A glândula tireoide está situada no pescoço, pouco abaixo da laringe. Ela é responsável pela produção de dois hormônios: triiodotironina (T3) e tiroxina ou tetraiodotironina (T4), que regulam o metabolismo dos cães (de todos os vertebrados, na verdade; é uma característica comum aos animais cordados). Metabolismo é a forma como o organismo usa e armazena a energia obtida com a alimentação e a respiração.
A função da tireoide é regulada pela hipófise, uma glândula situada no cérebro. A hipófise produz o hormônio estimulador da tireoide (TSH), que induz o órgão do pescoço a produzir T3 e T4. O hipotireoidismo, também conhecido como tireoide hipoativa, é uma condição em que a glândula produz muito poucos destes dois hormônios.
Assim como nos seres humanos, nos cães, o hipotireoidismo é fator de muitos transtornos. Apesar de a medicina veterinária já contar com tratamentos eficazes, o diagnóstico nem sempre é simples e, até que seja constatada a doença, os pets já podem ter desenvolvido diversas complicações.
Em tese, basta um exame de sangue para verificar os níveis de T3 e T4 e realizar um diagnóstico preciso. No entanto, a maioria dos cães conta com níveis muito baixos destes hormônios na circulação sanguínea. Nestes casos, os pets podem passar anos sem a identificação do hipotireoidismo.
As causas
O hipotireoidismo em cães é classificado em três tipos. O hipotireoidismo primário resulta de alterações na tireoide, que podem levar inclusive à destruição da glândula. Ele pode ser genético ou determinado por tireoidite linfocítica ou atrofia da tireoide, em que ocorre uma resposta autoimune e o organismo passa a atacar a glândula. É a forma mais comum entre os cães, respondendo por metade dos casos.
O hipotireoidismo primário também pode ter causas genéticas. A doença é mais comum nos cães de pequeno porte, como o pinscher, lulu da pomerânia (spitz), dachshund (teckel) e schnauzer miniatura. Outras raças também apresentam incidência relativamente alta: dogue alemão, rottweiler, retriever do labrador, retriever dourado, setter irlandês, poodle, dobermann, cocker spaniel inglês e pastor de shetland.
Os casos de hipotireoidismo secundário e terciário são provocados por deficiências na produção do TSH e resultam respectivamente de alterações na hipófise e no hipotálamo, localizado na região central do cérebro (abaixo do tálamo), que controla a hipófise, o equilíbrio térmico, a corrente sanguínea, os mecanismos de vigília e sono e provavelmente responde por outros mecanismos psicossomáticos.
Já o hipotireoidismo iatrogênico é consequente da remoção cirúrgica da tireoide (comprometida por um tumor maligno, por exemplo). Também pode ser decorrente do uso prolongado de algumas drogas, exposição a alergênicos, tóxicos e poluentes. A radioterapia também pode afetar negativamente a glândula.
Os sintomas
Mesmo entre cães geneticamente predispostos, é bastante rara a ocorrência de hipotireoidismo em animais filhotes e jovens. A doença costuma se manifestar a partir dos cinco anos de idade. Alguns estudos indicam que, entre pets castrados (machos e fêmeas), é maior a incidência de hipotireoidismo.
Devido às funções desempenhadas pela tireoide em diferentes órgãos e sistemas, os cães afetados pelo hipotireoidismo podem apresentar os mais diversos sintomas. No entanto, algumas áreas sempre apresentam alterações, como é o caso da pele. Animais doentes podem apresentar
• pele oleosa ou seca;
• descamações;
• infecções semelhantes a espinhas;
• enfraquecimento e opacidade da pelagem;
• perda de pelos (principalmente no tórax, abdômen, cauda e pescoço);
• seborreia;
• alterações na pigmentação.
Cães com hipotireoidismo também apresentam sintomas comportamentais. Animais naturalmente ativos e alegres passam a recusar as atividades e brincadeiras habituais, ficam muito tempo dormindo e, quando em vigília, mostram sinais de depressão, apatia e falta de energia. Alguns animais, mesmo os muito apegados aos tutores, passam a mostrar indiferença e podem inclusive se tornar agressivos quando os membros da família insistem nas atividades.
O aumento de peso é outro sintoma característico do hipotireoidismo. Na maioria dos casos, o apetite não é alterado e, com a falta de exercícios físicos, é comum o surgimento de sobrepeso e obesidade, com os danos inerentes a estas condições.
Alguns sintomas mais raros também podem se manifestar:
• anemia;
• intolerância ao frio;
• paralisia de nervos faciais;
• conjuntivite;
• polineuropatia (que afeta a coordenação motora);
• aumento da taxa do LDL (o colesterol ruim).
O sistema reprodutor também pode sofrer interferências. Nas fêmeas, ocorre atrofia das glândulas mamárias e falhas no ciclo menstrual. Nos machos, ocorre atrofia dos testículos e queda da taxa de espermatozoides, com a consequente baixa na fertilidade. Nos dois sexos, verifica-se perda da libido.
O diagnóstico
Infelizmente, os sintomas do hipotireoidismo em cães são comuns a diversas outras doenças. O diagnóstico correto é feito com base na avaliação clínica, análise do histórico de saúde e exames laboratoriais de sangue. Biópsias da tireoide e radiografias também podem ser solicitadas. Mesmo antes de identificar a enfermidade, no entanto, é necessário iniciar o tratamento para atenuar os sintomas apresentados.
Entre os exames de laboratório, os mais comuns são os que mensuram as taxas dos hormônios T3, T4 e TSH, particularmente afetados em cães com hipotireoidismo. No entanto, nenhum destes exames apresenta resultados absolutamente específicos para a doença. Por isto, cabe ao veterinário estabelecer o diagnóstico com base em todos os dados obtidos.
O tratamento
Felizmente, o tratamento do hipotireoidismo em cães é simples na maioria dos casos. Os animais afetados precisarão se submeter à reposição hormonal (por via oral) pelo restante de suas vidas. O medicamento mais comumente empregado é a levotiroxina, um hormônio sintético (fabricado em laboratório).
Os cães doentes começam a apresentar sinais de melhoras com duas semanas de tratamento. Os sintomas secundários tendem a desaparecer entre quatro e seis semanas depois do início da medicação. Depois deste período, os problemas de pele e pelagem são normalizados.
Vale lembrar que, no início da medicação, quase sempre ocorre uma piora na aparência dos cães. A pele se torna mais áspera e, em alguns casos, todo o pelo cai – o pet fica carequinha. Não há com que se preocupar: é uma reação normal à levotiroxina. O único cuidado é não expor o cão ao sol neste período.
A dosagem do medicamento é sempre determinada pelo veterinário, com base nas características do cão afetado (idade, porte, sexo, etc.) e também na gravidade do hipotireoidismo e da rapidez com que os sintomas se instalaram. O tratamento se prolongará por toda a vida do pet e poderá ser alterado de acordo com as respostas observadas.
Não existe prevenção para o hipotireoidismo. As respostas do sistema imunológico não podem ser controladas. Cães aparentemente saudáveis podem desenvolver a doença de um momento para outro, sem uma causa aparente. Além disto, a enfermidade pode ser genética.