Tutores e cachorros precisam melhorar a comunicação, para garantir uma convivência saudável.
Os cachorros conseguem entender muitas informações que chegam do ambiente e, como eles são extremamente leais e devotados aos tutores, é a partir da comunicação com eles que os peludos adaptam a sua conduta, garantindo uma convivência saudável e divertida.
A comunicação entre humanos e caninos, no entanto, esbarra em algumas limitações. A principal delas é que os cães não possuem uma linguagem articulada. Eles desenvolveram outras formas de “conversar” e, conhecendo as características destas “falas”, os tutores podem eliminar comportamentos inadequados e tornar a parceria ainda mais prazerosa.
01. O reforço positivo
A melhor maneira de adestrar um cachorro é através do reforço positivo. Isto significa apenas estimular as condutas que atendem às regras da casa através de incentivos, que, inicialmente, podem vir na forma de recompensas.
À medida que os cães aprendem a fazer o que se espera deles, os prêmios vão se tornando desnecessários: eles passam a se sentir recompensados com as palavras de incentivo, os carinhos e as manifestações de agrado dos tutores.
E, como os cães sempre querem nos agradar – eles identificam os tutores como líderes do grupo e os demais membros da família como “superiores” –, naturalmente passam a reproduzir os comportamentos incentivados.
Mas uma boa comunicação é fundamental para garantir o melhor na convivência entre humanos e caninos. Alguns cães são independentes e territorialistas, podendo chegar a competir pela liderança da matilha.
A agressividade é um comportamento inadequado, que não deve ser estimulado, assim como a indolência, o ciúme e até o excesso de preguiça. Conhecendo as maneiras como os cães se comunicam, os tutores conseguem chegar à relação perfeita.
02. Reduzir o vocabulário
Como já foi dito, os cachorros não possuem uma linguagem verbal. Com exceção de uma variedade de latidos, ganidos e uivos (bem mais limitada do que a observada nos lobos, aliás), eles não desenvolveram formas complexas de diálogo.
Os peludos são capazes de apreender o significado de uma série de palavras e expressões simples, mas não assimilam o excesso de expressões verbais. Eles compreendem o significado de “sim”, mas é inútil dizer: “não faça isso, porque o papai vai ficar triste”.
Nossos parceiros assimilam muito mais a entonação com que as palavras são ditas. Um comando firme (sem necessidade de gritar) é suficiente para que eles compreendam o que deve ser feito ou não.
Os cachorros também não conseguem identificar algumas sutilezas, da mesma forma que ocorre com as crianças pequenas. Quando dizemos: “Está chovendo canivetes”, uma criança de quatro ou cinco anos provavelmente correrá para a janela, para ver os canivetes caindo (se ela souber o significado da palavra “canivete”, claro).
Certamente, a criança ficará frustrada ao ver que está caindo apenas água do céu. Da mesma forma, ao adestrar um cachorro, é preciso que a comunicação seja coerente. Pode ser divertido oferecer a mão vazia e fechada, dizendo: “Pega a bolinha”, mas quando o peludo perceber que não existe brinquedo nenhum, ficará frustrado ou tentará “reprocessar” o significado da palavra “bolinha”. Se o objetivo é ensinar, e não apenas divertir-se, as enganações e simulações devem ser evitadas.
03. Entender a linguagem corporal
Por outro lado, os cachorros são mestres quando se trata de comunicar-se através do corpo – e isto vai muito além de abanar o rabo quando está contente, apesar de o rabo ser um instrumento importante na comunicação.
Os cachorros demonstram uma série de condições emocionais por meio do corpo. Por exemplo, quando eles se sentem desconfortáveis, os cães emitem uma série de sinais antes de atacar ou fugir (a reação depende da situação e do temperamento do animal).
Quando o peludo está atento, por exemplo, ele mantém as orelhas eretas (nos animais de orelhas caídas, a raiz fica um pouco elevada), o rabo fica nivelado com a linha superior do dorso, a boca fica fechada e as pernas dianteiras se apoiam na ponta dos dedos.
Isto pode acontecer quando existe um perigo real, quando um membro da família está se aproximando, quando o tutor deu um comando, mas o cachorro ainda está “decifrando o código” e em diversas outras situações.
Quando tudo em volta está tranquilo, o cachorro pode se deitar, mas isto nem sempre acontece. Mesmo assim, é possível identificar a condição através da boca semiaberta (com os cantos relaxados), as orelhas em posição normal ou levemente inclinadas para trás e a cauda portada abaixo do dorso.
Quando eles estão prestes a atacar (vale lembrar: os cães são predadores), o corpo dá sinais evidentes: o rabo fica rígido e é portado acima do dorso, os pelos do dorso se arrepiam, as orelhas e os cantos da boca se projetam para a frente e o corpo todo se apoia na ponta dos dedos.
Mas, quando se trata apenas de uma ameaça defensiva (com a aproximação de uma moto barulhenta, por exemplo), os sinais são tênues. A cauda fica baixa (às vezes, entre as pernas traseiras), o focinho fica franzido, os pelos, levemente arrepiados.
