Além dos latidos, os cachorros falam com gestos. Entenda a linguagem corporal dos pets.
Os cachorros conseguem compreender boa parte dos nossos sentimentos e emoções. Eles não falam com uma linguagem oral articulada, mas conseguem se comunicar através da linguagem corporal. É importante que os tutores consigam “traduzir este idioma”.
Todos os animais possuem uma linguagem própria. Além das vocalizações – do canto de um sabiá ao urro de um urso pardo –, eles conseguem se comunicar através das posturas e gestos. Os cachorros, porém, foram um pouco além.
Os cachorros não falam, mas usam o corpo inteiro para se comunicar – da ponta das orelhas à extremidade da cauda. Tutores e cães quase sempre se dão bem, inclusive construindo um vocabulário especial baseado em gestos e olhares.
Algumas formas de linguagem corporal, no entanto, são comuns a todos os caninos. O balançar da cauda, sempre associado à alegria, pode ter outros significados:
• o movimento amplo e ritmado realmente indica que o cão está feliz, pronto para interagir, interessado nas atividades propostas;
• um movimento menos agitado, mas ainda ritmado, apesar de horizontal, mostra que o cachorro está em posição neutra ou está confuso sobre o que está sendo proposto;
• a cauda ereta, com movimentos concentrados na extremidade, é sinal de confiança, porque o cachorro confia nos parceiros ou porque ele sabe que pode controlar a situação;
• quando o rabo está rígido, com os pelos eriçados, estremecendo (mais do que balançando), o cachorro está muito irritado e incomodado. Se as pernas estiverem retesadas e as orelhas, em riste, ele está pronto para atacar.
Evolução
Em 15 mil anos de convivência, os cães aprenderam bastante sobre os humanos – e vice-versa. Eles chegaram a incluir alguns gestos no seu repertório, como o franzir da testa e o levantar das orelhas.
Os nossos parentes primatas também são especialistas em caras e bocas, mas os cachorros conseguiram superá-los. Chimpanzés, gorilas e orangotangos alteram a fisionomia para demonstrar alegria, raiva, medo, tristeza, dúvida, etc.
Os cães fazem tudo isso e ainda tentam reproduzir alguns gestos dos tutores. Trata-se de uma característica da espécie: os lobos também revelam sensações e emoções com o rosto e a postura corporal. Os cachorros tornaram a comunicação mais complexa, justamente para entender os humanos – e “falar” conosco.
A linguagem corporal dos cachorros
Se os cães desenvolveram um repertório sofisticado de gestos e atitudes para se comunicarem, os humanos – e os tutores, em especial – precisam aprender essa linguagem, para evitar “ruídos” na comunicação.
Muitas duplas de peludos e tutores não conseguem viver em harmonia porque os humanos não conseguem ler as atitudes dos cachorros. É preciso entender o que eles têm a dizer. Afinal, cães são seres sencientes: eles descobrem o mundo ao seu redor através dos sentidos.
Conhecendo a linguagem corporal dos cachorros, os tutores podem proporcionar mais qualidade de vida aos pets, entendendo as necessidades e desejos dos peludos, definindo limites e estabelecendo as condições para as recompensas e prêmios.
Os sinais
A linguagem corporal pode variar de indivíduo para indivíduo, inclusive com a adoção de expressões específicas para a vida cotidiana. Contudo, em geral, os sinais emitidos pelos cachorros são os seguintes.
• Atenção, alerta – pavilhão auditivo totalmente aberto, orelhas voltadas para frente, cauda ereta, alinhada com a coluna vertebral. Sinais de alerta surgem em resposta a algum estímulo desconhecido, que pode ser a percepção de um ruído ou de um movimento.
Os alertas podem ser relaxados imediatamente, mas quase sempre eles precedem outro comportamento, que pode ser de excitação, medo ou tendência à agressividade. É importante que os tutores também estejam atentos, porque muitas vezes os ruídos e aromas podem ser imperceptíveis para os nossos sentidos.
• Interação – o melhor momento do dia, para cães e tutores, é a brincadeira da dupla. Os cães se preparam para isso: eles assumem a posição de atenção e alerta e, em seguida, dobram as pernas dianteiras, enquanto mantêm o olhar fixo no tutor. Esta posição também podem indicar que o cachorro está tentando deixar o interlocutor mais tranquilo.
É possível que eles também latam e abanem a cauda nesses momentos. A excitação máxima surge alguns instantes antes da brincadeira em si. Eles permanecem quase imóveis, um pouco arfantes, esperando os comandos que eles já conhecem. A interação é fundamental para o equilíbrio emocional e a qualidade de vida, uma vez que, mesmo por poucos minutos, ela garante a produção de endorfinas relacionadas ao prazer e à satisfação.
