Este mal acomete cães grandes. Conheça as causas, sintomas e tratamento para displasia de quadril.
Displasia é um termo médico para designar a ocorrência de anomalias relacionadas ao desenvolvimento de um tecido ou órgão de qualquer animal, determinadas por herança genética ou desgaste contínuo.
A origem da palavra é grega, e significa precisamente “dificuldade para se formar”. Entre os cães, a displasia de quadril se caracteriza por uma desarmonia leve ou pronunciada no encaixe do fêmur e a pélvis.
A doença foi descrita pela primeira vez em 1930, por veterinários americanos. Não há diferença significativa no número de casos entre machos e fêmeas e a maioria das displasias é bilateral – acomete os dois lados do quadril. Apenas 11% dos casos registrados nos EUA são unilaterais.
A displasia de quadril é uma condição bastante incômoda e as dores tendem a se tornar mais acentuadas com o avanço da idade. Em condições normais, a cabeça do fêmur se encaixa perfeitamente no acetábulo – um orifício na pélvis.
Com o avanço da doença – que tem caráter degenerativo –, a incongruência provoca um desgaste dos ossos, que, mesmo mínimo, atrapalha o movimento do quadril e dos membros posteriores. A displasia de quadril tem grande impacto na mobilidade e, consequentemente, na qualidade de vida dos cães.
O fator genético desempenha um papel importante na evolução da displasia de quadril. De qualquer maneira, os tutores podem atenuar os problemas, conhecendo a doença, identificando os primeiros sinais e contribuindo da melhor forma para retardar ou desacelerar o desenvolvimento.
Em alguns casos, a displasia de quadril pode se manifestar ainda nos filhotes (e já foi identificada em fetos). Durante o desenvolvimento físico, o quadril se desloca para as laterais, impedindo o movimento correto da pélvis e das pernas.
Com o passar do tempo, o quadro vai se agravando e as dores e desconfortos se instalam ou se tornam evidentes. Em um número bastante reduzido de casos, a doença pode surgir entre os quatro e seis meses de vida.
Em geral, porém a displasia de quadril se manifesta apenas a partir de um ano de idade, sendo mais frequente a partir dos três anos e principalmente entre os animais de meia idade e idosos (a partir dos cinco anos).
Questões genéticas
Os cães de grande porte são os mais afetados pela displasia de quadril. Apesar de a doença poder afetar qualquer cachorro (e também gatos e humanos), especialmente a partir dos cinco anos de idade, as raças mais propensas são as seguintes:
- boiadeiro de Berna;
- dogue alemão;
- fila brasileiro;
- husky siberiano;
- mastim napolitano;
- pastor alemão;
- pastor belga (notadamente o malinois);
- retriever do Labrador;
- rottweiler;
- São Bernardo;
- wolfhound.
Os buldogues ingleses e franceses também podem desenvolver displasia de quadril, por causa das pernas arqueadas e da propensão à obesidade. Os teckels (dachshunds) entram nesta lista por causa do corpo alongado, em que o quadril e a escápula são sobrecarregados.
Border collie, apesar do porte médio, é uma das raças mais suscetíveis à displasia de quadril. Um estudo realizado pela CESUMAR com 52 border collies identificou a doença, em graus diferentes, em 76% deles.
Muitos criadores responsáveis têm retirado os portadores do transtorno de seu quadro de reprodutores, reduzindo as probabilidades de que os filhotes desenvolvam displasia de quadril. A herança genética, no entanto, só será erradicada definitivamente no médio ou longo prazo.
Outras causas da Displasia nos cachorros
Os fatores genéticos exercem um papel preponderante no desenvolvimento da displasia de quadril em cães, mas outros fatores também contribuem para o avanço da doença. Alguns veterinários chegam a afirmar que causas hereditárias correspondem a metade dos casos e as condições de criação dos cães, aos outro 50%.
Podemos destacar as seguintes causas:
• fatores mecânicos – espaços irregulares, com muitos “altos e baixos” forçam a musculatura e o esqueleto dos cães. Os pisos escorregadios favorecem os acidentes e podem causar fissuras nos ossos, predispondo no médio prazo à displasia de quadril (e também de cotovelo);
• alimentação – as rações suplementadas com proteínas e minerais, como potássio, fósforo e cálcio, aceleram o desenvolvimento dos cães, mas contribuem para o desenvolvimento de problemas osteomusculares. Escolha o produto indicado para a idade e o porte do pet. Se necessário, peça orientação para o veterinário, porque a carência de sais minerais também causa doenças;
• excesso de atividade física – cães adultos saudáveis podem se exercitar por até três horas diárias. Filhotes e idosos devem regular os exercícios de acordo com as reações apresentadas. Exercícios que exigem muito esforço físico, quando realizados muito frequentemente, prejudicam os ossos, músculos tendões e articulações dos cães;
• ganho de peso – o sobrepeso e a obesidade já são considerados doenças em si, não apenas condições que favorecem os transtornos de saúde. O excesso de peso sobrecarrega os ossos e aumenta as possibilidades de displasia.
Os sintomas da Displasia nos cães
Os primeiros sinais de displasia de quadril nos cachorros, apesar de bastante visíveis, podem passar despercebidos pelos tutores. Os cães passam a mancar, mas se recuperam em poucas horas. Em outras situações, eles se recusam a participar de brincadeiras mais intensas, como corridas e perseguições.