É importante lembrar que, quando apresenta esta forma de linguagem corporal, existe o risco real de o cachorro atacar, apenas para se defender de um perigo que ele considera real (e muitas vezes é).
04. Entender o significado das vocalizações
Apesar de a linguagem corporal ser a principal ferramenta da comunicação canina, os peludos também são capazes de “falar” através de uma série de vocalizações. Em geral, eles combinam as duas formas.
As vocalizações caninas são bem mais limitadas do que as observadas nos lobos. Provavelmente, ao longo dos milênios de convivência, os humanos deram preferência aos cachorros mais silenciosos, seja porque são mais eficazes no ataque, seja porque não atrapalham o sossego da casa.
Um latido firme, alto e cadenciado é um sinal para alertar sobre um perigo iminente, como a presença de estranhos. Mas esta vocalização pode indicar alguma vontade ou necessidade: se o mesmo latido é acompanhado de olhares insistentes para as tigelas, o peludo pode simplesmente estar dizendo que está com fome ou sede.
Os latidos insistentes, com variações na intensidade e frequência, quase sempre indicam que o cachorro está entediado. Quase sempre, isto acontece quando eles são deixados sozinhos por longos períodos, sem nada interessante para fazer. Mas, dependendo do pique do cachorro, ele pode estar informando que os exercícios físicos estão sendo insuficientes e precisam ser intensificados.
Ganidos e uivos são sinais de dor, incômodo ou desconforto, especialmente quando associados a outros sinais, como sensibilidade ao toque ou a busca de esconderijos. Os mesmos sons, no entanto, podem indicar que o cachorro não está gostando da brincadeira.
05. Conversar “olho no olho”
Não é preciso ser um mestre em linguagem canina para estabelecer bons canais de comunicação com os peludos. Na maioria dos casos, basta que a linguagem seja simples, concisa e bem articulada, especialmente no início do treinamento.
Uma forma importante de conversar com os cachorros é olhar nos olhos. Para acostumar o peludo – os cães não costumam se sentir confortáveis quando são observados com muita atenção e insistência – o segredo é estabelecer o contato visual em momentos de relaxamento e descontração.
Desta forma, os cães associarão o olhar ao relaxamento e a um “dolce far niente” ao lado dos tutores. Estudo da Universidade de Kyoto, no Japão (2015) indica que a comunicação “olho no olho” estimula a produção de ocitocina.
Produzida pelo hipotálamo e armazenada na hipófise, a função primordial da ocitocina é promover as contrações uterinas no trabalho de parto, reduzir o sangramento e estimular a produção do leite materno.
Com o tempo, a ocitocina passou a ser liberada para desenvolver o apego e a empatia entre pessoas e animais de estimação, conferindo sensações de prazer e bem-estar. É este hormônio que é liberado durante as trocas de olhares, aumentando a sensação de conforto e melhorando o relacionamento entre tutores e cachorros.
06. Associar gestos a atividades
Esta é talvez a melhor maneira de comunicação entre humanos e cães. Especialmente útil durante os treinamentos básicos iniciais, ela também é importante para reforçar o aprendizado e fortalecer os vínculos dos pets com os tutores.
Associar gestos a atividades é mais importante do que se pode imaginar inicialmente. Qualquer pessoa que conviva com um cachorro sabe que ele fica excitado e estimulado quando vê o tutor pegando a coleira: é um sinal de que está na hora do passeio.
Conversar com o cachorro nestes momentos amplia a capacidade de entendimento. Portanto, pegar a coleira e dizer: “está na hora da nossa caminhada” torna a informação mais concreta e predispõe o organismo canino para a atividade.
Com o tempo e a previsibilidade, os peludos aumentam a produção de endorfinas, que ajudam a tensionar músculos e articulações, antecipando o trabalho do corpo. Vale o mesmo para brincadeiras mais intensas (como cabo-de-guerra, por exemplo). Uma vocalização simples – uma espécie de código entre o tutor e o cachorro – prepara o organismo para o esforço e melhora as respostas.
07. Estudar o cachorro
Apesar de todos, desde o lulu da Pomerânia até o bloodhound, pertencerem à mesma espécie – Canis lupus familiaris –, cada cachorro apresenta temperamento e personalidade próprias. As dicas são úteis para tornar a convivência e a comunicação mais eficientes, mas o melhor é entender o cachorro.
Cada um deles tem vontades, desejos e necessidades, assim como medos e desconfortos individuais. Os cachorros respondem de maneiras diversas – isto ocorre não apenas em função da herança genética, mas também do aprendizado e dos estímulos do ambiente.
Em outras palavras, cada cachorro é um ser único, que reage ao mundo de forma diferente. No dia a dia, os tutores conseguem identificar estas particularidades. Corrigir defeitos e satisfazer pequenas vontades transforma o relacionamento, tornando-o ainda mais prazeroso.