Oto-hematoma é um acúmulo de sangue que se forma entre a face interna e a cartilagem da orelha (-oto é o prefixo grego para orelha e forma palavras como “otite” e “otorrinolaringologia”, por exemplo). Os sintomas iniciais são tumefação (inchaço), vermelhidão e dor ou desconforto na orelha (inclusive ao toque).
Apesar de poder prejudicar animais de todos os porte e idades, as raças mais afetadas são justamente as “orelhudas”: cocker spaniel (inglês e americano), terra-nova, shih-tzu, lhasa apso, beagle, basset hound, teckel e afghan hound.
Os cães de orelhas eretas, mas bem pronunciadas, como: buldogue francês, yorkshire terrier, papillon e jack russell terrier também podem desenvolver um oto-hematoma, mais frequentemente determinado por um trauma físico.
Uma vez formado o oto-hematoma, sem que sejam tomadas providências para corrigir o abscesso, ele continuará se desenvolvendo, uma vez que haverá formação de seroma, desenvolvido pelo extravasamento do plasma sanguíneo ou da linfa (fluido que circula pelos vasos linfáticos).
Na maioria dos casos, o oto-hematoma em cães é um problema secundário, causado por doença anterior (especialmente a otite e dermatites atópicas), coçadelas e picadas de insetos. Ao bater a pata para espantar os parasitas, o pet pode perfurar um vaso sanguíneo e acabar gerando o distúrbio.
As causas
Quando o trauma atinge um vaso sanguíneo importante, o pavilhão auricular (a orelha, ou ouvido externo) pode se encher completamente de sangue; na maior parte dos casos, contudo, ocorrem rompimentos em pequenos vasos e o preenchimento subcutâneo é apenas parcial.
Enquanto a pressão do sangue no vaso sanguíneo for superior à pressão do oto-hematoma, a circulação segue normalmente. Com o aumento do tamanho e da espessura do abscesso, no entanto, o fluxo sanguíneo fica comprometido.
Os pavilhões auriculares dos cães são áreas particularmente ricamente vascularizadas. Por isto, os oto-hematomas são comuns, especialmente entre os filhotes (que se chocam com móveis e até com membros da família enquanto brincam) e os animais com dificuldades de locomoção. Abscessos determinados por problemas internos são mais comuns entre cães adultos e idosos.
Os oto-hematomas também pode surgir a partir de: sarna auricular, doenças autoimunes e até mesmo da hipersensibilidade dos cães afetados. A sarna auricular (ou otodécica) é transmitida por um fungo, de cão para cão. Não se trata de uma zoonose (enfermidade de origem animal que pode acometer também os seres humanos expostos).
Outra causa bastante comum é a agitação excessiva da cabeça, comportamento que deve ser desestimulado nos cães. Esta agitação, que geralmente ocorre quando o pet agarra um objeto e não quer largá-lo, chegando a desafiar os tutores, pode originar o surgimento de fraturas na cartilagem da orelha, com o consequente extravasamento de sangue para a região lesionada.
Os traumas ainda podem ocorrer durante brigas entre dois cães ou mais (mesmo que sejam apenas encenações), pela presença de moscas, quando os cães coçam as orelhas e em casos de otite (inflamação do canal auditivo). Um oto-hematoma também pode resultar do desenvolvimento de tumores.
Em alguns casos, o acúmulo de sangue é tão intenso que chega a obstruir o canal auditivo. O peso excessivo das orelhas provoca desconforto, dor e pode levar a alterações permanentes da cartilagem auricular, deformando e/ou espessando a orelha.
Algumas doenças mais graves também favorecem o desenvolvimento de oto-hematomas. É o caso, por exemplo, do hiperadrenocorticismo (caracterizado pelo aumento do cortisol; é a doença endócrina mais comum em cães idosos), hipotireoidismo (deficiência da tireoide, responsável pelo controle do metabolismo) e erliquiose (doença infecciosa causada por bactérias encontradas em carrapatos).
Diagnóstico e tratamento
Oto-hematomas em cães, quando provocados por choques físicos (batidas de encontro a móveis, brincadeiras mais “intensas” com outros cães ou humanos, etc.), não precisam de tratamento específico. Basta observar o animal acidentado durante alguns dias, para verificar que o acúmulo de sangue esteja se desfazendo naturalmente.
O problema, no entanto, pode se intensificar com o passar dos dias, especialmente nos casos de ferimentos abertos (que podem aumentar com as patadas e unhadas dos pets; eles fazem isto na tentativa de superar o incômodo que estão sentindo). Caso seja identificado um inchaço (edema), é preciso obter auxílio especializado com urgência.
Nos casos de média e alta gravidade, no entanto, é necessário que o veterinário entre em ação. Depois de um exame clínico minucioso, o profissional fará a drenagem do líquido acumulado. Este procedimento quase sempre é realizado com o animal levemente anestesiado.
Equipado com uma seringa acoplada a uma agulha hipodérmica estéril, o veterinário fará a drenagem do sangue depositado abaixo da pele. Em seguida, a cavidade lesionada é higienizada com soro fisiológico. O local é protegido por um curativo por alguns dias e pode ser necessário o uso de um colar elisabetano até a cicatrização completa.
Em alguns casos, no entanto, uma única drenagem pode não ser suficiente para corrigir o problema de uma vez. Quando ocorre uma recidiva, dependendo da gravidade do quadro, a indicação terapêutica adequada poderá ser uma cirurgia mais ampla, com os riscos inerentes a este procedimento.
O oto-hematoma é uma doença autolimitante – não existem complicações descritas na literatura veterinária em função do hematoma (apenas em função do descaso). A resolução da enfermidade é lenta e pode passar despercebida pelos tutores. Sem tratamento, no entanto, o desconforto tende a aumentar. Além disto, o tratamento é mais fácil quando o diagnóstico é obtido precocemente.
É importante também identificar e tratar a causa primária do oto-hematoma. Caso haja um fator interno, o veterinário identificará a medicação mais adequada para correção do problema. Cães muito agitados, que costumam se chocar com móveis e objetos, podem necessitar de uma reeducação para eliminar os maus comportamentos.