Ele é um perfeito guarda-costas. Descubra algumas curiosidades sobre o doberman, este alemão mal-encarado.
Ele é ágil e está sempre atento. O focinho é alongado como o dos lobos, os olhos são pequenos e “infantis, como os olhos de um bandido”. O doberman integra o grupo dos cães violentos, ao lado do rottweiler e dos animais do tipo bull. A raça foi desenvolvida para impedir assaltos e ataques: portanto, os humanos, e não outros animais, estão na mira do doberman.
Por outro lado, os cães da raça são elegantes, resistentes e musculosos, sempre denotando força e poder. Os dobermans são também muito amorosos e protetores em relação à família. Não se pode esperar que sejam babás de crianças pequenas, mas são guardiães atentos a qualquer incidente.
A saúde
O doberman passa muito bem de saúde. Trata-se de um cachorro rústico e resistente, com as características genéticas muito bem definidas. Com os cuidados adequados – vacinação e vermifugação em dia, alimentação balanceada, rotina de exercícios físicos e consultas rotineiras ao veterinário –, um cão da raça pode viver até os 13 ou 14 anos.
Como todo cachorro de porte médio para grande, o doberman apresenta propensão para desenvolver a displasia de quadril, doença que provoca dores fortes e, sem cuidados, compromete a locomoção do animal. Criadores responsáveis vêm gradualmente eliminando portadores dos genes da displasia, que é mais rara hoje em dia, mas ainda pode ocorrer.
O doberman é especialmente suscetível à doença de Von Willebrand, uma deficiência genética de uma proteína do sangue (o fator de Von Willebrand, presente em todos os mamíferos), que provoca alterações nas plaquetas e sangramentos excessivos. O tratamento é a reposição da proteína ausente e se estende pela vida toda.
Em geral, o doberman não é um cachorro voraz e pode ocorrer, em especial na relação com tutores inexperientes, que os cães recebam quantidades insuficientes de ração. Um veterinário pode ajudar a identificar a quantidade exata de ração diária e também a necessidade da oferta de suplementos nutricionais – estes são muito importantes para os cães atletas.
Dobermans desmotivados e entediados podem desenvolver uma série de transtornos emocionais. Os mais frequentes são os latidos monocórdios, sucção do flanco (lambidas compulsivas no flanco, próximo à raiz da cauda, levando à perda de pelos localizada), andar em círculos e adotar comportamentos autotraumáticos (morder as patas e a cauda, lamber os genitais até a formação de lesões, etc.).
O tratamento consiste no enriquecimento do cotidiano, com a adoção de atividades prazerosas para os cachorros. Vale lamber que os transtornos emocionais podem ser graves, prejudicando o bem-estar e gerando prejuízos orgânicos aos afetados pelas doenças.
As cores do pelo
O doberman é também um exemplo de cachorro hipoalergênico. O pelo curto, espesso, duro, liso e assentado cai muito pouco e não experimenta trocas sazonais. Em tempo: os cães da raça, de acordo com o padrão da raça, podem exibir apenas duas cores: preto ou marrom, com marcações ferrugem claramente definida e limpas.
As marcas na pelagem estão localizadas sobre o focinho, nas bochechas, acima dos olhos, acima dos olhos, na parte frontal da garganta, duas marcas no antepeito, nos metacarpos, metatarsos e patas, na face interna das pernas e debaixo da cauda.
As tonalidades fulvo e azul ocorrem por diluição das cores entre o marrom e o preto – as cores “originais” da raça. Elas são toleradas, mas não desejadas. Os cães muito claros (bege, cinza-claro, isabela, etc.) geralmente são penalizadas nas competições oficiais.
Há raros dobermans com a pelagem totalmente branca. Este é um provável sinal de albinismo, mas a anomalia genética ainda não está comprovada. De qualquer forma, a fotossensibilidade pode ser notada ainda nos filhotes e, por isso, não é recomendado usar cães brancos para os acasalamentos.