Os sinais, contudo, podem ser bastante sutis. Estudos realizados na Faculdade de Medicina Veterinária da Universidade Federal de Minas Gerais indicam que 70% dos cães radiograficamente diagnosticados não apresentam sinais clínicos.
Os idosos naturalmente “reduzem a marcha”, mas cães adultos saudáveis não alteram a disposição para brincadeiras de um dia para outro. Quando isso acontece, não é preguiça, mas pode ser sintoma de dor ou desconforto.
Recusas a brincadeiras, a subir e descer escadas e a executar saltos e correr (o “pulo de coelho”, com as pernas dobradas, torna-se comum) são indicativos de que alguma coisa está errada.
É importante lembrar que nem todos os sintomas podem estar presentes em todos os casos. Os sinais mais visíveis, que se tornam mais e mais evidentes em poucos meses, são os seguintes:
• inatividade – especialmente quando o cão é ativo e deixa de acompanhar sons e aromas, torna-se menos “curioso”, etc.;
• mudanças de postura – os cães afetados podem apresentar o dorso arqueado ou o quadril muito baixo;
• mudanças no caminhar – cada cachorro apresenta o seu próprio passo e ritmo. Alguns avançam primeiro com os braços, outros se movimentam alternando as laterais. Qualquer modificação na caminhada precisa ser investigada;
• rigidez no quadril e/ou nas pernas e patas traseiras;
• desvios evidentes na coluna vertebral lombar – a linha superior do dorso forma um “S” na proximidades da raiz da cauda;
• mudanças na posição sentado – o cachorro passa a abrir as pernas quando se senta, como se precisasse de mais espaço para firmar o tronco;
• quedas sem motivo aparente – ao caminhar, o cachorro parece escorregar, estaca o movimento e fica sentado por alguns instantes;
• claudicação – o cachorro passa a poupar uma das pernas e caminha mancando;
• dor e sensibilidade – quando o cachorro é tocado no quadril, pélvis ou abdômen, ele revela sinais de incômodo ou dor, que se intensifica depois de um exercício.
Os sintomas da displasia de quadril são progressivos e a doença é degenerativa, isto é, os movimentos perdidos nunca serão recuperados: um animal pode chegar ao ponto de nunca mais poder subir e descer escadas.
Em casos mais avançados, os cães perdem a capacidade de ficar sentados (e quase sempre passam a maior parte do tempo deitados). Alguns chegam a parar totalmente de andar, inclusive para comer e fazer as necessidades.
Esta condição felizmente é rara, no entanto. Apenas quando os cães são negligenciados por períodos muito longos, a displasia de quadril se torna motivo de imobilidade. Uma vez que surjam os primeiros sinais, mesmo discretos, o veterinário deve ser consultado e, se necessário, iniciar o tratamento.
Diagnóstico e tratamento da Displasia de quadril
No consultório, o veterinário ouve os relatos dos tutores, verifica a distração (afastamento da articulação da coxa), simula alguns movimentos e pode identificar eventuais desconfortos na região pélvica e nas pernas.
A manobra de Ortolani é frequentemente adotada pelos veterinários. Ela consiste na flexão dos membros posteriores, seguida de abdução da coxa. Na ocorrência de uma displasia, nota-se o “sinal de Ortolani”, um estalo com som mais ou menos audível.
O diagnóstico definitivo, no entanto, depende de exames de imagem, como radiografias e ressonâncias magnéticas, que confirmam a doença e identificam o estágio das lesões articulares.
A terapêutica mais adequada depende do grau de severidade da displasia de quadril. De qualquer forma, é certo que o veterinário indicará algumas mudanças no estilo de vida dos pets afetados.
O tratamento engloba exercícios físicos supervisionados, alterações na alimentação (especialmente quando o pet está acima do peso ideal) e a troca ou cobertura de pisos escorregadios em casa. Alguns cães podem necessitar de próteses para caminhar sem sentir dor.
Em alguns casos, os cães precisam se submeter a sessões de fisioterapia. O tratamento fortalece a musculatura dos cães e aumenta a massa muscular, o que ajuda a estabilizar a articulação entre o fêmur e o quadril. Muitos cães fazem a fisioterapia em exercícios de natação, que gera menor impacto nos ossos e músculos e reduz a inflamação.
A medicação mais comum são os condroprotetores e anti-inflamatórios esteroides, cuja dosagem depende do grau de avanço da doença, porte do animal, idade, etc. Nos casos muito graves, pode ser necessário um procedimento cirúrgico, inclusive com a retirada dos nervos da região do quadril e da coxa, para reduzir o estado doloroso.
A displasia de quadril não tem cura, mas as dores e limitações do doença podem ser atenuadas com o tratamento. Identificada de forma precoce e com as indicações médicas sendo seguidas, os cães afetados podem viver ainda alguns anos com bastante qualidade.
Alguns tratamentos alternativos vêm sendo adotados ultimamente com bons resultados. É o caso da ozonioterapia e a acupuntura, que melhoram a imunidade, além de apresentar ação analgésica e anti-inflamatória. Ambas as abordagens são administradas em clínicas veterinárias, por profissionais devidamente habilitados.
Aviso importante: O nosso conteúdo tem caráter apenas informativo e nunca deve ser usado para definir diagnósticos ou substituir a consulta com um veterinário. Recomendamos que você consulte um profissional de confiança.