Depressão não é frescura e pode afetar os cães. Veja algumas dicas para superar o problema.
Ficar triste é natural, apesar de às vezes parecer (e ser) doloroso. Os cachorros, assim como nós, são seres sencientes – isto é, eles conseguem vivenciar sentimentos como angústia, dor, solidão, alegria, raiva, amor, etc. Uma tristeza passageira faz parte da vida, mas a depressão é uma condição permanente.
Não é normal deixar de brincar ou de fazer festa para a família. Com o avanço da idade, os cachorros se tornam mais tranquilos – ou menos estabanados –, mas, nem por isso, deixam de se interessar pelas atividades com os tutores. A depressão não é preguiça, nem pode ser encarada com naturalidade.
Não existem sintomas específicos da depressão em cachorros, que ocorre quando alguns neurotransmissores deixam de ser produzidos na quantidade considerada ideal. Alguns pets são mal humorados, independentes. Outros são verdadeiros chicletes, estão sempre atrás da família humana.
Causas frequentes da depressão em cachorros
Os cachorros não gostam de mudanças drásticas, nem do afastamento de pessoas da família. Eles também se ressentem por divórcios, viagens prolongadas, transferências para estudos ou trabalho. Apenas percebem que foram “abandonados”.
Nos cachorros, a depressão pode ser provocada por:
- mudanças no ambiente (mudança de casa ou mesmo uma reforma);
- morte de um membro da família;
- chegada de um novo membro à família;
- maus tratos físicos e verbais;
- adestramento punitivo;
- isolamentos prolongados.
Tudo isso pode ser corrigido ou atenuado pelos tutores. Um bebê pode chegar à casa e as mortes, claro, são inevitáveis. Estas alterações da rotina, no entanto, precisam ser partilhadas com os pets.
Maus tratos são uma péssima forma de adestramento – e ainda pior quando são causados por mudanças de humor dos humanos da casa. Os cachorros aprendem quando percebem vantagens. Ameaças e castigos podem torná-los submissos, mas eles serão infelizes e desajustados.
Todas estas condições são possíveis gatilhos para problemas emocionais, como a ansiedade e a depressão, que são doenças e devem ser tratadas, assim como um trauma ou uma indisposição física.
Apresentamos a seguir os sintomas da depressão e algumas dicas para superá-la e restabelecer um relacionamento harmônico e ajustado. Caso os cães continuem demonstrando tristeza, no entanto, é fundamental consultar um veterinário.
Os sinais que seu cachorro está com depressão
Os tutores são as pessoas mais qualificadas para perceber alterações no comportamento dos animais de estimação com que convivem. A depressão é mais uma questão de “quanto” do que de “qual”.
Os sintomas relacionados a seguir são comuns em quadros de depressão em cachorros. É importante identificar o grau e a frequência com que eles se manifestam:
- redução da atividade física;
- redução da interação com humanos e outros pets;
- redução das demonstrações de afeto e alegria;
- perda de interesse pelas novidades do ambiente;
- mudanças na alimentação – os cachorros perdem o apetite ou passam a comer de forma exagerada;
- agressividade repentina;
- apatia e letargia;
- sono prolongado;
- ganidos e uivos sem motivo aparente;
- busca mais frequente pelos “esconderijos”;
- movimentos mais lentos;
- movimentos repetitivos e obsessivos (lamber as patas, esfregar-se contra paredes, correr atrás do próprio rabo).
Alguns cachorros com depressão se mostram ansiosos, medrosos ou agressivos em situações cotidianas. Outros podem apresentar incontinência urinária ou fecal. Surtos de agitação, seguidos por prostração e letargia também são frequentes.
Não são conhecidas raças caninas mais propensas à depressão, mas as causas da condição podem ser genéticas – isto é, filhotes de cães deprimidos apresentam maior tendência à depressão e à tendência mórbida.
A maior parte dos casos, no entanto, é devida a causas ambientais: mudanças na rotina, ausência de pessoas queridas (humanos e outros pets), surgimento de fatores estressantes (como uma reforma em casa ou uma obra barulhenta na rua), etc.
Os velhinhos
Alguns cachorros idosos podem desenvolver a síndrome da disfunção cognitiva. Mesmo os animais que passaram a vida inteira com bons estímulos podem desenvolver esta condição. Eles passam a sofrer alguns acidentes e a apresentar comportamentos estranhos. Um velhinho pode:
• deixar de fazer festa para os tutores quando eles chegam;
• responder a jogos e brincadeiras (por exemplo, um cachorro que sempre busca a bola ou disco deixa de fazê-lo sem motivo aparente);
• mostrar-se carente, triste ou angustiado.
Cães que manifestam essas condições não estão menos interessados nos tutores – os cachorros querem sempre agradar a família. Eles estão deprimidos e podem inclusive sofrer com esta incapacidade de interagir com os “melhores amigos”.
Esta síndrome já foi identificada com demência (algo semelhante ao mal de Alzheimer, que afeta os humanos). Não se trata de uma “demência”, como nós identificamos nos humanos idosos. O quadro se aproxima da depressão – eles não se esquecem, apenas não conseguem responder da forma habitual.