Doberman é sobrenome
A palavra original é alemã, grafada com dois NN (um deles se perdeu na incorporação ao português, mas muitos criadores e veterinários mantêm a grafia original). Friedrich Louis Dobermann, um cobrador de impostos que também recolhia cães abandonados e perdidos na Turíngia (atual centro-leste da Alemanha), foi o responsável pelo desenvolvimento da raça, a única que leva o nome do criador original.
Numa época em que as forças de segurança, quando existiam, restringiam-se à proteção de grupos específicos, majoritariamente em ambientes urbanos, o trabalho do coletor, que precisava circular entre a capital, cidades menores, aldeias e fazendas, o tornava um alvo perfeito para ladrões.
Com diversos cães à disposição, o coletor de impostos passou a selecionar os melhores para as suas pretensões: força, agilidade, atenção e resistência, para percorrer longas distâncias. A base da nova raça foi o antigo pastor da Turíngia, já extinto. Era um cão preto com marcações cor de ferrugem.
Dobermann selecionava sempre os animais mais violentos e agressivos do canil. Estas características continuam presentes, embora atenuadas, nos cães atuais. Ele também empregou “cães de açougueiro”, considerados na época como uma raça pura.
O cão de açougueiro é um tipo antigo do rottweiler, cujo padrão atual também foi obtido no século 19. Os cães do coletor de impostos, por suas características de guarda e proteção para a casa e a família, tornaram-se muito populares em atividades policiais – no início do século 20, eles chegaram a ser conhecidos como “gendarme dogs”. Os dobermans também foram empregados na caça e na proteção de patrimônio, mas a vocação original da raça é proteger pessoas.
Versatilidade
Além do doberman, o pastor da Turíngia é ancestral também do pastor alemão. Talvez o doberman só perca em versatilidade para este parente próximo. A atenção constante e o equilíbrio emocional o tornam um perfeito cão de guarda, tarefa que foi ampliada para atividades policiais, de transporte de valores, etc.
Os cães da raça também estão entre os preferidos para atividades de busca e salvamento e de combate ao tráfico de drogas ilícitas e armas de fogo. Quando há restrições específicas em aeroportos (bloqueio de vegetais, pigmentos, essências, etc.), o doberman é um dos mais indicados para o rastreio.
A raça foi desenvolvida para ter porte médio e longilíneo, o doberman é musculoso e muito resistente, além de demonstrar facilidade para aprender comandos. Estas características revelam que estes cães são também atléticos e podem obter bons resultados em corridas e provas que combinam estratégia e rapidez, como o agility, por exemplo.
O doberman é um cachorro extremamente inteligente, tanto quando se trata de satisfazer os próprios interesses, quanto quando é necessário aprender um novo comando introduzido pelos tutores ou adestradores. A raça ocupa a quinta posição no ranking publicado em “A Inteligência dos Cães”, do psicólogo americano Stanley Coren, uma espécie de bíblia do adestramento canino.
Contraindicados para crianças
Na comparação com o pastor alemão, o doberman perde apenas como parceiro de brincadeiras. Os cães da raça adoram corridas e exercícios intensos, mas os parceiros ideais são adultos e adolescentes. As crianças a partir dos cinco ou seis anos também podem participar, mas sempre com a supervisão de um adulto.
Sempre considerando as eventuais diferenças individuais, o doberman não é um bom companheiro para crianças, especialmente para as que ainda não aprenderam a respeitar limites – praticamente todos os humaninhos com até três anos.
Naturalmente, um cão da raça pode interagir com os irmãos menores, inclusive por causa do pelo hipoalergênico, que previne alergias de pele dos bebês. De qualquer forma, o tutor precisa avaliar a personalidade e o comportamento geral dos cães antes de aproximá-los. Alguns dobermans sentem ciúmes dos tutores e podem tentar disputar atenções.
Guardiães excepcionais
Mesmo com os modernos equipamentos de ataque atuais, o doberman é muito eficaz para a guarda de residências, empresas, órgãos públicos, etc. Vale lembrar, nesse sentido, que o treinamento para a guarda residencial é muito diferente do dispensado para o controle de patrimônio.
