Ensinar alguns comandos é útil para a convivência. Confira nossas dicas para adestrar cachorros.
O adestramento de cachorros é – ou deveria ser – uma das primeiras preocupações de quem decide adotar um pet. Afinal, trazer um cão para casa é um compromisso de longo prazo e ter a companhia de um cachorro dócil e obediente é prazeroso e agradável.
Com algumas dicas simples, é possível tornar o convívio com os cachorros mais equilibrado e saudável, melhorando o relacionamento entre tutor e pet. Para o adestramento de cachorros com o objetivo de participar de mostras e competições, o ideal é contratar um profissional experiente, mas, para o dia a dia, é possível transformar o cãozinho em um animal elegante, obediente, seguro e centrado.
O jeito certo de adestramento de cachorros
Durante muito tempo, acreditou-se que os castigos físicos eram a melhor maneira de ensinar truques e comandos para os animais. Esta era a técnica empregada nos circos e centros de exposição – hoje, no Brasil, a legislação proíbe a apresentação de animais domésticos, selvagens e exóticos em shows comerciais.
O jeito certo de educar os cachorros é o método positivo, para reforçar as condutas adequadas e também garantir o bem-estar físico e emocional dos pets (e dos tutores). Desta maneiras, maus tratos e gritos ficam de fora nas sessões de adestramento.
Os animais de estimação também precisam de regularidade no adestramento. Não é possível que hoje uma atitude qualquer, como dormir no sofá, seja permitida e no dia seguinte, seja reprimida ou punida.
Os tutores igualmente devem se armar de muita paciência. Muitas condutas que os humanos esperam dos pets simplesmente não fazem nenhum sentido para eles. Os cachorros acabam por aprender e acatar as ordens, mas é preciso um tempinho de adaptação.
As ambiguidades precisam ser mantidas fora do adestramento, que, como aprendizado básico, precisa ser encarado como uma atividade cotidiana. Quem se diverte com um cachorro se esforçando para alcançar um petisco sobre a mesa não pode esperar que ele não roube guloseimas sempre que houver oportunidade.
Da mesma forma, alguns exercícios estimulam a agressividade e a violência. Obrigar o cachorro a carregar pesos excessivos, a se dependurar em uma barra ou pneu velho, a avançar sobre estranhos (mesmo que uma cerca impeça a agressão) são atitudes que serão encarados pelos cães como um estímulo para o ataque.
Os cachorros apresentam uma série de características. Eles são fiéis, amigáveis e sociáveis, mas também são territorialistas e agressivos na defesa da matilha. Cães de companhia não precisam ter os estímulos de ataque e controle incentivados.
Ao adestrar cachorros, é preciso ter em mente que eles apresentam raciocínio semelhante ao de crianças pequenas. Não adianta reprimir um gesto feito horas antes (por exemplo, dar bronca porque o pet destruiu uma almofada durante uma ausência prolongada). Da mesma forma, não adianta nada oferecer uma recompensa dez minutos depois de o cachorro ter reagido da forma esperada. Os pets não associarão a reprimenda ou o prêmio com um fato muito deslocado no tempo.
O adestramento de cachorros
Ensinar alguns truques simples não é apenas um passatempo, apesar de ser muito prazeroso quando um cachorro busca uma bolinha ou outro objeto e o traz docilmente de volta para a mão do tutor.
Várias coisas estão em jogo nesta brincadeira aparentemente simples:
- o reforço dos elos entre pet e tutor;
- a submissão e a obediência;
- a regularidade expressa nas brincadeiras.
Os cachorros se sentirão mais próximos aos tutores, entenderão que não devem se apropriar da bolinha (mesmo que, em outros momentos, o objeto esteja à disposição para ser investigado, explorado e, em algumas situações, destruído) e verão no tutor o líder da matilha – provedor, defensor, amigo e chefe.
Da mesma forma que ocorre em uma sala de aula, o tutor é o adulto responsável e os cachorros, os alunos. Adote uma postura firme, mas não agressiva. Durante o aprendizado, você deve impor-se ao pet. Faça-o sentar-se em frente a você, olhando-o nos olhos.
Repita os comandos quantas vezes seja necessário. Um aprendizado simples, como resgatar uma bolinha ou graveto, dar a pata ou seguir um percursos demarcado, demanda cerca de dez dias de adestramento.
Saltar um obstáculo, manter-se sobre as pernas traseiras, descobrir o “segredo” para abrir uma garrafa pet cheia de ração, são atividades mais complexas, que requerem três ou quatro semanas e dependem da confiança do cachorro: ele precisa sentir-se seguro para atender aos comandos.
