Conheça as raças mais agressivas e confira o que transforma os cães em animais violentos.
Muito tem sido discutido nas últimas décadas sobre cães violentos. Durante milênios, a agressividade foi uma característica bastante valorizada, em atividades como caça, guarda, guerra e até lazer – o nosso –, submetendo os peludos a combates desiguais com outros animais.
Há mais de cem anos, no entanto, o cães vêm sendo adotados basicamente para companhia. As cidades humanas se tornaram mais densamente habitadas, as distâncias foram reduzidas e os cães estão muito mais presentes no dia a dia, tanto dos seus tutores, quanto dos vizinhos, dos transeuntes nas caminhadas, etc.
Crise de identidade
Quem já conviveu com um cachorro sabe que ele é um guardião por excelência. Os cães estão sempre atentos aos familiares e a toda a movimentação ao redor. Mas, mesmo seguindo em atividades policiais, eles não se envolvem na guarda de patrimônios pessoais como faziam até o século 19.
Em primeiro lugar, porque os instrumentos de agressão e ataque são muito mais eficientes: um cachorro é útil em atividades de rastreio, busca e salvamento, encontro de drogas e substâncias ilícitas, etc., mas é quase impotente no caso de um ataque direto à mão armada.
Naturalmente, os cães exercem muitas outras atividades. Os cães violentos, no entanto, foram desenvolvidos como máquinas de guerra e combate, quase sempre isolados de outras atividades e interações – e estas características permanecem ativas em muitas raças caninas.
Os mais violentos
O ranking apresentado logo abaixo foi elaborado pela BBC, um conglomerado britânico de rádio, TV e internet, com atuação global. A corporação organizou a classificação a partir de registros de acidentes fatais envolvendo os cães.
Os leitores podem se surpreender ao verificarem que algumas raças consideradas equilibradas estão relacionadas no Top 15 dos mais violentos, enquanto outras comprovadamente agressivas não fazem parte do ranking. Isto pode ser explicado em função da popularidade dos cachorros.
O número de acidentes envolvendo poodles e golden retrievers é provavelmente muito superior do que o que envolve o american bully – e, mesmo assim, as duas raças populares no mundo todo não figuram no ranking.
Já o american bully, que também não está no Top 15, apesar de ser o autor de uma série de ataques, é pouco conhecido fora dos EUA e apresenta população bastante limitada.
Vale lembrar: nenhuma raça canina é violenta em todos os seus indivíduos – do contrário, já teria sido exterminada. Alguns genes relacionados à violência, presente na maioria dos cachorros, foram especialmente selecionados no desenvolvimento dos rottweilers, pit bulls e dobermans, por exemplo.
A violência canina é resultante da união de três fatores: genética, ambiente e circunstâncias. A maneira como os cães são criados, socializados e adestrados exerce forte influência no comportamento. Isto pode ser verificado nos pit bulls que dormem com bebês humanos e nos mastins napolitanos que se divertem com filhotes de gatos.
15. Bull mastiff
Ele surgiu no século 19, como um cão de guarda para os bosques de caça da realeza britânica, sempre invadidos por plebeus interessados em garantir o pão nosso de cada dia. É resultante do cruzamento entre o mastiff inglês (de grande porte, mas lento e pouco agressivo) e o buldogue inglês (agressivo, mas pequeno demais para desencorajar invasões.
Em tese, o bull mastiff somente imobiliza os intrusos, ampliando o uso da força apenas em caso de resistência. Mas tentar livrar-se do ataque é instintivo para quem é mordido por um cachorro e, em muitas situações, as consequências são muito ruins, especialmente na Inglaterra e Escócia.
14. Dogue alemão
Os cães da raça raramente brigam entre si, nem atacam seres humanos. Eles parecem confiar em seu porte avantajado para desencorajar qualquer invasão ou agressão. São uma opção excelente para famílias com crianças e lares que recebem muitos visitantes.
Mas o dogue alemão é um animal territorialista e não tolera invasões. Na maior parte dos casos, o ataque não consiste em uma série de mordidas, nem visa a áreas vitais, como o pescoço. A pressão da mordida de um cão da raça é muito elevada e ele sempre causa danos irreparáveis, perfurando e seccionando vasos sanguíneos, causando grandes hemorragias.
13. American pit bull terrier
Trata-se de um cão do tipo “bull and terrier”. No século 19, na Inglaterra, os donos de rinhas de cães estavam interessados em obter cães agressivos e resistentes à dor, como os bulldogs, mas também ágeis e rápidos, como os terriers. Em 1835, as lutas entre animais foram proibidas, muitos cães foram para a clandestinidade, mas alguns embarcaram para antigas colônias britânicas.
