A ciência comprova: o sistema imunológico de crianças que vivem com pets é mais saudável.
Todos nós deveríamos agradecer aos nossos pets de infância – cachorros, gatos e até mesmo aves. Os peludos são parcialmente responsáveis pela eficiência do nosso sistema imunológico: as crianças que crescem ao lado de animais de estimação são mais saudáveis e a ciência já comprovou este fato.
O sistema imunológico garante a proteção do nosso organismo, evitando que substâncias estranhas, como poluição, poeira e mesmo o pólen das plantas, e agentes patogênicos, como vírus, bactérias e fungos, afetem a nossa saúde de forma negativa. Parte da defesa é inata (nós já nascemos com ela), enquanto a outra é adquirida.
Cachorros, gatos e o sistema imunológico
É aí que entram os pets. A defesa adquirida é mais desenvolvida, abrangente e se estabelece a partir do contato com os eventuais invasores. Cães e gatos (e todos os seres vivos) carregam diversos agentes capazes de prejudicar a saúde, mas esta exposição, nas brincadeiras e caminhadas, é sempre lenta e gradual.
Algumas células de defesa apresentam a chamada memória imunológica: uma vez que elas tenham sido expostas a determinado patógeno, passam a ser capazes de reconhecê-lo quase imediatamente, impedindo, por exemplo, que:
- vírus se repliquem a ponto de causar doenças;
- bactérias e fungos que colonizam naturalmente o nosso organismo (principalmente na pele e no intestino) proliferem excessivamente, causando desequilíbrios;
- alergênicos provoquem reações orgânicas exageradas, como dermatites e alergias.
É por isso que as vacinas são tão eficientes. O mecanismo, criado ainda no século 19 (pouco depois da “descoberta dos micróbios”), é bastante simples: uma parte do vírus ou bactéria (morta ou atenuada) é injetada no organismo, para que as células defensoras consigam reconhecê-las.
A partir daí, linfócitos, leucócitos e outras células que integram o sistema imunológico identificam o micro-organismo mais rapidamente, no momento da exposição (por exemplo, ao entrar em contato com uma pessoa doente), impedindo que muitas enfermidades se instalem no organismo.
Com os pets, funciona quase igual. Cães e gatos carregam partículas irritantes e alguns patógenos, como vírus e bactérias, nas patas, nos pelos, etc. A quantidade é insuficiente para provocar doenças e muitas vezes, quando a criança brinca com os animais de estimação, os micro-organismos já estão mortos ou inativados.
Mesmo assim, as células de defesa identificam o agente invasor e desenvolvem mecanismos para neutralizá-lo. Em um surto de gripe, por exemplo, crianças que convivem com pets já foram expostas, em pequenas doses, ao Influenza.
Ao brincar com uma criança gripada, viajar em um ônibus em que pessoas doentes circularam pouco antes ou até mesmo usar um objeto, o sistema imunológico começa a combater o agente patogênico imediatamente, evitando reações como a febre.
Isto previne diversas doenças ou, pelo menos, reduz os sintomas, nos casos de infecções mais severas. Os cachorros levam vantagem nesta proteção, uma vez que eles passeiam diariamente e entram em contato com vírus, bactérias e fungos com mais facilidade, mas os gatos, furões e periquitos também contribuem para fortalecer o sistema imunológico.
Sistema imunológico fortalecido
Os pets ajudam a prevenir doenças infectocontagiosas, mas também são úteis para atenuar ou eliminar algumas doenças de origem alérgica. É o caso da rinite, da bronquite asmática e de algumas dermatites. Um dos principais temores dos pais de primeira viagem é que os peludos possam transmitir alergias, mas a ciência mostra que ocorre exatamente o contrário.
Os pelos e as secreções são agentes alergênicos: eles causam alergias. No entanto, a exposição constante, especialmente para quem convive com cães e gatos desde o nascimento, permite que o sistema imunológico se fortaleça, atenuando os sintomas destas doenças. No médio prazo, elas podem até mesmo desaparecer.
Mas, no caso de crianças que são alérgicas e nunca tiveram contato próximo com animais de estimação, os pais ou responsáveis devem conversar com o pediatra, para verificar a oportunidade da adoção. Algumas raças são hipoalergênicas, como o siamês, o bengal, o devon rex e o sphynx.