O doberman é conhecido por sua natureza protetora: ele fará de tudo para proteger todos os membros da família ou impedir o acesso a locais restritos. Os tutores de dobermans devem ter isso em mente, não deixando que os cães fiquem em locais com muros baixos, rotas de fuga fáceis, etc.
Apesar de, atualmente, a maioria ser adotada para a companhia, os dobermans já serviram às forças armadas de diversos países, lutando inclusive na maioria dos confrontos bélicos do século 20. Durante a primeira Guerra Mundial, muitos cães da raça foram destacados como mensageiros e também para a sentinela das trincheiras, em que os batalhões se abrigavam até decidir as melhores estratégias para avançar.
Orelhas e caudas
Quando Herr Dobermann criou a nova raça canina, ele tinha objetivos claramente utilitaristas: proteger-se contra assaltos e roubos. Nas avaliações iniciais, constatou-se que a cauda e as orelhas, ainda que pequenas, constituíam pontos fracos no caso de ataques. Os primeiros padrões da raça, desta maneira, indicavam a caudectomia e a conchectomia.
Os tempos mudaram e hoje em dia as amputações eletivas (que não são determinadas por questões de saúde e anatomia) deixaram de ser praticadas pela maioria dos criadores. No Brasil, a conchectomia (corte das orelhas) e a caudectomia (corte da causa) são proibidas desde 2018.
A prática ainda é permitida em diversos locais – nos EUA, por exemplo, os dobermans e cães de outras raças são submetidos ao corte estético das orelhas e do rabo. Seja como for, as amputações geram problemas sérios no equilíbrio motor e na exposição ampliada dos pavilhões auditivos ao ar, aos sons e a micro-organismos nocivos.
O tutor ideal
Quem pretende adotar um doberman precisa fazer uma autoavaliação: o ideal é que o candidato a tutor já tenha experiência com a criação de cães, tenha disponibilidade de tempo e espaço para os treinos, brincadeiras e cafunés e goste do envolvimento com o adestramento canino.
Apesar de não fazer o mesmo sucesso verificado nos anos 1980 e 1990, o doberman ainda é um dos cães mais populares no Brasil e no mundo. Mas, se a ideia é ter um “cachorro bravo” em casa, é melhor repensar e descobrir outras motivações, ou simplesmente esquecer a adoção.
O doberman é um animal cheio de energia, que precisa ser adequadamente consumida durante o dia. Ele precisa de três horas diárias de exercícios físicos intensos, além de alguns jogos e brincadeiras durante os intervalos. Parte dessa demanda pode ser transferida para uma escolinha ou um adestrador profissional.
Mas, de qualquer maneira, é importante que o tutor se envolva no dia a dia do doberman. É fundamental o estabelecimento de elos de amizade e lealdade, com os quais os cachorros podem se tornar carinhosos e brincalhões, sem perder as características de guarda e proteção.
Um doberman bem treinado é atento para qualquer ameaça à sua família, mas o tutor também deve estar atento, para coibir qualquer exagero. Os cães da raça tendem a neutralizar qualquer tipo de ataque, mas não são fundamentalmente agressivos e violentos.
Por outro lado, o doberman é impulsivo e persistente até a teimosia. Estas características precisam ser atenuadas nos adestramentos, e a melhor maneira é com o treinamento positivo, recompensando os acertos com elogios e prêmios concretos nas primeiras etapas. Na educação destes peludos, como na de todos os demais, gritos e castigos físicos não surtem resultados positivos. Eles podem aprender, mas por raiva ou medo, tornando-se uma bomba-relógio.
A serenidade é o melhor estado de espírito para ensinar um doberman. A fala firme e segura, mas baixa e tranquila, sem traços de ansiedade, que, para um cão da raça, pode ser interpretada como uma situação de emergência. Gritos e demonstrações agressivas tornam os alunos arredios e, assim como as crianças humanas, os cães só aprendem em atividades divertidas e prazerosas.
O doberman pode aprender muitos truques para reproduzir nas reuniões em família, como também é um excelente candidato à prática de esportes, com exceção da tração: ele se destaca em atividades de farejamento, corrida e agilidade, especialmente as envolvidas com a adoção de estratégias de atuação.