Cocker e cavalier king charles são da família spaniel, desenvolvida para funções de caça.
Os spaniels são velhos conhecidos da humanidade. Como o nome indica, os ancestrais da família procedem da Espanha. Há ilustrações do século 15 de cães muito semelhantes.
O cocker spaniel inglês e o cavalier king charles spaniel têm uma origem comum, na Inglaterra, mas apresentam diferenças significativas e estão classificados em raças distintas e bem caracterizadas nas descrições dos padrões cinológicos.
As duas raças – cavalier king charles e cocker spaniel – foram desenvolvidas na Inglaterra, para a caça de galinhas silvestres (“cocks”, em inglês). É possível que todos os cães atuais descendam de animais levados por Catarina de Aragão, primeira mulher do rei Henrique 8º, que chegou ao país em 1509.
Estes vovôs também deram origem a outras raças: sussex spaniel, field spaniel, water spaniel inglês e irlandês e springer spaniel. Cada localidade e uso (quase sempre, o tipo da caça) deram origem a animais parecidos, mas classificados separadamente.
A função destes cães é identificar, pelo faro, a presença de aves silvestres. No século 16, com a popularização das armas de fogo na Europa, os avós dos atuais spaniels aposentaram as aves de rapinada falcoaria e passaram a “levantar” as aves, para que elas pudessem ser abatidas, no ar, pelos caçadores. A raça cocker spaniel inglês, no entanto, só foi reconhecida oficialmente em 1892.
Ainda hoje, cocker spaniels e cavalier king charles spaniels se caracterizam pelo olfato muito apurado e pela capacidade quase inacreditável de saltar: os cães das duas raças são mestres em fugas espetaculares – verdadeiros Houdini de quatro patas – e também de apropriações indébitas de roupas no varal, petiscos esquecidos sobre a mesa, etc.
O cocker spaniel inglês não é bem visto pelos americanos, que preferem a “versão nacional”, menor e mais tranquila. Uma curiosidade: nestes dois países, não se usa o adjetivo pátrio: para ingleses e americanos, existe apenas o “cocker spaniel” – o deles, naturalmente.
O cavalier king charles spaniel teve mais sorte. Na década de 1920, Roswell Eldridge, um empresário americano, visitando a Grã-Bretanha, deparou-se com cães que ele só tinha visto em obras de arte (o cavalier foi retratado por pintores como Van Dyck e Landseer). Levou de volta para os EUA alguns exemplares, que deram início à linhagem ianque.
As diferenças entre cocker spaniel e cavalier king charles spaniel
Em relação aos seus primos americanos, os cocker spaniels ingleses são sensivelmente maiores. Isto pode ser explicado porque, nos EUA, os criadores priorizaram o desenvolvimento de cães de companhia, enquanto, na Inglaterra, a preferência ainda era por animais de trabalho. Pelo mesmo motivo, os cachorros ingleses são mais longevos, atingindo, em média, 12 anos de idade.
Os cocker spaniels ingleses mantiveram o espírito independente. Eles são mais autônomos no relacionamento com os tutores, podendo passar várias horas sozinhos – estes cães sempre encontram um meio de se distrair.
Os cavalier king charles spaniels foram rapidamente trazidos para dentro de casa. Eles descendem dos cães preferidos pelos reis da dinastia Stuart, que governaram a Escócia e a Inglaterra até 1720. Apesar do espírito caçador primitivo, eles se acostumaram rapidamente à “vida na corte”.
O nome da raça foi herdado de Charles Edward Stuart, que, em 1788, tentou restaurar a dinastia familiar no trono escocês. A tentativa de rebelião não deu certo – o príncipe foi capturado e morto -, mas os cães que o acompanhavam “conquistaram” o Reino Unido, de onde se espalharam para o mundo todo.
No final do século 19, surgiu a moda, na Inglaterra, dos cães de companhia. Os ancestrais do cavalier foram cruzados seletivamente com pugs. O resultado final é um spaniel de menor porte, focinho e orelhas mais curtas e peludas, bem mais dócil e dependente dos tutores.
No Brasil, existem 11 canis especializados na criação do cavalier king charles spaniel. No total, mais de 20 canis se dedicam à criação da raça. Este fato indica que a raça caiu no gosto dos brasileiros: ele é um “cocker menorzinho”, manso, acostumado com a família inteira.
