Piper é um cão-guia que, nos últimos cinco anos, tem acompanhado a tutora Cienna (o sobrenome não foi divulgado a pedido da paciente) em todas as atividades num longo período de recuperação. Treinado para conter emoções durante o serviço, o peludo pulou de alegria ao compartilhar uma conquista da melhor amiga: apoiada em muletas, Cienna finalmente conseguiu dar os primeiros passos.
Os cães de suporte terapêutico passam por um longo processo de aprendizado até que possam finalmente desenvolver as suas atividades. Eles são adestrados para abrir e fechar portas, buscar objetos como calçados, acessórios, livros e até mesmo óculos e muletas, mas também para fornecer apoio emocional a portadores de deficiências físicas e mentais provisórias ou permanentes.
Por isso, apesar de serem adoráveis, não se deve interromper os cães-guia enquanto estão desempenhando tarefas fundamentais para garantir a integridade, segurança e bem-estar dos seus tutores. Eles estão profundamente concentrados e não se distraem, nem se envolvem em outras atividades.
Cienna e Piper
Piper não é o primeiro cão-guia de Cienna. Nos primeiros meses depois que a jovem perdeu o movimento dos membros inferiores, o primeiro acompanhante foi Opie, um belo retriever do Labrador preto. Mas Opie teve de se aposentar por motivos de saúde e foi então que Piper entrou em cena.
Antes de conhecer Cienna, o cachorro aprendeu a facilitar a locomoção de humanos em ambientes internos e externos – a tutora também estava em fase de adaptação às restrições impostas pela paralisia.
O adestramento é um processo longo e caro – no Brasil, estima-se que o custo para treinar um cão de suporte ultrapasse os R$ 35 mil. Piper consegue não apenas facilitar o acesso da tutora aos diversos ambientes domésticos e aos trajetos do cotidiano, mas desenvolveu também outras habilidades.
O cachorro – um animal sem raça definida – também consegue detectar hipoglicemia (redução do nível de glicose na corrente sanguínea), o início de crises de enxaqueca, redução da mobilidade e desenvolvimento de reações alérgicas: Piper é capaz de identificar alterações nos mastócitos, células presentes nos tecidos orgânicos que liberam histamina e outras substâncias envolvidas em reações inflamatórias.
No caso de Cienna, a hipoglicemia pode surgir em função da redução das atividades motoras. Ela sofre com crises de enxaqueca desde a adolescência e as alergias são uma resposta a disfunções dos mastócitos e basófilos, manifestações secundárias da hemiplegia.
Para o desempenho de tantas funções importantes, o cão de suporte desenvolveu alta capacidade de concentração e está sempre atento aos menores detalhes, para garantir o conforto da tutora. Piper, por outro lado, é um animal compenetrado e raramente se envolve em brincadeiras e distrações.
Mas, depois de cinco anos acompanhando e protegendo Cienna em suas movimentações na cadeira de rodas, o cachorro sério e pouco afeito a manifestações de alegria e excitação não conseguiu se conter ao observar os primeiros passos da tutora depois de um longo período.
Ao ver Cienna caminhando finalmente, Piper mostrou por que os cachorros são considerados os melhores amigos dos humanos: o peludo saltou em volta de Cienna, latiu de felicidade e brincou como um filhotes.
É possível que o cão-guia também estivesse externando a satisfação do dever cumprido; ao lado de Cienna, a sua tarefa era garantir que nada essencial faltasse para a tutora: conduzir a cadeira de rodas até um piso rebaixado para atravessar a rua, apertar os botões do elevador, trazer um livro para ela ou apenas deitar-se aos pés para espantar a solidão e a tristeza.
A recompensa para todo o esforço desta dupla é a felicidade imensa de atingir o objetivo: o vídeo mostra Cienna radiante de alegria, apesar do esforço físico de sustentar o corpo ereto pela primeira vez e a alegria de Piper, traduzida em saltos, latidos e volteios ao lado da amiga.
Piper sempre gostou de atividades ao ar livre. Ele é um cão de grande porte, que precisa de espaço para correr e se exercitar. Durante cinco longos anos, no entanto, os passeios de resumiram a acompanhar a tutora em curtas caminhadas ao longo de um lago próximo à residência. Cienna ainda está convalescendo, mas Piper não precisa mais apenas observar o vaivém das águas: ele já pode reservar parte do tempo para nadar e mergulhar.
O serviço do cachorro ainda não terminou. Nas palavras de Cienna, em entrevista ao The Dodo, site especializado em histórias sobre animais silvestres e de estimação, Piper está sempre atento e disponível:
“Ele sabe trabalhar para garantir qualquer forma de mobilidade e acesso, mas também está sempre aprendendo novas maneiras para atenuar a minha deficiência, que se manifesta de muitas formas. Além de tudo, ele me faz rir constantemente e sempre foi o meu maior motivador. Eu não estaria aqui hoje sem ele. O trabalho de Piper realmente salva vidas.”
Antes de chegar ao The Dodo, vídeo revelando os primeiros passos de Cienna em cinco anos foi compartilhado nas redes sociais da jovem. As imagens foram visualizadas por mais de 10 milhões de internautas e renderam centenas de milhares de curtidas, comentários e compartilhamentos.
A história de Cienna cativou o coração de muitas pessoas, seja por falar das limitações físicas e emocionais, seja por demonstrar a capacidade de superação, mesmo em situações-limite. Certamente, a jovem contou com o apoio de muitas pessoas, mas Piper continua sendo o companheiro de todas as horas, atento e disposto para todas as necessidades da tutora. Esta é também uma história de amizade e dedicação.