São parecidos apenas no nome. As diferenças entre buldogue inglês, francês e americano vão do porte ao temperamento.
Os baixinhos buldogues franceses (entre 30 e 35 centímetros) e ingleses (até 38 centímetros), mais populares no Brasil, parecem conquistar os humanos com a sua aparência de bravos e mal-humorados. Já o buldogue americano é mais alto (pode atingir até 68 centímetros de altura na cernelha, mas a maioria não ultrapassa os 58 centímetros).
A cara dos exemplares das três raças, enrugada e achatada (buldogues ingleses, franceses e americanos são cães braquicefálicos) denunciam a origem comum: o bulldog original, conhecido pelo menos desde o século XVI, nas Ilhas Britânicas.
Os ascendentes dos bulldogs
Os primeiros buldogues surgiram na Inglaterra, onde os cães foram desenvolvidos para auxiliar nas tarefas de pastoreio e guarda de gado. Cães da raça se espalharam rapidamente por todo o continente europeu, a ponto de algumas nações terem promulgado legislações específicas para a condução destes “animais ferozes”.
Pode parecer incrível, mas os bonachões buldogues ingleses e americanos descendem de animais que atacavam sem medo tanto predadores, quanto pessoas estranhas. A história do buldogue francês merece ser contada a parte.
Desde muito cedo, os criadores perceberam que os bulldog originais apresentavam especial ferocidade, atacando inclusive touros, quando eles “saíam da linha”. Por isto, os cães da raça foram rapidamente para as rinhas de touros e cachorros (bull baitings), um “esporte” britânico famoso pela crueldade.
Bull baitings começaram a se popularizar no reinado de Anne sobre Inglaterra, Escócia, Irlanda e França (1702-1707). As lutas eram realizadas duas vezes por semana, em Londres, no espaço conhecido como Hockley in The Hole (situado na “City”, a parte velha da capital inglesa). Para espicaçar os touros, os “treinadores” esfregavam pimenta no focinho. Diversas raças de cães “bull” foram desenvolvidas neste período.
Com a proibição formal das lutas pelo Parlamento inglês, em 1835, os buldogs ingleses – os primeiros da lista – se tornaram gradualmente mais dóceis, posteriormente transformando-se em cães de companhia (deixaram o estábulo para ocupar os salões e os sofás).
A preferência europeia pelos cães baixinhos, no entanto, acabou gerando uma série de deficiências físicas, que vem sendo corrigida paulatinamente pelos criadores. Mesmo assim, buldogues franceses e ingleses até hoje manifestam problemas oftalmológicos, ósseos e respiratórios. As cadelas apresentam grandes dificuldades no trabalho de parto.
Excluídos
Nos séculos XVIII e XIX, os criadores de buldogues ingleses rejeitavam os filhotes de pequeno porte: os animais menores eram simplesmente exterminados. Levados à França, porém, alguns exemplares nanicos foram cruzados com cães de algumas raças locais.
As “miniaturas de buldogues” conquistaram as graças dos cidadãos parisienses, apesar da fama de muito fedorentos. Eternizados em pinturas de Edgar Degas e Toulouse-Lautrec, em uma época na qual Paris ditava moda para todo o mundo ocidental, os buldogues franceses começaram a ser criados em diversos países.
Características do Buldogue Inglês (English Bulldog)
De acordo com o padrão da raça, um buldogue inglês pode ser marrom, branco, tigrado e variações destas colorações. A pelagem totalmente preta ou preta com marrom é indesejada, mas não desqualificante.
A expectativa de vida é uma das menores entre as raças caninas: entre oito e dez anos. Os olhos são pequenos, arredondados e muito expressivos, sempre de cores escuras (castanho ou preto).
A pelagem é curta, rente ao corpo, e os cães da raça são inteligentes e apegados aos donos; por isto, necessitam de companhia frequente. Um buldogue inglês elege um único dono entre os membros da família e pode se revelar bastante desobediente com os demais.