Isto não significa que o cocker spaniel inglês não seja indicado como cão de companhia: atualmente, ele é um dos campeões nos lares de todo o mundo (inclusive aqui). Ele apenas tem mais autonomia, não é um “cachorrinho chiclete”, sempre atrás dos tutores, mas é um excelente companheiro, indicado para crianças, idosos e pessoas que moram sozinhas ou passam a maior parte do tempo fora de casa.
Diferenças no padrão
o padrão oficial das raças caninas é definido pela Fédération Cinologique Internationale e ratificado, com adaptações locais, pela Confederação Brasileira de Cinofilia (CBKC). Trata-se de uma descrição detalhada dos detalhes físicos e comportamentais esperados para os animais de determinada raça. Vamos às diferenças entre o cocker inglês e o cavalier:
• comportamento – o cocker inglês é independente, determinado e impetuoso. O cavalier é dócil, apegado à família e muito alegre. Em comum, as duas raças não são agressivas, mas dificilmente demonstram medo. Estes cães são ágeis, dinâmicos e brincalhões;
• cabeça – o crânio do cavalier é quase plano entre as orelhas. O cocker inglês apresenta o crânio abobadado e bem desenvolvido. O stop do cavalier é menos nítido do que o do cocker inglês. A trufa das duas raças é bem desenvolvida (para favorecer o olfato apurado), sem manchas nem despigmentações. O focinho do cocker inglês é quadrado, enquanto o do seu primo é afilado, sem ser pontudo. As duas raças apresentam mordida em tesoura completa. Os olhos do cavalier são inseridos afastados; os do cocker inglês são profundos, sem serem salientes. As orelhas do cocker inglês são mais compridas e apresentam inserção baixa, ao nível dos olhos; no cavalier, são inseridas altas, em linha com o crânio, com franjas;
• pescoço – é mais musculoso no cocker spaniel. Nenhuma das duas raças apresenta barbelas;
• tronco – o dorso do cavalier é nivelado, enquanto o do cocker inglês apresenta uma descendente leve na direção do quadril. O peito do cavalier é menos profundo, com costelas menos arqueadas. O tronco do cocker inglês forma um quadrado com os membros, enquanto o do cavalier é mais alongado;
• cauda – a inserção é mais baixa no cocker inglês. O cavalier pode ter a cauda cortada (mas visível), o que é também é permitido, mas não recomendado, para o cocker inglês;
• membros – são menores no cavalier, mas em ambas as raças são retos, musculosos e cheios ( o cavalier não é um nanico);
• patas – as patas do cavalier são proporcionalmente grandes e bem franjadas, enquanto o cocker inglês apresenta pés de gato (compactos);
• movimentação – membros anteriores e posteriores se movimentam paralelamente nos cavaliers. Ambos apresentam boa propulsão e cobertura de solo nas corridas;
• pelagem – os pelos do cavalier são longos e sedosos e as franjas são abundantes. Não formam cachos, mas permite-se uma leve ondulação. O trimming (pelos aparados com tesoura) não é permitido e competições e exposições. Os pelos do cocker spaniel são menos abundantes, mas permite-se o uso da franja no tronco, membros anteriores e acima dos jarretes. Nenhuma das duas raças apresenta pelos de arame;
• cores – o cocker inglês pode apresentar cores sólidas (preto, vermelho, fígado, dourado, preto e castanho, fígado e castanho; o branco não é permitido, a não ser uma mancha no peito), tricolores ou ruões (mesclados ou pintalgados). Para o cavalier, permite-se o branco e castanho, preto e castanho (a pelagem mais comum), rubi (vermelho), blenheim (fundo creme e marcações castanhas brilhantes) ou tricolor (preto, branco e castanho apenas na face interna das orelhas, parte interna dos membros ou sob a cauda);
• peso e altura – um cocker inglês macho pesa de 13 a 15 kg. Um cavalier é bem mais leve: entre 5,5 e 8 kg. A altura média na cernelha de um cocker inglês é de 40 cm e do cavalier, de 30 cm;
• faltas – cavaliers e cocker ingleses excessivamente agressivos ou tímidos são desqualificados em competições. Qualquer desvio do padrão é considerado falta.