Cachorros podem ter uma vida de qualidade com alimentação saudável. Confira algumas dicas.
Nas últimas décadas, os cachorros têm vivido mais. As preocupações dos tutores e os avanços da Medicina Veterinária vêm garantindo que a nossa parceria se prolongue por mais alguns anos. Mas, além de viverem mais, é nosso dever garantir que os pets também vivam melhor, e uma alimentação saudável pode fazer a diferença.
Os peludos não escolhem o que vão comer: eles comem o que os tutores oferecem no dia a dia. Cabe a nós decidir o que colocar nos comedouros: porcarias pouco nutritivas e até mesmo prejudiciais, ou garantir uma alimentação saudável para os cachorros.
Os erros na alimentação
Nas últimas décadas, também, aumentou vertiginosamente a oferta de alimentos pouco saudáveis para os humanos. Existe uma oferta quase infinita de congelados, embutidos, fast food, ultraprocessados, além de salgadinhos e guloseimas industrializados que não são nem um pouco saudáveis.
A alimentação inadequada, ao lado do sedentarismo, é o principal erro do nosso estilo de vida atual, que compromete a saúde, a longevidade e a qualidade de vida. Com a proximidade, acabamos prejudicando também os pets: cachorros e gatos comem mal, comem demais e comem errado.
As rações
Não há nada de errado em oferecer rações industrializadas para os cachorros. Existem produtos de qualidade, fabricados com ingredientes selecionados e rígidas normas de segurança alimentar, que fornecem todos os nutrientes para os cachorros.
Algumas marcas de ração permitem optar por alimentos para filhotes, adultos, idosos, portadores de doenças crônicas (como diabetes, pancreatite ou insuficiência renal), castrados e sexualmente ativos, etc.
Além disso, muitos petiscos são elaborados de maneira saudável e são muito úteis inclusive para o treinamento dos cachorros – tanto dos filhotes, quanto dos adultos. O único problema nos bifinhos e assemelhados é a quantidade: eles devem ser encarados como premiações, para momentos especiais, e não como rotina alimentar.
Os tutores que optam por oferecer rações industrializadas para os cachorros precisam ficar atentos. Os melhores produtos recebem a classificação de “premium” ou “super premium”. Eles são mais caros, mas são alimentos completos.
Adquirindo estes produtos, os tutores não precisam se preocupar com suplementos nutricionais, a menos que o veterinário identifique, nas consultas de rotina, carências específicas e receite a complementação (com ferro ou cálcio, por exemplo).
Existem também as rações rotuladas como “standard”. É preciso ficar muito atento, porque estes produtos podem não suprir todas as necessidades dos pets. Além disso, a maioria é fabricada com farelo de soja e outros cereais, que podem comprometer a saúde, especialmente de cães alérgicos ou intolerantes do glúten.
Por fim, existe a opção das rações econômicas. Elas são muito mais baratas, mas também apresentam má qualidade nutricional. Parte delas é processada com proteínas vegetais, que são menos aproveitadas pelo organismo canino e quase sempre precisam ser complementadas com caldos, extratos, etc.
Algumas pet shops oferecem, por preços acessíveis à maioria da população, pacotes fracionados de grandes marcas, reconhecidas pela qualidade de seus produtos. Nestes casos, o problema é o manuseio dos alimentos: não é possível saber se as rações ficaram expostas por muito tempo (comprometendo o aroma e a crocância), ou se o local de estoque não foi visitado por roedores e insetos, que podem ser vetores de doenças graves.
Comida humana
Restos da nossa comida nunca devem ser oferecidos para os pets: é a melhor maneira de torná-los obesos – com todos os problemas de saúde decorrentes desta condição – além de favorecer o desenvolvimento de distúrbios e doenças metabólicas, como hipotireoidismo e diabetes do tipo 2.
Mesmo que os alimentos humanos sejam de alta qualidade, extremamente aromáticos e agradáveis à visão, eles não devem ser dados aos cachorros. Cortes apreciados como picanha, T-bone, bistecas, pernis de porco ou cabrito – verdadeiros manjares – são excessivamente gordurosos para os cachorros.
Além disso, os nossos alimentos são preparados com sal, óleos vegetais e diversos condimentos. A cebola e o alho, por exemplo, extremamente frequentes na nossa culinária, são tóxicos para os pets. O óleo vegetal é desnecessário (e pode contribuir para o ganho de peso) e o sal, mesmo em quantidade mínimas, compromete o funcionamento dos rins e do sistema circulatório.
Os cachorros podem receber algumas frutas, verduras e legumes, mas existem produtos vetados (como carambola, abacate e uva) e outros que não acrescentam quase nada à nutrição canina. Para pets que comem ração, os vegetais podem substituir os petiscos com vantagens, mas é preciso conferir se eles não são prejudiciais.
Doces e chocolates – mesmo os caseiros – são totalmente contraindicados para os cachorros. Eles prejudicam os dentes, o sistema digestório, a pele e a pelagem. Além disso, os nossos peludos percebem apenas parcialmente o sabor doce.
