprometido com apenas uma colher (café) de maionese. A pancreatite canina não tem cura.
04. O arroz com passas
Não há unanimidade sobre este prato. Muitas pessoas odeiam, a maioria acha muito comum e pouco original e uma pequena parte realmente gosta da mistura do doce com o salgado, que, de resto, está presente em diversas receitas natalinas.
No caso dos cachorros, no entanto, há perigos. Mesmo o arroz branco é muito rico em amido e o consumo excessivo pode causar sobrepeso, intensificar os sintomas de alergias e dermatites e desequilibrar o funcionamento gastrointestinal.
O problema maior do prato, no entanto, está nas passas. Os cachorros não podem, em hipótese alguma, comer uvas – frescas ou passas. Ainda não se sabe o que provoca os desequilíbrios na saúde, mas sabe-se que as reações surgem em todos os peludos, em maior ou menor intensidade.
O problema não está nas cascas nem nas sementes, apesar de as ramas e cascas intensificarem os sintomas. Cachorros que ingerem uvas podem apresentar redução do apetite, fraqueza e cansaço, flacidez abdominal, além de vômitos e diarreias (algumas horas depois da ingestão).
Além disso, os peludos podem apresentar sinais diferentes de indivíduo para indivíduo. Enquanto alguns apresentam muita sede, bebem muita água e, com isso, o volume da urina aumenta, enquanto outros deixam de se hidratar e, com isso, a urina é reduzida. Este problema é pior, porque pode sobrecarregar os rins.
Portanto, as uvas frescas e passas devem ficar distantes do alcance dos cachorros. Aquela bela bandeja de frutas tropicais não pode ser acessível. Caso o cachorro consiga pegar uma destas frutas, a solução é correr para o veterinário, ou pelo menos procurar orientação por telefone.
05. Bebidas alcoólicas
As bebidas fermentadas e destiladas foram inventadas pelos humanos há milhares de anos e estão presentes em praticamente todas as comemorações. É saudável e alegre brindar a chegada de um novo ano com uma taça de champagne. Mas os cachorros não têm nada a ver com isso.
As festas natalinas também se caracterizam pela presença do “tio do pavê”, aquele parente desavisado que quer fazer graça e se tornar o centro das atenções a todo custo (geralmente consegue, mas não pelo lado positivo). Esse tio costuma oferecer doses de vinho, cerveja ou destilados aos cachorros – e isto deve ser impedido a qualquer custo, principalmente porque não se trata de algo que deva fazer parte do cardápio canino.
Bebidas alcoólicas agem deprimindo o sistema nervoso central (por isso, ficamos trôpegos e perdemos a coordenação motora quando bebemos). Nos animais, elas induzem ao sono, mas podem causar um estado de coma. Além disso, são muito ricas em açúcares.
06. Os doces
Doces e cachorros não combinam. Eles não precisam das overdoses de glicoses a que estamos acostumados, especialmente no período de festas. O açúcar refinado é totalmente contraindicado para os peludos.
Para fazer um agrado, é possível oferecer alguns pedaços de frutas para os cães: maçã, pera, pêssego, e mamão são ideais. Se estiverem geladas, eles aceitarão com muito mais facilidade. Os doces processados, no entanto, não podem ser oferecidos.
A rabanada é uma iguaria quase obrigatória nas ceias natalinas e é difícil encontrar quem nunca tenha se empanturrado com esta sobremesa. Mas ela é muito doce e gordurosa para eles (e até mesmo para nós).
Isto significa que os cães não apenas não devem comer rabanadas: eles também não podem lamber os dedos lambuzados de açúcar, canela e leite condensado. O doce pode causar problemas intestinais e, no médio prazo, provoca ganho de peso e transtornos metabólicos (como o diabetes, por exemplo).
As frutas secas – nozes, avelãs e amêndoas – não chegam a ser tóxicas, mas também não são recomendadas para os cachorros. Qualquer oleaginosa, inclusive amendoim e pistache, pode causar desconforto abdominal, gases e diarreias.
Tome cuidado com as cascas das nozes e avelãs. Elas retardam o fluxo gastrointestinal e prejudicam a digestão e a absorção dos nutrientes. O problema maior, no entanto, é que estas cascas podem inclusive causar obstrução intestinal – esta é uma emergência médica.
O panetone de frutas – a receita clássica italiana – quase sempre é feito com uvas passas. Mas, mesmo que só haja frutas cristalizadas, o excesso de açúcar e a massa ultraprocessada são prejudiciais aos cachorros. A maioria dos produtos disponíveis no mercado, aliás, também é nociva aos humanos.
O chocotone tem o agravante do chocolate, rico em teobromina, enzima que os cães não conseguem metabolizar – não digerem, nem conseguem expelir. A teobromina fica acumulada no organismo e torna-se tóxica.
O envenenamento por teobromina pode ocorrer de algumas horas a dois dias, dependendo do porte e da saúde do cachorro. Os sintomas mais comuns são inquietação, respiração acelerada, aumento da frequência cardíaca, vômitos, diarreias, perda de coordenação e convulsões. O consumo de chocolate pode ser fatal mesmo para cachorros grandes, como um dogue alemão.
Para finalizar, é importante lembrar que os cachorros não têm calendários: eles não sabem que o ano está terminando ou começando, nem faz nenhuma diferença para eles. Certamente, a maioria gosta da casa cheia, mas “excessos de fim de ano” devem ser evitados.
Comer demais, por outro lado, é algo que os cachorros sabem fazer bem. Na natureza, é importante comer o máximo possível, porque nunca se sabe quando haverá outra presa para caçar. Em casa, é melhor ensiná-lo a contentar com a mesma porção de ração todos os dias, com alguns petiscos extras em ocasiões especiais, desde que sejam saudáveis.