A audição dos cachorros é impressionante. Ela não é o sentido mais aguçado dos peludos – eles se guiam principalmente através do olfato – mas é muito mais sofisticada do que a humana. Alguns estudos indicam que os cachorros conseguem captar sons a distâncias até quatro vezes maiores (em relação à percepção humana).
Mas, anatomicamente, a parte interna do sistema auditivo canino é muito parecida com a do nosso. Ela é formada pelo tímpano e por pequenos ossos que respondem às vibrações sonoras do meio ambiente, encaminhando informações para o Sistema Nervoso Central (SNC).
Há, no entanto, uma diferença importante: nos cães, a abertura do tímpano para o exterior é muito mais ampla. O conjunto do ouvido interno forma uma espécie de funil ou concha, que permite captar mesmo ruídos fracos.
Explicações da ciência
Mesmo dispondo de estruturas quase equivalentes, os cachorros captam frequências sonoras entre 15 hertz e 40 mil hertz, enquanto a nossa audição percebe um intervalo bem mais modesto, entre 20 hertz e 20 mil hertz.
Apenas para lembrar: na Acústica, parte da Física que estuda o sons, 1 Hz equivale a uma onda sonora. Quanto maior o número de ondas por segundo, mais agudos são os sons percebidos. Desta forma, os humanos deixam de registrar os sons muito agudos (acima de 20 mil Hz), enquanto os cães continuam registrando e processando (até o limite dos 40 mil Hz).
O que proporciona a audição mais potente é a orelha externa. Muito mais do que um simples acessório para encantar os tutores, os diferentes tipos de orelhas caninas foram projetados pela natureza como uma sofisticada máquina de sons.
Para tanto, os cães contam com nada menos do que 18 músculos em cada orelha, que estão presentes mesmo nos apêndices minúsculos de um bull terrier, por exemplo, que exibe pequenos triângulos nas laterais do topo do crânio.
Esses músculos permitem que os cachorros movimentem as orelhas em diversas posições e direções, agindo como se estivesse direcionando sonares. Além disso, alguns estudos indicam que os peludos conseguem filtrar os sons mais relevantes para eles.
O posicionamento das orelhas também ajuda a melhorar a capacidade auditiva dos cachorros. Comparativamente aos nossos, os pavilhões se situam mais ao alto, na cabeça. Quando um padrão afirma que a inserção deve ser baixa, isto significa apenas que as raízes das orelhas ficam ligeiramente abaixo da linha do topo do crânio. Alguns cães conseguem captar sons em 360°, graças à posição e à movimentação.
Um resumo das curiosidades
• Os sentidos, nos cães e na maioria dos animais, é muito desenvolvido. Ver, ouvir, farejar, sentir sabores, texturas e temperaturas são fundamentais e influenciaram a evolução das espécies. A civilização “abafou” os sentidos humanos, que ao negligenciados.
Os cachorros, mesmo vivendo com os humanos e usufruindo do conforto e da segurança proporcionados, continuam sendo regidos pela natureza e reagem plenamente aos seus estímulos. Nós mesmos continuamos sendo “do mato, como o pato e o leão”, como cantou Gilberto Gil, totalmente dependente dos recursos naturais.
• Os cachorros conseguem captar ondas sonoras por segundo, mensuradas em Hertz (uma medida do Sistema Internacional de Unidades – SI), de até o dobro das percebidas pelos humanos: até 40 mil Hz.
Isto é muito útil para identificar a aproximação de um temporal, uma nevasca, uma avalanche e até mesmo uma onda gigante – e tomar as providências necessárias para manter a segurança do grupo. A audição dos mamíferos marinhos é ainda mais potente: algumas espécies de golfinhos registram até 240 mil Hz – 240 mil ondas sonoras por segundo. Para eles, isto é muito importante para perceber a aproximação de cardumes ou predadores, que se movimentam mais rapidamente no meio aquático.
• A captação dos sons está garantida pela estrutura anatômica das orelhas, constituídas por nada menos do que 18 músculos. Isto permite tanto a ampliação quanto o abafamento dos sons: de acordo com a posição das orelhas, eles podem atenuar a repercussão das ondas sonoras.
Em que pese que alguns de nós tenha a capacidade de exibir alguns movimentos das orelhas, que quase sempre se resumem ao arco superior, estas performances são exceções que comprovam a regra: nossas orelhas são imóveis. É provável que, há cinco milhões de anos, quando os primeiros primatas superiores surgiram, a audição não fosse um fator tão importante quanto a visão, por exemplo.
• Os cachorros também conseguem captar sons a distâncias maiores. Eles identificam sons originados a 3 km ou 4 km, desde que os ventos estejam favoráveis. Para nós, esta distância se limita a apenas 1 km.