Cachorros querem participar da vida em família – é isto que eles “dizem” quando ficam afoitos ao verem os tutores em volta da mesa de jantar cheia de pratos aromáticos ou com um sanduíche enorme à frente da TV.
Não é preciso oferecer nada disso para eles comerem: basta dar atenção e aproveitar os pedidos insistentes como um bom momento para ensinar os cachorros a respeitar os limites impostos pelas regras da casa.
Comida caseira
Mas alguns tutores preferem não oferecer ração industrializada para os cachorros. Os ingredientes não parecem atraentes – os produtos industrializados são elaborados com vísceras, carcaças, grãos quebradiços, raízes, ramos e folhas vegetais, além de conterem conservantes e, em alguns casos, corantes e realçadores de sabor.
Os aditivos químicos realmente podem ser prejudiciais à saúde. Os ingredientes considerados de segunda linha por humanos podem fornecer todos os nutrientes necessários para os pets, mas são muito diferentes dos alimentos que levamos para nossa mesa.
Uma opção é fazer a comida dos cachorros em casa. É uma tarefa trabalhosa, que precisa ser muito bem planejada, para evitar carências e deficiências, mas tem tudo para se transformar em uma alimentação saudável, que inclusive respeita as preferências individuais dos pets.
Antes de substituir a ração por alimentação natural, recomenda-se consultar o veterinário, para que ele ajude a elaborar um cardápio que contemple todas as necessidades nutricionais dos pets. Não basta ferver um pedaço de carne com um ou outro vegetal: é importante que o pet receba todos os nutrientes de que o organismo precisa.
Os ingredientes usados em uma alimentação caseira saudável para cachorros são parecidos com os usados na nossa cozinha. Podem ser empregados cortes de carne magros (com pouca gordura) e muitos vegetais, para garantir a oferta dos micronutrientes (vitaminas e sais minerais).
Alimentação Saudável – Os tutores podem usar:
• carne de vaca, porco, cordeiro, aves, coelho, etc., além das vísceras, como rim, fígado e tripas. Os peludos quase sempre resistem quando o prato do dia é feito com peixes e outros frutos do mar, mas é possível experimentar – a sardinha, rica em ômega 3, é uma opção barata;
• cenoura, abobrinha, abóbora, batata, batata-doce, vagem, brócolis, inhame, chuchu estão entre os vegetais mais apreciados pelos pets. As sementes precisam ser retiradas e os tubérculos não podem apresentar brotos;
• grãos, como arroz (inclusive integral) e milho.
Ao servir hortaliças, triture-as no processador e misture-as à proteína animal, para garantir o aproveitamento pelo organismo canino. As folhas inteiras costumam ser ignoradas pelos peludos.
As frutas podem complementar as refeições principais e devem ser escolhidas entre as menos calóricas, com baixo teor de frutose. Experimente maçã e pera em cubinhos (sem sementes), goiaba, banana em pedaços ou pêssego. Laranjas e mexericas devem ser evitadas: caso os pets gostem, deve-se oferecer em gomos sem as sementes.
Os grãos não refinados são a melhor opção para o preparo da comida caseira saudável dos cachorros. Eles podem ser cozidos em água (sem sal nem óleo) ou apenas triturados e misturados crus à carne.
As porções são definidas de acordo com a idade, porte, sexo e condições gerais de saúde do cachorro. Em um cálculo simples, divida o peso do pet por 20: esta é a quantidade diária de alimento que ele precisa receber. Os pequenos devem comer um pouco mais.
No entanto, é importante dosar os nutrientes. No prato dos cachorros, as proteínas devem ocupar um pouco mais da metade do espaço (cerca de 60%), complementadas por grãos, verduras e legumes.
Ao decidir trocar a dieta, o tutor poderá perceber um amolecimento das fezes do cachorro. Isto ocorre porque o organismo ainda não está acostumado a absorver todos os nutrientes e “desperdiça” uma boa parte nos primeiros dias. A situação tende a se normalizar em poucos dias, garantindo inclusive um cocô menos fedido, apesar de a quantidade ser maior.
Pães, bolos, tortas, macarrão e outros carboidratos refinados não devem ser dados aos cachorros. A farinha branca aumenta os problemas inflamatórios.
Outro produto que deve ser retirado do cardápio dos cachorros é o osso de couro. Os ossinhos são bem-vindos, porque ajudam a limpar os dentes e são fonte secundária de proteínas, mas o couro (de vaca ou boi) quase sempre é tratado com soda cáustica e amônia quaternária (para o branqueamento), produtos tóxicos para humanos e caninos.
Nas grandes cidades brasileiras, já existem serviços de produção e entrega de alimentos naturais para cachorros. Esta é uma boa solução para quem não dispõe do tempo necessário para preparar as refeições, mas é importante investigar o fornecedor, certificar-se de sua idoneidade e redobrar a atenção na reação do pet em relação aos alimentos.