Relacionamos aqui alguns comportamentos estranhos dos filhotes e qual o significado deles.
Cachorros são adoráveis em qualquer idade, mas os filhotes despertam sentimentos de amor e cuidado. Observar um filhotinho em suas primeiras explorações do ambiente, as primeiras brincadeiras, os sinais da personalidade que terá quando adulto e a dificuldade em fazer coisas simples são motivos para que qualquer tutor se apaixone pelo filho de quatro patas.
Mas os filhotes também exibem alguns comportamentos estranhos, que despertam a atenção, a curiosidade e a preocupação, especialmente entre os marinhos de primeira viagem – aqueles que estão se adaptando à primeira adoção.
Muitos gestos dos filhotes realmente podem indicar problemas de saúde física ou mental. Outros são derivados da dificuldade de coordenar os movimentos enquanto eles tentam descobrir o mundo. Boa parte desses comportamentos estranhos, no entanto, é apenas charme. A maioria é perfeitamente normal e compreensível.
01. Cheirar o traseiro
Este é um comportamento estranho que será mantido durante toda a vida dos cachorros. Filhotes, adultos e idosos cheiram o traseiro dos colegas apenas para reconhecer os estranhos e os recém-chegados.
Os cães são dotados de sacos anais, localizados nas laterais do reto, entre os músculos do esfíncter anal. Estes órgãos são forrados de glândulas sebáceas e apócrinas, que produzem um líquido castanho cuja função é espalhar o odor dos cães onde quer que eles circulem.
O odor quase nunca é percebido pelos humanos (a menos que os sacos anais estejam inflamados por qualquer motivo), mas é fundamental para marcar território e atrair parceiros sexuais. Desta forma, cheirar o traseiro equivale a conferir a identidade do peludo que está se aproximando.
02. Olhar para o tutor enquanto faz as necessidades
Esta é uma atitude desenvolvida com a domesticação. Depois de adultos, os cachorros já sabem onde fazer xixi e cocô, mas os filhotes passam a observar fixamente os tutores no momento das necessidades fisiológicas, para ter certeza de que não estão fazendo nada errado.
É importante considerar que, na natureza, não existe lugar certo ou errado para fazer xixi e cocô. No máximo, os excrementos devem ser ocultados para impedir que algum predador localize os autores.
Nossa casa – com banheiros, quintais e tapetes higiênicos – é uma invenção puramente humana. Para os cachorros, é apenas uma caverna esquisita. Mas eles aprendem rapidamente a localizar as áreas “proibidas” – onde não podem circular – o espaço da ração e da água e, claro, o pipi room.
Enquanto estão sendo adestrados, eles observam os tutores em busca de aprovação. Os filhotes querem agradar a família humana desde o primeiro dia e, por isso, esforçam-se por aprender as regras da casa.
Depois de se aliviar, os cães costumam escavar o local com as patas traseiras (e os filhotes fazem isso com os olhos fixos nos tutores, se eles estiverem por perto).
Para nós, é um gesto inútil, especialmente em pisos cimentados, já que não há terra ou areia para absorver os traços. Mas eles estão fazendo justamente o contrário: espalhando os odores individuais, para deixar claro que são “os reis do pedaço”. O comportamento é mais comum entre os machos, mas fêmeas dominantes também podem apresentar este traço característico.
Fazer as necessidades “no lugar certo” é uma situação artificial, que os cachorros adotam como mostra de lealdade e submissão aos tutores. Eventualmente, os filhotes não conseguem segurar e acabam sujando a sala ou a cozinha.
Por outro lado, cães adultos saudáveis, quando fazem xixi e cocô no lugar errado estão demonstrando tédio e desafiando a família humana a dar mais atenção. Eles estão se sentindo sozinhos ou desprezados: é um sinal extremo de que alguma coisa está errada na relação.
03. Ficar arrepiado
O nome técnico de eriçar os pelos é piloereção. É mais fácil de observar nos animais peludos, mas os cães de pelo curto também exibem este comportamento, especialmente ao longo da coluna vertebral, podendo inclusive aumentar o volume do próprio rabo.
A reação é determinada por uma ampliação súbita da adrenalina, hormônio secretado principalmente em situações de risco, quando é preciso decidir rapidamente o que fazer. A adrenalina é disparada em momentos de medo, raiva e estresse, mas também de estresse e excitação.
Esta é uma maneira de parecer maior do que realmente é – e, portanto, mais ameaçador frente a um possível agressor. O comportamento também é observado nos gatos; os cães tendem a esquecer a estratégia quando se tornam adultos, a menos que sejam naturalmente medrosos.