• O formato das orelhas altera a captação dos sons. Os cães que exibem orelhas eretas e semieretas, erguidas quando eles estão em atenção, captam melhor os sons de alta frequência (mais agudos). Os peludos de orelhas caídas registram com mais facilidade os sons de baixa frequência (mais graves).
• A capacidade para captar sons de baixa frequência é um dos motivos por que os nossos melhores amigos são excelentes cães de guarda. Esta sensibilidade permite que eles identifiquem “alguma coisa errada” muito antes que os sentidos humanos sejam afetados.
• A audição é também um instrumento de comunicação. Os cachorros podem ouvir atentamente outros peludos e passar adiante as informações. Isto não acontece exatamente assim, mas ainda não se sabe por que os cães estabelecem longas linhas de comunicação, uns “contagiando” os outros com os latidos. Seja como for, estes diálogos continuam existindo e cabe a nós encontrarmos a explicação correta.
• Os cachorros exercem uma forma de seleção dos sons, tornando a audição ainda mais efetiva. Se, por exemplo, eles estão interessados no ruído de um motor, eles conseguem filtrar outros ruídos, como crianças brincando, buzinas, sinos de igreja, etc., focando a atenção no primeiro som que gerou o alarme.
• O pavilhão auditivo dos cães é recoberto pelo dobro de receptores auditivos, em relação ao ouvido humano. Estes receptores são terminais nervosos, que recebem informações e enviam ao córtex cerebral, para que sejam interpretadas. E, quanto maior o número de informações, mais detalhada e precisa é a interpretação.
• Uma explicação: os cães não são fofoqueiros, mas, se eles ouvirem alguém sussurrando, eles passarão a prestar ainda mais atenção. O motivo é que eles também conseguem ouvir sons mais baixos e, no caso, o que os atrai não é o assunto sigiloso da fofoca, mas a mudança do tom de voz dos tutores.
O ranking da audição
A audição excelente é uma característica da espécie e se manifesta em todos os indivíduos. As reações, no entanto, variam bastante. Como regra geral, os animais de grande porte demoram mais para reagir a estímulos auditivos.
O American Kennel Club (AKC), uma das principais sociedades de cinofilia dos EUA, organizou um ranking com os ouvidos mais notáveis do mundo canino.
10) Buldogue francês – a fragilidade física provavelmente melhorou bastante a audição da raça. Os movimentos das orelhas e da cabeça não são apenas charme, mas formas de gerenciar os sons ambientes.
9) Pinscher miniatura – é quase impossível vê-lo com as orelhas dobradas. Estes cãezinhos são hiperativos e muito atentos, excelentes alarmes para qualquer residência. A voz dos tutores é um dos sons que mais atrai a atenção deles.
8) Schnauzer miniatura – a raça foi desenvolvida para afastar pragas de jardins e hortas. Muitas delas se escondiam em tocas subterrâneas e o schnauzer desenvolveu a audição inclusive para sentir vibrações no solo.
7) Boston terrier – a audição apurada destes cães é explicada porque eles já foram lutadores, mas atualmente não apresentam nenhum traço de violência. Mas pode ser um problema: uma porta batendo dois andares abaixo pode levá-los a crises de ansiedade.
6) Chihuahua – este cão percorreu longas distâncias no México, séculos atrás, atrás de presas miúdas. A boa audição serviu para identificar aves e roedores. A identificação dos mínimos ruídos e um latido incrivelmente alto fazem do chihuahua um excelente cão de guarda – pelo menos, para dar o alarme.
5) Cocker spaniel – desenvolvido para a caça, estes cães precisavam farejar, identificar, aproximar-se e agarrar pequenas aves. A audição foi fundamental para o sucesso, que tornou o cocker spaniel um dos prediletos entre os amantes de cães.
4) Lhasa apso – no Tibete, este cão guardião era responsável por fornecer informações importantes, tanto sobre a aproximação dos raros visitantes, quanto da iminência de avalanches e desmoronamentos. Por isso, a audição é ainda mais apurada.
3) Pastor alemão – os cães da raça aliam as aptidões naturais a uma inteligência notável, que lhes permite obter informações mais detalhadas sobre o que acontece ao redor. O pastor alemão é extremamente versátil, por causa dos sentidos e da capacidade de interação.
2) Poodle – as orelhas são longas, mas não prejudicam a audição. O poodle foi desenvolvido para atividades aquáticas e, para isso, desenvolveu ainda mais os sentidos para colher as informações ao redor. A inteligência sofisticada também contribui para o bom desempenho.
1) Retriever do Labrador – ele foi empregado em atividades aquáticas, mas mostrou-se mais eclético: ajudou a carregar barcos, participou da pesca e da caça de aves marinhas, recuperou objetos no mar e salvou muitas vítimas de afogamento. A audição e as vibrações foram muito úteis nesta “carreira profissional”.