Alguns cachorros, geralmente os mais dóceis, conseguem compreender mais rapidamente o que o tutor espera deles; outros são simplesmente mais independentes e teimosos, pouco dispostos a obedecer. A persistência é a chave para obter bons resultados.
Tome cuidado para não comprometer a segurança e a integridade física dos pets com riscos desnecessários. Ver um filhote escorregando em um gramado inclinado ou em um piso ensaboado pode até ser divertido, mas expor o animal a uma situação dessas é perigoso e fica muito próximo de uma sessão de tortura, o que é péssimo para o aprendizado (e para o relacionamento).
01. As recompensas
Até certo ponto, os cachorros também são utilitaristas. Isto significa que eles querem saber qual a vantagem que terão ao fazer determinado ato ou gesto. Por isso, as recompensas são excelentes auxiliares do adestramento.
Inicialmente, use petiscos, sempre de acordo com as preferências dos pets. Alguns gostam de comer cenoura; então, equipe-se com pedaços de cenoura nas sessões de adestramento. Outros preferem bifinhos (tiras de couro encontradas em pet shops) ou até pedaços de carne (que devem ser cozidos em água, sem sal nem óleo vegetal).
Os prêmios físicos, no entanto, não são tão importantes. Os cachorros certamente associam a recompensa à atitude correta (dar a pata, ficar ao lado, parar, saltar um obstáculo, etc.). mesmo assim, ela pode ser dispensada depois de alguns dias de treino, quando a ação se torna parte do repertório dos cachorros.
As principais recompensas paras os cachorros são os agrados, carinhos e palavras afetuosas. Lembre-se disso nos momentos de adestramento. Os pets devem ser estimulados a cumprir as ordens e elogiados quando finalmente executam os comandos.
02. O momento
Qualquer aprendizado requer um momento e um lugar adequados. Não se ensina um cachorro a manter o foco durante um passeio por uma avenida barulhenta, lotada de carros e pedestres. Escolha um momento do dia para o adestramento do seu cachorro: todos os dias, no fim da tarde, é o momento das aulas.
Delimite o “campo de treinamento”, que deve ser adequado ao porte do pet. Um chihuahua pode ser adestrado em cima do sofá, mas um dogue alemão precisa de um quintal amplo. Elimine as possíveis distrações. O adestramento não terá bons resultados se for feito ao lado de crianças brincando, pessoas cruzando o local a todo momento, sons inesperados, etc.
Tenha sempre à mão uma recompensa para dar ao cachorro a cada acerto, para oferecê-la imediatamente. Mantenha os prêmios escondidos. O faro dos nossos pets provavelmente localizaria rapidamente os petiscos, mas, no momento do adestramento, eles estão excitados demais com a “brincadeira” para se ocupar com outras coisas.
Faça sessões curtas, sempre respeitando as condições físicas do cachorro. Cães de algumas raças (como husky siberiano e whippet) são incansáveis, especialmente quando filhotes, mas os buldogues e boxers, por exemplo, precisam de intervalos para recuperar o fôlego.
Além disso, a “hora de parar” deve fazer parte do adestramento. Mesmo cansados, os cachorros certamente irão querer continuar com as atividades: eles estão partilhando com o tutor, estão desenvolvendo o raciocínio, estão superando desafios.
Se dependesse apenas dos pets, as sessões de adestramento ocupariam o dia inteiro. Por isso, o encerramento deve ser encarado como mais uma etapa do treino de obediência: eles precisam saber parar.
Reduza a intensidade do exercício. Por exemplo, se a aula é de ir buscar o graveto, nos instantes finais, troque a atividade por empurrar um objeto com o focinho até a mão do tutor, sentado ou até deitado. A relação entre fim da atividade e descanso será facilmente assimilada pelo cachorro.
03. A repetição
Toda ação que os tutores querem reforçar nos cachorros precisa ser repetida várias vezes. Para que os cachorros entrem na brincadeira, é preciso que a situação seja divertida e interessante. Inicialmente, os gestos “certos” poderão ser recompensados com um petisco, mas, depois de algumas repetições, os cachorros farão o esperado apenas por prazer e subordinação aos tutores.
“Vem” é a forma de ensinar o cachorro a se aproximar quando é chamado pelo nome. Desta forma, o comando “vem, Rex” deve ser ensinado não apenas para que o pet venha para onde está o tutor, mas também para que ele atenda quando seu nome é citado.
