Flatos, puns, peidos. Sim, os cachorros peidam. Descubra como amenizar a situação.
Os cachorros peidam? Apesar de ser motivo de piadas, especialmente quando “sai na hora errada”, peidar é uma atividade orgânica absolutamente natural. Zoólogos que estudam o tema afirmam que os puns, flatos ou peidos são comuns à maioria dos seres vivos, inclusive os cachorros.
Mas, afinal, o que é um peido? Nada mais do que a liberação de gases através da cavidade anal. Na maioria, esses gases são ingeridos durante as refeições e apenas uma pequena parte é gerada durante a absorção dos alimentos.
O mau odor é determinado pelo teor de sulfetos de hidrogênio (gases sulfídricos) presentes na composição dos peidos. Desta maneira, quanto maior a presença de enxofre na dieta, mais fedidos são os peidos. Eventualmente, o cheiro também pode ser determinado por disfunções no intestino.
Os peidos dos cachorros
Os peidos estão presentes no processo de digestão da maioria dos animais, dos mosquitos (já foram identificados gases circulando no intestino desses pequenos insetos) aos grandes mamíferos, como gorilas, elefantes e girafas. Os cachorros igualmente liberam esses gases, e isto pode ocorrer a qualquer momento, mas é mais frequente duas ou três horas depois de cada refeição.
Em tempo: as aves não peidam. O motivo é que a digestão dos emplumados é bastante específica: os alimentos são ingeridos e levados à moela, órgão que mói os grãos e sementes, ocupando as funções dos nossos dentes. É nesse momento que os gases são expelidos, mas apenas pela boca. Em outras palavras, as aves arrotam, mas não peidam.
Atividades gastrointestinais
Na maior parte do tempo, nós não pensamos nas atividades orgânicas que ocorrem em nossos corpos e dos nossos familiares – cães e gatos incluídos na família. Quando tudo está bem, nós não damos atenção à respiração, digestão, frequência cardíaca, etc.
Mas, basta que alguma coisa fuja da rotina para que comecemos a investigar as causas. Assim como nós, os cachorros também sofrem com transtornos gastrointestinais, mas estas são condições mais raras, principalmente quando os peludos recebem uma dieta balanceada.
Não é incomum, no entanto, observar os cachorros com sinais de desconforto abdominal: eles apresentam o abdômen distendido, aparentam estar sentindo dor e surgem sintomas como perda de apetite, desinteresse pelas brincadeiras, cansaço, etc.
Em alguns casos, este quadro pode ser acompanhado por flatulência (aumento do volume dos peidos), diarreias e vômitos. Caso sejam leves, de curta duração e não sejam acompanhados por outros sinais preocupantes, basta garantir o repouso, cuidar da hidratação e não permitir jejuns por períodos muito prolongados (mais de 12 horas).
Se os sintomas forem agudos, não cederem com o descanso e vierem acompanhados por outros sinais, é preciso conversar com o veterinário, para que ele possa investigar o que está acontecendo. Do contrário, os tutores precisam apenas se preparar para conviver por algumas horas com um cachorro chorão, desconfortável e “poluindo a atmosfera” de tempos em tempos.
Naturalmente, os peidos dos cachorros não são fétidos. Podem ser desagradáveis e chamarem a atenção pelo barulho, mas os sulfetos são mais leves do que o ar atmosférico e, por isso, os peidos “sobem” e se dissipam rapidamente.
Os motivos dos peidos dos cachorros
A maior parte dos peidos dos cachorros é formada por gases atmosféricos ingeridos juntamente com os alimentos. O processo é o mesmo que acontece conosco quando tomamos uma refeição enquanto estamos conversando: o ar se mistura aos pratos e desce para o estômago.
Por isso, um dos motivos mais comuns para os peidos dos cachorros é a voracidade. Se os peludos costumam devorar o que é servido em poucos segundos, eles provavelmente engolem doses generosas de nitrogênio e oxigênio (os dois gases mais abundantes na atmosfera).
Nestes casos, os peidos podem ser volumosos e barulhentos, mas são quase inodoros (sem cheiro). A solução para este problema consiste em fracionar a quantidade diária de alimento em pequenas porções, oferecidas com intervalos de três a quatro horas. A providência também previne situações mais graves, como a torção gástrica (mais frequente entre os cães muito vorazes, de grande porte).