Além de livrar-se de predadores – a técnica funciona na natureza: muitos animais de grande porte fogem quando a caça eriça os pelos –, na convivência humana, os cachorros passam a arrepiar os pelos em qualquer situação que pareça amedrontadora, como um barulho repentino, por exemplo.
04. Dormir de barriga para cima
É uma atitude muito comum entre os filhotes que se sentem seguros. Cães adultos, quando deixam o abdômen à mostra quando dormem, são animais pacíficos e tranquilos. Na natureza, mesmo dormindo entre os companheiros da alcatéia, eles nunca fariam isso.
Pode-se perceber com facilidade que a posição deixa os animais totalmente inofensivos. Em caso de ataque, eles pouco ou nada poderiam fazer para se defender: os órgãos abdominais (e também os genitais) ficam totalmente expostos e mesmo um caçador pequeno poderia se aproveitar da situação.
Os filhotes podem dormir assim por semanas seguidas, logo depois que se acostumam ao novo ambiente em que foram introduzidos. Conforme a idade avança, contudo, o comportamento tende a desaparecer, mas os adultos muito encalorados podem voltar a dormir de barriga para cima nos dias muito quentes. Tudo depende da sensação de segurança que eles percebem em casa.
05. Comer grama
Este é um hábito instintivo, que também pode ser ensinado pelas cadelas durante a amamentação. Enquanto estão no útero materno, os filhotes não têm necessidade de nada. Depois que nascem, eles precisam aprender a mamar e, às vezes, o leite causa desconforto gastrointestinal.
Não é uma situação que deva ser avaliada pelo veterinário. Comer grama efetivamente alivia o desconforto abdominal. As ervas ingeridas regularizam o trânsito intestinal e eliminam as cólicas, que nada mais são do que contrações para expelir o alimento não aproveitado.
Comer grama é normal se o filhote estiver vermifugado e tiver avaliação médica positiva. Do contrário, o hábito pode indicar uma série de transtornos: excesso de gases, prisão de ventre, fezes muito ressecadas e até diarreia e vômito, sintomas de uma série de doenças. Os tutores precisam ficar atentos.
É importante lembrar que os cães são preferencialmente carnívoros. Isto significa que a dieta dos peludos se baseia principalmente (mas não exclusivamente) de carne. Na natureza, os lobos podem comer grama quando estão com fome, para ajudar a digestão ou simplesmente porque gostam do sabor.
06. Perseguir a cauda
Os filhotes correm atrás do próprio rabo por pura diversão. Na verdade, eles estão tomando consciência corporal e, certo dia, os cãezinhos descobrem a cauda saltitante, seguindo-os por toda a parte. Mordiscar a própria cauda proporciona uma sensação momentânea de alívio – e isso tende a ser reproduzido.
Porém, os animais adultos, quando exibem este comportamento, podem estar com problemas. Os filhotes geralmente cansam do “brinquedo” à medida que descobrem outras formas de diversão.
A corrida, entre os adultos, tem outros significados. Os peludos podem estar se sentindo entediados por passar muito tempo sozinhos ou isolados no fundo do quintal. A conduta, no entanto, pode ter sido encorajada pelos tutores, que se divertem ao observar os cachorros correndo atrás do rabo. Eles passam a fazer isso para agradar.
07. Lamber as patas
Mais uma vez, o principal motivo para os filhotes lamberem as patas é a curiosidade: eles ainda estão se acostumando com esses membros tão versáteis e dedicam longos momentos para tentar entender como eles funcionam.
Lamber as patas, por outro lado, também pode indicar que os cãezinhos machucaram os dedos ou os coxins plantares. A pele das patas ainda é muito frágil, especialmente a de animais com unhas e dedos rosados.
Enquanto os dedos pretos e de aparência espessa foram desenvolvidos para as caminhadas em terrenos pesados e pedregosos, os dedos rosados “equipam” as raças caninas que se adaptaram a solos arenosos e leves. Mas o asfalto das cidades pode ser duro ou quente demais para as patinhas dos filhotes. É preciso inspecionar os cãezinhos no retorno de cada passeio.
As lambidas excessivas podem ser provocadas também por parasitas. As picadas de piolhos e pulgas ferem a pele sensível e a situação tende a piorar com as mordiscadas e lambidas repetidas. Os cães com patas peludas podem desenvolver dermatites, especialmente quando elas ficam molhadas.