Entre os cachorros, há diversas opções. Os tutores podem optar por: bichon frisé, havanês, shih tzu, schnauzer, poodle, maltês, yorkshire terrier, terrier escocês, terrier brasileiro, galguinho italiano, etc. Apesar de algumas destas raças serem peludas, os cães soltam poucos pelos no ambiente.
O estudo
Para avaliar a associação entre a exposição a cães e gatos ao longo da vida e a sensibilização alérgica, pesquisadores do Hospital Henry Ford (Detroit, Michigan, região centro-oeste dos EUA) acompanhou um grupo de voluntários nascidos entre 1987 e 1989.
O estudo foi publicado em 2011, na National Library of Medicine, quando os voluntários, que conviveram com pets desde o nascimento (e foram acompanhados desde a infância), já tinham atingido os 18 anos de vida. Pouco mais de 800 pessoas foram entrevistadas.
A pesquisa indicou que 50% dos entrevistados que conviviam com cães tiveram o risco de alergias reduzido em 50%, em relação ao grupo de controle. Entre os tutores de gatos, o percentual foi ligeiramente maior: 53%. O estudo comprovou que o fortalecimento do sistema imunológico é sensivelmente maior entre crianças que conviveram com pets durante o primeiro ano de vida.
Em 2015, um estudo conduzido na Universidade de Zurique (Suíça) comprovou os dados obtidos pelo hospital americano, a partir de uma amostragem bem mais significativa: foram usados os prontuários de mais de um milhão de crianças nascidas entre 2007 e 2012.
Os cientistas suíços constataram que a presença de cães, gatos e animais de fazenda é benéfica especialmente em casos de bronquite asmática: na população global, 5% das crianças sofrem com a doença, e este percentual foi reduzido para 2,9% entre os que passaram a infância convivendo com pets.
Mais benefícios para as crianças
Naturalmente, os cachorros, gatos e outros animais de estimação não são panaceias, remédios totalmente eficazes. Eles não conseguem proteger as crianças de anomalias genéticas, nem de transtornos relacionados à disfunção de alguns órgãos.
Mesmo assim, os pets continuam sendo úteis para enfrentar os muitos riscos à saúde, que são inerentes à própria vida. Diversos hospitais no mundo inteiro adotaram a cinoterapia para auxiliar nos mais diversos tratamentos.
Trata-se do treinamento de cães para coadjuvarem nas terapias. O Centro Oncológico A. C. Camargo, em São Paulo, mantém alguns cachorros convivendo com crianças portadoras de vários tipos de câncer. Os peludos circulam entre os pacientes oferecendo “apoio moral” e aliviando os efeitos colaterais de terapias invasivas e dolorosas (como quimioterapia e radioterapia, por exemplo).
Para as crianças que convivem com pets, o senso de responsabilidade também se desenvolve de maneira precoce e mais plena. As necessidades dos cachorros e gatos precisam ser satisfeitas e, nesta rotina de passeios, brincadeiras e cuidados, os pequenos se preparam para uma vida com mais cooperação e solidariedade.
O desenvolvimento cognitivo também é beneficiado com a presença de cães e gatos durante a infância. Em 2016, um levantamento sobre o rendimento escolar de 12.500 crianças de seis a sete anos matriculadas na rede pública de São Paulo, efetivado pela Faculdade de Educação da USP, revelou que o aprendizado da leitura e escrita é mais rápido entre os que convivem com pets.
A pesquisa demonstrou que a aquisição da linguagem escrita é obtida pouco mais de dois meses antes, em relação a crianças que não convivem com pets. A presença de outras crianças em casa também está associada à maior rapidez no aprendizado.
Isto não vale apenas para as crianças: adultos sedentários que adotam cachorros ou gatos também se envolvem em uma série de atividades que os obrigam ao exercício. Alguns idosos solitários encontram motivação ao satisfazerem os cuidados necessários. Tudo isso torna a vida mais prazerosa, com objetivos definidos e práticos, que preenchem o cotidiano e afastam (ou atenuam) os riscos de depressão, ansiedade, etc.
Referências:
Lifetime Dog and Cat Exposure and Dog and Cat Specific Sensitization at Age 18 Years – PMC (nih.gov)