Os pets também desenvolvem comportamentos compulsivos. Conheça algumas manias de cachorros.
Alguns comportamentos repetitivos dos cachorros, por mais que pareçam divertidos ou exóticos, podem ter origem emocional. Assim como os humanos, parte dos cães também desenvolve TOC – o transtorno obsessivo compulsivo, que pode demandar tratamento especializado.
Mania é um distúrbio mental definido como períodos intercalados em que surge um humor anormal e elevado ou irritável. Nos humanos, é característico (mas não exclusivo) do transtorno bipolar. Nos cachorros, as manias se manifestam na forma de comportamentos repetitivos, às vezes prejudiciais à saúde.
As manias, é claro, também podem ser entendidas, em sentido amplo, como aquele conjunto de atitudes desnecessárias que muitos de nós cultivamos. Um cachorro decidir coçar o corpo somente no muro, ou beber água apenas diretamente da torneira; estes são exemplos deste tipo de “mania”, que são engraçados e não acarretam risco. Em outras palavras, não é um comportamento mórbido – não é uma doença.
Comportamentos saudáveis dos cachorros
Apesar de parecerem curiosas, desnecessárias ou pura perda de tempo, alguns comportamentos que os nossos cães repetem diariamente são saudáveis. Em alguns casos, são reproduções de hábitos ancestrais, do tempo em que eles viviam (e nós também) nas matas; em outros, são reações orgânicas.
Todos os tutores já perceberam que os cães balançam os membros, especialmente os braços, quando recebem carinho na barriga. Não se trata de prazer ou excitação. Eles simplesmente estão reagindo com cócegas – e alguns não gostam nem um pouco de serem tocados no abdômen.
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Amaciar o local de dormir é um comportamento presente em praticamente todos os cachorros. Fique tranquilo: eles não estão querendo sinalizar que a cama não foi bem preparada. É uma estratégia herdada dos antepassados. Na natureza, é preciso revolver o solo para que ele se torne mais confortável.
Além disso, trata-se de uma medida de segurança. Ao cavar e afofar a almofada, os cachorros estão rememorando o tempo em que era preciso garantir que eles ficassem ocultos de possíveis predadores que rondassem o local.
Por fim, afofar a cama remete a uma característica bem tropical: o local de dormir fica mais fresco. Quando os cães cavam a terra, eles expõem camadas mais úmidas, com temperaturas mais baixas. É uma preocupação com o bem-estar noturno.
Outro ponto a ser considerado: ao esfregar, e não apenas na cama ou na casinha, os cachorros estão transferindo seus odores naturais para a colcha, almofada ou folha de papel. Em outras palavras, eles estão tomando posse do local. É uma conduta territorialista.
Não é só na cama que eles andam em círculos antes de se deitar. Quando chega a hora de fazer as necessidades – especialmente o nº 2 –, eles também fazem a “dança da rodinha”. Na verdade, encurvar o tronco estimula os movimentos do intestino e facilita a evacuação das fezes (que, em cachorros saudáveis, são sempre secas).
Quando os cachorros voltam para casa, no retorno de um passeio ou de uma visita ao veterinário, é comum que eles explorem a casa, para certificar-se de que está tudo bem. Não importa se eles passaram apenas alguns minutos fora ou se moram em um apartamento que ficou fechado durante a ausência: eles sempre repetem a “ronda”.
Ao explorar os ambientes – e tirar alguns objetos de lugar, para desespero de alguns tutores – os cães estão à procura não apenas de eventuais intrusos, mas de cheiros estranhos que possam ter sido deixados por invasores. É uma garantia de segurança e eles fazem isso por eles e por nós.
Depois de um banho, os cachorros correm e saltam. Muitas vezes, é necessário cobrir tapetes e móveis para que não fiquem respingados. Apesar de parecer estranho – no mínimo, curioso – estes gestos são de pura alegria. Um banho relaxa o corpo e elimina sujidades. Eles se sentem felizes, mesmo que muitos tentem manter uma distância segura de tanques, banheiras e bacias.
Comportamentos impróprios nos cachorros
Os tutores precisam ficar atentos ao desenvolvimento de comportamentos impróprios e mesmo prejudiciais. Não é necessário ser especialista para perceber que certas condutas extrapolam o que podem ser consideradas simples “manias de cachorros”.
Em muitos casos, o desenvolvimento de manias está associado a um histórico de maus tratos físicos e psicológicos. Quem resgata um cão das ruas ou de um abrigo (e está de parabéns pela atitude) precisa observar as chamadas funções sensoriais.