A condição é preocupante, mas pode ser resolvida com algumas alterações simples na rotina. Alguns “desafios” podem ser exagerados para os pets e, neste caso, basta removê-los – desde que seja um movimento simples, como escalar um muro, coisa que o pet costumava fazer sem dificuldades.
A rotina deve ser facilitada, mas não alterada radicalmente. Cães não gostam de mudanças drásticas. Mantenha as caminhadas regulares, as brincadeiras com menor intensidade e acostume-se à ideia de que os pets envelhecem. Eles quase sempre morrem antes dos tutores.
Superando a depressão canina
Cachorros são seres simples, que precisam de pouca coisa para se sentir felizes. O ponto fundamental é a convivência e a camaradagem com os tutores. Os peludos adoram partilhar o tempo com a família humana – e eles sabem como agradar.
Para superar a depressão canina, experimente as dicas a seguir. Não é preciso adotar todo o conjunto, mesmo porque os cachorros apresentam especificidades: cada um tem um temperamento próprio, e ninguém melhor do que os tutores para descobrir o que pode tornar os pets mais equilibrados.
• Estabeleça uma rotina – os cachorros gostam de saber que as coisas do dia a dia seguem uma sequência lógica. As regras da casa devem ser claras e os pets não veem problemas em acatá-las, desde que entendam o tutor como o líder do grupo.
Caso seja possível, programe os passeios nos mesmos horários. O ideal é caminhar com os cachorros no início da manhã ou no final da tarde, mas cada tutor tem uma agenda própria. Da mesma maneira, sirva as refeições nos mesmos horários, brinque, etc.
O importante é que o cachorro sinta que faz parte da vida familiar. Não é necessário inventar coisas novas. A constância é fundamental para o equilíbrio emocional. No final da noite, por exemplo, os pets adoram apenas ficar ao lado dos tutores, curtindo um tempo juntos.
• Leve os pets para passear – ainda no quesito “passeio”, vale lembrar que as caminhadas diárias (elas precisam ser diárias, independente da temperatura) são importantes não apenas para garantir um bom condicionamento físico.
Ao passear, os cachorros consomem energia e afastam os riscos de sobrepeso ou obesidade. As caminhadas fortalecem ossos, músculos e articulações, aumentam a capacidade cardiorrespiratória e ajudam a reforçar o adestramento.
Além disso, os passeios fortalecem os elos entre tutor e cachorro e os peludos podem investigar o mundo através dos cinco sentidos. Encontrar automóveis, pessoas e outros cachorros pelo caminho facilita bastante a sociabilização – e os cães são animais naturalmente gregários.
• Deixe os cães socializarem – os tutores não podem encarar os passeios como um mal necessário para que os pets façam as necessidades fora de casa. O roteiro não pode ser um bate-volta até a esquina.
Percorra ruas diferentes, estique o passeio até a praça ou parque, proponha desafios para os cachorros – subir uma ladeira íngreme, escalar uma escadaria, caminhar em uma rua com bastante movimento são situações muitas vezes inéditas. Lembre-se: os roteiros precisam respeitar as condições físicas dos pets.
Deixe-os investigarem postes e troncos de árvore, “conversar” com os cachorros que encontrarem pelo caminho, criar hipóteses que expliquem as luzes das ruas. Isto melhora a inteligência, torna os cães mais dóceis e reduz a tristeza e a depressão.
• Recompense sempre – quando os cães são filhotes, o melhor método de treinamento é o adestramento positivo, em que os pets recebem uma recompensa física (um petisco ou um brinquedo novo) sempre atenderem aos comandos e “fizerem a coisa certa”.
Mas as recompensas não precisam desaparecer depois que os pets aprendem as regras básicas. Os peludos devem ser estimulados a fazer coisas novas – pular uma cerca, seguir um rastro, etc. Premie os novos aprendizados – basta ter alguns biscoitos no bolso para o momento adequado.
As recompensas mais importantes para os cachorros, no entanto, são os incentivos proporcionados pelos tutores: palavras de estímulo e aprovação, agrados e cafunés são muito importantes para o equilíbrio emocional. Portanto, recompense o pet com guloseimas, mas também com gestos de carinho e atenção.
• Passe mais tempo com o seu peludo – os cachorros não entendem o nosso mundo. Para muitos deles, as portas se fecham pela manhã e, muitas horas mais tarde, elas se abrem e os tutores reaparecem. Para os peludos, não existem elevadores, escadas, conduções, trânsito, estudo, trabalho, etc.
Aproveite alguns momentos do dia para ficar ao lado do seu cachorro. Eles adoram brincar, mas também ficam satisfeitos quando apenas acompanham os tutores em qualquer atividade. você vai ler um livro? Deixe o peludo ao lado. Precisa lavar a louça? Fique conversando com o cachorro na cozinha, aproveite para derramar um pouco de água ou uma bolha de sabão no focinho dele.
Não importa a quantidade, mas a forma como o tempo é consumido. Brincadeiras, testes de atenção, cochilos com cafunés ou simplesmente um “dolce far niente” podem fazer maravilhas pelo corpo e pela mente dos cachorros.