Uma vez que sejam bem educados, os cães assimilam regras de convivência com a família humana e sabem quando fazem algo errado. Se os tutores tiverem se esforçado – com uma boa dose de paciência – no aprendizado dos comandos básicos, os pets conseguem entender que fizeram uma travessura.
A principal questão neste assunto é descobrir por que os cães estão fazendo coisas erradas. A conduta destrutiva que alguns animais apresentam pode ser um sinal de que eles estão entediados por passarem muito tempo sozinhos, sem atividades.
O comportamento agressivo em relação aos tutores ou às visitas pode ser determinado pelo incentivo à combatividade, fato que infelizmente é comum entre muitas pessoas que querem “um cão bravo” para afugentar possíveis invasores.
O problema é que, se este animal não aprender primeiramente a obediência – a respeitar a família humana e acatar as ordens desta –, ele pode se transformar em uma verdadeira máquina mortífera, passando a atacar qualquer pessoa indiscriminadamente.
Olhar de culpado
Muitos tutores acreditam que os cães revelam que fizeram coisas erradas pelo olhar de culpa, mas este é um mito. Os pets não possuem critérios morais para julgar as próprias atitudes. Quando um cão exibe este comportamento, o mais provável é que ele esteja apresentado sinais de pacificação.
É quase certo que, depois de vasculhar uma lixeira e espalhar restos pelo quintal, o pet está pensando: “meu dono está bravo, nervoso ou irritado com alguma coisa; é melhor que eu demonstre que sou da paz e não quero briga. Talvez ele até brinque comigo”.
Os cães não conseguem expressar o que estão sentindo de maneira multifacetada como nós fazemos; seu repertório de respostas é limitado. Por isto, o olhar de culpado nem sempre indica uma travessura; pode ser apenas que ele queira acalmar a família e impedir conflitos.
Ele não entende que não pode fuçar no lixo, um lugar com tantas novidades e, talvez, até uma guloseima escondida. Ele simplesmente está seguindo o instinto de conservação – procurando comida. Cães não conseguem entender que, quando o alimento acaba, basta ir até ao mercado ou à pet shop.
Os cães se comunicam com latidos e com a linguagem corporal. Quando um pet baixa a cabeça, coloca a cauda entre as pernas e evita a aproximação, ele está querendo dizer que não quer briga. São sinais indicativos de que ele está com medo e respeita a hierarquia da “matilha” (humanos incluídos), mas ele não consegue descobrir o que de fato está errado.
Tantas emoções
Já está comprovado que os cães são capazes de sentir e expressar emoções. Eles podem demonstrar alegria, tristeza, irritação, tédio, medo, susto, abatimento, apatia, apego, ciúme e muitas outras sensações, assim como fazem os humanos.
Diversos estudos já revelaram que o cérebro dos cães apresenta respostas a determinados estímulos de maneira bastante semelhante ao cérebro humano. Por exemplo, a ocitocina, um hormônio produzido no hipotálamo, está presente em nós e nos nossos pets – trata-se do hormônio da alegria, que, nas mães humanas, também é responsável por estimular a produção de leite e fortalecer os vínculos entre as mulheres e os seus bebês.
No entanto, eles não têm linguagem articulada, apesar de conseguirem aprender o significado de mais de cem palavras, de acordo com o adestramento. Sem falar, eles se expressam com latidos, uivos e ganidos, além da linguagem corporal.
Mas, apesar de serem muito inteligentes – a inteligência canina equivale à de uma criança de dois anos –, eles não podem abarcar todo o universo humano. Desta forma, eles não entendem por que foram deixados sozinhos, por que os tutores não estão em casa, por que não podem mexer no lixo, por exemplo.
O ideal é que os tutores mantenham a lixeira fora do alcance dos pets (além dos cães, gatos, furões e até mesmo aves criadas soltas adoram remexer nos restos descartados pela família). Qualquer possibilidade de encontrar um petisco não será desprezada por eles.
De volta ao lixo
Continuando com o exemplo citado, caso o cão seja repreendido todas as vezes em que revirar o lixo (que, por desleixo dos tutores, continua sendo deixado à disposição), ele apresentará o mesmo comportamento sempre que ocorrer um acidente na cozinha ou no quintal. Ele aprendeu uma resposta que lhe parece apaziguar os tutores.
Desta forma, caso os tutores derrubem algum alimento ou qualquer produto de um armário, por exemplo, ao ser trazido à “cena do crime”, o cão demonstrará medo e ansiedade da melhor maneira possível: abaixando a cabeça e a cauda e exibindo o olhar de culpado antes mesmo da bronca.
O que acontece nestas situações é que os cães associam a sujeira no chão (inclusive quando não é culpa deles) com a possibilidade de punição, com gritos e talvez uma agressão física. É evidente que eles não querem nem pensar nisto e imediatamente assumem a postura de pacificação.
Em alguns casos, quando as advertências são constantes – e feitas aos gritos –, os cães podem inclusive associar a possibilidade do castigo com o próprio ambiente – a cozinha ou lavanderia – e demonstrará medo sempre que tiver de circular por lá, mesmo que seja a saída do passeio. Se isto ocorrer, ele ficará estressado e pode inclusive ficar doente.
Cães não conseguem saber o que há de errado em derrubar objetos ou destruir um canteiro florido. As nossas concepções estéticas e de higiene são inatingíveis para os cães. Os tutores precisam entender como os pets funcionam, para que o relacionamento seja equilibrado e positivo.
As advertências frequentes geram uma sequência clássica de condicionamento: visão do dono, itens destruídos e provável punição. Esta forma de adestramento praticamente não é mais utilizada porque, neste caso, os cães aprendem através do medo, apenas para não sofrerem sanções.
Do jeito certo
Isto não significa que os cães devem ser deixados com total autonomia. Até mesmo um filhote aprende os comandos básicos (que devem ser ensinados logo que ele chegue à casa). Demonstrando autoridade, os tutores podem ensinar os pets sobre os ambientes por onde eles podem circular, onde fazer as necessidades fisiológicas, os locais de brincadeiras, etc.
É necessário lembrar que os cães equilibrados, que recebem os cuidados fundamentais – alimento, treinamento, carinho, brincadeiras, caminhadas diárias, atendimento veterinário, etc. –, não fazem coisas erradas. Eles acatam as determinações dos tutores, que variam de família para família.
Partindo do pressuposto que eles podem aprender o fundamental, certamente nossos cães se sentirão seguros na nossa presença. Algumas travessuras provavelmente continuarão ocorrendo, mas a maioria das coisas erradas é de autoria dos animais deixados sozinhos por muito tempo, isolados em quintais (muitas vezes presos a correntes), sem passeios, sem a convivência com a família.