Em geral, as condutas não são, por si, inadequadas ou prejudiciais. Um cachorro que se machucou pode lamber continuamente as patas enquanto os ferimentos estão cicatrizando – e até mesmo alguns dias depois.
As manias se instalam quando não existe um motivo real para a conduta (no exemplo, o cachorro lambe as patas nas mais diversas ocasiões, mesmo que não haja ferimentos, sujidades, etc.). o comportamento repetitivo, que pode inclusive causar lesões, é o que acende o sinal amarelo.
Pode-se imaginar que as lambidas das patas são inofensivas. No entanto, a repetição mórbida, além de ter origens emocionais que podem levar a outros transtornos psicológicos, prejudica as almofadas plantares, pode abrir lesões e chegar a uma infecção mais ou menos graves, caso o cachorro se exponha a bactérias, vírus ou fungos.
Coçar-se não é impróprio. Além de aliviar comichões, também areja o pelo e, em alguns casos, elimina alguns parasitas. Da mesma forma, lamber-se ou escavar o chão podem ser apenas condutas instintivas. A intensidade e a repetição é que alertam para motivos mais ou menos graves.
Comportamento compulsivos nos cães
Tutores de cachorros certamente já se depararam com alguma “destruição” ao voltar para casa: sapatos, pés de mesa, almofadas e outros objetos (inclusive brinquedos e tigelas) podem ter se tornado o foco da ira do pet, quase sempre em função de ter sido deixado sozinho.
Este comportamento compulsivo é comum em filhotes e fácil de ser corrigido: basta garantir alguma atividade para o cachorro e impedir que o tédio se instale no seu dia a dia. Eventualmente, os pets adultos podem exercer algumas “vinganças” pontuais, mas trata-se de um episódio raro em animais bem ajustados.
Mal educados, os cachorros podem permanecer destrutivos por toda a vida. Não adianta gritar (nem muito menos agredir fisicamente) para eliminar o problema. É preciso garantir que os pets aproveitem o dia (com brinquedos, gravações de áudio e vídeo, etc.), enquanto nós cumprimos as nossas obrigações na rua.
Mas, alguns cachorros podem se tornar destrutivos sem motivo aparente. Na verdade, a almofada rasgada é apenas a ponta do iceberg, a parte visível de um processo que teve início com isolamento, tédio, ansiedade e um quadro final de estresse (ou, em casos graves, de depressão).
Manias de cachorro: O problema
As manias desenvolvidas por cães deixados sozinhos durante boa parte do dia rotineiramente são sinais de que alguma coisa está errada. Sem ninguém para interagir, o pet se torna ansioso e precisa compensar esta sensação incômoda, desagradável ou angustiante.
Em muitos casos, o transtorno se apresenta mesmo quando a família humana está em casa: os cachorros passam a ter medo – é a chamada ansiedade da separação. Os pets acreditam que estão sendo abandonados, que os tutores não irão retornar.
Os resultados são variados, mas os mais frequentes são:
- destruição de objetos;
- fezes e urina em locais inadequados (quase sempre na passagem dos humanos);
- latidos, ganidos e uivos prolongados;
- coceiras até a perda localizada de pelos, às vezes com ferimentos provocados pelo comportamento repetitivo;
- autoagressão – os alvos preferenciais são as patas e a cauda.
As manias dos cachorros tendem a ser atenuadas quando os tutores voltam para casa. Na presença da família humana, o cachorro passa a se comportar normalmente, mas os gestos se repetem sempre que eles ficam sozinhos – ou apenas acham que podem ficar.
Correr atrás do rabo
É uma imagem recorrente na nossa imaginação. Muitos cachorros correm atrás do próprio rabo, em uma aparente perda de energia sem nenhum sentido. Nos filhotes, a conduta pode ser encarada apenas como brincadeira – eles estão explorando o próprio corpo.
Cães adultos raramente exibem este comportamento – caso o façam, trata-se de um sinal claro de autoagressão. Entre os animais idosos, correr atrás do rabo pode estar entre os primeiros sintomas de senilidade ou mesmo de uma demência.
Em muitos casos, entre os adultos, correr atrás do rabo indica que a carga diária de exercícios físicos está aquém do necessário. Eles exibem o comportamento por estarem entediados, por falta de interação ou por excesso de energia acumulada. Um sinal de que é preciso fazer o cachorro mexer-se é o aumento sensível do peso, mesmo sem um aumento de consumo dos alimentos.
O ideal é procurar orientação de um veterinário. Além dos mais que prováveis problemas de ansiedade e estresse, o cachorro pode estar com vermes ou com machucados no rabo. É importante lembrar que os cachorros desenvolvidos para caça tendem a encarar a cauda como uma presa a ser abatida (as corridas atrás do rabo, nestes casos, são pontuais).