Cachorros com peidos fedorentos
Os gases, no entanto, também podem ser um subproduto da própria digestão. Os peidos podem se formar quanto o estômago libera suco gástrico para desmanchar os alimentos, e também quando o organismo injeta suco pancreático e bílis antes de dar início à absorção dos nutrientes.
Depois que o alimento é preparado (depois de desmanchado no estômago, ele recebe o nome de quimo), ele é despejado no duodeno e começa a escorrer pelo intestino delgado (jejuno e íleo), onde ocorre a maior parte da absorção dos nutrientes – gorduras, açúcares, proteínas, vitaminas e sais minerais.
O intestino é naturalmente colonizado por milhões de bactérias. Elas absorvem alguns nutrientes, que são absorvidos pelo intestino canino apenas depois de excretados pelos micro-organismos. É neste processo que ocorre a formação dos sulfetos de hidrogênio.
Os sulfetos são os principais responsáveis pelo mau cheiro dos peidos. Na nossa dieta, entre os chamados alimentos sulfurosos, os principais são os vegetais verde-escuros (brócolis, couve-flor, espinafre, repolho, couve e rabanetes).
Na dieta dos cachorros, nenhum desses vegetais é muito frequente e, quando está na composição de uma ração, entra em quantidades mínimas. Os peidos muito fedidos dos peludos podem indicar intoxicações – algumas delas bastante sérias.
Duas excelentes fontes de enxofre são o alho e a cebola, presentes em praticamente todas as receitas culinárias para humanos. Os cachorros, no entanto, são intolerantes à alicina e, dependendo da quantidade e do estado geral de saúde, podem inclusive ir a óbito com a ingestão.
Efeitos benéficos dos peidos dos cães
Na maior parte dos casos, no entanto, os peidos fedorentos são determinados pela aceleração do metabolismo – por exemplo, da frequência respiratória e cardíaca. Isto ocorre com frequência durante corridas e brincadeiras.
A aceleração metabólica é bem-vinda para cachorros de qualquer idade, inclusive os idosos, desde que não tenham comprometimentos cardíacos, hepáticos ou renais. A atividade física mais intensa acelera a ação das bactérias, garantindo melhor absorção dos nutrientes (mas, como bônus, a maior produção de peidos fedidos).
A liberação dos gases da digestão também elimina o inchaço abdominal, mas é importante que os tutores interrompam as atividades físicas pelo menos meia hora antes de servir as refeições. Do contrário, o trânsito intestinal poderá ficar muito rápido, prejudicando a absorção dos nutrientes e causando diarreias.
Os gases podem ficar retidos por muito tempo no intestino grosso e alguns cachorros apresentam propensão para desenvolver aderências nas curvas intestinais. Isto provoca um efeito contrário ao da liberação rápida: os alimentos “estacionam” no cólon, gerando desconforto. A perda de eficiência colorretal também parece estar associada ao desenvolvimento de cânceres na região.
Os peidos também são excelentes sinalizadores: eles indicam se está tudo em ordem no sistema digestório ou se alguma coisa merece ser investigada. Se o cachorro está soltando um volume muito grande de puns, se eles passaram a ser muito sonoros ou muito fedidos, é importante levá-lo ao veterinário para conferir se está tudo bem.
Efeito estufa
O enxofre (“sulphur”, em latim, que entra na composição de palavras como sulfato, sulfúrico, sulfídrico, etc.). O elemento é relativamente abundante no subsolo terrestre (ele dá o cheiro de “ovo podre” a algumas fontes subterrâneas, odor semelhante ao expelido quando se escava um buraco). Em combinação com o hidrogênio, o enxofre forma gases leves, que se espalham rapidamente.
Um dos problemas que compõem o aquecimento global, aliás, também está associado aos peidos. Entre os gases formados durante a digestão dos alimentos, está o metano, um hidrocarboneto bastante simples, que responde por boa parte do chamado efeito estufa. E ele é liberado por intestinos de cães, humanos, vacas, porcos, etc.
Mas, se alguém ainda está pensando que os peidos não têm nenhuma utilidade, um estudo que está sendo realizado na Universidade de Exeter (Inglaterra) desde 2014 vem demonstrando que os peidos fedidos são um bom indicativo da saúde.
Mais especificamente, a produção de sulfetos de hidrogênio indica boa saúde cardiovascular, enquanto a queda nesta produção prejudica a ação das mitocôndrias, estruturas celulares relacionadas à defesa orgânica. A pesquisa, conduzida pelo geneticista Mark Wood, poderá indicar novas terapias para uma variedade de doenças, de AVC a cânceres colorretais.