O buldogue inglês pode ser criado em qualquer ambiente, mas é ideal para apartamentos. Não é dado a latir, protege crianças e pessoas adoentadas, não pode praticar exercícios físicos em excesso: uma volta no quarteirão é suficiente para deixá-lo ofegante.
Os passeios, no entanto, precisam ser diários, uma vez que o buldogue inglês, maior, mas mais gordinho do que o seu parente francês, apresenta forte tendência à obesidade. Corridas e esportes agitados precisam ficar fora da agenda destes cães. Eles são dorminhocos e também não gostam de calor. Os cuidados de higiene são simples: a grande preocupação está na limpeza das dobras da cara.
Características do Buldogue Francês (French Bulldog)
Os cães da raça podem ter pelagem dourada, creme e branco ou tigrada, sempre curta, áspera e rente ao corpo. A expectativa de vida é de 12 anos, semelhante à observada em outras raças. Buldogues franceses são dóceis com pessoas de todas as idades (inclusive estranhos) e muito companheiros: eles estão no topo dos animais de companhia.
Um buldogue francês exige muita atenção e precisa da presença dos donos. Ele se adapta a pequenos ambientes e também late apenas quando avalia que é extremamente necessário (como a presença de um eventual invasor).
A manutenção dos buldogues franceses é fácil. Os banhos podem ser mensais, mas a higienização das dobras da cara requer frequência maior: ao menos uma vez por semana, secreções e sujidades precisam ser removidas, uma vez que podem gerar feridas e alergias.
Apesar do pequeno porte, o buldogue francês é um cão bastante atlético e requer passeios diários, inclusive para não engordar demais. Cães da raça não suportam calor e também se cansam com facilidade.
O buldogue francês apresenta semelhanças também com o boston terrier. Estes últimos, no entanto, são mais altos (com pernas mais longas) e magros, têm orelhas pequenas, pontudas e moles.
O boston terrier é preto ou marrom, com manchas brancas no focinho, entre os olhos e no antepeito. Outra característica da raça é a agilidade extrema, apesar de os exemplares também sofrerem com problemas respiratórios e oculares.
Características do Buldogue Americano (American Bulldog)
Apesar dos ancestrais comuns, o buldogue americano é um cão mais robusto do que os seus “primos” europeus. Provavelmente, é a raça que mais conservou as características dos cães de luta. Criados a partir do século XIX como cães de trabalho, eles revelam até hoje a valentia, forte senso territorialista e de defesa da família, incluindo humanos e outros animais domésticos. Alguns exemplares chegam a atingir 15 anos de idade.
Na aparência, o buldogue americano pode ser confundido com um pitbull, mas ele é sensivelmente mais dócil. Mesmo assim, pode ser empregado como cão de guarda, proteção e caça. Em comparação com as outras raças, os cães da raça são mais independentes, apesar de nunca recusarem um carinho ou uma brincadeira.
Há duas linhagens de buldogues americanos: Scott e Johnson. Os cães Johnson são mais fortes, com o tórax proeminente. Os Scott são mais adelgaçados, com o peito estreito. Em comum, todos eles apresentam ossatura resistente, pernas curtas e fortes, mandíbula musculosa e cana nasal curta, fato que compromete a respiração e o fôlego dos animais.
Por ser uma raça de médio e grande porte, o buldogue americano não é indicado para pequenos ambientes. A pelagem mais comum é o branco malhado, mas o padrão permite ase seguintes colorações: caramelo, listrados e tigrados.
Um buldogue brasileiro
O buldogue campeiro é descendente dos antigos bulldogs (já extintos). Animais desta espécie foram introduzidos na região Sul do país, provavelmente no século XVII, adaptando-se rapidamente às condições climáticas.
Trata-se de cães de trabalho, empregados na condução e recaptura de bois e porcos. Na década de 1960, alguns exemplares foram levados para a região Centro-Oeste (mais especificamente, em Mato Grosso do Sul). Na década seguinte, principalmente em função da introdução de novas raças, o buldogue campeiro esteve em vias de extinção.