É o comando mais simples e rápido: coloque o petisco entre os seus pés e repita o comando. Ele se aproximará apenas para comer a recompensa, mas a repetição é a chave do sucesso. Quando ele chegar perto, ofereça o prêmio, que já está disponível no chão, com um carinho. Nas semanas seguintes, ele obedecerá sem necessidade do prêmio.
Para ensinar o cachorro a sentar-se (e outros comandos simples), siga as seguintes etapas:
- coloque o pet à sua frente e faça-o aquietar-se com comandos de voz;
- mostre a recompensa, aproxime-a do focinho e retire-a em seguida;
- pressione a garupa do pet, segurando o peito, para que ele entenda o que fazer;
- se necessário, movimente o prêmio em torno da cabeça do cachorro, para saber que a recompensa está disponível (e acessível);
- repita a ordem (“senta!”) tantas vezes quantas sejam necessárias. Quando o pet se sentar sem necessidade de pressionar a garupa, dê o petisco, sempre acompanhado por agrados e palavras de estímulo.
Nunca entregue a recompensa sem que o cachorro tenha merecido. Repita o exercício várias vezes nos dias seguintes e, uma vez que o pet tenha assimilado o comando, use-o nas situações do cotidiano (passeios, banho, brincadeiras, etc.).
Para deitar-se, o processo de adestramento se repete. Use a mão fechada – a mesma em que o pet viu o prêmio – para atrair a atenção. Deslize a mão até o chão e o cachorro provavelmente a seguirá. Quando ele se deitar (após uma série de tentativas), entregue as recompensas.
As palavras relacionadas aos comandos precisam ser simples e claras, preferencialmente não usadas em outras situações. Os tutores/ adestradores devem começar com “sim” e “não” e ampliar o repertório vocabular com “senta”, “fica”, “ao lado”, etc. São palavras-chave, que podem ser inventadas pelo tutor, criando um vocabulário próprio.
“Ficar” é um processo mais sofisticado. Depois que o cachorro aprender a se sentar, acione este comando e repita “fica”. Permaneça ao lado, também imóvel. Nas sessões seguintes, afaste-se pouco a pouco (a distância precisa ser ampliada com o tempo de treinamento), sempre repetindo a palavra-chave. Em alguns dias, o pet entenderá a atitude que se espera dele.
Este exercício é uma forma de autocontrole. Por isso, os cachorros ansiosos costumam demorar mais tempo para assimilar o comando. Durante o adestramento, certifique-se de que o local seja seguro e sem interrupções. Não é possível ensinar o cachorro a “ficar” em meio a estrondos e muito movimento – esta é exatamente a segunda etapa.
Muitas etapas do adestramento só se tornam efetivas em ambientes públicos. Aproveite os passeios diários para conhecer as tendências do seu cachorro, estimulá-las, aprimorá-las ou coibi-las, se for o caso.
Cachorros tímidos podem ser incentivados à sociabilização ao frequentarem parques e praças cheios de humanos e cachorros. Repita sempre os comandos ensinados em casa (“senta”, “fica”, “para”, etc.) e fique atento para as reações.
Verifique o estresse que o pet demonstra. As primeiras caminhadas no meio de pessoas estranhas podem causar ansiedade, timidez e medo, mas também aflorar as características agressivas. Se o cachorro estiver bocejando continuamente, lambendo a trufa ou eriçando o pelo, tranquilize-o, faça-o relaxar ou adie o treinamento.
Quanto maior a exposição aos espaços públicos, maior será a familiaridade dos pets com situações inusitadas, como pessoas correndo, disparo de alarmes, buzinas. Se ele não está acostumado com crianças, não espere que ele repita os truques para os pequenos que encontrar pelas ruas.
Os cachorros estão sempre explorando o espaço. Ao perceberem um bando de crianças se aproximando, mantenha a guia curta e observe as reações. Não desanime caso o pet reaja de maneira inadequada.
Com o tempo e a maior familiaridade com as “circunstâncias da rua”, é possível dar mais espaço com a guia e até soltar o pet em uma praça, desde que não haja rotas de fuga. Antes de soltá-lo, chame-o pelo nome várias vezes e recompense-o quando ele se aproximar.
Nos dias seguintes, ele se tornará cada vez mais seguro, ao entender que a “invasão de pigmeus barulhentos” não é um risco. De acordo com o temperamento, em poucas semanas, ele poderá aceitar afagos das crianças e de outras pessoas estranhas, ou simplesmente manterá uma distância segura. Não tente altera a personalidade do seu cachorro.