• Neutralidade e relaxamento – cauda relaxada (um pouco abaixo da garupa), orelhas em posição normal ou um pouco retraídas para trás. Nesta posição, os cães indicam que estão tranquilos, que não há nenhuma emergência a ser controlada.
Os cachorros assumem esta posição também depois de uma atividade física intensa (que varia de animal para animal). Neste caso, a posição indica satisfação com os resultados ou segurança em relação ao ambiente. Os peludos estão alegres, mas não estão excitados.
• Posição de ameaça ofensiva – cauda ereta e erguida acima da linha da coluna vertebral (nos cães com cauda de bandeira, ela pode estar enrolada sobre o dorso), pelos do pescoço e do lombo eriçados, focinho franzido, orelhas para frente, pavilhão auditivo aberto, pernas tensionadas e rígidas. A posição indica que o cão percebeu uma agressão e está pronto para revidar.
Cachorros em posição de defesa mostram-se maiores do que realmente são. O corpo está informando ao possível agressor que eles são “páreos duros”. Os cães quase sempre preferem convencer possíveis adversários a desistirem da briga, apesar de serem dotados fisicamente para os combates.
• Posição de ameaça defensiva – cauda entre as pernas traseiras, pelos arrepiados, focinho franzido, pupilas dilatadas, orelhas para trás, pernas levemente dobradas. Neste caso, apesar de estar preparado para se defender, o medo é o sentimento predominante.
Nesta posição, o cachorro indica que está se preparando e só irá atacar se não houver outra possibilidade (se ele for encurralado, por exemplo). É uma posição submissa, mas que pode se transformar rapidamente em agressão e violência.
• Submissão ativa – corpo rebaixado e encurvado, cauda baixa, orelhas para trás, movimentos rastejantes. Esta posição indica que o cachorro reconhece a dominância de outro cachorro (eventualmente, de um membro humano da família).
Em muitos casos, o cão, nessas condições, procura lamber a boca do agressor, mas nunca estabelece contato visual (recusa-se a olhar diretamente). Ele está tentando se livrar de uma situação que entende ser desvantajosa. Nas relações com humanos, os cães repetem esta linguagem depois que levam uma bronca, mesmo sem a presença de ameaça física iminente.
• Submissão passiva – barriga para cima, cauda entre as pernas, cabeça virada para um lado. A postura indica submissão total em relação a um animal dominante (que pode ser o tutor), mas é adotada apenas no bando.
É uma atitude frequentemente observada nas alcateias. Lobos e cães, mesmo sabendo que precisam demonstrar submissão, confiam nos demais membros do grupo – do contrário, não deixariam o abdômen exposto. Em casa, muitos cães podem assumir a postura para deixar de fazer alguma coisa (um exercício, por exemplo).
Posturas corporais indicativas de submissão poderiam ser consideradas, entre nós, como vergonhosas e humilhantes. Os cachorros, no entanto, não vêem nenhum problema nisso, apesar de muitos deles não avaliarem corretamente os riscos a que se expõem.
É interessante que eles conseguiram adaptar esta linguagem corporal para obter alguns benefícios. Ao se colocarem com a barriga para cima, indicando que querem uma trégua, os cachorros quase sempre ganham um afago, um petisco ou uma palavra carinhosa.
Sinais de calma
Este é um termo cunhado pelo adestrador norueguês Tund Rugaas para descrever a linguagem corporal usada pelos cães na comunicação com outros animais da espécie – e, por extensão, com os humanos. De acordo com Rugaas, os sinais de calma – mais de 30 – são universais, mas cada indivíduo apresenta um repertório próprio.
Estas formas de linguagem corporal são essencialmente respostas a alguns estímulos do ambiente. Os cães usam estes sinais para manter o equilíbrio do grupo. Apesar de serem chamados de sinais de calma, eles também podem sinalizar estresse, incômodo ou excitação excessiva.
Os cachorros sabem intuitivamente que, nestes casos, o melhor a fazer é relaxar. Ao reduzir a excitação, eles reforçam a sensação de confiança para o grupo. É como se dissessem: “vamos com calma, não é preciso se preocupar tanto”. Estes sinais também surgem na presença de estranhos, significando que os cães não se sentem confortáveis com a presença do forasteiro, mas ainda estão avaliando se há motivos reais para uma ação ou reação.
• Bocejo – é o primeiro sinal de calma aprendido pelos cachorros e não deve ser confundido com sono. Ele indica incômodo ou estresse, sempre provocado por um estímulo externo. É o caso, por exemplo, do que ocorre com um filhote que é pego no colo.