O american pit bull terrier é uma das raças mais bem sucedidas, quando se trata de combate com outros cães. Os animais atuais são especialmente violentos com outros cães, já que nunca tiveram os humanos como adversários.
Mesmo assim, territorialistas, eles podem reagir a qualquer tentativa de invasão e, caso escapem de casa, podem se confundir, acreditando que a calçada é o território a ser defendido. Apesar do porte médio, os ataques de pit bulls são os que ocupam mais espaço na mídia.
12. Pastor alemão
Ele exibe porte grande e é um cão nobre e altivo, mas não pode ser considerado bravo. O pastor alemão figura neste ranking por ser popular no mundo inteiro e, por isso, ser protagonista em diversos tipos de ataques (e defesas).
A postura do pastor alemão é muito mais uma imposição de respeito do que uma atitude agressiva ou violenta: assim como os lobos, ele prefere a fuga ao confronto. Mas, certamente, os cães da raça têm algumas cartas na manga e podem protagonizar cenas de violência. Eles são poderosos e os circunstantes precisam observar as regras de convivência.
11. Rottweiler
O comportamento do rottweiler, assim como o da maioria das raças aqui citadas, pode ser descrito como “protetor”, e não como “violento”. Guerreiros e boiadeiros, os cães da raça gostam de ter tudo sob controle, mas a violência surge principalmente em função de problemas comportamentais, como estímulo a ataques, mesmo sem relação com ameaças urgentes.
O rottweiler apresenta muita força na mordida – a pressão é maior do que a exercida por pastores alemães e pit bulls, por exemplo. É um cachorro forte e musculoso, mas menos ágil nas investidas. Quem adota um cão da raça precisa dedicar um tempo considerável no adestramento e na socialização.
10. Fila brasileiro
Ele é considerado agressivo e indomável, mas adestradores profissionais garantem que o fila brasileiro responde adequadamente aos treinos e é muito sociável, já que sempre conviveu com vaqueiros e camponeses, além dos outros cães que tocavam boiadas e protegiam fazendas.
A partir dos anos 1980, alguns criadores passaram a valorizar os animais maiores e mais pesados – era uma época em que o cachorro bravo e temido estava em alta. O resultado é um cão que dificilmente poderia ser empregado em atividades agropastoris, por ter perdido agilidade. Ele também se torna agressivo quando passa muito tempo ocioso – um cachorro nunca deve ficar muito tempo desempregado.
9. American bandogge
Na Inglaterra, bandogge (mais recentemente, apenas bandog) era o termo usado para designar qualquer cão de guarda que era mantido preso durante o dia – para ficar mais bravo. Bandogge era mais uma atividade do que uma raça canina.
Transportados para os EUA no século 18, eles se tornaram cães de filar – animais que perseguem e agarram as presas, mantendo-as imobilizadas até a chegada dos caçadores. Eles fizeram sucesso na caça a ursos e javalis. A raça não está plenamente definida e ainda não foi reconhecida, mas alguns exemplares são responsáveis por muitos acidentes no norte e noroeste dos EUA.
8. Pastor do Cáucaso
Também conhecido como mastim do Cáucaso, é uma raça forte, rústica e muito resistente, desenvolvida entre o mar Negro e o mar Cáspio, regiões atualmente ocupadas por Rússia, Geórgia, Armênia e Azerbaijão.
São cães imensos, poderosos, independentes e muito teimosos. Boa parte dos pastores do Cáucaso continua passando dias seguidos longe da presença humana. Eles já fizeram grande sucesso na Rússia, mas voltaram às atividades rurais. A maior parte dos incidentes ocorre nas estradas: um pastor ou boiadeiro tende a encarar motos e automóveis como reses desgarradas, que devem ser levadas de volta. Imagine o que acontece quando este pastor é persistente e atinge 75 cm de altura na cernelha.
7. Husky siberiano
Uma presença improvável neste ranking. Ocorre que o husky é um cão de trabalho – e de trabalho bastante pesado. Conduzir trenós sob uma nevasca em estepes geladas não é para qualquer um. Mas, quando estão de folga, os cães da raça acreditam que podem aproveitar o descanso.
Este é um dos motivos dos ataques. Eles gostam de rastrear, perseguir, encurralar presas. É mais um jogo do que uma caçada, mas muitos incidentes geram graves problemas.
Estes hábitos se associam ao fato de o husky siberiano quase sempre se considerar entediado, sem atividades com que se envolver. Ele pode desenvolver alguns transtornos que levam à agressividade, tanto contra si mesmos, como contra outros cães da família (as vítimas mais frequentes), pessoas desconhecidas e, mais raramente, contra os seus próprios humanos.
