Uma família chinesa adotou um pet e só dois anos depois descobriu que ele era um urso negro.
Nas últimas décadas, o mastim tibetano se tornou um símbolo de status na China. Animais da raça são vendidos por até R$ 1,5 milhão. A família de Su Yun, comprou um “cachorro da raça” e viveu com ele durante dois anos, até descobrir que, na verdade, o pet era um urso-negro.
Su Yun vive com a família na área rural de Kunming, capital da Província de Yunnan, no sul do país. Eles adotaram o que parecia ser um mastim napolitano imenso, chegaram a desconfiar do tamanho desmesurado, mas só descobriram a verdade depois de dois anos de convivência.
O urso
O animal foi adotado ainda filhote, motivo que pode ter causado a confusão. Su Yun acreditou ter tido muita sorte ao comprar um mastim tibetano por preço tão baixo, mas acreditou que a oferta era devido ao fato de ainda ser um filhote.
Em geral, os mastins tibetanos que alcançam os maiores preços são comercializados já adultos, depois de completado o desenvolvimento físico. Os chineses são especialmente atraídos pelos maiores espécimes da raça.
As dúvidas começaram a surgir por causa dos hábitos alimentares da mascote. Depois da descoberta, Su Yun contou a repórteres chineses que o pet devorava uma caixa grande de frutas e dois baldes de macarrão todos os dias.
Ursos são animais onívoros – eles comem de tudo. Daí as preferências do “cachorro”, que parecia adorar frutas e legumes, mas sempre ficava especialmente agitado quando sentia o cheiro dos temperos do macarrão.
Naturalmente, havia uma razão bastante simples para o animal de estimação comer tanto. Dois anos depois, o “bichinho” pesava 110 kg – os ursos apresentam desenvolvimento físico lento, atingindo a maturidade sexual apenas por volta dos quatro ou cinco anos.
Mesmo assim, Su Yun não desconfiou de nada. O cachorro se comportava como qualquer outro, gostava de passeios e era muito apegado à família. Então, o pet desenvolveu o hábito de andar sobre as patas traseiras.
Ele tinha talento para caminhar: começou a usar as mãos apenas nas corridas. Nas caminhadas e explorações, andava sempre “em pé”. O peso também começou a se tornar um problema, uma vez que o animal interagia com a família como se realmente fosse um cachorro – e é difícil conviver com um “cãozinho” de 110 kg.
Os traços fisionômicos foram revelando que se tratava de um urso – tecnicamente, um predador inclusive de humanos. Ele também desenvolveu uma espessa camada de gordura, além de garras capazes de rasgar qualquer coisa.
A despedida
Ficou evidente que a família de Su Yun estava “dormindo com o inimigo” – não seria possível manter um animal selvagem, mesmo no ambiente rural. De qualquer forma, ele nunca exibiu comportamento agressivo, o que dificultou ainda mais a separação.
Finalmente, o “cachorro” foi levado. A família entrou em contato com o Wildlife Rescue Center, organização internacional que atua na preservação da vida selvagem em diversos países e administra o Yunnan Wildlife Park, nos arredores de Kunming. O espaço é dividido por pandas gigantes, tigres-de-bengala, ursos e aves silvestres, como cisnes e águias.
Ao chegar à casa de Su Yun, a equipe do centro de resgate não acreditou no que viu. O “cachorro” em pé já ultrapassava um metro de altura. Parecia incrível que ele tivesse vivido com humanos durante tanto tempo, sem nenhum acidente mais grave.
O urso continuava circulando livremente na casa, para surpresa de todos. De qualquer maneira, antes de ser transportado para o parque, ele foi devidamente sedado – ninguém queria se aproximar de uma fera potencialmente mortal, apesar de ter sido criada como animal de estimação.
O animal foi identificado como um urso-negro-asiático (Ursus thibetanus, também conhecido como urso-do-Tibete, urso-himalaio e urso-lua, por causa da mancha branca que exibe no peito). Estes ursos podem atingir 200 kg, um metro de altura na cernelha e 1,90 metro de comprimento, do focinho à cauda.
Apesar de ser encontrado em diversas regiões, do Irã à Indochina, o estado de conservação do urso-negro-asiático é considerado vulnerável, de acordo com a classificação da IUCN (sigla em inglês para União Internacional para a Conservação da Natureza).
Apesar da “pequena confusão”, a família de Su Yun não é a primeira na região a adotar um animal selvagem, pensando ter adquirido um cachorro de raça. Em março de 2016, a imprensa de Yunnan noticiou o caso de um homem que criou um urso depois de encontrá-lo vagando pela região.