A gastrite é uma doença comum entre os seres humanos, mas pode ser diagnosticada também em cães. O sintoma mais frequente da gastrite em cães é o vômito constante. Na maior parte dos casos, trata-se de uma inflamação leve, mas alguns casos evoluem e podem levar à internação hospitalar e até à morte do pet.
Os vômitos podem ser intensos e frequentes. O alerta amarelo é aceso quando o tutor nota a presença de:
- bílis (secreção amarelada ou esverdeada);
- sangue fresco, de coloração vermelho-escura;
- sangue digerido, que apresenta grãos escuros, como pequenas sementes;
- espuma branca, que se forma quando o cão já expeliu todo o conteúdo do estômago.
Muitos tutores subestimam a gastrite em cachorros, interpretando-a como simples “dor de barriga”, mas pode não ser tão simples assim. Gastralgias frequentes podem levar a inflamações sérias, inclusive com perfurações e lesões nas paredes do estômago.
Os sintomas da gastrite em cães
Duas formas de gastrite podem afetar os cães. Na gastrite aguda, caracterizada por eventos esporádicos (os cães podem ter apenas uma crise em toda a sua vida), os vômitos se prolongam por até sete dias. Esta não é uma condição de cães saudáveis. A forma aguda (repentina e de curta duração) pode ser devida aos seguintes fatores:
• alimentação indiscriminada – os pets são alimentados com restos de comida humana, reviram latas de lixo em busca de alimento ou ingerem produtos estragados. O excesso de ração e a ingestão de elementos estranhos (papel, plástico, etc.), assim como a ingestão de fezes de outros animais, também podem desencadear crises de gastrite aguda;
• outros fatores da gastrite aguda são: alergias, ingestão de toxinas (como produtos de higiene e limpeza, medicamentos e algumas plantas, como comigo-ninguém-pode, espada-de-são-jorge, alecrim e arruda), intolerância alimentar e infecção por algumas bactérias e vírus;
• infestação por parasitas – muitos vermes podem afetar os animais de estimação. É o caso das lombrigas, ancilóstomos, Trichuris, dirofiliárias, oxiúros, etc. A presença destes parasitas pode irritar as mucosas do intestino e do estômago. Felizmente, este incômodo é facilmente resolvido com a vermifugação adequada;
A forma crônica da doença, de desenvolvimento lento e persistente, se manifesta por vômitos frequentes durante duas semanas ou mais. A gastrite crônica pode se apresentar das mesmas formas que a aguda, com a diferença de que estas se mostram mais constantes.
Na forma crônica, é comum que os cães apresentem febre (caracterizada por focinho seco e quente, olhos embaçados ou lacrimejantes, apatia, falta de apetite, nervosismo e, quando muito alta, calafrios e tremores). Lembre-se: a temperatura normal dos cachorros fica entre 38,5ºC e 39,5ºC, bem acima da média humana.
A gastrite crônica pode indicar:
- câncer no trato gastrointestinal;
- doenças inflamatórias do intestino.
É necessário citar também a gastrite nervosa, ou dispepsia funcional, provocada por estresse, comum em cães que permanecem sozinhos por muito tempo, não são estimulados física e mentalmente e também entre aqueles que desenvolvem medos e pavores desproporcionais.
Neste caso, além dos vômitos, os animais afetados podem apresentar:
- apatia;
- fraqueza;
- dor abdominal;
- diarreia;
- desidratação;
- perda de apetite e de peso.
O diagnóstico da gastrite canina
O diagnóstico da gastrite canina é obtido através de biópsias, endoscopias e exames clínicos. Ecografias e radiografias podem ser necessárias para identificar a presença de corpos estranhos no estômago. Nos casos de gastrite crônica, quando associados à presença de bactérias, o tratamento consiste na administração de antibióticos.
No entanto, a gastrite em cães pode ser causada por vírus e, nestes casos, os antibióticos são inócuos. Lembre-se: apenas o veterinário pode prescrever medicamentos, com base no histórico de saúde, avaliação clínica e exames de laboratório.
O tratamento para gastrite em cachorros
Antes de iniciar o tratamento, o veterinário precisa determinar os fatores determinantes da gastrite. Caso a doença tenha origem emocional, os procedimentos são relativamente mais fáceis e o prognóstico quase sempre é positivo, mas é necessário contar com o suporte de um profissional especializado.
Para eliminar a gastrite nervosa, é importante identificar o fator gerador. Alguns cachorros sofrem com dispepsia funcional apenas porque não passeiam diariamente, não brincam ou não são incentivados a explorar o ambiente.
Como se pode ver, basta que as caminhadas e brincadeiras sejam retomadas para o problema ser corrigido – isto pode levar alguns dias. Nos casos de alimentação em excesso, a correção é simples, ainda que os pets possam sofrer por um tempinho até que a reeducação alimentar esteja assimilada.
Na maioria dos casos, o veterinário retira a alimentação por 12 ou 24 horas, para que o estômago possa reequilibrar as suas funções. A quantidade de água também pode ser limitada. Nos dias seguintes, as porções de ração serão retomadas gradativamente, quase sempre em porções menores, oferecidas com maior assiduidade.
Alguns cães desenvolvem o mau hábito de engolir tudo o que encontram pela frente: brinquedos, embalagens, tecidos, etc. Às vezes, o organismo canino não consegue eliminar parte deste material, que normalmente é eliminado com as fezes.
A presença de corpos estranhos no trato gastrointestinal provoca gastrite, uma vez que o estômago passa a produzir suco gástrico continuamente – e esta secreção ataca a mucosa do órgão (para ter uma ideia, o suco gástrico é tão agressivo que as células do estômago são substituídas a cada 15 dias). Nestes casos, a única solução possível é a cirurgia, com os riscos inerentes a este procedimento.
O ideal é eliminar o mau comportamento, ou não deixar que ele se instale (quando os cães ainda são filhotes). Os pets devem ainda ser desestimulados a revirar o lixo e os produtos de higiene e limpeza precisam ser mantidos a distância.
Doenças inflamatórias, autoimunes e algumas reações alérgicas podem causar uma gastrite secundária. O uso prolongado de alguns medicamentos também são responsáveis pelo desenvolvimento de uma gastrite canina crônica.
Complicações da gastrite nos pets
A maioria dos casos de gastrite em cães apresenta bons prognósticos, quando as prescrições médicas são seguidas à risca. Algumas condições de saúde, no entanto, podem significar riscos crescentes para os nossos pets:
Uma simples dor de barriga, quando é constante, pode significar a presença da gastrite canina, que pode levar à úlcera gastroduodenal, outra doença “humana” que acomete também os nossos amigos peludos. As úlceras podem ocorrer em cães que sofrem de hiperadrenocorticismo (mal de Cushing) e de males crônicos do fígado. O câncer de estômago também é responsável por úlceras, mas esta enfermidade é relativamente incomum nos cães.
Ainda não são perfeitamente conhecidas as causas da úlcera no estômago de cães, uma vez que eles não conseguem relatar os sintomas que os acometem. Pesquisas sugerem que ela está relacionada à bactéria Helicobacter pylori (como ocorre entre os seres humanos), mas a maior incidência da doença está relacionada ao consumo prolongado de medicamentos, principalmente os corticosteroides.
Falta de apetite, vômitos, fezes pretas, apatia, palidez das mucosas e fraqueza progressiva (os cães deixam de se interessar por brincadeiras) são alguns sintomas de úlcera. Os tutores responsáveis precisam ficar atentos, para garantir o bem-estar e a saúde dos pets.