O método clicker parte do conceito de que um cão continuará repetindo uma conduta pela qual é recomendado.
Trata-se de um método de adestramento efetuado a partir de cliques. O cão associa o barulhinho com atividades prazerosas e passa a responder positivamente ao clicker, sempre que o som é acionado. É possível ensinar os mais diversos truques – e também encontrar as mais diversas maneiras de recompensar os animais.
O método clicker não é recente: foi criado nos anos 1950 por criadores americanos, que adaptaram o adestramento utilizado em parques marinhos, na preparação para apresentações de baleias, golfinhos e orcas. O clicker foi padronizado, na década de 1980, por Karen Pryor, que apresentou o treinamento no livro “Don’t Shoot The Dog” (não atire no cachorro).
Behaviorismo
A proposta do clicker foi desenvolvida com base nos estudos do médico russo Ivan Pavlov, Prêmio Nobel de Medicina e Fisiologia em 1904, sobre os reflexos condicionados, fundamentais para o êxito da psicologia comportamental (ou behaviorista).
Consta que Pavlov descobriu os reflexos quase por acaso, ao estudar o aumento da produção de saliva em cães expostos a estímulos palatares e olfativos. O médico descobriu que este aumento, com o tempo, passava a ser exibido mesmo com a ausência de um alimento (quando o cão ouvia os passos do tratador nas imediações, por exemplo).
O passo a passo do adestramento
O clicker é um pequeno dispositivo de plástico, que pode ser encontrado em pet shops. Com um botão, são disparados os cliques curtos e pouco ruidosos. A ideia central do treinamento é disparar o dispositivo sempre que o cão apresentar a conduta desejada, como fazer as necessidades fisiológicas no local certo, não avançar em estranhos ou pegar a coleira na hora do passeio.
É importante salientar que o clicker sinaliza uma recompensa, mas não é a recompensa em si. O dispositivo sinaliza duas coisas: a adequação da atitude esperada pelo dono e a certeza, para o cão, de que ele será recompensado de alguma maneira.
A maioria dos cães costuma compreender melhor os cliques, em relação aos elogios verbais, tais como “muito bem” ou “isto, amigo”, que são utilizados em outros métodos de treinamento. É mais simples, para os animais, identificar um único som com a chegada da recompensa.
O início do treinamento
Os cães precisam aprender para que serve o clicker. Portanto, nas primeiras vezes em que o ruído for acionado, é preciso oferecer algum tipo de regalo, como um biscoito. Repita a operação diversas vezes seguidas, alternando a distância entre os cliques, para condicionar os animais mais rapidamente.
Caso o cão em treinamento tente farejar a mão do treinador para tomar o petisco, é necessário impedi-lo até ele perca o interesse, para só então acionar o clicker e oferecer a recompensa. Alguns cães possuem audição extremamente apurada e podem se incomodar com o barulho. Neste caso, basta enrolar o clicker em uma toalha, para abafar o som.
O ambiente ideal
Para adestrar o seu cão, escolha um local tranquilo e quieto (como o quintal de casa) – ele dificilmente conseguirá aprender ao lado de uma rua congestionada ou um ambiente com muitos estímulos e distrações. Os animais se acostumam gradualmente ao clicker.
Nas primeiras etapas do treinamento, ofereça as recompensas em atividades nas quais o cachorro já está acostumado, como dar a pata, sentar-se, parar e rolar no solo. Com o tempo, o animal aprenderá a executar tarefas mais sofisticadas, sendo encorajado com os petiscos.
Durante a segunda fase do método clicker – a chamada formação –, os novos comportamentos adequados devem ser ensinados a partir do zero, ou seja, algo totalmente novo para o cachorro. O treinamento costuma ser prazeroso, mas alguns animais precisam de mais repetições para incorporar os novos truques e brincadeiras.
Novos truques
É importante que o treinamento seja exercido em diversas etapas. Para ensinar o cachorro a se deitar, por exemplo, segure o petisco na altura do focinho e baixe-o lentamente até o solo. Instintivamente, o animal vai se inclinar.
Depois de repetida a operação diversas vezes, o cão naturalmente aprenderá a se deitar seguindo apenas o movimento das mãos do treinador, sem necessidade da entrega da recompensa. Não é preciso se preocupar com eventuais frustrações: a esta altura, o cachorro já terá associado os comandos a sensações de prazer e de bem-estar.
Adicione um comando verbal, para que o cão possa obedecer tanto ao gesto, quando à fala. Lembre-se os cães entendem algumas palavras e entonações empregadas pelos donos, mas as ordens não podem ser muito longas. É preferível utilizar “role”, em lugar de “role aqui no chão para a mamãe”. Muitas informações, poucos resultados.
Dicas de adestramento
Adestradores profissionais recomendam o uso do método clicker em casa e nos passeios diários. É importante, no entanto, tomar algumas providências:
• as “aulas” devem ser rápidas, nunca superando os 15 minutos por sessão. Um cachorro cansado tem mais dificuldade para aprender. Além disto, ele tem outras atividades, como fazer festa para outros membros da família, alimentar-se, descansar, verificar o portão da casa, etc.;
• ao treinar com o clicker, utilize petiscos pequenos como recompensa para as atitudes corretas, que podem ser encontrados em pet shops. Evite o excesso de biscoitos, para não gerar sobrepeso ou obesidade no animal, nem acostumá-lo a recompensas desnecessárias e até mesmo indevidas;
• não realize o treinamento quando você estiver cansado, preocupado ou de mau humor. Estas sensações são pressentidas pelos cachorros e podem comprometer o sucesso do aprendizado. As sessões devem ser divertidas tanto para o cachorro, quanto para o dono;
• em caso de dificuldades no treinamento, em função da prática ou da posse de um cão muito preguiçoso, procure ajuda de um adestrador profissional, pelo menos para a execução das primeiras atividades;
• o método clicker, assim como as principais formas de adestramento, dispensa o uso de castigos. Com isto, os cliques reduzem o tempo de aprendizado, porque eles são associados a momentos de prazer. Alguns animais se tornaram celebridades, como os atores de “O Professor Aloprado”, de “Babe, O Porquinho Atrapalhado” e da série “Beethoven”.