Entre cães adultos, lamber e morder as patas de forma exagerada quase sempre indica que o peludo está entediado, sem nada para fazer. Todo comportamento que mostre ser obsessivo deve ser investigado, porque quase sempre é sintoma de um transtorno emocional.
08. Escavar a cama
É um comportamento aprendido com as mães, quando a ninhada ainda está reunida. Escavar a cama serve para deixá-la mais quente e fofa – e a conduta irá se repetir mesmo que o peludo durma sobre um acolchoado macio.
Na natureza, os lobos giram em círculos e escavam a terra antes de se deitar para descansar. Com isso, eles juntam folhas, retiram pedregulhos e o atrito provoca um aumento da temperatura. Os filhotes repetem os gestos de forma instintiva.
O “ritual” se repete em qualquer lugar que os cachorros escolham para dormir. Eles escavam a cama dos tutores, o sofá da sala, a cadeira da varanda e até um colchão de ar. Enrolar uma ponta do lençol pode tornar o leito muito mais convidativo, apesar de parecer incômodo para nós.
No inverno, os filhotes escavam a cama para torná-la mais quente (vale lembrar que os cachorros também são sensíveis às alterações de temperatura). O exercício físico também permite o aquecimento corporal. No verão, o objetivo é esticar os membros e afastar os acessórios (como colchas e almofadas).
09. Estremecer enquanto dorme
Apesar de os tremores noturnos assustarem um pouco os tutores, este gesto é perfeitamente normal. O descanso dos cães apresenta períodos longos de sono profundo, especialmente quando eles não exercem funções de guarda e vigilância.
Quando eles estão “ferrados no sono”, nada mais natural que os músculos e nervos do sistema nervoso periférico fiquem relaxados, já que o ritmo metabólico se reduz de forma sensível. Quanto mais tempo durar a soneca, mais tremidas poderão ser observadas.
Outro motivo comum é o sonho. Os animais domésticos passaram a dormir por mais tempo e com mais tranquilidade, já que os riscos foram se reduzindo e hoje são praticamente inexistentes. Os cachorros aprenderam a sonhar e a elaborar cenas do cotidiano enquanto estão dormindo.
Da mesma maneira que os bebês humanos, os filhotes reproduzem principalmente as atividades e funções que acabaram de aprender. Assim, eles esticam as patas e a cauda, alongam a coluna vertebral, eriçam os pelos, franzem o focinho e a testa, etc. É uma forma bastante eficaz de revisar o aprendizado da vigília.
10. Comer cocô
Por mais estranho e nojento que este comportamento possa parecer, a priori, não há nada de errado em um cãozinho que come cocô. As fezes são ricas em nutrientes e já foram usadas inclusive por humanos em períodos de fome.
A coprofagia, nome técnico do hábito de comer fezes, no entanto, pode revelar alguns problemas. Além disso, é natural que os tutores tentem coibir os cachorros, uma vez que as lambidas se tornam desagradáveis e há o risco de ingerir fezes contaminadas com micro-organismos nocivos e ovos de parasitas.
O motivo mais comum para comer cocô é alguma falha na nutrição. O filhote percebe a carência de alguns nutrientes e tenta supri-la com a coprofagia. A situação pode ocorrer quando a quantidade de ração é insuficiente ou quando a qualidade é insatisfatória.
Alguns cachorros podem sofrer de polifagia (aumento excessivo do apetite), sinal quase sempre relacionado à desnutrição e às verminoses. Mas há causas mais preocupantes, como uma insuficiência renal ou hepática, que impede o organismo de aproveitar os nutrientes de forma satisfatória.
Os motivos também podem ser comportamentais. Um filhote pode comer o próprio cocô depois de ser castigado reiteradamente por “ter feito sujeira na sala”: ele tende a esconder as provas do crime e, inicialmente, os filhotes não entendem qual é o lugar certo: assim, eles acabam comendo até mesmo o cocô feito no quintal ou na lavanderia.
Ensinar os filhotes com técnicas de reforço negativo, como esfregar o focinho nos excrementos e gritar com os cachorros quando eles fazem alguma coisa não permitida, apenas reforça os comportamentos inadequados: os filhotes associam a bronca ao ato de defecar – e irão tentar escondê-lo sempre que puderem.
Comer cocô é uma atitude mais frequente entre os cães de raças de pequeno porte. Alguns estudos indicam que os terriers e os hounds apresentam maior tendência à coprofagia. Para eliminar o hábito, é preciso descobrir as causas e eliminá-las.