Apesar de, para nós, esse ser um gesto de carinho, para os cachorrinhos é uma situação estafante. Sem aviso prévio, eles são arrebatados do aconchego da mãe e dos irmãozinhos, erguidos em pleno ar e recolhidos a um ser estranho, de quem nada sabem.
• Desvio de olhos – os cachorros tentam o contato visual quando querem obter alguma coisa ou quando precisam da aceitação dos tutores (ou do alfa da matilha). Filhotes chegam a encarar os tutores fixamente enquanto fazem as suas necessidades, na esperança de obter a aprovação para o gesto.
Quando desviam o olhar, os cachorros indicam que estão incomodados. É comum observar este desvio quando um estranho se debruça sobre um cãozinho pequeno, que, naturalmente, não tem condições de avaliar os motivos da invasão de privacidade, que pode prenunciar um ataque.
• Lambidas no focinho – quando o gesto se repete de forma excessiva, isso indica que o cachorro está se sentindo incomodado e estressado. Evidentemente, os cães também lambem o focinho para enxugá-lo: é a repetição que demonstra a irritação crescente.
Cachorros têm momentos de isolamento. Por exemplo, quando estão muito ocupados tentando destruir um bicho de pelúcia ou abrir um brinquedo recheado com petiscos. Ao lamberem o focinho repetidamente nesses momentos, eles estão dizendo: “estou ocupado, não me irrite”.
As lambidas podem prenunciar uma agressão, mas a violência canina quase sempre é reprimida pelos tutores. Desta forma, eles podem renunciar a “fazer justiça”, mas apenas estarão reprimindo a raiva ou o medo. O ideal é deixá-los em paz nesses momentos, inclusive para garantir o equilíbrio emocional dos pets.
As lambidas são mais comuns entre os cachorros de pelagem escura e aqueles com focinho achatado ou que apresentam pelos longos no rosto. Elas são uma adaptação evolutiva: as expressões fisionômicas dos cães de pelos claros e focinho alongado são mais visíveis; as raças que divergiram dessas características precisaram encontrar outro meio de comunicação.
• A rosnada – lábios retesados, dentes à mostra, pupilas dilatadas, salivação excessiva e orelhas para trás acompanham as rosnadas. Estes são os últimos sinais de que o cachorro está com raiva e prestes a atacar. Para os cães, rosnar é o equivalente a dizer: “saia daqui, ou você vai se machucar”.
Alguns cachorros são estimulados desde pequenos a exibir sinais inequívocos de agressividade. Em geral, os cães são tranquilos e dóceis, mas podem ser incentivados a revelar as características selvagens de seus ancestrais.
Quando um cachorro rosna para o tutor (ou outro membro da família), ele precisa ser reeducado, para entender que não precisa ser agressivo e que o alfa da matilha não é ele. Isso leva tempo, mas não é impossível. O ideal, no entanto, é educar os filhotes para não serem violentos.
• Garupa levantada – algumas raças caninas possuem a garupa naturalmente elevada, acima da linha da coluna vertebral. É o caso, por exemplo, do rough collie. De qualquer forma, elevar as ancas é uma demonstração de boa vontade.
Os cachorros, quando querem fazer novas amizades, exibem esta postura. Apesar de a visão ser um pouco assustadora, especialmente quando o gesto é feito por um grandão, como um rottweiler ou um mastim napolitano, é apenas um convite para a brincadeira. É importante ficar atento, porque cães de grande porte podem derrubar crianças e mesmo alguns adultos.
Outros sinais de calma, comuns quando estranhos se aproximam e os cães não têm certeza das intenções dos recém-chegados (e, por isso, ficam sem tomar uma reação imediata), são os seguintes:
- farejadas no chão;
- rotação da cabeça;
- braços estendidos para frente e peito encostado no solo ( chamado toque de arco);
- caminhadas lentas (aprendidas durante as caçadas, quando é necessário investigar o ambiente e avaliar os riscos);
- imobilização (também um movimento de caça, para sinalizar a presença de uma presa).
Os cachorros também podem sentar-se de costas para o tutor (ou para outro cachorro) quando querem acalmar o interlocutor. Eles assumem esta posição quando vêem algo ou alguém se aproximando muito rapidamente – ou quando o tutor parece zangado.
As caminhadas em curva sinalizam que o cachorro está observando o ambiente, antes de decidir o que fazer. Esta andadura é usada quando um cão estranho se aproxima e ainda não é possível determinar se o estranho é amigável ou hostil.