Não existe uma resposta definitiva: depende dos humanos e dos cães e gatos. Veja como funcionam as lambidas dos pets.
Os mais fanáticos por cães e gatos são capazes de tudo. Alguns chegam a afirmar que as lambidas de cães e gatos podem até curar ferimentos. Exageros à parte, os “carinhos linguísticos” podem fazer mal, especialmente para crianças, idosos e pessoas com o sistema imunológico debilitado. Além disto, os hábitos dos pets influenciam forçosamente a qualidade das lambidas.
Um antigo ditado diz que “dentada de cão se cura com o pelo do próprio cão”. Aparentemente, a expressão foi cunhada a partir de uma afirmação do grego Hipócrates, o “Pai da Medicina”, que dizia: “o semelhante cura o semelhante”, que se tornou o princípio geral da Homeopatia.
Na verdade, o provérbio, aparentemente de origem portuguesa, é semelhante ao “amor com amor se paga”. Em outras palavras, a mordida curada com matéria prima do próprio agressor é apenas uma forma de afirmar que devemos tratar os outros da mesma forma como somos tratados e não tem nada a ver com o relacionamento entre caninos e humanos.
Abraços e beijos
Muitos tutores de cães e gatos gostam das lambidas dos seus pets e entendem-nas como um genuíno gesto de amor. Para estes, um estudo realizado em 2015 por veterinários da Universidade do Arizona (EUA) indicam que os microrganismos presentes na flora intestinal dos animais de estimação podem ter um efeito probiótico para os seres humanos – em outras palavras, o hábito aumentaria a qualidade e quantidade da flora intestinal, com resultados positivos para a saúde.
A pesquisa requer aprofundamento e ainda não recebeu nenhum aval das sociedades veterinárias internacionais. É mais possível que o efeito seja exatamente o oposto: os cães e gatos gostam de explorar ambientes – inclusive experimentando coisas novas, que podem ser tóxicas, como um arbusto de urtiga, ou simplesmente incômodas, como o pólen de flores.
Além disto, os pets têm o costume de lamber as partes íntimas e identificam amigos e inimigos cheirando o ânus dos colegas recém-introduzidos no mesmo ambiente. Outro fator que contraindica as lambidas de cães e gatos é a coprofagia – o costume nada saudável de ingerir os próprios excrementos, retendo eventuais bactérias, fungos e vírus no organismo.
Vale lembrar que os microrganismos presentes nos intestinos dos cães são diferentes daqueles encontrados em gatos ou em humanos. A “invasão”, neste caso, representaria um risco extra. Portanto, é possível concluir que as lambidas são contraindicadas ou, pelo menos, devem ser bastante limitadas.
Forma de afeto
Quem já conviveu com cães e gatos sabem que estes animais têm o costume de manifestar afeto, gratidão e satisfação através de lambidas, além de aninhar-se junto aos pés do tutor, permanecer ao lado apenas para fazer companhia, participar ativamente de brincadeiras e exercícios físicos, saltar repentinamente no colo e no peito e até dar pequenas mordidas.
Os donos de pets, no entanto, precisam saber que estas condutas nem sempre são positivas – e os animais devem conhecer limites. Quando os humanos chegam a casa, depois de um dia cheio, cansados e querendo relaxar, não é admissível que o primeiro contato seja com os animais de estimação, desmanchados em mostras excessivas.
Efetivamente, se alguns cuidados com a higiene não forem tomados, as lambidas de cães e gatos podem fazer mal. Em 2013, uma idosa da Inglaterra foi vítima de uma grave infecção e teve de permanecer hospitalizada por várias semanas.
Exames laboratoriais identificaram o invasor: uma bactéria comumente encontrada na boca de cães. A mulher, de 70 anos, apresentou diarreia, náuseas, confusão mental e febre. Os sintomas se mantiveram durante cinco dias.
Cuidados redobrados
Apesar de a adoção de cães e gatos ser uma atitude extremamente louvável e recomendável, é preciso cuidados com animais recolhidos das ruas. Mesmo os filhotes provavelmente mantiveram contato com um ou mais agentes etiológicos.
Estes pets recém-introduzidos na residência devem ser mantidos isolados, durante alguns dias. Isto vale não apenas para o contato com humanos, mas também com outros amigos de quatro patas presentes na casa. A higiene (banho e tosa) e a avaliação veterinária são fundamentais. Seja como for, é muito provável que estes novatos se mostrem independentes, agressivos ou medrosos – a falta de lambidas, desta forma, não fará nenhuma diferença para eles.
Os animais doentes também devem ser mantidos afastados, até que uma avaliação médica identifique as causas das enfermidades e o contato com o restante da família seja liberado. Assim como os seres humanos, cães e gatos adoecem e, em muitos casos, precisam ser mantidos em isolamento – inclusive com internações em clínicas veterinárias.
Os cuidados necessários
Mesmo que os cães e gatos de nossa convivência não sejam dados a grandes manifestações de carinho – lambidas, inclusive –, os donos responsáveis precisam estar atentos a algumas providências extremamente necessárias:
• mantenha a vacinação sempre em dia;
• cuide da higiene. Além dos banhos, tosas, banhos de Sol, limpeza das tigelas de ração e água, é fundamental cuidar da higiene bucal. Isto é importante para evitar o desenvolvimento de placas bacterianas, que prejudicam a saúde e o bem-estar;
• lembre-se: as zoonoses podem ser transmitidas inclusive por cães e gatos saudáveis, que podem infectar os humanos a partir de lambidas na boca, olhos ou nariz;
• as chamadas infecções fecais-orais também merecem cuidado. Animais não vermifugados de maneira adequada liberam vermes parasitas nas fezes e o contato direto pode causar danos à saúde humana e de outros animais hígidos.
Regras gerais
Entrar em contato com a língua de cães e gatos vacinados e saudáveis não traz grandes riscos. Os microrganismos presentes na saliva dos pets não conseguem penetrar a nossa pele, a menos que esteja lesionada.
Crianças, idosos e imunodeprimidos, no entanto, devem evitar as lambidas. Nestes casos, o sistema imunológico está comprometido (ou ainda não está completamente desenvolvido) e o hábito pode se revelar bastante nocivo no médio prazo.
Se a pele é provida por defesas naturais, o mesmo não se pode dizer das mucosas dos olhos, boca e narinas, bem como regiões que apresentem lesões (mesmo microscópicas); nestas regiões, o contato é contraindicado. As pessoas convalescentes de algumas doenças de pele (primárias ou secundárias) também precisam manter distância dos pets.
Vale o mesmo para os alérgicos. A própria saliva dos cães e gatos pode provocar reações desagradáveis e até mesmo arriscadas. Micoses, irritações das vias aéreas superiores e gastroenterites podem ser causadas por este agente, que nada apresenta de etiológico no relacionamento entre pets e pessoas saudáveis. Uma proteína presente na saliva dos gatos (Fel D1) é considerada pelos especialistas como a principal porta de entrada das alergias.
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