6. Malamute do Alasca
Trata-se de um cão nórdico que cresceu demais: ele é o maior dos cães de trenó, com até 66 cm de altura na cernelha e sempre manteve excelentes relações com os inuítes, povo que ainda habita o Alasca e o norte do Canadá.
Poucos cães vivem fora do “habitat”. A maior parte dos ataques ocorre no extremo norte da América do Norte e é motivada basicamente por excesso de confiança, além de sobrecarga nas atividades. O malamute do Alasca é um bom exemplo do que o estresse pode provocar aos cachorros: ele nunca é movido por dominância ou territorialidade, mas provoca incidentes mesmo assim.
5. São Bernardo
Outro “estranho no ninho” da nossa relação. O São Bernardo é um missionário dos Alves e sempre carrega a aura de heroísmo e santidade – bem justificada em quase toda a extensão, aliás. Os ataques são quase sempre decorrentes do tédio causado pela falta de atividades.
O São Bernardo é inteligente e muito dedicado aos tutores e à família em geral. É protetor e guardião, dedicando boa parte do tempo vigiando. Outra motivação para a violência é o ciúme: mesmo servindo muitas vezes como babá, o São Bernardo não gosta de se sentir preterido.
4. Doberman
Nas ocorrências policiais brasileiras, ele também é um dos mais citados. O doberman é um cão de guarda e de defesa pessoal. Ele é extremamente resistente, ágil e precisa estar envolvido em diversas atividades físicas, para gastar energia e manter-se emocionalmente equilibrado.
A maior parte dos ataques é causada por deficiências na educação e no adestramento – em alguns casos, os tutores chegam a estimular diretamente a violência, como também ocorre com rottweilers e pit bulls.
3. Chow-chow
Apesar da aparência fofa de um imenso urso de pelúcia, o chow-chow é um animal reservado, que não gosta de avanços, especialmente por parte de desconhecidos, mesmo que seja para receber carinho. Os cães da raça são independentes e preferem manter distâncias dignas e seguras.
O chow-chow é um líder nato e apresenta fortes características de dominância. Ele também gosta muito de uma rotina bem estabelecida, previsível. Alterações na agenda o tornam irritadiço, o que pode levar a mordidas e avanços. É muito importante garantir a socialização adequada para os cães da raça, estimulando-os à convivência com outros humanos e cachorros – com toda a segurança possível, já que eles prefeririam ficar fechados em casa.
2. Presa canário
Cão de presa ou dogue é um cão espanhol, nativo das ilhas Canárias. Trata-se de um mastim molossoide (até 66 cm de altura na cernelha), atualmente empregado como cão de guarda para casas, fazendas e rebanhos. Ele também é empregado na caça grossa.
A raça quase desapareceu depois da Segunda Guerra Mundial, tendo sido revitalizada a partir dos anos 1960. O presa canário atual é corajoso, atento, autoconfiante e equilibrado. É dócil com a família, inclusive com crianças.
Os problemas surgem com estranhos, principais alvos do zelo excessivo. O total de ataques na Europa vem aumentando ano a ano, mesmo com o banimento de algumas raças. O presa canário precisa receber estímulos de socialização e quase sempre é necessária a contribuição de adestradores profissionais.
1. Cão-lobo
Ele é resultante de experimentos na década de 1950, na antiga Tchecoslováquia, a união da Eslováquia e a República Tcheca, na Europa central. Trata-se de um híbrido, fruto do acasalamento entre um pastor alemão e uma loba do Cárpatos.
As diversas gerações a partir do casal original revelaram características positivas, como vividez, resistência, docilidade, coragem e alta capacidade para reações rápidas. Muito versáteis e leais aos treinadores, eram também extremamente leais aos líderes.
O problema surgiu exatamente a partir deste alto senso de hierarquia, que não está presente nas relações entre humanos e cachorros. O cão-lobo estabelece relações de submissão aos tutores, incluindo as crianças da família.
Parece o cão ideal? A descrição ainda não está encerrada. O cão-lobo precisa de muitos estímulos durante o adestramento e as repetições dos comandos são quase sempre motivo de desânimo para os cães e os tutores.
O cão-lobo também acredita ser autônomo quando não está na presença dos familiares. A partir de então, ele faz o que der na telha. Quase sempre, isso se traduz em investidas contra desconhecidos, transeuntes, outros animais, etc. O instinto de caça está muito presente e ele se prepara diariamente para buscar comida para o bando, mesmo com acesso restrito. É a raça mais violenta, mesmo em se tratando de um híbrido.