Lamber as patas
Este ato é o exemplo clássico de demonstração do tédio. Evidentemente, cachorros podem lamber as patas para aliviar um ferimento ou livrar-se de alguma coisa que ficou espetada entre os dedos. Mas, se o comportamento se repete com muita insistência, é preciso investigar as causas.
Não adianta tentar cobrir caudas e patas que se tornaram objeto da fúria dos pets. Mesmo os cães mais equilibrados dedicariam vários minutos para desfazer curativos, gazes e bandagens enroladas em seus corpos. Quando um curativo é necessário, deve-se garantir que o pet não tenha acesso à área protegida.
Lembre-se: as lambidas não podem chegar ao ponto de provocar lesões, muito menos de prejudicar a locomoção dos cachorros. Quando o tutor percebe uma conduta obsessiva ou compulsiva, é preciso procurar o veterinário, para definir o melhor tratamento.
O que fazer para acabar com as manias dos cachorros?
Felizmente, transtornos emocionais em cachorros são bastante simples e as soluções são fáceis. A menos que os pets tenham um longo histórico de abandono e maus tratos, eles retomam o equilíbrio com algumas providências simples e, mesmo que as manias tenham se instalado, elas podem ser removidas sem deixar sequelas.
Em primeiro lugar, é preciso exercitar os cachorros. Não importa o porte nem a idade, eles precisam brincar e passear diariamente. As caminhadas diárias só podem ser suspensas por recomendação do médico, em caso de convalescença de algumas doenças e traumas.
Os tutores precisam usar a imaginação para entusiasmar os cachorros. Um novo brinquedo sempre aguça a curiosidade, mas não é preciso gastar muito dinheiro. Uma boa dica é fazer o rodízio dos brinquedos, apresentando um lote diferente a cada semana. Para os pets, tudo será novidade.
Há no mercado alguns brinquedos interativos para cachorros, que estimulam o aprendizado e afastam o tédio. Os peludos se interessam por tudo e podem brincar com bolinhas, discos de arremesso, bumerangues, cordas tensionadas, etc. O importante é que o tutor esteja presente nas brincadeiras.
Existem algumas bolas que podem ser recheadas com ração ou biscoitos. Os cachorros precisam descobrir a forma de abri-las – e isto ocupa parte do tempo em que ficam sozinhos. Os tutores também podem programar áudios e vídeos para serem apresentados nos momentos de solidão dos pets.
Bastam alguns minutos. Mais do que isto, os cachorros terão a atenção desviada e a TV ou computador ficarão ligados sem necessidade. Se for possível, deixe um espaço para que os pets possam acompanhar o que está acontecendo no mundo. Pode ser um elemento vazado na cerca ou mesmo uma janela no 18º andar, em que seja possível observar o movimento.
Todos os tutores sabem que os cachorros nos adoram. Eles nos amam incondicionalmente e ficam felizes quando percebem a nossa presença (alguns estudos indicam que o cheiro ou a voz do tutor provoca um aumento na produção de ocitocina, o hormônio do amor).
Uma estratégia simples para que eles não se sintam sozinhos é deixar uma peça de roupa no local em que os pets passam a maior parte do tempo. Pode ser uma camiseta velha, não necessariamente recentemente usado: os nossos objetos, mesmo higienizados, permanecem com o nosso odor – pelo menos, para o olfato apurado dos cachorros.
Durante as caminhadas diárias, os tutores precisam se lembrar de que o passeio não é apenas recreativo: é a oportunidade (muitas vezes, a única do dia) para conviver com os passantes humanos e caninos das ruas. É o momento de socialização, importante para garantir o equilíbrio emocional dos cães.
O passeio é também um momento de exploração. Os cachorros são descendentes dos lobos, hábeis caçadores que cobrem extensas áreas em busca de presas (eventualmente, também de algumas frutas e raízes). Quando estão nas ruas, os pets querem encontrar coisas novas.
Por isso, não repita o mesmo trajeto todos os dias, nem puxe o cão pela guia todas as vezes que ele parar para investigar um poste ou um canteiro. Encontre ruas novas, ladeiras íngremes, praças em que os peludos possam correr mais ou menos livremente, em que eles descubram formas e cheiros novos.
Tudo isto contribui para o equilíbrio emocional e é extremamente importante para a manutenção da saúde integral dos cachorros. Dá um pouco de trabalho, mas nós já sabíamos disso quando decidimos adotar um cachorro – do contrário, teríamos comprado um hamster, um peixe de aquário ou, talvez, um bicho de pelúcia.